Two Shades Of Blue escrita por Mileh Diamond


Capítulo 9
Papai


Notas iniciais do capítulo

Finalmente uns momentos Victor & Yuuri nessa bodega, pra fazer valer a minha proposta de Victuuri platônico.
Acho que se procurar demais vai acabar achando angst...? Idk.
Boa leitura!!



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— Muito bem, Yuuri, chega de brincadeiras. Eu não vou tolerar mais esse tipo de atitude. - Victor disse sério demais para alguém falando com um bebê com menos de dois anos.

Eles estavam na cama de Victor, que era enorme e perfeita para espalhar os brinquedos e livrinhos de Yuuri e deixá-lo brincando. Yuri estava na casa de Otabek, o que significava que Victor tinha seu filho mais novo só pra ele por horas. Ele amava isso.

O problema é que Yuuri falhava em entender um conceito muito simples. E isso acabava com o patinador.

 

Victor abriu o livro de figuras devagar, sem desviar os olhos do bebê, como um homem do velho oeste prestes a entrar num duelo. Exceto que seu rival não ligava pra ele e preferia morder um pinguim de borracha cor de rosa.

 

— Yurachka, o que é isso? - ele apontou a primeira figura do livro.

 

— 'Beia. - Yuuri disse ao identificar uma abelha.

 

— Muito bom! E esse daqui? - ele virou algumas páginas.

 

— Potya! - ele respondeu animado, batendo palminhas contra o pinguim babado. Potya era muito fofo, mas Yura não o deixava brincar com ele.

 

— Isso! Mas Potya é um ga...?

 

— Gato. - ele respondeu lembrando o outro nome que Victor usava para Potya. Achava o primeiro mais legal.

 

— Ótimo! Só mais uma: quem é esse aqui, zaichik? - Victor apontou mais uma foto.

 

— Peixe. - Yuuri respondeu pressionando as duas mãos gordinhas contra o livro. Aquele era o único peixe que conseguia tocar. Quando ele saía com Victor, não podia encostar em nenhuma caixa com água e peixes. Eles eram tão estranhos.

Amazing! Você é o melhor, Yurachka. - Victor sorriu enquanto fechava o livro e fingia seriedade. - Agora vai ficar mais difícil. Qual o nome do seu cachorrinho, Yuuri?

 

— Vicchan? - ele perguntou alcançando sua pelúcia de poodle favorita. Vicchan o lembrava de Victor. E Victor o fazia muito, muito, muito feliz. Então Vicchan também o deixava feliz.

 

— Não, Vicchan é pequeno. - Victor disse rindo. - Eu quero saber o grande. Aquele que a gente pode abraçar. - ele imitou o gesto colocando os braços ao redor.

— Makka! - Yuuri entendia agora. Makkachin era bem macia, parecia um cobertor com perninhas. Uma vez Yuuri dormiu em cima dela e acordou no berço. Muito estranho.

 

— Está certo. E quem é o seu irmão?

— Yura! - ele amava Yura. Ele era maior e brincava com ele, tinha um cabelo muito bonito e legal de puxar; e também sabia o que Yuuri queria dizer na maioria das vezes.  Mas ele também ficava bravo muito fácil.

— Ótimo, Yurachka, você é um bebê muito inteligente. Mas agora a pergunta final e eu peço, por favor, pra você acertar. - Victor disse quase juntando as mãos em súplica, mas as usou para apontar para si mesmo. - Quem sou eu, Yuuri?

E Yuuri sorriu. Não um sorriso inocente de criança, mas aquele sorriso. Maléfico e traiçoeiro. A cara de quem sabia a resposta, mas falaria errado porque gosta de fazer o mais velho sofrer.

 

Vi-tor!

 

Não, Yuuri, eu sou o papai! - Victor disse dramaticamente se jogando na cama e caindo em cima de um bloco. Ai.

 

Yuuri deu aquela risada gostosa de bebês, porque ele achava muito engraçado quando Victor caía nas coisas daquele jeito. A voz dramática também era muito boa. E era tão fácil de conseguir, ele só precisava dizer seu nome!

 

— De novo, bem devagarinho. - Victor disse de sua posição, deitado, segurando uma das mãos do menino. - Pa-pai. Você consegue dizer "papai"?

 

— Papá? - Yuuri perguntou um pouco confuso. Cadê o papai? Fazia tempo que não o via.

 

— Isso! Papai. Eu sou o "papai". - Victor disse se levantando um pouco, animado com a chance. - Entende? Yuuri. - ele apontou para o bebê. - Papai. - apontou para si.

 

Ah, aquilo estava muito errado. Victor não era o papai. Papai tinha óculos e Victor não tinha. Papai falava com ele naquela língua que Victor não usava e ele estava pouco a pouco esquecendo. Papai era papai, Victor era Victor. Ele amava os dois, mas não eram a mesma coisa.

 

Yuuri tentou explicar aquilo ao mais velho, mas ele ainda tinha muitas poucas palavras a seu favor. No final, ele acabou balançando a cabeça em um convicto "não" e engatinhando até o mais velho, tocando seu cabelo.

 

— Vitor. - ele disse como se aquilo resolvesse tudo.

 

— Não. Papai. - ele resmungou fazendo cara feia.

 

Vitor. - Yuuri disse já se estressando com aquela conversa. Victor não era burro. Por que estava se fazendo, então?

 

— Me chame quando eu for um "papai", então. - ele disse se virando para o lado e se escondendo num travesseiro. Hora da soneca da depressão.

 

Yuuri não gostou nada daquilo. Nem estava na hora de dormir! E eles nem terminaram as figuras do livro. Ele ainda não viu a vaca.

 

O menino puxou o travesseiro com força, fazendo pouca diferença na forma imóvel de Nikiforov.

 

— Vitor! - ele chamou puxando o cabelo do mais velho - Não pode!

 

Yuri falava aquilo toda hora e ele tinha que parar o que estava fazendo. Devia funcionar com Victor, também.

 

— Ai, isso faz dodói! - o atacado finalmente saiu de seu esconderijo, massageando a parte que foi puxada. Ele acabaria careca assim. - Peça desculpas, mocinho.

 

Oh oh. Quando Victor mandava pedir desculpas, a coisa era séria.

 

— Di-culpa. - ele disse baixando o olhar, quase constrangido. Será que Victor estava bravo? Eles não brincariam mais?

 

O outro suspirou e se sentou, o cabelo ainda bagunçado. Ele estava nunca crise de carência, mas seu filho não notava.

 

— Yuuri, por que você faz isso comigo? - Victor perguntou o pegando no colo, olhos sérios e cansados enquanto discutia com um bebê. - O que você quer que eu seja pra você? Um amigo? Um irmão? Um pai, talvez?

 

Yuuri não respondeu, obviamente, preferindo tentar sair dos braços daquele ser humano entediante em busca de outras aventuras. Não que o ser humano fosse o soltar, para o aumento de seu tédio.

 

Pelo menos, era assim que Victor via.

 

O patinador suspirou pesadamente, segurando o bebê um pouco mais forte contra si e beijando o topo de sua cabeça. Se ele fechasse os olhos e desejasse com muita força, ele saberia o que fazer?

 

— Vai ver eu ainda sou o cara aleatório que te tirou do orfanato com um smartphone. - ele murmurou com um sorriso triste. - Mas eu te amo tanto, Yurachka. Queria que você apenas soubesse disso.

 

Ele queria que Yuuri o chamasse de "pai". Mas ele também sabia que essa resistência significava que ele se lembrava de seus pais, os verdadeiros. Victor não gostava de pensar assim, porque dava a entender que Yuuri não era seu filho de verdade. E ele era. Nikiforov brigaria com um exército para provar isso, do mesmo jeito que faria se dissessem algo sobre Yuri.

 

Mas o que fazer com memórias? Elas machucam, mas são o bem mais poderoso que muitos guardam. Esse era o desafio de um pai adotivo: receber uma criança com uma bagagem às vezes desconhecida e saber lidar com ela. Se Yuuri continuasse a se recusar a aceitar a nova situação, ele entenderia. Até porque, felizmente ou infelizmente, uma hora ele esqueceria. Esqueceria seu pai, sua mãe, o período que passou no orfanato, o dia em que foi tirado de lá. O tempo curava as coisas, apesar da dor.

 

Ele podia esperar um pouco.

 

— Tudo bem se eu ainda não for um papai pra você, Yuuri. - ele disse contra o cabelo preto bagunçado do menor, aproveitando o aroma fresco de xampu de camomila. - Só saiba que até lá, e depois disso, eu ainda vou cuidar de você. Assim como Yuri, você será sempre o meu bebê.

 

Se Yuuri sabia o que tudo aquilo significava, ele não disse nada. Mas acabou rindo quando Victor acidentalmente encostou na parte de baixo de seu queixo.

 

Oh.

 

O mais velho sorriu um tanto maléfico.

 

— Você tem cócegas, Yuuri? - ele perguntou, mesmo já sabendo a resposta enquanto tocava o aparente ponto fraco de Yuuri e o fazia rir de novo. - Ah, mas isso é muito interessante. Porque agora eu posso me vingar quando você fica malvadinho comigo.

 

E foi exatamente isso que ele fez atacando o menor com uma boa dose de beijinhos e cócegas, arrancando dele aquelas risadas que Victor adorava apenas quando ele não era o motivo. Yuuri realmente colocou um pouco mais de luz em sua vida.

 

Ele não se importaria em esperar o tempo que fosse pelo grande dia.





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Notas finais do capítulo

Olá, meu nome é Fazer Victor Sofrer.
Foi bem curtinho esse, né? Mas eu achei fofo *^*

Até a próxima!!
XOXO



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