Two Shades Of Blue escrita por Mileh Diamond


Capítulo 1
A Chegada


Notas iniciais do capítulo

Eu bullshitei o processo de adoção porque sim. Odeio esse tipo de drama.
A fala do Yuri pode soar muito "certinha", mas isso é porque eu não aguento escrever errado muito tempo. Apenas imaginem ele falando como um bebê.
E perdoem o Victor.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/755738/chapter/1

Yuri Plisetsky tem 4 anos.

Como os meninos de sua idade, ele gosta de várias coisas. Ele gosta de tigres. Gosta de desenhos. Gosta de desenhos de tigres. Gosta de visitar seu avô e comer pirozhki. Gosta de patinar com seu pai.

Ele tem um ótimo pai. Não, ele tem o melhor dos pais. Yuri acha que não tem ninguém no mundo melhor que Victor. Talvez seu dedushka, mas ele competia em uma categoria diferente.

(Ca-te-go-ri-a. Yuri achava difícil essa palavra, mas aparecia nas competições de patinação.)

Yuri também gosta de rotinas. Ele não gosta de festas fora do comum. Não gosta de dormir fora de casa. Não gosta de atrasar refeições e definitivamente não gosta de ficar muito tempo longe de seu pai.

Essa é a sua vida e ele gosta dela assim, sem tirar nem por.

Mas seu pai... ele gosta de mudanças. Demais. E ele tem o péssimo hábito de não avisar sobre como as coisas vão mudar.

Na verdade, dessa vez ele avisou. Mas Yuri não percebeu.

Lembrando melhor agora, foi isso que aconteceu.

Yuri estava sentado no sofá assistindo a um filme e comendo pipoca. Era a parte mais interessante, porque agora a heroína entrava em uma batalha de dança com a outra bailarina que queria seu papel. Ele gostava da ideia de uma luta com balé.

— Yura, - Victor estava deitado no outro sofá, parecendo mais entretido com o celular - o que você acha de irmãos?

Yuri deu de ombros, mas nem ouviu.

— Isso é um "sim"? - se seu pai pretendia esconder sua animação, estava falhando completamente. A pergunta feita nem admitia "sim" ou "não".

— Aham. - ele disse ignorando completamente o adulto e arregalando os olhos quando a heroína fez o salto especial que só as bailarinas adultas faziam - Wow, papa, você viu?! Era um "gand" jeté. Tia Lilia disse que só as bailarinas mais melhores podem fazer.

— Oh, sim, é verdade, Yura. - o platinado disse com um sorriso animado demais pra quem estava assistindo balé e acabara de presenciar o assassinato da gramática normativa.

É, Yuri deveria ter percebido.

Ele deveria ter percebido as ligações de Victor para o Sr. Kolyada, o advogado que organizara o processo de adoção de Yuri. Ele deveria ter percebido quando Victor comprou uma casa nova, abandonando o apartamento que serviu de lar para os dois desde que se conheceram. Ele sentiria falta do apartamento, mas uma nova casa não era uma ideia tão ruim. Principalmente uma com quatro quartos (Com sorte, uma delas serviria para colocar todos os video games de Yuri.)

Ele deveria ter desconfiado quando Victor não o deixou bisbilhotar a decoração de um dos quartos novos. E ele definitivamente deveria ter desconfiado do que aconteceria naquela manhã quando uma cadeirinha extra de bebê apareceu no carro ao seu lado.

— Papa? - ele perguntou enquanto subia no próprio assento, um olhar duvidoso para a nova cadeirinha - Por que tem isso aqui?

— É uma surpresa! - Victor disse com o sorriso radiante de uma criança na manhã de Natal, saltitando até o banco do motorista.

Ok, agora Yuri estava um com um pouquinho de medo.

Quando Yuri conheceu seu pai adotivo há dois anos, ele teve a certeza de que nunca estaria sozinho novamente. Victor era tudo em sua vida. Seu avô também, a única conexão que tinha com sua família de sangue e o motivo para seus documentos ainda constarem seu sobrenome como Plisetsky e não Nikiforov. Mas Victor era para sempre. Era a pessoa que sempre estaria ali, cuidando dele e amando-o mesmo que fizesse algo de errado, como pintar Makkachin de rosa ou desenhar na parede.

Essa certeza vacilou quando ele reconheceu a entrada do orfanato. O mesmo de que ele saíra há dois anos nos braços de seu pai.

Ninguém nunca dissera isso pra ele, mas ele sabia de crianças adotadas que eram devolvidas porque os pais não gostavam mais delas. Será que ele tinha feito algo errado demais? E por isso Victor estava entregando-o finalmente?

Todos esses pensamentos voavam pela sua cabeça enquanto ele saía mecanicamente do carro com a ajuda de seu pai.

O caminho do estacionamento à porta da frente parecia interminável. Ele deveria gritar, correr, implorar para seu pai não deixá-lo ali sozinho. Mas ele estava muito ocupado pensando no que ele poderia ter feito de errado, algo que ele deixou passar.

Arregalando os olhos, ele se lembrou.

Yuri não era um bom patinador.

Ele já estava fazendo aulas há alguns meses. Ele adorava patinar, mas não era tão bom quanto as outras crianças. Ele caía mais que o normal, demorava para entender as lições e levava broncas dos instrutores por mau comportamento. Victor foi o melhor patinador do mundo antes de se aposentar e virar um técnico. Ele não aceitaria ter um filho que fosse menos que perfeito.

— ...Yura? Está me ouvindo? - a voz de Victor parecia longe e pouco a pouco se aproximando - Meu Deus, Yura, você está chorando?

Ele nem tinha percebido as gotas escorrendo dos seus olhos e molhando suas bochechas. Victor já estava a sua frente preocupado segurando seus ombros.

— O que foi, solnyshko? - havia pânico em seu olhar, não a irritação de quem estava prestes a se livrar de um filho.

— Papa, não me deixa aqui. - ele conseguiu dizer com a embargada - Por favor, eu prometo que vou ser um patinador muito, muito bom. Eu nunca mais vou cair! Eu vou até ganhar uma medalha!

O platinado ficou mais confuso ainda. Ele franziu as sobrancelhas e suas mãos seguraram as de Yuri.

— Yura, o que você está dizendo? Você é um patinador ótimo. - ele disse enxugando as lágrimas com o polegar.

— Você vai... me deixar no orfanato. - ele disse entre soluços - Porque eu não sei patinar direito.

— Não! Não, solnyshko, como eu...? - ele pareceu entender o que estava acontecendo de repente, porque suspirou com um sorriso culpado e puxou o garoto para um abraço - Eu nunca deixaria você sozinho, Yuri. Você é meu raio de sol, meu pequeno kotenok. Eu te amo, ok? E você entendeu tudo isso errado. - ele disse apontando para o orfanato.

— Eu entendi... errado? - Yuri estava um pouco mais calmo, mas não menos confuso. O que estavam fazendo ali se não era para despacharem Yuri?

— Acho melhor entrarmos, depois vou explicar tudo. - ele disse beijando a sua testa antes de se levantar e segurar sua mão, continuando o caminho que faziam.

A recepção era diferente de como ele lembrava. As paredes estavam pintadas, colocaram cadeiras novas e quadros mais coloridos. O balcão era o mesmo, mas não a atendente.

A mulher pareceu reconhecer Victor, pois sorriu e disse algo sobre buscar Yuri.

Mas eu já tô aqui, ele pensou confuso e assustado, segurando a mão de Victor com força.

Ele não seria abandonado de novo, seu pai garantira isso. Mas e se ele estivesse mentindo? Victor nunca mentia, porém ele não podia afastar a ideia macabra que o assombrava.

Se fosse o caso, ele fugiria. Andaria até Moscou e voltaria a morar com o seu avô. Demoraria um tempão, mas era melhor do que ficar ali. Ele lembrava vagamente de pessoas estranhas tentando levá-lo apenas para se cansarem de sua personalidade arisca e irem embora. Eles nunca ficavam por muito tempo.

Foi assim que ele conheceu Victor, a única pessoa insana o suficiente para conversar com uma criança que o acertou com um lego três vezes seguidas. Na quarta vez, Yuri se cansara e resolveu ficar montando blocos enquanto Victor tentava chamar sua atenção.

Foi um processo difícil para ambos. Yuri ainda sentia falta de sua mãe e não queria ir embora com ninguém. Victor já não via mais alegria na patinação e decidiu que ter uma família traria alguma perspectiva em sua vida. Mas com o tempo, eles conseguiram um meio-termo. Yuri passou a confiar no homem de personalidade suave que falava demais e o enchia de presentes. Quando ele saiu de lá, Victor prometeu levá-lo até o seu avô, que não pôde assumir a guarda do neto por estar doente. Eles visitavam em todos os feriados e nas férias.

Era uma história curta, mas era toda a vida do garoto. E o equilíbrio que ele lutou tanto pra conseguir agora seria perturbado por uma visita inesperada ao abrigo.

Outra funcionária chegou com um bebê no colo e uma pequena mochila. Era um menino com cabelos escuros e bochechas rechonchudas perfeitas para velhas apertarem. Yuri sofria com aquele tipo. Ele devia ser uns três anos mais novo, a idade dos meninos da Sala Primavera na escolinha de Yuri. Ele estava na Sala Outono.

O bebê tinha apenas um cãozinho de pelúcia na mão e olhava ao redor incerto. De repente seus olhos pararam em Victor e ele ergueu os braços pedindo colo:

— Vitor! - ele chamou errando a pronúncia do nome do mais velho, mas reconhecendo-o de qualquer forma.

Victor soltou a mão de Yuri para carregar o outro bebê. E ele estava sorrindo.

— Oi, Yurachka! - ele disse rodopiando no lugar com a criança nos braços - Pronto pra ir pra casa?

Quê?

Yuri olhou para a cena de queixo caído. Era brincadeira, né? Seu pai não estava levando um bebê pra casa assim, sem mais nem menos, certo?

Ele só conseguia assistir a tudo sem reação.

Victor assinou um último documento no balcão e voltou-se para o garoto novo com um sorriso radiante.

— Yuuri, começando hoje eu sou seu novo papai! - o tal Yuuri riu com a animação dele - E Yura é o seu novo irmão!

Irmão.

I-r-m-ã-o.

Ele não ouviu errado, seu pai realmente tinha dito irmão. O bebê rechonchudo era seu irmão?! Não tinha como isso acontecer, a menos que...

O menino engoliu em seco quando finalmente entendeu.

Victor havia adotado Yuuri. Ele seria pai dele também.

Essa era a surpresa?

Se fosse, Yuri não estava nem um pouco feliz. Ele não tinha nem vocabulário o bastante para descrever o quanto aquilo era ruim. Ele estava mais que bravo, mais que chateado, mais que tudo que ele já sentiu em sua curta vida de 4 anos.

Com sorte sua carranca seria o suficiente para mostrar o que ele não conseguia demonstrar com palavras.

Ele não gostava daquele bebê.

 

 

 

Há aquelas pessoas que saem com as outras durante as compras apenas para fazer companhia e terminam com mais coisas compradas do que o outro. Victor era assim, de certo modo.

Quem queria adotar uma criança naquela tarde era Mila, Victor apenas foi para dar apoio moral.

Victor agora queria mais um filho.

Mila visitara o orfanato apenas para pedir informações. Ela e Sara fariam as visitas juntas, seja na Rússia ou na Itália. Victor, já experiente no assunto, acompanhou a mais nova.

Ele não esperava conhecer Yuuri.

Enquanto Mila dizia olá para as crianças mais velhas, Victor de alguma forma foi parar no berçário. Ele só via tudo através de um painel de vidro que bloqueava sons. Era uma área com muitos brinquedos, um daqueles tatames coloridos e macios e talvez umas cinco cuidadoras. Alguns bebês já podiam andar, mas a maioria apenas ficava deitada no chão ou engatinhando. Era fofo e ele lembrava de quando Yuri era um bebê, mas ao mesmo tempo era triste ver tantas crianças sem uma família.

Desde o momento em que chegou havia um bebê que não parara de chorar por um instante, e ele sabia disso porque o dito cujo estava no canto da sala no colo de uma das babás com um rosto vermelho e molhado de lágrimas. Era perturbador e Victor sentiu seu peito doer com a cena.

Finalmente a mulher que o segurava desistiu e saiu da sala com a criança no colo, e agora ele podia ouvir o choro fraco do menino.

— Oh, Yurachka. - a mulher murmurou triste enquanto tentava acalmar o mais novo. Quando notou a presença estranha, ela perguntou - Está perdido, senhor?

— Não, não. Só estava vendo as crianças. - ele apontou a janela, mas seu olhar estava no bebê - Ele está bem?

— Yurachka sempre chora assim a essa hora. - ela explicou - Estamos com ele há uma semana e ele ainda não se adaptou.

Victor assentiu com pena. O menino, que ele supôs se chamar Yuri, tinha feições asiáticas, o cabelo escuro bagunçado e bochechas fofas e rosadas. Seria uma criança adorável se não estivesse chorando.

— Deve estar com saudade de casa. - ele comentou se lembrando de como Yura chorou todas as noites antes de se adaptar ao novo lar. Com um sorriso gentil ele acenou para o bebê - Oi, Yurachka. Eu tenho um Yuri em casa também.

O bebê ainda estava chorando, mas agora sua atenção estava em Victor. A mulher que o segurava sorriu.

— Nosso Yurachka é especial. O nome dele é Yuuri, em japonês.

— Yuuri. - Victor repetiu, achando interessante o enfoque no "u" - É um nome muito bonito. Quantos meses ele tem?

— Ele já fez um ano. Faz aniversário em novembro. - ela o ajeitou em seu colo - Olha como você é mais bonito quando não está chorando.

De fato, ele parara de chorar e agora olhava para Victor como se ele fosse a solução de seus problemas. Então seus olhos baixaram para algo no peito do mais velho e ele estendeu as mãozinhas em sua direção.

— Po! - ele disse energicamente se remexendo nos braços da babá - A-po!

— Você quer meu celular? - Victor perguntou sorrindo, pegando o aparelho do bolso da frente - Ora, e eu achando que você queria um abraço.

E como Victor não pensa, ele ativou o Modo Criança no celular e entregou para Yuuri.

— Senhor, não! - a babá disse alarmada tentando recuperar o telefone - Não deveria fazer suas vontades!

— Me chame de Victor. E não tem problema nenhum, ele deve ser acostumado com smartphones. - ele disse com um sorriso vendo Yuuri deslizar os dedinhos pela tela como se fosse o dono.

Yuuri deve ter achado o aplicativo de músicas, porque logo uma faixa pop começou a tocar e ele fez uma careta de desgosto enquanto balançava o aparelho para parar. Os sons de reclamação só aumentavam.

Victor achou uma graça enquanto o ajudava.

— Awn, você não gosta de Fergie, Yurachka? É uma pena. - ele disse pegando o celular de volta.

— Na verdade, Yuuri tem um apreço por música clássica. - a mulher comentou - Ele fica super calmo com Tchaikovsky.

— Oh, então ele gosta de balé. - ele disse surpreso. Que bebê incomum era Yuuri.

Se deixassem, Victor ficaria ali a tarde inteira, mas Mila já queria ir embora e ele tinha que buscar seu Yuri na creche. Foi com um aperto no coração que ele deu tchau para Yuuri, que não parecia tão feliz em ver seu novo amigo ir embora, mas não estava tão triste como antes. Se Yuri reparou na expressão abatida de seu pai no jantar, ele não disse nada.

Victor voltou ao orfanato no dia seguinte.

Ele não tinha desculpa nenhuma para a sua presença ali, mas a funcionária do dia anterior (que ele descobriu se chamar Tatiana) o reconheceu e o ajudou em sua tarefa de encontrar Yuuri.

Ele chegou no meio de uma sessão de brincadeiras no jardim. Yuuri estava entretido com um balde e uma pá na caixa de areia, mas quando o reconheceu tratou de se levantar meio desequilibrado e andar até o mais velho com seus passinhos apressados e incertos de bebê.

— A-po! - foi a primeira coisa que ele disse quando estava perto o suficiente - Apo, Apo!

E ele queria o celular. Victor concluiu que aquela era a forma de ele dizer "IPhone".

Doeu muito.

— Oi, Yurachka. - ele disse ajoelhando-se para ficar no mesmo nível do bebê - Não, não. Nada de celular hoje.

Entendendo o significado de "não", Yuuri lhe mandou um olhar que só poderia ser traduzido como desprezo. Então ele apontou para a caixa de areia e falou algo que soou como uma pergunta. Victor imaginou se aquilo era uma mistura de japonês e russo que a criança achava perfeitamente aceitável como língua.

Mas um pedido para brincar era universal, afinal.

— Oh, não, Yurachka, minhas roupas vão sujar se eu ficar na areia. - ele disse com um sorriso forçado só de imaginar suas calças de marca cheios de grãos de sílica.

Yuuri pareceu tão triste com aquela constatação. O seu tom de voz era insistente enquanto puxava Victor pela manga da camisa. O mais velho temia que ele começasse a chorar a qualquer momento.

Victor era fraco, por isso se deixou levar. Foi assim que ele afundou sua Versace em terra pra ajudar Yuuri na construção de um castelo. No processo o mais novo contava uma história numa língua que só ele entendia, mas Victor assentia e opinava de vez em quando.

Tatiana vez ou outra brincava também, mas ela ainda a tinha tarefa de vigiar as outras crianças. Nos poucos momentos em que ela ficou por perto, ela deu pistas sobre a antiga vida de Yuuri. Não era uma história tão feliz.

— Ele nasceu aqui, mas os pais eram japoneses. A mãe tinha dupla cidadania, mas não conseguiram achar nenhum parente próximo aqui na Rússia. - a mulher disse com um sorriso triste.

— O que houve com eles? - Victor perguntou com o cenho franzido. Ele não ignorou o tempo passado nos verbos, então já esperava algo trágico.

— Acidente de carro. Os dois se foram. - seu sorriso desapareceu por completo - Foi há três semanas. E há uma temos Yuuri conosco.

Victor olhou para o garotinho que parecia contente ao encher seus brinquedos com areia junto das outras crianças. Como alguém tão jovem podia lidar com uma perda daquelas? Será que ele tinha noção de que nunca veria seus pais novamente?

Ele era mais novo do que Yuri na época em que foi adotado. Seu filho já estava no sistema há alguns meses quando Victor o conheceu, dois anos de vida completos. Ele já compreendia a ideia de que sua mãe não voltaria. Mas Yuuri era um bebê, ainda mal conseguia falar. Ele certamente não entendia as mudanças, mas estava com medo delas. O choro de ontem era uma prova.

E por algum motivo Yuuri ficava mais calmo em sua presença, como se já se conhecessem. Não era só o celular, apesar de Victor não ter absoluta certeza dessa parte. O pequeno era cheio de surpresas.

E ele adorava surpresas.

— Yuuri? - ele chamou, tendo a atenção do garoto logo depois - Você consegue dizer "Victor"?

— Vi-toru. - ele disse franzindo o nariz em dúvida, como se soubesse que estava errado mas não podia fazer melhor.

— Bom! De novo: Vic-tor. - ele falou devagar.

— Vi-tor. - Yuuri repetiu mais confiante - Vitor.

— Ótimo! Esse é o meu nome: Victor. - ele disse com o sorriso encantado de quem podia ouvir Yuuri falar o dia inteiro.

— Vitor. - Yuuri repetiu com um sorriso mais contido, orgulhoso de sua conquista - Vitor Apo?

Ugh.

Isso porque ele tinha um Samsung.

O ex-patinador suspirou derrotado e retirou o telefone do bolso, entregando a um Yuuri muito satisfeito. A funcionária ao lado apenas balançou a cabeça em desaprovação.

— Está mimando esse rapazinho demais. Ele ficará incontrolável depois.

— Aw, mas Yuuri merece alguns mimos. Como eu posso dizer "não" a essa carinha? - a dita carinha nem olhava mais pra ele e estava empenhada em encontrar alguma coisa no celular.

Yuuri pareceu alcançar seu objetivo: o aplicativo do YouTube. Então ele pediu a Victor alguma coisa que como sempre não foi entendida. Provavelmente era algum desenho pré-escolar ou algum daqueles vídeos estranhos de Finger Family, mas o mais velho teve outra ideia.

Pegando o celular, ele digitou o nome do vídeo na barra de busca.

"Victor Nikiforov - Free Skate 2015 European Championships"

Foi a última competição de Victor antes de se aposentar aos 26 anos. Semanas antes do Campeonato Europeu ele já entrava em contato com advogados e agências de adoção. No ano seguinte, ele estava com Yuri.

"Stammi vicino" era um pedido desesperado de quem já não via mais alegria no mundo. A patinação perdeu o brilho. Ele estava sozinho. Será que existia alguém capaz de amá-lo? Estava ele fadado a passar o resto de seus dias sem o sorriso de alguém querido?

Foi numa epifania que ele teve sua resposta: não. Ele não precisava ficar sozinho, porque estava tendo uma visão muito limitada das coisas. Há vários tipos de amor: Eros, Ágape, Storge... O primeiro era superestimado, pra ser sincero. Ele não precisava encontrar um amante para ser feliz. Não, ele podia começar de outro jeito, fazer o caminho inverso.

Ter um filho e depois se casar.

É, soa como algo que Victor Nikiforov faria.

Também é algo característico dele colocar vídeos de patinação para uma criança que não está nem um pouco interessada. Mas hey, as roupas eram bonitas, não?

Exceto que Yuuri não recusou a gravação imediatamente. Não, ele continuou assistindo contente, como se fosse exatamente o que ele procurava. Ele assistiu em silêncio e Victor observou encantado. Tatiana havia saído por alguma razão e ele estava sozinho para testemunhar a graça que era um bebê assistindo patinação artística.

O Victor do vídeo completou um quad flip e Yuuri pulou no lugar como se quisesse imitá-lo.

— Oop! - ele falou olhando para Victor como esperando uma reação àquele movimento - Oop oop!

— Uau, que salto fantástico! O melhor single da categoria! - Victor disse rindo da animação do menino. Seu Yuri era fofo assim quando era menor.

O vídeo acabou e Yuuri, para surpreende-lo ainda mais, arrastou o dedinho até um vídeo de Chris Giacometti. Justamente uma das apresentações mais polêmicas.

Victor tomou o celular antes que Yuuri visse o que não devia, arrancando reclamações do mesmo. Yurachka era do tipo que chorava muito quando não conseguia o que queria.

Ele aprenderia a lidar com isso.

Victor visitou o orfanato praticamente toda semana, pelos próximos dois meses.

Ele não sabia dizer por que, mas ele foi cativado pelo menino de curiosos olhos castanhos que sempre o recebia com animação, mesmo se estivesse chorando momentos antes. Era mais comum do que devia.

Ele assistiu à transição dele para a língua russa completa (mesmo que doesse vê-lo perdendo essa única conexão com sua família de sangue), recebeu desenhos de formas abstratas com hidrocor como se fossem o apogeu da arte moderna, viu ele contar até seis com a confiança de um PhD e o parabenizou quando ele conseguiu nomear todos os animais de seu livrinho favorito (ele ainda tinha problemas em diferenciar um gato malhado de uma vaca, mas eles chegariam lá).

É, talvez ele estivesse se apaixonando.

Nesse período ele foi quase inconscientemente fazendo mudanças em sua vida. Uma casa maior, talvez um carro com mais espaço, uma agenda mais flexível no rinque. Ele ainda não admitiria seu plano em voz alta, parecia louco demais até pra ele.

Era uma vida dupla, porque ele ainda tinha o seu Yuri para tomar conta. E de alguma forma, agora ele ficava até mais animado nos momentos com seu filho, como se fosse possível. Yura estava crescendo e parecia tão sozinho, às vezes. Victor era um pai ocupado, afinal de contas. O garoto tinha amigos. Um deles, pelo menos. Ainda assim, Otabek Altin não parecia companhia o suficiente aos olhos de Victor.

E mesmo com um plano quase pronto, ele nunca falou nada para Yuri. Nunca mencionou as visitas ao orfanato, nunca tocou no nome de Yuuri, nada. Ele também não conseguia explicar por que. Quem sabe era ciúmes. Ele gostava dos encontros secretos com Yuuri, como se ele fosse um tesouro escondido do mundo que só ele tinha direito de ver. Ele amava Yuri, ele era o seu primeiro bolinho de felicidade e Victor nunca, nunca faria nada para magoá-lo. Só que ele podia ser egoísta de vez em quando, e ele foi egoísta em não mencionar Yuuri.

Ele tomou uma decisão definitiva sobre a adoção em uma noite no orfanato.

Yuri estava em sua primeira festa do pijama na casa de Otabek e Victor estava quase abrindo um buraco no chão da sala de tanto que andava de um lado pro outro. Era a primeira vez que dormia longe de Yura e ele não conseguia afastar suas inseguranças paranoicas de pai de primeira viagem.

"Será que ele está bem?" ele pensou olhando pro teto "E se ele ficar doente? E se ele tiver pesadelos? E se ele dormir melhor lá do que aqui e ficar provado que eu sou um pai horrível?"

Seus pensamentos masoquistas foram interrompidos por um latido de Makkachin. O poodle estava com saudade de seu dono mais novo e demonstrava isso pedindo por mais atenção.

Victor sorriu fazendo um carinho em suas orelhas.

— Eu sei, eu tô com saudade dele também. Mas filhotes humanos precisam sair e explorar o mundo, sabe?

O cachorro não parecia contente com a resposta, mas se satisfez com o pouco de atenção que recebeu e o deixou sozinho na sala.

De novo, ele só tinha seus próprios pensamentos solitários como companhia.

Foi então que ele teve uma de suas ideias maravilhosas e se colocou em pé para torná-la realidade. Eram três da tarde, o horário de visitas do orfanato não acabaria tão cedo.

Ele só precisava passar na loja de presentes antes.

Depois do rinque, o orfanato era o local onde Victor estava passando mais tempo agora. Os funcionários já o conhecia e logo faziam o favor de informar o paradeiro de Yuuri quando ele chegava.

Pelo visto não dava mais pra esconder sua pequena obsessão por um bebê de menos de 2 anos.

Quando ele chegou, avisaram que Yuuri estava assistindo a um filme com outras crianças. Realmente, lá estava ele sentado a palmos de distância de uma TV de tubo com outras duas meninas um pouco mais velhas.

Ele reconheceu o filme como a adaptação da Barbie de O Quebra-Nozes. Seu eu de 14 anos gostava daquele filme demais e ele não tem vergonha de admitir que a Princesa Caramelo foi seu primeiro amor. Lilia nunca ofereceu objeções.

— Oi, Yurachka. - ele disse se sentando ao lado garoto.

Yuuri deve ter levado um pequeno susto, pois deu um leve pulo no lugar.

— Vitor! - ele disse animado e puxou a manga de sua camisa, apontando para a TV. Ele disse algo que soou como um convite para assistir junto com ele. Victor apenas assentiu e ele voltou a olhar para o filme.

Victor podia esperar porque sabia que já estava no fim. A qualquer momento a Barbie dançaria o clássico pas de deux com o príncipe e depois teria que ir pra casa. Victor amava aquela música, já fora um de seus programas livres quando ele era jovem.

Ele estava mais entretido com a atenção que Yuuri dava àquele filme. Um desenho animado da Disney Junior seria muito mais fácil de entender que aquele conto de fadas, mas Yuuri não parecia se incomodar. Ele lembrou então que Tatiana mencionara o gosto por Tchaikovsky. Será que ele reconhecia a música do filme?

Finalmente a dança começou e ele sentiu Yuuri ficando irrequieto ao seu lado. Ele que até agora estava mastigando a mão por puro tédio, agora até assumiu uma postura melhor ao reconhecer as notas.

— Mamam... - o menino murmurou com os olhos vidrados na TV.

Victor franziu o cenho. Ele havia escutado errado ou Yuuri havia dito "mamãe"?

A cada segundo que se passava o menor parecia ficar mais calmo, só que mais triste também. Victor pensou algumas vezes em tirá-lo dali, pois não tinha certeza se a música estava fazendo bem pra ele. Era normal bebês serem tão emotivos assim? Ele lembrava de Yuri chorando com a Era do Gelo, mas ele já tinha três anos na época.

A cena acabou e aquilo pareceu chatear Yuuri profundamente.

— Mamam. - ele disse com um bico ficando de pé em frente à TV, como se pudesse trazer a música de volta - Mamam! A Mamam!

— Yuuri tá na frente. - uma das meninas que queria assistir o filme reclamou - Yuuri, sai.

— Mia Mamam! - ele gritou já com lágrimas nos olhos batendo as palminhas abertas contra a tela da TV.

Se havia um jeito de quebrar o coração de Victor, era ver uma pessoa com quem ele se importava chorando. Principalmente alguém tão pequeno e indefeso quanto Yuuri.

Ele não pensou duas vezes antes de pegar Yuuri no colo e sair da sala, sem esquecer o outro pacote que estava segurando.

— Shh, Yura, tá tudo bem. - ele disse na voz mais carinhosa que conseguia, balançando o garoto na esperança que ele se acalmasse.

— Mam.. Mamam... - ele disse entre suspiros por ar, que ficavam ligeiramente nojentos com lágrimas, baba e secreção escorrendo.

Quando se é pai, as coisas param de ser nojentas.

— A mamãe não tá aqui, zaichik.— ele falou em voz baixa contra os cabelos escuros.

De alguma forma, a música havia lembrado Yuuri de sua mãe, e não de uma forma boa. O pequeno ainda acreditava que ela voltaria. Era um destino muito cruel para alguém tão indefeso.

Tatiana passou por perto e, vendo a cena, fez menção de pegar Yuuri. Victor negou com a cabeça e inconscientemente apertou mais o menino contra si. Era o jeito mais educado de dizer "ninguém tira esse bebê de mim agora".

A mulher pressionou os lábios incerta, mas assentiu. Com uma moção dos dedos ela pediu que a seguisse pelo corredor e assim Victor o fez, mesmo sem saber onde acabaria.

Ele se viu em uma das salas de entrevista, onde os pais conversavam com as crianças mais velhas. Ele se lembra das numerosas sessões que tivera com Yuri, algumas em que ele foi friamente chamado de "feio" e obrigado a desenhar vários tigres para ganhar o respeito do garoto. Tempos difíceis, mas não menos felizes.

— Eu vou trazer alguns lenços e uma mamadeira com água, quem sabe ele se acalma assim. - a mulher explicou - Há alguns livros infantis no canto e material pra desenhar. E ele terá que jantar em uma hora.

— Eu posso dar o jantar pra ele. - ele se ofereceu imediatamente. Era difícil parecer convincente com um bebê chorando no colo.

Tatiana suspirou cansada.

— Sr. Nikiforov...

— Eu tenho experiência. Meu filho tem 4 anos e eu estou com ele desde os 2. Eu sei lidar com bagunças. - ele tentou sorrir, mas pareceu mais desesperado do que confiante - Por favor.

A funcionária parecia relutante, mas finalmente concordou, deixando os dois sozinhos na sala. Agora era a função de Victor acalmá-lo.

— Shh, shh. Não precisa chorar, Yurachka. Ei, olha o que eu trouxe. - ele se sentou no sofá mais confortável da sala e balançou o pacote na frente de Yuuri - É pra você. Um presente.

Yuuri ainda estava triste e soluçando, mas sua atenção agora era no mais velho e o objeto que ele segurava.

— Eu achei isso na loja e pensei "Uau, Yuuri vai adorar". Você consegue abrir? - ele perguntou com um sorriso enquanto via o outro puxar o pacote com um pouco de hesitação.

Ele ajudou Yuuri a desfazer o laço e abrir o papel laminado. Dentro da embalagem havia um pequeno poodle de pelúcia que em muito lembrava Makkachin e por isso Victor comprou. O presenteado olhou para o brinquedo maravilhado, qualquer sinal de choro desaparecendo completamente.

— Au au? - ele perguntou incerto, como se não tivesse certeza de sua resposta.

— Isso! É um "au au". Ele é parecido com o que eu tenho em casa. O nome dele é Makkachin. - ele pegou o boneco e fez sua melhor impressão de voz de fantoche - Oi, Yura. Sabia que você é o bebê mais fofo que eu já vi?

Na verdade, ele empatava com Yuri, mas uma mentirinha não faria mal. E Yuuri até riu.

É, você é um bebê muito, muito fofo. E eu quero muuuito um abraço.— o pedido surtiu efeitos e Yuuri abraçou o objeto inanimado como se fosse seu melhor amigo.

E Victor? Victor se sentia um idiota por estar com ciúmes de um brinquedo. Mas ele ainda queria abraços.

— Victor também quer abraços. - ele disse com mais birra que o necessário para uma voz de fantoche, mas seu pedido foi correspondido. Yuuri colocou os bracinhos ao redor de seu pescoço e Victor jurava que podia morrer de tanta fofura naquele exato momento.

O resto da tarde foi o melhor possível. Eles brincaram com o cãozinho novo de Yuuri (que de alguma forma acabou se chamando Victor, apelidado de Vicchan), assistiram vídeos no celular (Victor era a única pessoa que falava sobre como seu bebê Yuri era fofo para outro bebê também chamado Yuuri), jantaram (Ou melhor, Victor tentou dar o jantar para Yuuri e o menor tratou as abobrinhas com desprezo) e finalmente leram livros. Já passara da hora das visitas, mas ninguém os incomodou.

— ...E então o patinho, que na verdade era um cisne, encontrou uma família que não o achava feio e o amava do fundo de seus corações. Fim. - Victor terminou a história com um sorriso, mal reparando que sua plateia estava lutando pra permanecer acordada em seu colo.

Yuuri esfregou os olhinhos cansados, mas parecia determinado a continuar brincando.

— Mamam pato. - ele murmurou apontando para a figura do cisne que deveria ser a mãe do patinho feio.

— É, isso mesmo. - ele disse observando enquanto Yuuri apontava outros personagens no livro pela milésima vez naquela noite.

Seu Yuri gostava daquele livro e era um de seus favoritos para ler na hora de dormir. Às vezes ele tinha que ler duas vezes. Yuri gostava da ideia de alguém sozinho encontrar uma família que o amasse. E Victor também.

Victor não é, com todas as letras, um órfão. Ele tem um pai e uma mãe vivos em alguma mansão fria na parte alta de Moscou. Eles só não têm a melhor das relações. O suficiente para Victor se sentir solitário desde os dez anos, quando seus pais se mudaram e o deixaram pra trás em São Petersburgo porque ele queria treinar.

Falando desse jeito, até parece que Victor se afastou porque quis. Mas jovem Vitya ligava toda semana pra dizer como as coisas estavam e por algum motivo só sua mãe estava disponível para atendê-lo todas as vezes. Ele chegou a conclusão de que não era tão querido assim.

Mas ele encontrou uma família. Um técnico rabugento e uma bailarina que nem piscaria se tivesse que corrigir a postura do Diabo. Eles não eram perfeitos, mas eles tentavam. E Victor sempre seria grato por isso.

Foi um dos motivos que o levou a focar tanta a sua atenção em Yuri e agora Yuuri. Ele queria que eles fossem amados, que pudessem sentir o aconchego de um lar, a bronca de alguém que se preocupa, um sorriso de quem se importa. Victor queria muito dar isso a eles.

Bom, ele deu isso a Yuri. Mas Yuuri era uma zona cinza. Ele tinha que se decidir logo sobre o que ele queria com o menino.

A falta de movimentos foi o que o acordou de seus devaneios. Yurachka estava encostado em seu peito, dormindo quase profundamente. O mais velho sorriu e tiraria uma foto se não fosse a posição desconfortável.

Aquele era o sinal de que ele tinha que ir embora.

Tomando cuidado para não acordá-lo, Victor se levantou do sofá. Doía seu coração fazer isso, mas ele tinha que deixar Yuuri e voltar pra casa. Ainda tinha uma vida lá fora.

— Você é pesado, Yurachka. - ele disse com um sorriso enquanto saía da sala a procura de algum funcionário que pudesse ajudá-lo.

— Papá... - um Yuuri sonolento disse se aconchegando ao mais velho e Victor congelou.

Oh.

Ele não ouvira errado. Podia ser coisa de sua cabeça, mas ele ouviu muito bem. Papá. Yuuri acabara de chamá-lo de papai. Ele, Victor Nikiforov, ex-campeão olímpico e uma bagunça de pai que estava dando o seu melhor.

Se Victor pudesse sorrateiramente ir embora e levar o pequeno com ele agora, ele faria. Mas isso seria sequestro e ele não podia deixar Yuri sozinho porque estava na cadeia.

— Yura? - ele perguntou num fio de voz, mas obviamente não recebeu uma resposta.

Santa seja Tatiana ao aparecer com um sorriso para a cena.

— Eu já esperava. Ele é bem rigoroso com horários. - ela disse pegando o bebê adormecido de um Victor ligeiramente em choque - Vocês se divertiram?

Victor assentiu mecanicamente, olhos ainda fixados na figura pequena que acabara de chamá-lo de pai. Ele chupava o dedo enquanto dormia e isso só o deixava mais fofo.

— Tatiana, alguém manifestou interesse em adotar Yuuri? - ele perguntou ainda sem desviar o olhar.

A mulher pareceu surpresa com a pergunta, mas logo entendeu o subentendido e sorriu aliviada. — Não, senhor. Lamento dizer que os casais preferem crianças... menos exóticas. - ela disse com claro nojo na voz - Mesmo que Yuuri seja tão russo quanto eu e você.

— Entendo. - ele finalmente olhou para a mulher com um novo tipo de determinação no olhar - Eu tenho que ir agora. Tenha uma boa noite.

Ele saiu do orfanato a passos decididos. Entrou no carro e começou a hiperventilar um pouco com a própria ideia.

Isso é insano, você não vai conseguir, você está sozinho...

 

 

Ele ignorou a parte pessimista de sua mente enquanto pegava o celular com mãos trêmulas e digitava o número pessoal de seu advogado que provavelmente estava aproveitando as férias em Barbados e não era obrigado a atender telefonemas.

Mas ele já tinha se decidido.

Kolyada na linha.— a voz falou assim que atendeu.

Era isso que ele queria.

— Anton, eu quero adotar mais um filho.

 

 

 

Yuri ficou de braços cruzados a viagem inteira.

Do espelho retrovisor, Victor observava a cena lá atrás.

Não era assim que ele imaginava esse encontro.

Ele esperava um pouco de confusão, clara surpresa, mas depois as coisas se acalmariam e Yuri receberia Yuuri de braços abertos.

No momento o mais velho alternava-se em mandar olhares odiosos para o bebê ao seu lado, que mal lhe dava atenção visto que só queria morder a versão pelúcia de Makka, e também para o seu pai que estava dirigindo.

— Yura, sua cara pode ficar presa em uma careta pra sempre se continuar assim. - Victor disse com um bico.

— Eu não tô nem aí. - ele disse, usando a frase mais mal-educada que podia pensar. Ele estava bravo. Muito bravo - Eu não gosto dele.

Oh, deus.

 

 — Vocês mal se conhecem! Já sei! Que tal ir comermos waffles? Isso sempre te deixa feliz. - Victor tentou com um sorriso forçado. Não arrancou nenhuma reação de Yuri.

Ótimo, Victor. Você oficialmente estragou tudo.

Respirando fundo, o mais velho mudou a rota para o restaurante de waffles, esperando que isso melhorasse o humor de seu primogênito.

Ele estacionou e saiu do carro para pegar seus dois filhos na parte de trás. A ideia fazia borboletas em seu estômago. Dois meninos. E os dois se chamavam Yuri. Victor era um homem tão feliz! Ele duvidava que uma esposa ou marido pudesse dar aquele tipo de alegria. E não estava disposto a tentar por enquanto.

Ele ajudou Yuri primeiro, que parecia um pouco relutante em sair do carro, mas o fez mesmo assim. Então do outro lado ele buscou seu mais novo bolinho de felicidade que agora estava empenhado em contar uma história que ele não entendia.

— Que legal, Yurachka. - ele disse pegando o menor no colo e fechando o carro.

Yuri ao seu lado reclamou:

— Ele não pode ser Yuri! Eu que sou!

— Ele não é qualquer Yuri. - o mais velho tentou argumentar com um bebê em um braço e o outro segurando a mão do loiro - O dele tem dois "u"s. Yuuri.

— Yuuli! - Yuuri disse seu próprio nome com orgulho e teria batido palmas se não estivesse segurando um brinquedo.

— Isso, zaichik! Você é tão inteligente! - Victor disse animado e o bebê ganhou um beijo estalado na bochecha como prêmio.

Huh?! Ele fala o próprio nome e é inteligente? Yuri conseguia falar o alfabeto cirílico inteirinho de trás pra frente. E ele sabia cumprimentar pessoas em inglês! Ele era muito mais inteligente que aquele bebê bobo.

Agora, quando eles podiam devolvê-lo?

Victor pediu uma mesa com cadeiras mais altas e assento infantil. Yuri recebeu o cardápio, mas não queria comer. Ele queria ir embora. De preferência pra levar o intruso de volta pro orfanato.

— Yuri, não vai comer? - Victor perguntou com um sorriso gentil.

Ele balançou a cabeça e cruzou os braços, voltando ao seu estado inicial.

Victor suspirou e disse:

— Ok, então seremos só eu e Yurachka lanchando. - ele voltou-se para o mais novo dos três com um sorriso divertido - O que acha de pudim, Yuuri?

— Pu-di? - ele disse testando a palavra nova.

Aquilo o irritou.

— Eu quero pudim também! - Yuri reclamou.

— Ok, pudim para os Yuris e waffles pra mim. - Victor disse ainda sorrindo enquanto acenava para um garçom.

Os dez minutos até a chegada do pedido foram silenciosos, sem contar os murmurinhos de Yuuri e a ocasional resposta de Victor, que ainda não queria entrar na discussão de fato.

Yuri ainda não entendia o que Victor queria com um bebê. Otabek disse uma vez que a irmã mais nova dele só sabia chorar, comer e sujar fraldas. Não havia nada legal em bebês, Yuri tinha muito orgulho em não ser mais um.

Talvez Victor gostasse mais de bebês do que de meninos? Mas se fosse assim ele não teria levado sua amada mamadeira tempos atrás.

Os pedidos chegaram e Yuri provou seu pudim com pouca animação, enquanto Yuuri era alimentado na colher por um Victor muito alegre fazendo barulhos de avião.

Ugh.

Yuri mais uma vez cruzou os braços e olhou para os dois com o nariz franzido. Era a forma mais direta de pedir para alguém parar. E Yuuri deixava metade do pudim cair. Será que eles podiam parar de serem tão... eca?

— Papa, - ele chamou cansado de esperar - eu não gosto dele.

Coincidentemente foi no momento que o pudim acabou e Victor suspirou pesadamente enquanto limpava Yuuri com um guardanapo.

— Yuri, eu sei que você está triste. Eu deveria ter te contado. - Victor disse sincero - Mas aconteceu tão rápido. E Yuuri é um garotinho tão doce, parece você quando nos conhecemos. Eu não imaginava que você fosse reagir assim.

— Você vai levar ele embora? - Yuri disse esperançoso.

Victor ficou triste com aquela pergunta, mas tentou sorrir por cima da sua decepção.

— Não, solnyshko. Yurachka é parte da família agora. Ele é o seu novo irmãozinho. Você deveria aprender a gostar dele.

Quê?! E aceitar que um bebê bobo fique com o seu pai só pra ele? Yuri não podia admitir isso.

— Não! Eu nunca vou ser irmão de um... de um... - ele estava tão furioso que nem conseguia pensar num xingamento a altura.

Ele olhou para o seu alvo. Yuuri estava vestindo uma camiseta com a cara de um porco. E ele era gordinho. Perfeito.

— De um porco! - ele concluiu.

— Yuri! - Victor ralhou sério.

Mas Yuri estava satisfeito por conseguir externar sua raiva.

— É isso! Ele é feio e ele é gordo e ele nunca, nunca, nunquinha vai ser o meu irmão! - ele terminou olhando feio para o assunto da discussão e fez algo inaceitável para um garoto dito bonzinho.

Ele mostrou a língua.

E Yuuri teve a audácia de rir.

— Yuri, já chega. - Victor agora abandonara qualquer sinal de gentileza - Você não pode tratar Yuuri assim. Ele nem tem chance de se defender!

— Ele tem que ir embora! - Yuri gritou batendo os punhos na mesa e quase virando a bandeja.

As poucas pessoas no restaurante olharam para a cena em silêncio, apenas para voltarem às suas atividades. Certamente estavam julgando a má criação da criança birrenta fazendo escândalo em público.

Victor não podia deixar isso assim.

— Yuri Plisetsky, você está de castigo. - ele disse com o tom grave e gélido que usava com seus patinadores mais problemáticos.

Ele se sentia tão mal fazendo isso com seu kotenok, mas era necessário. Se deixasse passar, talvez Yuri nunca aceitasse Yuuri como parte da família. Só o pensamento o fazia ter falta de ar.

Yuri arregalou os olhos.

— Quê?! Mas eu... Eu...! - ele estava tão perdido, nem conseguia formular uma frase direito.

Yuri nunca ficava de castigo, essa era a regra. Uma bronca, quem sabe, ou ficar sem sobremesa. Mas nunca castigo. Ele nem tinha absoluta certeza do que aquilo significava, mas estava na cara que era ruim.

— Eu vou ligar para a mãe de Otabek e dizer que você está proibido de ir na casa dele pra brincar por uma semana. - Victor continuou de forma calma e direta - Não, duas semanas. Até lá você aprende a respeitar o seu irmão.

Lá vem ele de novo com aquela história de irmão. Será que seu pai não entendia? Não podia ter outro Yuri, só podia ser os dois. Eles eram uma família completa. E então vinha Yuuri conseguindo toda a atenção e já estragando a vida de Yuri sem fazer nada. Ele nem podia brincar com Otabek por causa do porquinho idiota!

Yuri então fez a única coisa que ele podia pensar que sempre resolvia seus problemas: começar a chorar e se debater.

— Eu não quero um irmão! - ele gritou batendo contra a mesa - Leva ele embora!!

 

Yuuri, para melhorar a festa ainda mais, se sentiu desconfortável com a histeria do loiro e começou a chorar também, completando o inferno astral de Victor.

Ele quase começou a chorar também.

Mantendo a calma para não perder a cabeça ali mesmo, Victor se levantou, deixou alguns rublos sobre a mesa suficientes para pagar a conta, pegou Yuuri, puxou um Yuri caótico pelo braço e saiu dali.

Victor sempre teve ideias horríveis.

 

 

 

Depois de uma hora de choro, broncas, uma ligação para Yakov pedindo perdão por tudo que ele fez seu ex-técnico passar e mais choro, eles chegaram em casa. Yuri ainda não saíra do castigo.

Victor imaginava o primeiro dia em casa como algo mágico, cheio de amor e felicidade e crianças felizes.

O dia estava uma merda.

Yuuri adormeceu cansado pelo choro e nem viu quando entrou em seu novo quarto. Makkachin percebeu a presença nova e rodeou Victor com o bebê o tempo todo, quase tentando pular no berço recém-saído da loja que agora abrigava o novo membro da família.

Victor ainda não se arrependera de ter adotado Yuuri. Ele definitivamente se arrependera de não ter falado com Yuri antes.

A pior parte é que ele não tinha certeza de como agir agora. O que ele devia dizer a Yuri? Ele não podia simplesmente forçá-lo a aceitar um novo membro na família.

Ele se lembrou de uma vez em que um patinador da Polônia veio treinar com Yakov durante o verão quando ele tinha 11 anos. O garoto era um ano mais novo e tinha um talento nato. Não tanto quanto Victor, mas ele se sentiu ameaçado. Yakov elogiava a consistência dos passos, a altura dos saltos, a velocidade dos giros. Até Lilia elogiava. Foram três meses rasgando ceda sobre o garoto e Victor quase soltou fogos quando ele foi embora. Yakov percebeu e, com um sorriso humorado, disse que ele era tolo por sentir ciúmes. Ninguém podia substituí-lo.

Ele queria dizer isso a Yuri. Queria mostrar que nada mudaria entre eles com a chegada de um irmão, seria apenas mais amor pra compartilhar. Victor sempre se sentiu um pouco solitário como filho único, não queria que Yuri passasse pelo mesmo.

Dando uma última olhada na forma adormecida de Yuuri, ele saiu do quarto e foi atrás de seu outro Yuri.

No antigo apartamento, Yuri fugia para o closet no quarto de Victor quando queria ficar sozinho. Esse foi o primeiro episódio de crise desde que se mudaram, então Victor não tinha certeza de qual era o novo lugar favorito de Yuri.

Ele o achou em seu próprio quarto, completamente debaixo dos lençóis da cama. Yuri sempre foi péssimo em se esconder.

— Yura. - ele chamou suave sentando-se na cama. Yuri estremeceu, mas não saiu de sua fortaleza - Tá tudo bem. Eu só quero conversar.

Yuri demorou um tempo, mas logo tirou as cobertas de cima da cabeça, revelando seu rosto vermelho ainda molhado com lágrimas. Ele abraçava um de seus tigres de pelúcia como se sua vida dependesse disso e olhava para Victor com um misto de mágoa e receio. Mais uma vez Victor se sentiu mal por estar fazendo isso com o seu bebê. Seu primeiro bebê.

— Me desculpe. - ele começou sincero - Eu não te contei e isso foi errado. Mas eu não posso devolver o Yurachka, Yuuri. Ele ficaria sozinho como você estava antes de eu chegar.

— Outra pessoa pode adotar ele. - Yuri resmungou com a voz rouca, mas não menos mal-humorada.

— Nós dois sabemos que não funciona assim, Yura. - não havia o tom de repreensão da conversa no restaurante - Pode levar anos até ele conseguir uma família. Você sabe que o orfanato não é um lugar tão bom quanto uma casa.

Não precisava ser um gênio pra saber disso. Ele preferiria uma casa caindo aos pedaços com alguém que o amava mil vezes à frieza do abrigo.

Ele assentiu relutante.

— O nome completo dele é Yuuri Katsuki. - Victor continuou - Os pais dele eram japoneses, mas ele nasceu aqui. Há uns cinco meses eles morreram num acidente e não há ninguém pra cuidar dele. Ele gosta de balé. Por algum motivo lembra a mãe dele e ele às vezes chora de saudade.

Yuri fez um bico. Ele se lembrava vagamente de sua mãe. Um sorriso, um carinho, o jeito que ela assoprava o mingau quente pra ele comer. Ele tinha memórias mais vivas do orfanato, chorando e esperando por uma mãe que não voltaria. Yuuri era assim também. Realmente seria muito triste se ele tivesse que voltar a ficar sozinho.

Mas por que tem que ser na minha casa? ele pensou teimoso.

— Você não precisa aceitar Yuuri como um irmão agora. - Victor disse com certo pesar na voz - Mas eu queria que vocês pelo menos fossem amigos.

Amigos? Ele já tinha Otabek, não precisava de mais amigos.

— Otabek é meu amigo. E bebês não podem fazer nada. Não dá nem pra brincar. - ele argumentou com a propriedade de especialista na área.

Victor riu penteando seus cabelos com os dedos.

— Você nem tentou. E pensa em todas as coisas que você pode ensinar pra ele sendo o irmão mais velho. Ele não tem idade ainda, mas quem sabe um dia vocês podem patinar juntos.

Yuri fez uma careta.

— Não! Pra patinar com dois tem que ser uma menina. Eu não sou menina.

— Não foi isso que eu quis dizer. - ele riu de novo - Você pode ensiná-lo a patinar. Você sempre vai estar a frente sabendo mais coisas. Ele será sua inspiração.

(Ins-pi-ra-ção. Ele já ouvira aquela palavra algumas vezes quando tia Lilia falava com as bailarinas mais velhas.)

— O que é essa inspu... inspi...?

Ele nem terminou a frase, já que Victor respondeu logo:

— Inspiração é quando você gosta tanto de alguma coisa ou pessoa que fica com vontade de fazer igual. - ele pendeu a cabeça levemente pro lado, pensando - Eu sempre gostei da patinação do Aleksei Urmanov, então posso dizer que ele é a minha inspiração.

— Hum. - ele estava entendendo melhor agora.

Ser irmão mais velho tinha suas vantagens, mas ele ainda preferia ficar sozinho.

— Ainda não quero um irmão. - ele falou decidido.

Victor suspirou.

— Pense nele como um amigo que vai ficar com a gente por muito, muito tempo. E que vai precisar da sua ajuda e carinho.

De novo, ele não entendia como ele seria amigo de uma bolinha que nem sabia falar. Mas já sabia que não tinha jeito de seu pai mudar de ideia. Adultos eram muito teimosos.

— Tá. - ele disse contra a vontade, mas foi recompensado com um abraço e muitos beijinhos.

— Lembre-se que você vai sempre ser meu primeiro bebê, Yura. - Victor disse sorrindo contra o seu cabelo - E Yuuri nenhum vai mudar isso.

Ele esperava que sim. Odiaria ter que brigar com um anão de fraldas pela atenção de seu papa.

Mais tarde, quando Yuuri acordou e começou a explorar sua nova casa, Yuri decidiu que se aquele porquinho queria ficar ali, ele teria que ganhar o seu respeito. Poderia ter tudo de mão beijada de Victor, mas dele não. Ele tinha que provar que era o filho mais legal, como numa competição de patinação.

E foi assim que, numa hora em que Yuuri estava comendo numa daquelas cadeiras altas de bebê e Victor estava longe da cozinha, Yuri foi confrontar seu rival. O assento era bem alto, então Yuri tinha que ficar na ponta dos pés para encará-lo. Yuuri apenas o olhava desinteressado enquanto comia.

Idiota.

— Só pode ter um Yuri. - o mais velho disse com tanta seriedade e frieza que um adulto teria medo de sua expressão.

Mas Yuuri era muito novo pra saber o que é uma ameaça. A maçã picada era mais interessante.

Como que reconhecendo seu concorrente, Yuuri largou a maçã por um segundo e estendeu sua mão melada com baba e suco tocando o nariz de Yuri. Era o jeito dele dizer "sai, tá atrapalhando meu lanche".

— Eca! - Yuri reclamou e esfregou sua cara — Papa!

Que vença o melhor Yuri.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu escrevendo morte, tragédia e violência: relax
Eu escrevendo bebês com saudade de mães: ...eu sou um ser humano horrível.
Juro que esse é o máximo de angst que essa fic vai ter, porque sem angst não tem enredo. Daqui pra frente é só açúcar.

Algumas informações que não ficaram claras porque Yuuri é um bebê:

~ A mãe dele (que aqui não é a Hiroko) era uma bailarina e trabalhava dando aulas de dança. Yuuri assistia várias dessas aulas e cresceu com o balé. A mãe dele gostava particularmente do pas de deux do Quebra-Nozes, mas nunca dançou essa composição em público. Mas pequeno Yuuri tem a imagem dela com a fantasia por causa de outros papeis que ela fez.
~ A mãe dele era fã de patinação artística e era excêntrica o suficiente para colocar os vídeos pra ele assistir ao invés de Masha e o Urso. Ela era uma fã do Chris, mas de vez em quando rolava Victor Nikiforov na programação. Por isso Yuuri o reconheceu.
~ Yuuri chamava Victor de "Apo" ou "Iphone" porque era isso que ele pedia quando queria ver os vídeos. Provavelmente ele chamaria o Chris disso também se ele fosse no lugar do Victor.

E esse foi o primeiro cap! Essa história não tem um enredo definido, então os próximos caps serão apenas drabbles com esse AU, sem seguir uma timeline específica. Se quiserem ver alguma cena em especial, podem pedir e eu dou um jeito de fazer :>

Até a próxima!!

XOXO



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Two Shades Of Blue" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.