Two Shades Of Blue escrita por Mileh Diamond


Capítulo 8
Gala


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo era um dos que já estava pronto há um tempão, mas eu sentia que precisava de vários capítulos de enrolação antes de postar :v
Alerta para crianças sendo pedaços de lixo com outras crianças.

Boa leitura!



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— Eu pago o dobro. - Victor disse com o celular entre o ombro e o ouvido, enquanto arrumava sua gravata - O triplo. Até o quádruplo, mas por favor, Ivana, olhe os meninos pra mim hoje. É uma emergência e você é a minha última esperança.

 

— Sr. Nikiforov, eu lamento muito, mas não posso aceitar. Já estou com a agenda lotada e não faz parte da minha conduta trocar horários já marcados por aqueles que cobram mais.

 

 

Victor suspirou derrotado enquanto sentava na cama.

 

— Tudo bem, eu entendo. Desculpe o incômodo, Ivana. Tenha uma boa noite.

 

Ele desligou o telefone e caiu contra os travesseiros dramaticamente.

 

Era a quarta e última babá de sua lista. Nenhuma delas estava disponível após a sua babá titular avisar na última hora que sua filha sofreu um acidente de moto e que não podia cuidar dos meninos naquela noite.

 

Era a gala tradicional que ocorria após o Campeonato Nacional de Patinação. Era importantíssimo que os treinadores estivessem lá com seus atletas para falar com patrocinadores. Ele não tinha só um, mas dois patinadores dependendo dele naquele evento. Não podia cancelar, principalmente por causa de Polina. Sua aluna não só tinha problemas com festas cheias, mas estava se sentindo mal por sua performance ganhadora do bronze. Era um resultado ótimo para alguém que acabara de entrar na categoria sênior, mas ela ainda se sentia insegura.

 

Não fazia ideia do que fazer com Yuri e Yuuri.

 

É nessas horas que a voz do Diabo sussurra ideias perigosas em sua mente, como: "Ligue para Yakov" ou pior ainda "Ligue para Lilia". Lilia, que toda quinta feira à noite mantinha o ritual de assistir novelas antigas e o mataria se tivesse que ficar de babá. Eram ideias tão ruins quanto adotar duas crianças sem estar casado.

 

Bom, ele era o mestre das ideias ruins.

 

Colocando o seu melhor sorriso de pai que definitivamente sabe o que está fazendo, ele saiu do quarto em direção a sala, onde seus dois meninos estavam assistindo TV. Ou melhor, Yuri queria assistir TV enquanto Yuuri chamava sua atenção para os blocos coloridos no tapete.

 

— Quem quer ir numa grande aventura comigo ao banquete de gala do Campeonato Nacional? - ele disse com tanta animação que por um segundo conseguiu se convencer de que a noite não seria uma droga.

 

Yuri, porém, não cairia naquela história e sendo o único da dupla com habilidades oratórias, respondeu pelos dois:

 

— Não. É chato. Não pode brincar e todo mundo quer apertar a minha bochecha. - ele disse sem nem olhar para Victor.

 

Ele ainda tinha que tentar.

 

— Yura, por favor. - ele disse literalmente caindo de joelhos frente às duas crianças - Nenhuma das babás pode vir e eu não posso deixar Polina sozinha lá.

 

— Eu sei ficar sozinho. Você leva Yuuri e eu fico aqui. - ele respondeu provando que era um menino grande e que podia ficar sozinho. Além disso, Yuuri já estava muito chato com aqueles blocos.

 

— Yura, eu não vou te deixar sozinho aqui. E quem vai me ajudar a cuidar de Yurachka na festa? - ele colocou-se entre o garoto e a TV, de forma que não poderia desviar o olhar - É só por uma hora. Então eu prometo que vamos embora e amanhã comeremos muitos waffles.

 

— Uma hora é um tempão - Yuri continuou inabalado. Uma hora significava uma atividade na escola. E atividades chatas levavam muuuito tempo.

— Por favor. - ele disse à beira de lágrimas metafóricas - Yuuri, diga ao seu irmão que será legal!

 

Yuuri, como o pequeno traidor que era, riu e entregou um bloco rosa para o mais velho num pedido para brincar com ele. Era o equivalente infantil de "Aceita que dói menos".

 

Isso pedia medidas drásticas.

 

— Eu compro aquela fantasia da Mulher Maravilha que você queria. - ele disse sério olhando para o loiro.

 

Ele arregalou os olhos.

 

— Com o laço e tudo?

 

— Laço e tudo. - ele confirmou com um aceno.

 

Yuri se levantou rapidamente e foi para o seu quarto, tendo Yuuri em seu encalço logo depois.

 

Seria uma longa noite.



 

 

 

Yuri odiava festas de adultos.

 

Primeiro, porque ele tinha que usar roupas desconfortáveis que eram "apropriadas para a ocasião" (é só um jeito exagerado de dizer "bonito") (E as roupas eram feias). Segundo, porque ele não podia fazer nada. Nada de correr, nada de pular, nada de fugir para a cozinha para ver se tinha sorvete. Ele tinha que ficar sentado como uma estátua e falar educadamente com os convidados que o cumprimentavam. Normalmente eram mulheres com maquiagens assustadoras que o achavam fofo. E terceiro, porque Victor nunca ficava por perto.

 

Ele foi obrigado a usar uma mini-gravata borboleta e o que parecia um terno. Yuuri usava uma versão visivelmente mais confortável, o que tornava os três o combo família do estilo "pessoas esnobes em festas".

 

Como o esperado, o lugar estava cheio de mulheres, e os ocasionais homens, que os rondavam como abutres falando que ele era fofo. Yuuri foi a principal vítima dessa vez, porque ele era menor e mais indefeso. Yuri quase desejou que ele começasse a chorar, assim Victor os levaria pra casa mais cedo. Só que isso seria malvado.

 

Dessa vez, havia um espaço para crianças com brinquedos e algumas pessoas vigiando. Provavelmente pensaram nisso após as inúmeras vezes que Victor teve problemas ao trazer Yuri e em um particular evento em que ele e o filho dos Leroy derrubaram uma bacia de ponche. É, aquilo foi divertido, mas assustador depois.

 

De qualquer forma, Victor pareceu aliviado ao saber da existência do playground e nem pensou duas vezes antes de deixar seus dois meninos ali. Ok, ele pensou um pouquinho e não estava muito confiante no trabalho da moça com piercings que deveria cuidar das crianças, mas ficava no celular. Era o que tinha pra hoje, porém.

 

— Yuri, cuide do seu irmão. Não deixe ele subir nos brinquedos altos. E não deixe ele colocar nada na boca. - ele disse antes de sair do espaço com tatame colorido no chão e vários brinquedos de plástico ao redor - Eu volto logo. Divirtam-se!

 

Como que alguém se diverte naquele espaço minúsculo cheio de crianças?

 

Yuri já estava se arrependendo, principalmente quando Yuuri começou a puxá-lo em direção à piscina de bolinhas. Yuuri via uma graça em blocos e bolas que Yuri simplesmente não entendia. E ele gostava de jogar coisas no mais velho, pra variar.

 

Foram quarenta minutos de relativa paz. Yuuri escolhendo os brinquedos, Yuri seguindo e garantido que ele não engoliria nada, conversa básica com outras crianças... Quase um dia comum na creche. Ele até podia dizer que era divertido.

 

Então teve a mesa de desenhos.

 

Eram duas mesas com cadeiras, papeis e giz de cera para as crianças desenharem. Havia três em uma mesa e os dois irmãos estavam na outra. Yuri estava tendo todo o cuidado do mundo desenhando uma nova espécie híbrida de tigre e dragão enquanto Yuuri afirmava que um monte de rabiscos verdes e azuis era Victor.

 

(Yuri nem tentou discutir. Yuuri nunca acreditava quando ele dizia que seus desenhos pareciam tudo, menos o pai dos dois.)

 

De repente um garoto da outra mesa veio até eles. Ele era maior que Yuri. Tinha bocehechas gordas e um nariz pontudo parecendo um boneco de neve com cabelo.

 

— Eu quero o verde. - o outro disse olhando para os gizes na mesa.

 

Yuri, que só usara variantes de laranja e rosa em sua obra, reparou que Yuuri ainda estava usando o verde. Bom, ele viu primeiro.

 

— Ele tá usando. - ele disse voltando a pintar logo depois.

 

— Ele já usou demais! - o garoto disse em voz alta.

 

Yuri apenas levantou o olhar e disse o que seu pai costumava falar quando ele estava impaciente:

 

— Você tem que esperar.

 

Isso não agradou o cara redondo. Ele retirou o giz da mão de Yuuri e o mais novo começou a choramingar imediatamente.

 

— Ei! - Yuri se levantou ao perceber o roubo - Ele tava usando!

 

— Eu só vou usar um pouco. E o desenho dele é feio. - o garoto disse se afastando.

 

Yuuri já tinha as bochechas vermelhas e úmidas pelo choro, mas não iria sair sem uma luta. Andando até o garoto maior, ele puxou seu braço pedindo o giz. E o mais velho teve a audácia de empurrá-lo,  fazendo com que ele caísse sentado no chão acolchoado.

 

Agora Yuri se irritou.

 

Deixando seu desenho inacabado de lado, ele deu passos decididos em direção ao agressor, parando bem próximo à mesa e rasgando o que ele supôs ser o desenho do garoto.

 

— Ei! - o outro exclamou irritado.

 

— Ninguém briga com o meu irmão, só eu! - ele disse sentindo suas bochechas corarem de raiva - Devolve o giz dele!

 

— Não é dele, é pra todo mundo. E ele nem sabe desenhar, é só um bebê chorão. - ele disse apontando o menino chorando no chão.

 

— Yu-ah... - Yuuri disse entre soluços - O "vêde"...

 

Aquilo foi a única coisa que ele precisava ouvir para fechar a mão em punho e acertar o queixo do maior.

 

Ai, essa doeu. Socos pareciam mais fáceis na TV.

 

Mas teve o efeito necessário, porque o garoto gritou em alarde e avançou pra cima dele. As meninas que estavam na mesa começaram a gritar. Yuuri começou a chorar mais.

 

Bem vindo à loucura.

 

Antes dos cuidadores do playground notarem alguma coisa, ele conseguiu acertar dois socos, três chutes, uma cabeçada e uma mordida. Quando finalmente os separaram ele tinha uns arranhões, mas o inimigo tinha os dois olhos roxos. E Yuuri estava rindo porque conseguiu seu amado giz verde no processo. Tudo ficaria bem.

 

Os pais dos meliantes foram chamados e Victor veio escoltado por Mila e Polina. As patinadoras foram em seu socorro enquanto Victor, depois de confirmar que Yuri não quebrara nenhum osso, foi brigar com a mãe do outro garoto.

 

— Yura, olha o seu rosto! - Polina colocou as mãos sobre a boca - Por que estava brigando?

 

— Aquele idiota roubou o giz do Yuuri. - ele resmungou. Yuuri, por sua vez, estava ao seu lado segurando o desenho em silêncio.

 

— Nesse caso ele mereceu. Mas não devia fazer isso, Yura. - Mila disse bagunçando seu cabelo - De qualquer forma, foi muito legal ter defendido o seu irmão. Apenas tem que aprender a fazer isso sem socos.

 

Yuri ficou em silêncio. Ele não pensou em fazer aquilo por Yuuri, mas sim porque o outro cara foi um idiota. E Yuuri era um bebê, não podia brigar sozinho. Se pudesse, ele não iria interferir.

 

É, foi isso que aconteceu.

 

Quando Victor voltou com uma expressão que deixava claro que Yuri não ganharia nem fantasia, nem waffles, o loiro baixou a cabeça.

 

— Nós temos muito a conversar, mocinho. - ele disse pegando Yuuri no colo e segurando sua mão - Diga tchau a Mila e Polina.

 

As duas acenaram pra ele e Yuri fez o mesmo, só que com menos animação. Os três saíram da festa em silêncio até Yuuri dizer:

 

— Vitor. - ele balançou a folha com o desenho animadamente, chamando a atenção do mais velho - Vitor!

 

Victor soltou Yuri por um momento apenas para pegar a folha.

 

— Sou eu, Yurachka? - o menino assentiu e Victor abriu o primeiro sorriso verdadeiro da noite - Obrigado, eu achei muito bonito.

 

Yuuri, tímido que era, apenas escondeu o rosto no pescoço de seu responsável e não falou mais nada.

 

Fosse isso tempos atrás, Yuri fecharia a cara e continuaria de mau-humor pelo resto do dia por ciúmes. Mas agora ele apenas bufou contrariado por Yuuri ter saído como um anjo da história.

 

Se bem que era bem próximo da realidade.

 

Os três já estavam no carro a caminho de casa quando Victor disse:

 

— O garoto teve o que mereceu.

 

Yuri olhou para Victor pelo espelho retrovisor. Não estava certo de que ouvira bem.

 

— Hum?

 

— Você fez bem em defender Yuuri na festa. - Victor continuou com um tom bem mais leve que o usado na bronca mais cedo - Eu não podia falar nada lá porque só pioraria as coisas. Mas eu estou feliz por ter protegido seu irmão, Yura.

 

 

Eles ficaram em um silêncio confortável. Então Victor não estava bravo de verdade?

 

— Ainda vou ganhar meu presente? - Yuri perguntou ansioso.

 

— Não. - a resposta de Victor foi pontual - Não devia ter batido no moleque. Olha o seu rosto, Yuri. Podia ter perdido um dente. - Victor estava sério, mas não conseguiu esconder o sorriso por muito tempo - Mas os waffles ainda estão de pé.

 

— Yay! - Yuri comemorou e Yuuri o acompanhou mesmo sem ter absoluta certeza do que se tratava - Ugh, Yuuri vai comer tudo!

 

— Waifu! - Yuuri comemorou ignorando completamente o loiro.

 

Os dois mais velhos riram e a viagem até a morada dos Nikiforov continuou sem grandes turbulências.

 

E talvez, só talvez, Yuri gostasse de proteger seu irmãozinho.

 


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Notas finais do capítulo

- Como ficou implícito no capítulo e alguns devem estar se perguntando: JJ é só um pouco mais velho que o Yuri nessa fic :v Eu fui bem aleatória na hora de decidir quem seria criança nesse AU, mas JJ e Otabek são uma certeza.

E é isso, espero que tenham gostado do cap!!

XOXO



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