Two Shades Of Blue escrita por Mileh Diamond


Capítulo 2
Regras


Notas iniciais do capítulo

~New Rules tocando no fundo~
Só tô aqui pra panfletar Storge da Nat King, é. Ela me machucou tanto que eu tive que escrever fluff pra aliviar. E que coisa melhor pra sarar feridas do que Yuri colocando new rules pra um infante de 18 meses? Hum.
Boa leitura ♥



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Dizer que a adaptação estava indo às mil maravilhas era exagero. Estava horrível. Yuri ainda não se acostumara com o novo habitante da casa, mas ele estava começando a suportá-lo. Uma coisa em especial que seu pai dissera melhorou sua perspectiva.

 

— Papa disse que eu sou o mais velho e que eu que mando aqui quando ele não tá. - Yuri disse sentando-se no tapete com algumas dezenas de folhas de papel na mão - Você tem que me... é... "bedecer". É, isso. Porque você é pequeno e eu sou grande. Os pequenos "bedecem" os grandes.

 

Yuri já era grande e sabia que haviam regras. Regras eram desenhos nas paredes da escola que diziam o que você não podia fazer. Ás vezes, regras eram faladas pelo seu pai, mas só depois que ele já fizera algo errado, como a regra de não usar o xampu de castanhas brasileiras de seu pai para fazer uma poção mágica. Regras em papeis eram mais legais, porque tinham figuras. Yuri não podia dizer que gostava de segui-las, mas Yuuri tinha que aprender.

 

No momento, eles estavam sobre o tapete da sala rodeados de muitos brinquedos, sem supervisão. Yuri completamente ignorou a autoridade de Elizaveta, a babá que estava cuidando dos dois naquela hora. A pobre estudante de psicopedagogia estava muito ocupada na cozinha tentando terminar um trabalho, mas ainda conseguia ouvir coisas quebrando ou sentir cheiro de fumaça, então estava tudo bem.

 

Yuuri, para o seu mérito, estava olhando para o mais velho enquanto mastigava a própria mão. Ele já percebera que o menino loiro ficava com ele por muito mais tempo do que Victor, então acabou se acostumando. Ele só achava estranho quando Victor falava seu nome enquanto ficava bravo com o loiro. O nome dele não era "Yura"?

 

— Regra 1. - ele disse puxando a primeira folha de rabiscos - Não pode chorar. É feio e deixa o papa triste. E eu não consigo dormir.

 

Era um desenho de uma figura redonda de cabelos pretos, com várias gotas saindo dos olhos e o círculo de "proibido" cobrindo tudo. Todas as placas tinham a mesma estética.

 

Aquela, de fato, foi uma mudança drástica para os dois. Na primeira semana, Yuuri resolveu que achava o lugar estranho e chorava a noite inteira por atenção, levando um Victor sonolento e desesperado a andar com ele pelo apartamento até cair no sono. Yuri achava um absurdo. Ele tinha sono, por que o bebê simplesmente não ficava quieto?

 

E Yuuri chorava por tudo, na verdade. Ele chorava pela comida, pelos brinquedos, pra ficar perto de Victor, pra ficar perto de Makkachin, pra brincar com Yuri (Por quê?), pra assistir TV, pra trocar fralda, pra não ir pra creche... Eram lágrimas demais pra alguém tão pequeno. Yuri estava cansado.

 

Ele pegou outro papel.

 

— Regra 2. Não pode ficar no meu quarto. Ele é meu quarto. Só eu que posso ficar lá. - ele explicou calmamente, assistindo para qualquer mudança de reação.

 

Yuuri gostava de andar e mexer no que não era dele. Só nessa semana ele entrou no quarto de Yuri dez vezes e pegou dois de seus brinquedos. Um escândalo foi armado quando ele se aproximou de Potya, seu gato de pelúcia mais antigo e preferido, e Victor teve que consolar duas crianças enquanto usava máscara facial.

 

(Yuuri começou a chorar de verdade pela máscara em si.)

 

A próxima era questão de sobrevivência e Yuri se sentia muito útil se lembrando disso. Era o seu trabalho como irmão mais velho ensinar essas coisas quando Victor não estava perto e ele já vira aquilo acontecer demais.

 

— Regra 3. Não pode colocar tudo na boca. É muito eca e você pode ficar dodói e ir pro hospital. Hospital dá medo. - ele fez uma careta. Tinha péssimas memórias com hospitais - Você pode morder o seu Makka de brinquedo, a colher e o copo. Só isso, tá?

— Makka? - Yuuri entendeu aquilo como um convite para ir em busca do cachorro, já se levantando e sendo impedido pelo mais velho.

 

Yuri aprendera da forma difícil que não podia simplesmente puxar bebês pelo braço, senão eles caem, começam a chorar e seu castigo é aumentado em mais uma semana. Então ele tinha que segurar a mão gordinha de Yuuri e puxar só um pouquinho pra ele entender que não devia ir embora.

 

— Não, eu não acabei. Senta. - ele disse não soltando o mais novo até ele seguir o seu comando. Yuuri podia ser obediente quando queria.

 

Essa regra era primordial. Yuri fez questão de usar muitas cores nela. Cores que ilustravam um Victor alto e sorridente segurando a mão de um Yuri também feliz e de outro círculo de cabelos pretos que deveria ser Yuuri.

 

— Regra 4. Papa não é só seu. A gente tem que dividir. - ele fez um bico. Não gostava daquilo nem um pouco, mas foi uma das primeiras coisas que mudou no lugar - Quando eu brincar com ele, você fica bem longe, tá?

Yuuri ignorou o aviso e riu dos desenhos. Eram tão coloridos e a figura mais alta lembrava alguém...

— Vi-tor! - ele apontou com um dedo para imagem azulada e prateada pintada com giz de cera, orgulhoso por reconhecer seu amigo super alto que por algum motivo agora morava com ele.

 

— Não é Vitor, é Vic-tor. - Yuri disse frizando o nome. Pelo menos ele sabia falar o nome do próprio pai.

— Vitor! - Yuuri repetiu errado mais uma vez, achando-se o dono da razão.

 

Yuri colocou a mão sobre o rosto dramaticamente, como via seu pai fazer inúmeras vezes. Como alguém podia ser tão burro?

Mais uma folha de papel. Ele não sabia se Yuuri entendia o que ele estava falando, mas ele gostava de se sentir importante, de alguma forma. Isso, de certa forma, fazia dele quase um adulto. Ele era responsável!

 

(Res-pon-sá-vel. Era algo que só os adultos eram, aparentemente. Yakov às vezes gritava com Victor o chamando de irresponsável, mas não parecia tão bom quanto a outra palavra.)

 

— Regra... 5. - Ok, isso foi constrangedor, ele quase esqueceu a ordem dos números na frente do menor - Os meus brinquedos. É só meu. Tudinho. Você tem os seus de bebê. Não é pra pegar.

 

Isso estava diretamente relacionado ao incidente de Potya, mas no geral, Yuuri adorava as coisas que eram de Yuri. O mais novo podia estar com todos os seus brinquedos barulhentos da Fisherprice, se Yuri aparecesse com uma bola, de repente tudo era lixo e Yuuri queria aquilo também. No início, havia brigas sobre o objeto, mas Yuri aprendeu a simplesmente desistir de suas coisas e ir brincar com outra coisa. Mas não resolvia em nada, porque Yuuri largava o recém-adquirido prêmio para ir atrás de qualquer coisa que Yuri esteja usando. Era muito chato, ele não podia fazer nada! Yuri ainda não entendia como alguém tão bobo poderia ser seu irmão.

— Regra... Ei! - Yuuri havia pegado uma das folhas para fazer a segunda coisa que ele sabia de melhor: estragar - Não pode morder as regras!

 

Yuri tomou o papel e Yuuri piscou algumas vezes antes de tentar pegar um de novo. Yuri afastou seus preciosos e sérios desenhos, salvando-os de mãos fofas e babadas.

— Não! Não é de brincar. - ele disse com uma careta enquanto tentava afastar o bebê que engatinhara alguns centímetros atrás do papel.

 

Então Yuuri fez a primeira coisa que ele sabia fazer melhor: chorar.

 

 

— Não é pra chorar! Você não ouviu? - ele perguntou com um misto de frustração e raiva. Havia gastado seus preciosos lápis de cor com aquelas placas e ele não entendeu nada. Por que ele tinha que ter um porquinho teimoso como irmão? Por que ele tinha que ter um irmão, pra começar?

Yuuri continuou resmungando pedidos enquanto suas bochechas ficavam mais vermelhas e molhadas. Elizaveta, notando o caos, largou seus estudos para ver do que se tratava.

— Aw, por que Yuuri está chorando? - a mulher disse se sentando no chão com os dois.

 

Yuri gostava de Liza. Ela não era tão velha quanto Ivana e nunca assumia que Yuri fizera uma coisa errada. Não era "O que você fez, Yuri?", mas "O que aconteceu, Yuri?". Ele também gostava de como ela prendia o cabelo super cacheado, como um mar de molas bem pequenas, com um lenço diferente todos os dias. Ela até tinha um com estampa de tigre! Liza era muito legal.

— Yuuri quer brincar com as regras, mas não é de brincar. - ele explicou sério e confiante, esperando que a babá ficasse ao seu lado naquela discussão.

— Hum, realmente, regras não são pra brincar. - ela disse enquanto limpava o rosto de Yuuri com um lenço - Não chore, Yurachka, vamos resolver isso. Yura, é muito legal você tentar explicar isso para o Yuuri, mas ele não vai entender.

Yuri fechou a cara.

— Por quê?

— Porque ele é um bebê. - a mulher segurou um riso - Eles não aprendem muito ouvindo, apenas vendo e fazendo.

— Só que se ele não aprender, vai fazer tudo errado! - ele resmungou em frustração.

Era tão óbvio para Yuri, por que os adultos não viam a gravidade da situação? Se Yuuri não aprendesse a se comportar, ele faria coisas erradas e choraria toda hora. Tem regras chatas, mas também tem regras importantes, como não aceitar nada de estranhos, não mexer no fogão, segurar a mão de um adulto para atravessar a rua... Yuri congelou com um pensamento. E se Yuuri tentasse atravessar a rua sozinho? Ele, todo pequeno e gordinho e bobo, não sabia daquela regra ainda e podia simplesmente fazer. E se Victor não estivesse lá pra impedir? E se Yuri não estivesse lá?

Mamãe foi embora porque não segurou a mão de um adulto pra atravessar a rua, ele pensou sombrio demais para uma criança.

— Acho que você terá que ensinar as regras de outra forma, uma de cada vez. - Liza disse com um sorriso, inconscientemente retirando-o daquele abismo de preocupações - Mas depois, agora vamos brincar. Yuuri achou muito legal os desenhos que você fez, por que não ensina ele a fazer igual?

O loiro piscou algumas vezes, acordando de seu estupor. Yuuri parou de chorar, mas ainda estava mal-humorado por não conseguir seus desenhos, resumindo-se a olhar para Yuri com chateação.

— Tá. - ele disse no automático, levantando-se para ir buscar seus materiais de desenho e alguns papeis.

Naquela noite, Yuri ensinou Yuuri a desenhar. E Yuuri não se importava quando ele dizia que sua tentativa de desenhar Makkachin era feia, ele apenas continuava. Yuuri era um bebê muito bobo.

Foi com um pouquinho de medo que Yuri se deu conta do quão difícil era ser um irmão mais velho. Ele não podia só mandar, como pensava, porque Yuuri não sabia obedecer. Então ele tinha que cuidar para ele não fazer besteiras e acabar se machucando. Ugh, que coisa chata. Ele preferia ter ganhado um triciclo.

Mas por mais que reclamasse, era até engraçado ver Yuuri tentando copiar as formas que ele fazia no papel segurando a caneta do lado errado. E Yuri pegaria da mão dele e mostraria como que se segura certo, e ele tentaria algumas vezes antes de conseguir sozinho.

É, talvez não fosse tão ruim assim.



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Notas finais do capítulo

Hahahaha, olha esse angst acidental que ninguém viu *sweats nervously*
Até a próxima!!
XOXO



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