Two Shades Of Blue escrita por Mileh Diamond


Capítulo 11
Iogurte


Notas iniciais do capítulo

Era pra ser engraçado e virou... isso --'
Esse capítulo foi patrocinado pela Nestlé :v
Boa leitura!



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Victor tinha sentimentos conflitantes sobre ir ao mercado.

Estando ele sozinho, era uma tarefa doméstica qualquer. Ele escolhia os produtos, primeiro olhando a qualidade e depois o preço (houve um tempo em que nem isso ele fazia), passava mais tempo que o necessário avaliando se melões estavam maduros ou não, pegava algo bem gorduroso na confeitaria e ia embora. Mais uma tarefa adulta concluída com sucesso.

 

Ir com os meninos era bom, mas tinha desvantagens. Yuri só sabia pedir coisas e Yuuri simplesmente não queria ficar na cadeirinha. E que cadeirinhas anti-higiênicas eram aquelas dos carrinhos. Por isso, ele gostava de ir sozinho, quando eles estavam na escola. Mas eles estavam sem coisas básicas como leite, então teria que abrir uma exceção.

— Papa, compra cereal! - Yuri pediu de seu lugar junto às compras quando eles passaram pela sessão de cereais matinais.

— Não. - Victor respondeu enquanto olhava a lista de compras no bloco de notas no celular.

 

— Por quê?

 

— Porque tem muito açúcar. Faz mal. - ele disse ainda sem levantar o olhar. Leite, geléia, pasta de dente... Faltava alguma coisa ali?

 

Yuuri decidiu que não estava recebendo atenção suficiente, então jogou sua pelúcia de poodle no chão, obrigando Victor a pegá-la.

— Yuuri, isso é muito feio. Vicchan vai acabar se perdendo assim. - o mais velho disse recuperando o brinquedo.

— Se faz mal, por que eles deixam a gente comprar? - Yuri questionou insistente, determinado a ter sua reserva hipercalórica de flocos de milho no café da manhã.

— Eles são amigos dos dentistas. Quanto mais crianças têm cáries, mais dinheiro eles ganham. - será que ele estava soando muito como Lilia? Aquele terror psicológico não era bom.

 

— Hum. - aquilo não pareceu convencer o loiro, mas ele não tinha argumento melhor. Tentaria de novo outro dia.

 

Victor virou uma esquina no último corredor e se arrependeu imediatamente assim que se deu conta.

 

— Iogurte!! - Yuri gritou como se a paz mundial tivesse sido alcançada.

 

— Gute? - Yuuri se virou desconfortável na cadeirinha. E quando viu a razão do escândalo, se juntou ao movimento. - Gute!

 

E aqui temos a cena de duas crianças no carrinho que entoavam o nome de laticínios como se fossem a solução da angústia humana. Bônus, um adulto que tentava acalmá-las e se arrependendo de todas as vezes que fez a mãe comprar biscoitos recheados depois de uma birra. Karma era uma vadia.

 

— Tem iogurte em casa. - ele disse sério enquanto encarava suas pequenas doses de consumismo. - É a mesma coisa.

 

— Mas esse é de chocolate! - o líder da gangue argumentou. - A gente só tem morango!

 

— Mango! - Yuuri concordou balançando Vicchan com veemência, como se isso desse mais credibilidade às suas palavras - É rosa!

 

— Não, burro, você tem que pedir o de chocolate! - Yuri colocou as mãos no rosto em frustração. Yuuri estragava tudo.

 

— Quero o mango. - o menor continuou em defesa de seu iogurte. Ele acreditava que aquela comoção o traria um lanche imediato. Tinha um monte de iogurtes ali do lado, por que ninguém pegava?

 

— Sem morango e sem chocolate, vamos todos pra casa comer alimentos saudáveis~. - Victor cantarolou fazendo seu melhor para empurrar o carrinho para longe da sessão de frios.

 

Yuuri, ao ver seus preciosos iogurtes se afastando, reclamou:

 

— Gute! - ele choramingou batendo a pelúcia levemente contra a mão do mais velho. Que petulância era aquela, ver tantos iogurtes e deixar pra trás!

 

— Não, não. Tem iogurte em casa, Yurachka. - Victor disse se esforçando para manter uma postura cheia de autoridade perante o mais velho.

 

Mas Yuuri não compraria aquela história. Era iogurte de morango! Sempre precisavam de mais! Victor sempre dava, por que agora aquela palhaçada?

 

Yuuri se rebelou da melhor forma que podia: ele chorou.

 

— Yuuri, por favor. - foi a vez de Victor quase chorar. Era sexta à noite, ele só queria comprar o leite e ir embora. - Yurachka, não chora.

 

— Vai ter que comprar. - Yuri disse solene como um pequeno político anunciando notícias ruins que o beneficiavam. - De morango e de chocolate.

 

— Quieto, Yura. Você não vai ganhar aquele danone. - ele resmungou e voltou-se para o mais novo, um aperto no coração ao ver aquelas bochechas manchadas com lágrimas por causa de derivados do leite. - Yurachka, a gente tem iogurte em casa. Papai vai dar pra você assim que a gente chegar.

 

Ele não cairia nessa. Tinha um monte de iogurte logo ali! Victor era cego, por acaso? Aquilo só frustrava o menor ainda mais, fazendo o se contorcer na cadeirinha dura do carrinho de compras como se pudesse sair. Ele jogou Vicchan no chão de raiva. Victor era muito chato! Tudo estava ruim! Ele queria iogurte! Ele queria sua mamãe e seu papai! Eles davam tudo que ele queria e não o faziam chorar!

 

— Yuuri... - Victor estava de mãos atadas. Ele não podia se deixar levar por crises de birra, isso tornaria Yuuri uma criança mimada, com certeza. Mas vê-lo chorando assim o deixava tão mal.

 

Ao seu redor, ele sentia o olhar julgador dos outros clientes do mercados e um ou outro com leve compaixão materna. "Criança sem limites dá nisso.", "Falta de pulso firme.", "Cadê a mãe desse menino?". Ele não era novo para aquela realidade. Yuri já o deixou imune para aquele tipo de constrangimento.

 

Mas isso não o fazia menos inseguro. Por que alguns pais faziam parecer tão fácil? Ele estava fazendo algo de errado? Havia uma forma de lidar com desobediência quando seu filho nem fez dois anos?

 

Ele resolveu que seria muito mais fácil lidar com aquilo no carro, então apertou o passo até o caixa, rezando para todas as entidades superiores que estivesse vazio. Estava, para sua infinita sorte. A atendente parecia tão interessada na criança chorando escandalosamente quanto Victor assistindo curling. É culpa da sexta-feira, só podia ser.

 

Compras feitas, um bebê chorando e outro pequeno que ainda estava de cara feia por não ganhar suas guloseimas. Ser pai, sem ironia, era maravilhoso. E difícil, também.

 

— Yurachka, você quer suco? - ele disse com uma voz exageradamente animada, para ser ouvida por cima do choro, quando ele já tinha colocado o menino no assento. - É de morango! Você adora morango.

— Ele quer iogurte! E eu, também. - Yuri, o pequeno advogado, disse emburrado de sua própria cadeira.

— Yuri, a conversa não chegou em você. Assim que seu irmão parar de chorar, nós discutimos a palavra com "I". - Victor disse enquanto procurava a garrafinha de suco que ele guardava na bolsa de Yuuri para esse tipo de emergência.

— "I"...? - Yuri franziu o cenho por um momento, não entendendo a referência. - I...ogurte! Ah, tá.

— Gute! - Yuuri chorou ainda mais com a lembrança de seu precioso lanche perdido.

 

Yuri. - Victor falou com dentes cerrados. - Não está ajudando.

 

Sexta-feira à noite e ele estava num estacionamento de hipermercado tentando fazer uma criança parar de chorar enquanto outra criança atrapalhava. Será que Chris estava na farra como anos atrás? A farra de Victor envolvia suco de morango e bebês.

— Aqui, você não gosta de suco? É uma delícia! - ele disse finalmente achando o bendito copo com tampa. - Vicchan ama suco de morango.

E Yuuri, ainda com raiva, rejeitou Vicchan de novo, fazendo a pelúcia bater em Yuri e cair no assoalho do carro. Victor quase sentiu que seu coração foi junto.

 

— Ah, você não quer? - Victor disse ainda mantendo o resto de sua sanidade mental. - Então eu vou dar pro Yura.

Yuuri diminuiu o choro um pouco para olhá-lo em dúvida. Que história é essa, agora?

— Eu não quero suco. - Yuri disse estragando o pouco de progresso que o pai tinha conseguido.

— Você quer sim, Yura.~ - Victor disse forçando ainda mais o sorriso quando percebeu que estava dando certo. - É suco de morango que só os Yuris mais legais tomam e com os copos mais legais!

O copo tinha forma de pinguim. Yuri não achava nem um pouco legal. Era copo de bebê! O que seu pai estava planejando dessa vez?

Na metade do caminho do pinguim entre Victor e Yuri, Yuuri se meteu puxando o copo para si. Era seu copo e ninguém tomava em seu copo!

 

— Ah, Yuuri ainda gosta de suco de morango, então. - Victor riu um pouco cansado enquanto seu caçula tomava a tão discutida bebida ainda um pouco bravo.

 

E Yuri assistia a tudo sem entender muita coisa. Yuuri queria iogurte; não, suco. Como ele mudava de ideia tão rápido? Bebês são muito traidores!

— Não gosto de te ver chorando, Yurachka. - Victor disse limpando as bochechas vermelhas do menino com um lenço. - Nenhum de vocês.

Só eu posso chorar aqui, ele disse apenas em sua mente, pois tornaria a conversa muito pesada e confusa para as crianças. Ou melhor, para Yuri, o único capaz de manter uma conversa completa.

— Por que você não comprou o... a palavra com "I"? - Yuri perguntou se lembrando na última hora do código que o pai criou. Ainda estava levemente chateado por seu querido danone. - Eu queria.

 

— Ele tem que aprender que às vezes não  se pode ter tudo que quiser. Você também, solnyshko. Senão, vocês ficam tristes quando as coisas não dão certo, depois. Muito mais que o normal. - ele disse olhando com ternura para o filho mais velho. - Mas mesmo que não dê certo na hora, vai dar depois. Porque vocês têm o papai pra ajudar. Entende?

Yuri entendia só um pouco. Para ele, ganhar o iogurte na hora o deixaria muito mais feliz do que ganhar depois. E ele não entendia como ficar feliz podia te deixar triste depois... Ugh, adultos falam de um jeito muito difícil!

Ele ainda assentiu contrariado, porque independentemente da resposta, ele ainda ficaria sem iogurte de chocolate.

— Vicchan... - Yuuri pediu em voz baixa depois que empurrou o copo para as mãos de Victor.

— Acho que já é hora de bebês irem pra casa. Bebês grandes e pequenos. - Victor alcançou o brinquedo no chão e o entregou para o menino, dando um último beijo em sua testa antes de fechar a porta do carro.

Ele mal conseguiu acreditar quando já estava dirigindo pela rua, os murmurinhos muito mais calmos de Yuuri no banco de trás e os comentários ocasionais de Yuri que agora queria jantar banana com maçã. Ninguém chorando, ninguém sofrendo. Tudo estava bem. Sempre ficava tudo bem no final.

 

O sorriso cansado de Victor sumiu assim que ele parou num semáforo.

Ele se lembrou do que havia esquecido na lista.

 

O detergente. A porra do detergente que era responsável por lavar louças na máquina da residência dos Nikiforov e que, em sua ausência, impedia Vitya de colocar suas mãos naquela água gelada para limpar pratos sujos. Detergente era muito importante.

 

Victor choramingou enquanto dava seta para fazer o retorno em direção ao mercado.

 

Sexta-feira à noite era o melhor horário para fazer compras.


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Notas finais do capítulo

#VictorIsTheBestDonaDeCasa
Tava com uma saudade de escrever esses três juntinhos na domesticidade como nos velhos tempos :'))) Mas aqui está!

Até a próxima!

XOXO



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