Two Shades Of Blue escrita por Mileh Diamond


Capítulo 12
Travessuras


Notas iniciais do capítulo

Oláaaaar, pessoas o//
Acho que esse é um dos capítulos mais desorganizados que tem, eu tava sem ideia :B Mas o final me deixou chorosa, é.
O capítulo é dividido em três partes independentes, sendo que a terceira se refere ao tempo anterior à adoção do Yuuri. O clássico Single Parent Victor com baby Yura que todo mundo ama (^O^)/
Boa leitura!!



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Dê a uma criança cinco minutos sozinha e ela fará um estrago.

Yuri e Yuuri só precisavam de quatro.

 

Os meninos adoravam desenhar, isso não era novidade. Yuuri gostava de copiar Yuri, então ele tinha o maior prazer em pegar as canetinhas e gizes de cera do mais velho e rabiscar folhas de papel, criando imagens abstratas que ele mesmo nomeava e Yuri tentava corrigir sem sucesso.

 

Era uma rotina ter os meninos deitados no tapete da sala rodeados de artigos escolares, então Victor não viu problema em deixá-los sozinhos por um momento para pegar seu celular no segundo andar.

 

Mas Yuuri estava sem folhas de papel. E ele gostava delas bem branquinhas, as disponíveis já estavam muito rabiscadas.

 

Foi então que ele encontrou uma branca, limpa e muito grande folha para desenhos ao seu redor:

 

A parede.

 

Decidindo que estava de bom tamanho, ele caminhou até a parede mais próxima com sua canetinha verde favorita, sendo que Yuri estava muito ocupado com seu próprio desenho para notar a ideia horrível.

 

Com uma das mãos gorduchas segurando a caneta e a outra se apoiando no sofá, Yuuri começou a desenhar. Seria uma vaca e ele gostava do som que elas faziam em seu livro. Mas Victor não gostava quando ele apertava o botão repetidas vezes, o que era um insulto.

 

— Yura! - ele chamou o irmão assim que terminou a obra. Yuuri gostava de se exibir. - Moo-moo!

 

Yuri levantou o olhar de seu desenho e fez uma careta ao notar os rabiscos completamente aleatórios e esverdeados. Ele já entendera que o irmão ainda estava aprendendo a representar formas, mas havia uma coisa muito básica que Yuuri sempre ignorava.

 

— Vaca não é verde, bobo. - o mais velho disse se levantando de seu lugar e pegando algumas canetas no caminho. - Você tem que usar o preto, assim.

 

Como um bom irmão mais velho, ele teve que mostrar como se desenha uma vaca.

 

E obviamente, ele fez isso na parede.

 

Por sorte, havia duas canetas pretas para os dois dividirem, de forma que enquanto Yuri desenhava um bovino de qualidade como exemplo, Yuuri copiava animadamente com círculos que em outra vida pareceriam uma vaca. No fundo, ele estava mais feliz em ter Yuri desenhando com ele. Yura era tão chato às vezes!

 

Victor estava pacificamente checando seu Instagram quando entrou na sala e viu o atentado à sua decoração.

 

Yuri!

O que se seguiu envolveu muita diplomacia, choro, castigo e cabelos prateados arrancados pelo estresse. Yuri aprendeu que não pode desenhar na parede, mesmo que ele passe bastante sabonete para sair. Yuuri aprendeu que vacas não são verdes. E Victor aprendeu que papeis de parede eram um bom investimento.

 

— * -


 

Em sua defesa, Yuri estava com fome. E Yuuri não parava de falar, o que significava que ele estava com fome também. Papai estava trabalhando no escritório e Yuri sabia que não devia incomodá-lo.

 

Ele já era bem grandinho, então é claro que ele conseguiria pegar o cereal sozinho.

 

É, eles comiam cereal. Uma versão sem tanto açúcar que Victor comprava uma vez a cada mil anos por falta de criatividade para lanches. E Yuri sabia muito bem em qual armário ficava.

 

— Mais! - Yuuri exigiu ao seu lado arrastando um porquinho de pelúcia que em muito combinava com ele. - Mais, Yura!

 

"Mais" era a palavra de Yuuri para "cereal". Porque Victor perguntava se ele queria mais e repetia a dose, então ele apenas associou.

 

— Já vou. - o mais velho disse enquanto empurrava uma cadeira e olhava para cima fazendo alguns cálculos.

 

Com a cadeira ele subiria na pia, da pia ele abria o armário e pegaria o cereal. Era muito fácil, mas Yuri só conseguiu pensar naquilo porque era muito inteligente. Se papai visse, ficaria orgulhoso!

 

Mas não era isso que importava aqui, eles precisavam comer. Yuri subiu na cadeira com facilidade, mas teve que mandar um certo bebê parar de seguí-lo.

 

— Não pode! - ele disse já em pé sobre o assento, ficando muito mais alto que o irmão. - Só quem é grande pode subir aqui. Você fica aí com Makka.

 

Makkachin resolveu que montaria guarda na cozinha em caso de alguma coisa dar errado. Talvez ele estivesse esperando um lanche, também.

 

Yuri conseguiu subir na pia e caminhou com cuidado até o armário. Foi então que ele percebeu um erro no seu plano, porque ele ainda era muito pequeno para alcançar a prateleira.

 

A panela no secador de pratos deveria resolver. E foi assim que ele a usou como um pequeno palanque sobre a pia para alcançar devidamente o armário.

 

A caixa de cereal estava quase no fundo do compartimento. Quem colocou tão longe da porta? Seus braços eram curtos!

 

Ele teve que ficar na ponta dos pés para conseguir pegar. A panela mexeu um pouco, mas ele ainda manteve-se em equilíbrio e com a caixa na mão. Missão cumprida!

 

Agora ele só precisava descer. E foi aí que ele cometeu mais um erro.

 

Aparentemente, não dá pra passar da pia para a cadeira com a caixa na mão e sem cair. Ele escorregou um pouco sobre a superfície meio úmida e precisou das duas mãos para se estabilizar. O que significa que quem caiu foi o cereal.

 

Imagine o pânico interno de uma criança ao ver o chão da cozinha coberto de flocos de milho.

 

Oh, não, Yuri pensou enquanto observava estático, ainda sobre o balcão, a cena de Makkachin atacando os cereais esparramados. Papai vai ficar muito bravo.

 

Yuuri foi quem começou a agir, pegando a caixa caída e comendo o seu conteúdo sentado no chão mesmo, sem tigela nem nada. Tudo isso num mar de cereais.

 

Ah, é, ele tinha que agradecer. Victor sempre o lembrava de fazer isso quando conseguia o que queria.

 

'pasibo! - ele disse com um sorriso contente enquanto Yuri descia da cadeira.

 

O loiro nem teve tempo de dizer "De nada", pois Victor escolheu aquele momento para entrar na cozinha e dar um gritinho de espanto.

 

Mais uma semana sem TV. Yay.

 

 

  - * -

 

 

Yuri só tinha três anos na época.

 

Eles já tinham passado da fase de adaptação após a adoção, apesar de cada dia ser uma descoberta nova para ambos. Yuri reaprendia como era ser amado e Victor aprendia o que significava ser um pai. Era um caminho difícil, mas eles chegariam lá.

 

Junte a isso um Victor que ainda tinha que trabalhar e estava tentando flexibilizar a agenda para dar mais atenção ao filho. Foi um período complicado, em que ele tinha que sair todo dia e Yuri ficava com a babá. Se pudesse, ficaria com ele o dia inteiro. Mas o capitalismo chama e alguém precisa pagar as contas.

 

Talvez a parte mais legal da rotina para Yuri fosse ver Victor se arrumando. Ele sempre fazia tudo na mesma ordem, mas nunca repetia roupa. Papai tinha muita roupa. Ele colocava as camisas de manga longa sobre a cama para decidir qual que iria vestir, depois as gravatas e as calças. Depois do banho, ele ficava olhando para as peças como um detetive desvendando um caso e depois escolhia satisfeito. Papai sempre saía parecendo um agente secreto. Depois disso, ele penteava o cabelo e passava perfume. Mas então o evento legal acabava, porque ele tinha que ir embora.

 

Um dia, porém, as coisas foram um pouquinho diferentes. Victor colocou apenas uma camisa, uma calça e uma gravata na cama. Ele parecia mais apressado que o normal. Talvez tenha se atrasado?

 

Yuri não sabia o porquê, mas aquilo não atrapalharia seus planos. Desde ontem ele queria brincar de uma coisa que só daria certo de manhã, porque era muito difícil Victor colocar as camisas na cama em outro horário do dia.

 

Aproveitando a distração do pai que ainda estava no banho, Yuri pegou a camisa Dior caríssima e vestiu. Era cinza claro, com botões da mesma cor, mas Yuri não conseguia fechar, então ficaria aberta mesmo. A calça era muito grande, então ele desistiu de vesti-la. Mas ele ainda pegou a gravata e colocou ao redor no pescoço igualzinho a Victor. Tudo isso com Potya assistindo da mesa de cabeceira.

 

É, estava sendo muito legal.


 

 

Victor acordou atrasado. E seu dia já estava atarefado demais, ele não podia perder tempo com mais nada. Pobre Yura, nem no café da manhã ele conseguiria estar devidamente presente. Ele chamaria a Sra. Narizhnaya do apartamento ao lado para dar uma olhada nele enquanto a babá não chegava. Ugh, por que a ISU resolveu pegar no pé dele justo hoje? Felizmente, ele tinha uma última roupa social limpa e apropriada para a ocasião, sendo que as outras estavam na lavanderia. Por que não se pode ir a reuniões sérias de pólo? Ele colocaria isso na caixinha de sugestões da Federação.

 

Saindo do banheiro em seu roupão, ele esperava encontrar suas roupas em perfeito estado, apenas aguardando para que ele as vestisse e se comportasse como um adulto.

 

O que ele encontrou, porém, foi um vazio em sua cama. E nada das roupas.

 

Quer dizer, havia o blazer e as calças, mas elas estavam caídas no chão. A camisa e a gravata desapareceram. E aquela era a última camisa decente que ele tinha antes de ter que pensar em pólos, então era melhor achá-la.

 

Ele procurou de novo no guarda-roupa, apenas para garantir que não tinha colocado lá por engano. Nada. Gavetas? Nadinha. Debaixo da cama? Nem sombra.

 

Só havia mais dois seres vivos naquele apartamento capazes de sumir com as suas coisas. E Makka estava grandinho demais para aquelas brincadeiras.

 

— Yura? - ele chamou indo até a cozinha. - Você viu a minha...

 

Victor congelou assim que percebeu o crime.

 

Yuri já estava tomando o café com a sua camisa e a sua gravata. O cabelo loiro estava puxado para o lado e Victor tinha certeza que estava sentindo cheiro de perfume. Mas o pior não foi isso. Yuri estava comendo torrada com geléia e esquecera de colocar o guardanapo na gola da roupa para não sujar. Sua estimada Dior tinha agora duas manchas de morango novinhas.

 

— Yura... - ele disse em voz baixa enquanto se aproximava, lutando para impedir a crise histérica que se formava em seu peito só de pensar em como raios ele ia trabalhar com aquela roupa manchada. - Por que está com a minha camisa?

 

Yuri empurrou o prato finalizado de torradas e limpou as mãos e a boca com um guardanapo de papel (Tinha dedo da Lilia nisso, Victor tinha certeza). Finalmente, ele olhou muito sério para Victor e disse:

 

— Eu sou o Papai. - Yuri se virou para a outra cadeira e pegou seu gato de pelúcia. - Você cuida dele e eu vou pro "tabaio". Tá?

 

Victor prendeu a respiração, sentindo todo o seu interior derreter em emoções. Talvez até transbordasse em lágrimas, quem sabe.

 

— ...Tá. - foi tudo que Victor conseguiu dizer perante a cena. Ele precisava de um minuto pra absorver tanta pureza.

 

Yuri assentiu satisfeito e desceu da cadeira sozinho. Desde quando ele sabia descer sozinho? Victor estava perdendo muita coisa ali. Mas ele não teve tempo de pensar muito nisso, pois Yuri beijou Potya e disse baixinho:

 

— Eu já volto. Papai te ama. - e dito isso, ele entregou o brinquedo para Victor e saiu correndo para os quartos, pisando na barra da camisa pelo caminho.

 

Só aí Victor começou a chorar abraçado a um gato de pelúcia.

 

Por que ele estava chorando? Nada triste acontecera. Que confuso. Era o estresse, estava o deixando louco. Tanta coisa pra fazer e ele nem tinha tempo para ficar com Yuri, o suficiente para refletir nas brincadeiras do menino. Era assim que ele era visto: o homem que se veste com as melhores roupas de manhã, dá "tchau" e deixa o filho com outra pessoa.

 

Ele jurou, no dia em que assinou os papeis de adoção, que não repetiria essa pergunta, mas ele não pode evitar, agora.

 

Ele estava pronto para ser pai?

 

Ele tinha condições emocionais e psicológicas para criar uma criança? Será que Yuri não merecia alguém melhor? Alguém que daria pra ele a atenção que ele merecia?

Com as lágrimas embaçando a sua visão, Victor olhou para a pelúcia em suas mãos.

 

Papai te ama.

 

Era a verdade, a maior e mais pura delas. Victor amava Yuri e, se estavam passando por aquilo, era porque ele queria o melhor para o filho. Não queria que ele tivesse qualquer privação material ou se sentisse abandonado. Os pais de Victor, por um certo tempo, conseguiram garantir as duas coisas e ele se lembrava do quão bom era. Todo mundo merece receber amor.

 

Victor era a melhor opção de pai para Yuri? Ele não sabia dizer, mas não iria estragar a oportunidade.

 

Esfregando os olhos, Victor se forçou a colocar um sorriso no rosto.

 

— Yurachka.~ - ele chamou enquanto seguia pelo corredor à procura do filho. - Eu quero uns beijos antes de ir embora!

 

Foda-se a ISU. Ele já estava atrasado mesmo.

 

E ele iria com a pólo.









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Notas finais do capítulo

Por que é tão legal fazer o Victor sofrer? :v
Espero que tenham gostado!

XOXO



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