Two Shades Of Blue escrita por Mileh Diamond


Capítulo 6
Irmãs


Notas iniciais do capítulo

Ok, isso me fez chorar.
Esse capítulo curtíssimo focará em dois OCs que, apesar de não aparecerem muito na história, são importantes. Estou falando de Nina, a mãe do Yuri, e a Arina, a mãe do Yuuri.
Essa cena se passa cerca de sete anos antes do primeiro capítulo da fic e eu tenho muito orgulho dela.
Sem mais delongas, ao capítulo.
Boa leitura!



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— Doze anos estudando balé, - Nina disse com uma careta. - para encenar uma idiota que não sabe balé.

— Shh. Vai estragar meu trabalho. - Arina disse consertando o último grampo no cabelo da amiga.

Eles poderiam pedir para os maquiadores e cabeleireiros se ocuparem com o pequeno acidente no cabelo de Nina, mas já estavam tão atarefados dando os toques finais em bailarinas mais importantes (até doía dizer isso) que Arina resolveu que poderia cuidar daquilo sozinha. Ela já tinha experiência com desastres.

 

30 anos de idade tendo como seu ápice de carreira ser a substituta do Cupido de Dom Quixote já era um desastre.

 

Uma mulher de 30, tendo como melhor amiga uma garota de 19, sem namorado ou família, passando a maior parte de sua vida fazendo fundos de cena. Arina Nanami Kitahara era um desastre ambulante.

Um desastre persistente, pelo menos. Muitas já teriam desistido daquela vida nas sombras que a bailarina de ascendência japonesa adotou como sua. Por que continuar nos palcos se ela nunca receberia um papel relevante? Por que se submeter a humilhação de, a cada ano passado, ser uma das artistas mais velhas e ignoradas no Bolshoi?

Porque era tudo que ela tinha.

Arina era uma pessoa solitária. Os anos de esforço dedicados à dança lhe roubaram amigos, os familiares, os amores... Ela nem tinha ideia de como era uma vida sem dança. O que faria quando seus pés não suportassem mais as exaustivas horas en pointé?

Algum dia ela conseguiria ter um filho?

— Pronto. - ela disse procurando por algum cacho loiro fora de lugar. - Pode bater em quantos cabides quiser agora, Ninochka, essa flor não vai sair daí.

Nina olhou para ela com o rosto corado, parte por irritação, parte por vergonha. Ela teria que ouvir aquilo por dias, agora.

— Foi um acidente, ok? - a mais nova resmungou, voltando a olhar para o espelho.  - Nem faz diferença eu estar com a flor ou não. Quem presta atenção em coadjuvante?

Eu vou prestar, vou ficar ao seu lado! - Arina disse rindo. - E eu acho um papel muito bom. Maximova estava se rasgando para ser a irmã feia.

— Porque combina muito com ela. - a garota disse em voz baixa e as duas riram.

Nina Plisetskaya havia se juntado à trupe do Bolshoi há quase dois anos. Um talento nato. Um dia certamente a colocariam num papel decente, estavam apenas testando-a com personagens menores. Arina deveria sentir inveja.

Ela não conseguiu. Ver a menina nova que entrava muda e saía calada dos ensaios, que já começara a ficar mal falada pelos corredores, que sempre almoçava sozinha... Aquilo mexeu com ela e seus instintos maternais nunca utilizados.

Ela ofereceu um bentô tradicional a Nina no almoço como uma colegial fazendo amizade. E funcionou. Uma estrela começando a brilhar e outra que sempre foi ofuscada. Onze anos de experiências as separavam, mas apenas um foi suficiente para juntá-las. O destino tem essas coisas.

— Tenho certeza de que na próxima você consegue um solo melhor. - Arina disse confiante. - Posso até arriscar uma Clara em Quebra-Nozes.

Ela esperava um mostrar de língua, uma reclamação por Clara ser uma personagem muito infantil, coisas de Nina. O que recebeu a deixou preocupada por um momento. A moça desviou o olhar e começou a brincar com um babado do vestido. Oh, oh.

— Acho que não vai ter próxima vez, Arya. - Nina confessou num sussurro. - Pelo menos não aqui.

A mais velha arregalou os olhos. O que aquilo queria dizer?

Kitahara a puxou pelo pulso para um lugar mais reservado. Ali estava cheio de gente e o povo ama fofocas. Aquela era uma conversa séria.

Escondidas atrás de fantasias sobressalentes, Arina perguntou:

— Como assim não vai ter próxima vez? Você está saindo?

 

Não fazia sentido. Nina era maravilhosa! Quem era o idiota que queria demití-la? Se era para colocar alguém na rua, colocassem Arina,  a estranha, o desperdício de espaço e sapatilhas...

 

Mas Plisetskaya apenas sorriu. Um sorriso enorme, como se ela estivesse o segurando a semana inteira e só agora podia mostrá-lo.

 

— Eu recebi uma ligação do teatro Mikhailovsky, em São Petersburgo. - ela explicou. - Eles disseram que estão interessados no meu estilo depois de assistirem a dança espanhola do Lago dos Cisnes. Disseram que estão dispostos a me oferecer algo muito maior, melhor do que qualquer papel que eu possa conseguir aqui em Moscou.

 

A mulher piscou, ainda processando a informação.

 

— E você disse o quê?

 

— Eu aceitei. - Nina disse um pouco nervosa. - Acha... Acha que eu fiz mal?

 

Ela bateria em Nina se não tivessem que entrar em cena em menos de uma hora.

 

— Não, sua louca, claro que não! - ela disse animada, contendo-se para não abraçar a garota ali mesmo e estragar o cabelo uma segunda vez. - Nina, isso é maravilhoso! Você vai finalmente conseguir algo melhor, será uma estrela! Estou muito feliz por você!

 

— Queria poder levar você comigo. - a loira disse com um sorriso triste. - Você também merece algo melhor que o corpo de baile, Arya.

 

— Não se preocupe com a velha aqui, ela ficará bem. - Arina fez um sinal de descaso com a mão, mas os olhos castanhos já lacrimejavam de emoção. - Eu vou sentir sua falta, Ninochka. Não ouse se esquecer de mim, ouviu?

 

— Como que eu posso te esquecer? Somos irmãs, lembra? - ela fez piada com seus atuais papeis, mas também estava se segurando para não chorar e borrar a maquiagem. - Gêmeas idênticas.

 

— É claro, nunca houve gêmeas mais idênticas que nós. - a morena riu, girando na ponta dos pés. - Até nossos vestidos são idênticos.

 

— As cores não batem muito bem. - Nina entrou na brincadeira, apontando o próprio vestido rosa que tinha o modelo idêntico ao de Arina, que usava azul.

 

— Ora, quem disse? São apenas tons diferentes de azul. - a asiática sorriu. - É isso que somos. Dois tons de azul. E você é um tom mais brilhante.

 

— E você é um tom mais chato. - ela cutucou a outra na barriga, nunca acostumada com o hábito péssimo de Arina de se menosprezar. - Depois que acabarmos de ser as melhores irmãs postiças para a Cinderela, quer sair pra beber? Quero começar a despedida desde já, pra doer menos depois.

 

— E você tem idade pra beber, mocinha? - ela cruzou os braços, mas acabou cedendo. - Eu pago, então. Agora vamos, eles já devem estar sentindo nossa falta pro show.

 

As duas se apressaram de volta aos seus postos e não tardou para as cortinas levantarem. Arina acha que aquela foi a melhor apresentação de sua vida.

 

Por mais incrível que parecesse, as irmãs da Cinderela receberam flores. Alguém deve ter gostado das impressões diabólicas que fizeram. A mais velha entregou o celular para um auxiliar de iluminação desavisado e pediu para bater uma foto das duas naquele momento memorável.

 

Ela gastou alguns trocados com a impressão personalizada, mas valeu a pena quando ela entregou a foto para uma Nina chorosa uma semana antes de sua partida de Moscou.

 

No verso da foto, ela deixou a mensagem:

 

"A melhor irmã de todas. Boa sorte em São Petersburgo!

— Arina.

Setembro de 2011."




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Notas finais do capítulo

Informações úteis~~
— Elas estavam no papel das irmãs da Cinderela, um balé que não está no repertório do Bolshoi, de forma que eu usei a licença poética pra isso dar certo.
— Tenho quase certeza de que a vida real é muito menos fácil do que "me ligaram e eu consegui um trabalho melhor", mas shhhh.
— Arina chegou a conhecer o Yuri quando ele era um bebê. Nina nunca conheceu Yuuri.
— Arina tem condutas questionáveis, tentem não amá-la.
— Essas duas me deixam muito fraca.

E é isso, pessoinhas!

XOXO



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