Café avec un parfum de fleurs. escrita por sea nymph


Capítulo 4
Act IV.




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O único barulho que cortava as cortinas do silêncio era o descompassar da união de duas respirações sôfregas. O calor era intenso, tanto que os corpos suavam em demasia, grudados um no outro no pequeno espaço que ocupavam. Nada se via, um breu cobria-os totalmente, intensificando a sensação dormenta dos toques urgentes, instintivos. A rouquidão que vinha da voz de Sherlock era deliciosa, perdida por meio dos golfos privados, carentes. Ele pedia, gemia, rosnava, numa luta entre manter-se são ou desmanchar-se em êxtase. John o amava com a ponta dos dedos, agarrando-lhe os fios negros parcialmente molhados de suor. Sentia como se estivesse prestes a explodir, rezando pra que nunca acabasse. Suas pernas tremiam, seu corpo inteiro tremulava de acordo com as ordens do homem que se rendia no menor que fosse sua súplica.

"Ahr, mm.. Sherl...", sua voz ecoava num sussurro dolorido, próximo ao ouvido do amante, o dengo em conflito com a libertinagem. "Mais, por favor..."

Senti-lo por inteiro não somente lhe tirava o juízo, mas arrancava de sua boca coisas que jamais diria se estivesse em sã consciência. Sherlock o beijou, abafando o grunhido cobiçoso que engasgara em sua garganta. O gosto doce que lembrava-o canela com açúcar, agora ainda mais intenso. O choque que perpassou por todos o centímetros de sua pele irradiava pelas veias que ferviam seu sangue. Pulsava deliciosamente e sua entrada contraía-o para cada vez mais dentro de si. Nada no mundo mais importava a não ser a satisfação dos dois. Os músculos do seu corpo delineavam sob sua pele úmida e fervente, as estocadas ritmizadas começavam a perder o compasso quando o limite do equilíbrio mental se esvaía. Sherlock apertava suas coxas, mordia seu queixo, marcava-lhe a linha do pescoço enquanto em vão tentava manter sua estabilidade.

"Você vai me deixar louco, John...", grunhiu o homem, o quadril indo cada vez mais fundo, roçando no íntimo do mais velho. "Esse teu corpo, teu cheiro... Goze pra mim... Goza pra mim, meu amor..."

Maldito seja, com aquela perversa voz apetitosa e rouca, cheia de desejo. John delineou o sorriso torto formado na boca do enamorado com a polpa do dedo, perdendo o controle de sua pulsação. A tensão atrofiava seus pulmões forçando a erguer o rosto para trás em busca de ar, mas a camada estava tão abafada que era o mesmo que nada. Os espasmos ficaram mais intensos, a consciência nem mais existia. E ele não aguentou mais agonia, era como se agulhas arregaçassem sua pele, dolorido, gostoso...

John arregalou os olhos quando ergueu-se da cama de um pulo. Sua pele suava em bicas e as mãos trêmulas limpavam sua cara lentamente. O que fora aquele sonho? Encarou o seu quarto em alerta, tentando focalizar a visão turva e regularizar a respiração rápida. O corpo reagia ao sonho, fluindo seu sangue com rapidez desnecessária. Precisava de um banho, gelado pra espantar aquele calor e os pensamentos que restaram.

O beijo com Sherlock ainda lhe atormentava as ideias e pensar na naturalidade (ainda) espantava seus sentidos. Como havia deixado se levar tão rapidamente por aquele estranho? Ele tinha uma lábia, um jeito de olhar, um sorriso... Eram tantos atributos que de fato não devia restar nenhuma dúvida. Mas, se conheciam tão pouco, que quando rabiscava os valores, os resultados não lhe convenciam.

O loiro sentia-se envergonhado por ter corrido do confeiteiro daquela forma, igual um adolescente que fora pego pelos pais num momento constrangedor. Não podia encará-lo depois daquilo, de forma nenhuma. O problema maior seria ignorá-lo, ou simplesmente fugir, já que o homem trabalhava em frente a sua loja, qualquer satisfação não seria complicado pra ele. Ah, céus, no que eu me meti?, esse era o raciocínio que o seguia juntamente das horas e John, infelizmente, via-se afogado na dúvida. Ele tinha um gosto doce. Tão doce que era impossível não ficar sentindo-o na boca mesmo depois de tanto tempo.

John pegou o calendário que repousava tranquilo em sua mesa, namorou um pouco os dias até finalmente se encontrar. Faltava tão pouco pro Natal e ainda não havia feito nenhum plano. Puxando a cadeira para se sentar, ele mordeu o lábio inferior hesitante, talvez fosse o dia que devesse ir para a casa dos pais. Buscou seu smartphone e ligeiro discou o número de casa. A chamada caiu em todas as tentativas, foi aí que lembrou quando sua mãe dissera que viajariam para longe. Seu segundo senso fora Harriet, sua irmã. Mas, se bem a conhecia, a garota devia estar com a namorada em qualquer lugar do mundo. Aventura sempre foi o sobrenome dela. Arriscou-se assim mesmo.

Namorada. Harry tem uma namorada. Talvez mais do que ninguém ela seria a pessoa que mais o ajudaria a entender o que estava sentindo, ou pelo menos mostrar-lhe o caminho pra lidar com a situação. Desde a universidade, John nunca havia se interessado por ninguém, seu único foco sempre foram as flores e a herança deixada por seu avô. Precisava honrar o seu nome, depois do tanto que aprendeu, do tanto que foi incentivado. Você mais do que ninguém é o único que pode amar essas flores, John. E era verdade. Elas sempre foram seu primeiro e único amor.

"Hey, John!", a voz conhecida e afinada de sua irmã lhe parou o consciente. "Eu não tenho m-"

"Como você se apaixonou pela Clara?", ele disparou, seus olhos fixos numa estatueta porcelanizada, os dedos delineando os contornos dos dois seres que se beijavam. "Quero dizer, como soube que estava apaixonada?"

Silêncio. Uma curta quietude embalou os dois.

"Por que quer saber? Não me diga que..."

"O que?", John quase não se ouviu quando respondeu.  Suas pálpebras se fecharam e o seco que havia engolido desceu rasgando sua garganta.

"Nada, nada... Por um momento achei que estivesse interessado porque finalmente resolveu abandonar essas flores e viver como alguém normal, tipo, se apaixonado.", o comentário de Harry foi letal. Ele não sabia responder, ele não queria. Será? Suspirou em resposta, num vibrato rouco. "John?"

"Não sei, Harry... Eu... Talvez, sei lá. Diga, diga como você se apaixonou."

E John ouviu tudo o que a irmã dissera, até as partes mais genéricas como sentir o coração acelerar e as mãos suarem. Apesar de ter sentido o mesmo, ele não queria acreditar que tão pouco pudesse dizer o que de fato sentia. Já havia lido todo esse tipo de descrição nos livros de romance que colecionava. Queria algo mais concreto, algo que o sinalizasse. Porque sabia, que quando fosse trabalhar no dia seguinte, iria enfrentar as dúvidas.

"O que mais você quer que eu diga, Hamish?!", exasperou-se Harry do outro lado do telefone. "É isso!"

"Não me chama de Hamish.", engrossou a voz, rangendo os dentes em desaprovação. "Eu sei que na teoria é assim, Harry, eu quero na prática. Vai me dizer mesmo que você sentiu tudo que essas donzelas dos livros sentem? Não teve realmente nada que... desse certeza?"

"Como você é complicado.", gemeu a moça, lamentando um pouco antes de voltar ao foco da conversa. "Os poetas são comuns, eles dizem o que realmente acontece e as pessoas morrem pela beleza das palavras. Algo prático? Deixe-me ver... O sexo."

O loiro lembrou-se do sonho que tivera. "Algo mais palpável pra mim..."

"Ah, verdade. Você ainda... Enfim, o beijo. O beijo é uma boa resposta pra qualquer dúvida. Você já a beijou, certo?"

"Na verdade, ele quem me beijou."

"Ele?!"

—___________  

A rua ainda estava escura quando John saiu em direção ao trabalho, entre alguns prédios já podia se ver os raios do sol criando coragem para se despertar. Seus passos tranquilos faziam a neve salpicar pro lados, molhando parcialmente a barra de sua jeans. A sensação térmica do dia não o ajudava, congestionando seu nariz de imediato.

Conversar com Harriet no dia anterior foi caloroso e, diferente das últimas investidas, durou mais do que imaginava. Ela, curiosa, fez um verdadeiro interrogatório sobre Sherlock, soltando suas opiniões ácidas como de costume. Lamentou por não estar por Esdmound para conhecê-lo ou jogá-lo contra a parede. O pensamento da cena fez John agradecer mentalmente pela sua ausência. Claro que o resultado que queria não fora 100%, as incertezas ainda caminhavam ao seu lado, mas pelo menos, não se sentia completamente cego para respondê-las.

As luzes fracas da Le Monde ainda estavam acesas e isso chamou a atenção do loiro que, nervoso, desviou o rosto rapidamente para encarar a sacada de sua loja. Estava sozinho ainda, provocando um alivio que resultou num suspiro calmo. John buscou seus afazeres do dia e passou a colocá-los em prática antes que o silêncio desse vazão a sua cabeça e o circo de perguntas que o massacravam.

As  minirrosas desabrochavam na pequena estufa da Mallorn. Hoje o dia seria especial.

* * *

"Você tem certeza que o sr. Watson não está na loja?", sussurrou Merlin para Hyunwoo. Já passava das 14 horas, e só até aquele momento, o moreno não havia se dado conta da falta do chefe. O coreano assentiu positivo. "Onde diabos esse homem se meteu?"

"Rolou algum problema na loja?", quis saber os mais forte, que limpava as mãos de terra num pano escuro.

"Tá achando que eu sou você?", disparou o outro, olhando aflito por cima dos ombros a silhueta embaçada do outro lado da porta. "É que... Sabe aquele homem comprido da Le Monde?"

"Não.", disse simplesmente. E no mesmo instante, arrastado por um furioso funcionário, o asiático bisbilhotou por uma pequena fresta descobrindo de quem se tratava. "O que tem ele? Deve ter vindo comprar flores."

"Ele não veio comprar flores, idiota.", resmungou Merlin tomando o cuidado para que o estranho não ouvissem-no. "Está procurando o John. E disse que precisava muito, muito falar com ele. Apenas ele. Então, só vou te perguntar mais uma vez: Tem certeza que...?"

"Eu tenho!", Hyunwoo saiu das garras do mais velho, erguendo-se para endireitar sua coluna. "Não sai da loja pra nada hoje. Não teve entrega nenhuma. E mesmo quando você saiu pra almoçar, eu fiquei. Nada do sr. Watson..."

"Já é a terceira vez que ele vem aqui."

"Qual o nome dele?"

"Sherlock. Sherlock Holmes."

Hyunwoo engoliu em seco. Não era o tal homem da entrega? O rapaz temeu em ser mais algum outro erro que pudesse ter cometido. Mas, até o momento, não lembrava de nenhum agendamento feito naquele nome. Talvez o homem tivesse comprado diretamente com o chefe e por isso queria falar com ele. A culpa do erro ainda atormentava o coreano, fora sua primeira venda na loja e já ocorria um deslizes daqueles? John nem sequer chegou a se pronunciar e Merlin não o deixava esquecer, sempre usando o equívoco como exemplo maior. Quem sabe não fora um erro sair dos campos e ter vindo tentar algo por Esdmound.

"O que vou dizer? Já cansei de mandá-lo embora.", esmaeceu Merlin, pegando um copo com água e virando as costas para o colega.

"Deixa que eu vou."

Quando ele abriu a porta, os olhos translúcidos de Sherlock o radiografaram. O moreno tinha um porte elegante que fez o mais novo se sentir um moleque maltrapilho. Talvez fosse impressão, mas ele parecia triste quando notou que ninguém mais apareceria pelo portal as costas do coreano.

"Não precisa me dizer.", sua voz reverberou pelas paredes maciças da floricultura. "Ele ainda não chegou, certo?"

"Eu sinto muito, senhor... Gostaria de poder ajudar.", o tom suave que dera as palavras foram automáticas, que sensação esquisita de infelicidade. "Não existe nada que eu possa fazer?"

"Um favor, talvez.", sorriu o homem, tirando de dentro do sobretudo uma espécie de caixa amadeirada. "Entregaria isso pra mim?"

"O mais rápido que eu puder, senhor."

"Ótimo.", Sherlock depositou a canastrinha no balcão próximo ao coreano, saindo dali logo depois. Mas, antes que pudesse atravessar a porta aberta, encarou o jovem por cima do ombro. "Ah! Ia me esquecendo. Duas dúzias de rosas para amanhã."

"Qual a cor?", Hyunwoo pegou a caixeta e prendeu os olhos no entalhe superficial. Parecia ter sido feito à mão.

"Carmim."

* * *

As horas passaram ligeiras, Merlin e Hyunwoo se desdobraram em 30 para atender a quantidade absurda de clientes que visitaram Mallorn, boa parte das flores que ficavam expostas haviam sido vendidas e o vazio já era sentido por eles. O ocidental soltou um assobio de alívio quando fechou a porta, melodiando junto com as sinetas já conhecidas. Ambos pareciam exaustos e isso se viu muito quando Hyunwoo gemeu desgostoso com a dor em seu ombro de tanto erguer os braços e tirar orquídeas expostas.

"Finalmente acabou.", disse o mais magro, sacudindo o avental em cima do balcão e observando sério os movimentos do outro. "O que está fazendo?"

O coreano não respondeu, sua mão ligeira atualizava as atas de entregas antes que pudesse esquecer. Rosas Carmim. Teria alguma no campo? Não lembrava de ter visto nenhuma muda das últimas vezes que foi. A caixa recebida, repousava ao seu lado educadamente.

"Entrega para amanhã?", bisbilhotou Merlin, franzindo o cenho em estranheza. "Na véspera de Natal?" Hyunwoo fechou o caderno ao mesmo tempo que ouvira as últimas palavras ditas. Olhou para o calendário apoiado no balcão e um círculo vermelho-vivo circundava o 24.

Merda.

"Dou um jeito.", resumiu enquanto largava seu uniforme junto ao semelhante. Envolveu a caixeta com a mão, depois de vestir-se para sair. "Você fecha a loja?"

"Lógico, quem sempre se ferra sou eu.", reclamou Merlin, revirando os olhos e pegando as chaves reservas. "Que caixa é essa?"

"Para o senhor Watson.", respondeu sem muitos floreios e saiu, deixando o colega com um semblante curioso.

A pequena canastra era leve e com facilidade se escondia em seu bolso interno. Mesmo que estivesse interessado em saber o que continha ali, não faria o desrespeito de bisbilhotar. O que de fato não lhe saía da cabeça foi a ausência de John. O chefe nunca havia faltado, não sem uma justificativa. Ele era o homem mais bem organizado e responsável que conhecia, e quando se tratava das suas amadas flores, o tédio não existia.

Chutando a neve que grudava em seu tênis, Hyunwoo caminhou para trás da floricultura, era ali no beco que costumava guardar sua bicicleta. Tivera a ideia de ir a casa de Watson, pra que pelo menos entregasse a encomenda dada por Sherlock. Quando tratava de abrir o cadeado das correntes protetoras, o mais novo vislumbrou uma nesga de luz que vinha da estufa da loja. Estranhando aquilo, foi averiguar. Será que as crianças inventaram de brincar por ali?

"Senhor Watson?!", o homem estava ali sentado, cuidando minunciosamente dos pequenos brotos de rosa.

"Ah! Olá, Hyunwoo... o expediente já acabou?", John sequer ergueu seus olhos cinzas pro funcionário. "Fiquei entretido com esses pequenos bebezinhos... Não vi a hora passar, então."

"Achei que estivesse adoentado.", confessou o rapaz, roubando a atenção do mais velho, que sorriu por aquilo. "Merlin também ficou preocupado."

"Oh. Isso realmente me surpreendeu.", riu John, jovem. Contagiado, Hyunwoo liberou também um riso. "Bom, não quero tomar seu tempo, vá... Estou bem como vê, hm?"

"Um alívio, senhor, mas antes...", estendendo o braço, o coreano repassou a caixa de madeira. O loiro estranhou aquilo, mas pegou-a sem fazer nenhuma pergunta. "O dono da cafeteria pediu pra entregá-lo."

"Sherlock esteve na loja?"

"Sim, senhor."


—_________


Abandonado na estufa improvisada da loja, John revirou a peça de madeira entre os dedos analisando cada pedaço que continha. Era de um artesanato bonito que o loiro sequer havia visto. Uns floreios eram talhados rudemente na superfície lisa, algo que lembrava rosas e um J. Pensou na possibilidade de que foram feitos por Sherlock e isso lhe roubou um meio sorriso. Limpando as mãos na calça jeans, pôs-se a abrir o objeto.

Dentro havia uma cama de biscoitos de massa fina, bem descansados numa cama de cetim azul. Eram um tanto tortos e não haviam crescido tanto quanto deveriam. Na tampa da caixa um bilhete enclausurado em seu envelope acomodava seu nome desenhado. Tirando dali, abriu-o, encontrando os escritos de uma letra caprichada.

Querido John,

Sinto-me culpado pela noite anterior, não pelo beijo que demos, mas por ter sido apenas um. Ainda me pergunto como deixei você escapar de minhas vistas antes de mostrá-lo as batidas fortes do meu peito, antes de convencê-lo dos meus sentimentos. Gostaria de encontrá-lo amanhã, mas não sei se tens planos para a véspera de Natal. Fico com essa dúvida inflamando meu coração.

Se puder, se quiser me ver, por favor, coma um dos biscoitos que fizemos.

S. H.

Ao fim da leitura, John se pegou sorrindo. Sorrindo tão largo, que precisou morder o lábio inferior pra conter a afobação. Suas bochechas coravam a cada lida repetida. Ele queria mostrar seus sentimentos, queria beijá-lo outra vez. E sem perceber, enquanto caminhava a periferia de suas lembranças, o florista comera os biscoitos. Todos eles.


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