Café avec un parfum de fleurs. escrita por sea nymph


Capítulo 2
Act II.




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Minhyuk apertava seus braços contra o próprio corpo na tentativa de esquentá-lo assim que saiu de casa. Quando chamaram-no pra trabalhar em Esdmound, ele não sabia que se adaptaria tão rápido a pequena cidade de primaveras ligeiras. Estava dividindo o apartamento com seu primo, residente dali há alguns anos, e muito do seu conhecimento vinha dele e nas discussões na mesa do café.

O rapaz adorava trabalhar no Le Monde, principalmente porque só assim conseguiria realizar seu sonho de se tornar um conhecido confeiteiro. A verdade é que mal acreditou quando ouviu da própria boca de seu chefe que estava contratado. Ter a primeira experiência na cozinha de um dos renomados chefs seria como comparar e palpar o sublime.

Ainda estava cedo, mas o sol frio de inverno já brilhava no céu azul e sem nuvens. Não havia nevado essa noite, o que agradecia internamente sempre que tinha oportunidade, assim o Café ficava movimentado. Ele gostava de ver os rostos dos clientes revelando a satisfação de uma boa bebida quente, ou das primeiras mordidas nas sobremesas.

Enquanto mentalmente repassava algumas dicas dadas por Sherlock de como bater um perfeito chantilly, o mais novo ergueu os olhos em direção à esquina final da quadra onde ficava seu prédio. Parado ali o esperando, estava seu colega de trabalho: Arthur. Arthur também viera de Galaertha e seu sotaque forte denotava avidamente isso. Os olhos azuis e os fios dourados se destacavam a luz branca do sol matutino.

"B'Dia, pronto pra mais um rojão?", os dois passaram a caminhar lado a lado, vendo vez por outra as crianças saindo de casa para a escola e alguns comerciantes do bairro se organizarem para conseguirem o ordenado do dia.

"Não tanto quanto você... Como foi a noite? Soube que voltou do festival quase cedo da manhã."

"E não ouviu errado...", deleitou-se Arthur, olhando longe como se relembrasse do que fizera como um gracejo carinhoso. "Devia ter ficado bem mais, teria se divertido principalmente por quem apareceu logo depois que você saiu."

"Não fale essas coisas!", o alerta foi tão grande que Minhyuk olhou por cima do ombro, receoso de que poderiam tê-lo o ouvido. Arthur apenas riu, divertido.

As bochechas magras do asiático queimaram levemente quando ele levou a memória pro primeiro dia que havia pisado na Le Monde. Logo em frente a cafeteria, existia uma floricultura linda e charmosa demais, o que o deixou muito curioso a princípio. Havia prometido para si mesmo que visitaria o estabelecimento assim que pudesse, ou recebesse um intervalo. Curiosamente, ouvira falar da Mallorn, não lembrava se tinha sido um dos clientes ou seu primo em casa, e desde então queria conhecer as flores que brotavam no inverno. Como se o destino tivesse ouvido sua promessa íntima, seu chefe havia pedido para que encomendasse algumas flores, a ideia era dar cor aos tons marrons e cinzentos do Café. E foi nesse dia que se encontraram pela primeira vez.

O som da sineta da porta pareceu ressoar nos seus ouvidos enquanto lembrava. O aconchego da floricultura também lhe aqueceu a pele. Estava procurando alguém que pudesse atende-lo, quando o viu entrar. Era bem mais alto que ele, num exagero contido, forte e nos braços segurava tranquilo alguns sacos de adubo. Seus olhos rasgados passearam por seu rosto, fisgando sua atenção rapidamente. O ar ainda lhe faltava os pulmões quando retomava a memória o som da voz rouca e um tanto nasalada. Acabou que fizera o pedido tão rápido, que mal teve a chance de conhecer melhor o atendente ou de demorar um pouco mais, apenas pra namorá-lo com os olhos.

"Eu acho que você está perdendo um tempo idiota em não tentar se chegar no jardineiro...", Arthur comentou aos ventos, enquanto fincava ainda mais suas mãos nos bolsos do casaco. Havia apelidado o desconhecido desta forma, pra que pudesse manter o sigilo. Não foi uma ideia muito inteligente.

"É apenas uma paixonite idiota.", suspirou Minhyuk, negando lentamente e dando de ombros. "Lógico que não iria dar certo de jeito nenhum."

"Acho engraçado a forma como você tem respostas pra coisas que sequer perguntou.", ouviu-se o estalar da língua de Arthur contra o céu-da-boca. "O não você já possui. Vai ficar remoendo a dúvida do sim?"

"Fácil falar, você consegue engabelar qualquer um.", disse, erguendo a vista para frente e já podendo vislumbrar o letreiro talhado. "Quantos já tiveram a honra só essa semana?"

"Alguns bons números.", o sorriso vitorioso do loiro roubou seus lábios. "Mas, isso não importa. Hoje você vai falar com o grandalhão."

Como se fosse possível, pensou consigo. Apesar de Arthur sempre estar disposto a ajudar, o problema maior era sua falta de confiança em si mesmo. O que teria de mal em trocar pouco mais de duas palavras? Era ridículo pensar que nem mesmo isso estava disposto a fazer. Queria logo afastar o assunto jardineiro da sua vida antes que pudesse se machucar. Mas, seu corpo traiçoeiro já logo o fazia olhar pro outro lado da rua e procurar inocente a silhueta corpulenta do rapaz.

Minhyuk muitas da vezes desejava ser igual a Arthur e não se preocupar tanto com as cicatrizes que seu coração podia aguentar. Encarar um sim, um não, como coisas fúteis demais pra fazê-lo desistir do que quer alcançar. Seria por isso que o loiro conseguia quase sempre o que procurava? Era tão destemida a forma que ele levava sua vida, intensificando suas emoções. Ou talvez fosse burrice demais em não se precaver e cuidar de si.

"A coincidência é uma puta, não é mesmo?" a voz de Arthur tinha um tom de leve surpresa e contentamento. Indicando a porta da floricultura com o queixo, encrespou os lábios num sorriso. "Um dia de sorte em plena manhã de terça..."

O coreano quando encarou o lugar, quase teve vontade de voltar todo o caminho que fizeram. O tal rapaz estava na porta do estabelecimento oposto depositando no chão uma caixa de flores tão vermelhas que pareciam copos de sangue. Tentou abrir a boca pra falar, mas Arthur já se direcionava para a calçada ocupada. Deveria impedi-lo antes que o loiro desse com a língua nos dentes e falasse mais do que o necessário. Apressou o passo para segui-lo, deixando a cabeça baixa em direção aos pés.

"Opa, bom dia...", disse animado, olhando por cima do ombro como se isso fosse encorajar Minhyuk de se aproximar.

O rapaz ergueu-se curioso pra saber quem o havia cumprimentado, seus olhos rasgados foram do sorriso canino de um, aos fios tingidos do outro. Seu rosto denunciava a repentina confusão que tivera.

"Não nos conhecemos, eu sou o Arthur e este... Qual é, Minhyuk? Levanta esse rosto."

"Oi...", fora um fio de voz que saiu de sua garganta. Quase nem ele próprio pode ouvir. Céus, seu rosto queimava como uma chaleira fumegando.

"... Trabalhamos aqui na Le Monde.", terminou o rapaz como se nada o tivesse interrompido.

"Um prazer.", a voz grossa e nasalada voltou as memórias de Minhyuk rapidamente. "Son Hyunwoo."

"Você é coreano também? Olhe aí, uma coisa em com- ai!", Arthur deu um salto quando sentiu uma dor fina percorrer toda a extensão do braço. Olhou furioso para Minhyuk, que desviou a atenção para qualquer ponto. "Tendo muito movimento no inverno? Vocês são a única floricultura por aqui... e talvez a única do mundo que cultiva flores no inverno. Deve ser cansativo."

Hyunwoo olhou de soslaio para Minhyuk, que agora se encontrava as costas de Arthur como se tentasse se esconder de sua presença. Franziu o cenho antes de desviar sua atenção pra o que conversava. Afirmou tranquilo com a cabeça numa resposta limpa e curta. "Não é algo complicado de se fazer, cultivar as flores no inverno, só precisa se dedicar mais e as pessoas têm preguiça."

"Você tem cara mesmo de quem gosta de ficar no meio do mat-Ai! De novo?!", dessa vez o mais novo fora longe demais tanto que Arthur dera as costas para Hyunwoo, passando a encara-lo furioso.

"Ah, foi um prazer... eu preciso entrar agora, se me derem licença."

"Nós também, cara. Bom trabalho e passa qualquer dia lá na Le Monde quando quiser passar o tempo.", terminou o loiro, desvencilhando o braço que novamente fora beliscado por Minhyuk. Hyunwoo já não se encontrava mais junto a eles, o que deu vazão para que Arthur soltasse seus cachorros. "Que ideia idiota é essa de me beliscar?! Tá bancando o criança agora?"

"Idiota é você que me pega desprevenido e me leva pra conhecer a pessoa sem ter ideia do que dizer!", eles atravessavam a rua. Minhyuk olhou por cima do ombro para ver a vitrine da Mallorn e talvez vislumbrar Hyunwoo mais uma vez antes de ocupar-se com o trabalho.

"E como acha que vai arranjar assunto se nem o nome dele você sabia? Te fiz um favor! Por nada, agora já pode escrever no diário."

Minhyuk riu e abraçou o colega de trabalho, deixando-o atônito e sem reação. De fato, talvez sem essa loucura de Arthur, jamais conseguiria iniciar uma conversa descontraída com Hyunwoo. Quem sabe na próxima vez que se virem, dividam um café e criem lembranças?

* * *

Merlin se encontrava dentro da pequena sala que servia de refeitório. Tomava tranquilo sua xícara de café pra aproveitar o dia que viria. Agora que era gerente, precisava concretizar suas novas responsabilidades. Olhava da janela o quintal do prédio comercial que ficava as costas da Mallorn, imaginando os novos desafios que teria que enfrentar. Pelo menos, não era nada que iria fazê-lo mexer com terra e sementes. Não conseguir cuidar de uma planta sequer já foi um de suas piores frustrações. Mas, hoje agradecia incessantemente o fato de não ter dom nenhum para a botânica.

"Bom dia.", Hyunwoo entrou na sala já despindo seu casaco de inverno e buscando o avental verde-musgo.

"Tem como ser um dia bom com essa sua cara de marmota me seguindo?", indagou Merlin na primeira implicância do dia. Escondeu o sorriso quando encostou os lábios na porcelana e sorveu um gole de café.

"Me pergunto porque ainda tento.", o coreano amarrou habilmente as cordas frouxas do avental em suas costas, sentando-se a mesa logo depois.

"Ah, como você é sentido, Hyunwoo. Até parece que não me conhece."

"Quem me dera.", murmurou de forma audível, ocupando sua concentração em se servir com um pouco de café. Merlin carrancou suas feições e deu as costas para o colega. "Você já chegou a conhecer os funcionários da Le Monde?"

"Talvez.", o ocidental levou sua atenção para qualquer ponto da sala, parecendo vagar pela periferia dos pensamentos.

Hyunwoo não continuou o assunto, sua boca se enchia de biscoitos. Dando de ombros, Merlin saiu do recinto indo direto para o balcão. As agendas estavam dispostas na mesa, uma delas aberta na lista de entrega desta manhã. Um rabisco garranchado riscava uma das linhas da pauta. Estranhou aquilo e leu. John havia relocado uma das transferências para ser uma das primeiras do dia. O moreno respirou fundo, algum erro haviam cometido, logo teria que resolver e, talvez, ouvir alguns sermões antes do "bom dia" corriqueiro do chefe.

Aposto que é obra do Hyunwoo... Ele quem vai responder por isso, pensou sorvendo o que lhe restara do café, agora frio. O nome Le Monde havia sido grifado com força, fazendo as letras em caixa alta ficarem em destaque. Seria por isso que os funcionários vieram tão cedo à loja? Arrumando seu avental, Merlin caminhou até a porta entreaberta da sala dos funcionários.

"Ei, feioso, você disse que os funcionários da cafeteria vieram aqui. Por que?", Hyunwoo fuzilou-o com os olhos, acabando por roubar um riso de lado.

"Apenas me cumprimentaram, e o que se dá por esse interesse?", o mais alto se ergueu. Merlin não era tão menor quanto o colega, mas a massa corpórea fazia-o se tornar quase inútil.

"John relocou o pedido de entrega deles pra hoje.", os olhos escuros de Hyunwoo mudaram a cor pra um cinza cru. O ocidental suspirou, negando lento com a cabeça. Ouviu o colega engolir o seco. "Acho que nós sabemos bem o que vem depois, John vai ficar um enjoo hoje e qualquer deslize... Tsc. Foi você quem escreveu o pedido?"

"E quem mais seria?", a voz de Hyunwoo soou enérgica, uma clara mistura de medo e raiva. "Melhor eu adiantar isso e livrar a pendência."

"De jeito nenhum, pode esperar o chefe aí que eu não vou engolir sapo seu. Eu faço a entrega.", e antes que pudesse ouvir qualquer contestação, Merlin abandonou o colega sozinho.

Geralmente as flores encomendadas ficavam descansando numa estufa improvisada no fundo da loja. Recebiam ali o calor artificial de um sol de lâmpadas. Não foi difícil encontrar a pequena frota rubra dentre as outras. Tulipas. As flores favoritas de John, logo depois das rosas, talvez por isso tivessem tantas cores e mutações. Merlin suspirou aliviado, flores unitárias eram mais fáceis de transportar, já que as injúrias aos galhos e folhas eram quase inexistentes. Arrumou cada uma no pequeno carro de transporte, mantendo o cuidado para deixá-las juntas.

Puxando o carro de metal, ele atravessou um beco vazio até que pudesse chegar do outro lado da rua. Não precisou demorar muito pra que viessem atende-lo. Um franzino coreano com os fios azulados encarou-o em dúvida.

"Santo Deus, vocês querem dominar o mundo?", resmungou devido aos pensamentos que relembraram-lhe Hyunwoo. "Entrega das tulipas.", acrescentou quando apontou displicente as flores atrás de si.

"Ah... Achei que...", o tom de decepção fora gritante na voz do funcionário a sua frente, o que fez Merlin franzir a testa descontente.

"Elas não podem tomar frio, será que eu podia...?", e indicou avançando alguns passos em direção ao portal ocupado pelo outro.

Era engraçado como o café ali tinha um cheiro aromático e fresco, mesmo o estabelecimento estando fechado. Merlin olhou os quatro cantos do lugar, demorando-se vez em outra na vitrine de doces. Os tons em marrom escuro penumbravam quando iluminados. Se muito ali ficasse, logo cairia no sono. Diferente da Mallorn, tudo tinha uma harmonia clínica, quase perfeita de tão cheia de sinfonia. As mesas eram bem alinhadas, juntamente de suas toalhas em creme. Até as pequenas almofadas das cadeiras acochadas pareciam ter sido escolhidas a dedo. Os quadros que ocupavam as paredes de tijolos, eram aquarelas monocromáticas que nada bagunçava ou desalinhava o primor do local.

Depois de algumas perguntas, o moreno descobriu quem exatamente era o rapaz. Riu um pouco da pronúncia complicada do nome dele e até ficou curioso por saber que ele não era dos arredores.

"Galaertha, hein? Deve ser uma cidade incrível... Não posso dizer o mesmo de alguns habitantes.", com cuidado, Merlin replantava as tulipas-carmim nos vasos indicados por Minhyuk. Pausando a conversa apenas pra explicar algumas dicas de como mantê-las ainda saudáveis.

"Conheceu alguém em Galaertha?", os olhos amendoados do mais novo absorviam todos os movimentos alheios, como se estivesse tomando notas mentais ou decorando-os. 

"Nunca fui lá. Mas, é, digamos que um babaca tentou cantar de Elvis e me fez de otário.", o rosto do moreno se contorceu em uma careta de entojo. Perguntava-se como que tivera a coragem de ter sido tão ingênuo. "Bem, aqui está a última tulipa."

"Obrigado.", sorriu Minhyuk assim que recebeu o vaso, já o colocando em exposição na última mesa. "Eu sinto muito pela pessoa que te fez de bobo, você parece legal."

Merlin riu. "Hyunwoo jamais concordaria com você. De qualquer modo, não seria um caso que levaria pra frente, não é? Pessoas infelizes vem e vão..."

Com o trabalho feito, Merlin marchava em direção à porta para voltar com os seus compromissos. Minhyuk estava logo atrás, agradecendo pela entrega e aceitando o mero pedido de desculpas pelo atraso. Em segredo, o moreno pensava em visitar a Le Monde quando sua folga ou a vontade de um doce caseiro batesse a porta. Assim que se virou para acenar em uma última despedida, uma voz vinda dos fundos da cafeteria chamou sua atenção e também daquele que estava próximo.

"Ah! As tulipas finalmente chegaram?"

Quando quem fizera a pergunta se aproximou, Merlin quase tropeçou nos próprios calcanhares. Seus olhos azuis pareciam não acreditar na materialização em sua frente. Aquele seria mesmo quem pensava ser? Piscou lento, enquanto sua testar era cravada por finas rugas, o cenho havia se franzido em automático.

"Arthur?"

"Merlin..."


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Notas finais do capítulo

Muito boas noites! Mais um capítulo, introdutório. E acredito que agora tudo está mais esclarecido. Acho que porque as relações já estão pré estabelecidas, desenrolar um romance do zero como com Sherlock e John é bem mais complicado (mas, tão gostoso quanto). Enfim, feitas as devidas apresentações, me pergunto o que você achou disso. Sabe que sou abertx a novas sugestões!

Ah! Além disso, você costuma escrever? O que? E se escreve, geralmente se inspira ouvindo música ou não? Gostaria de saber.

Beijos.



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