Treacherous escrita por Lavs Black


Capítulo 4
Golden Eyes


Notas iniciais do capítulo

eu peço perdão pela demora por esse capítulo, mas espero que vocês aproveitem e se sentirem comovidos, comentem no final, faz toda a diferença ♥



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Apenas alguns dias desde que chegamos à pacata cidade do estado de Washington foi que veio a epifania. O tempo realmente corria depressa quando não se estava prestando atenção. Eu havia começado a agir tão mecanicamente que sequer tinha reparado que quatro dias completos haviam se passado desde que nos mudamos de vez para Forks e era a minha primeira quinta-feira em Forks High School. Eu sentia que estava me adaptando à cidade, para a surpresa de absolutamente ninguém e até porque eu não havia muita escolha. Havia sido um processo tão tranquilo como será abandonar a cidade e partir para a próxima.

Não que fosse uma tarefa árdua, diferentemente dos exercícios de trigonometria que se acumulavam na escrivaninha de Ezra, esses eu evitava sequer pensar sobre. Forks tinha seus charmes, seus atrativos assim como suas desvantagens. Talvez fossem características de cidades pequenas e eu apenas não estava acostumada a elas, conseguia compreender o porquê de meus pais serem atraídos por ela. Aleatório ou não, ao menos estava se provando uma escolha suportável.

A caminhada até a casa de Lauren, quando ela me convidou para assistir filmes junto com as outras meninas, havia sido bem agradável. Aproveitei um dos raros momentos que não estava caindo uma chuva torrencial ou neve nos meus ombros, então talvez eu apenas esteja me iludindo que tal momento voltaria a se repetir. Não era algo que eu poderia repetir em cidades grandes, não sem correr mais risco do que eu estaria confortável em correr; meus pais provavelmente não fariam objeção, mas Ezra sim. A chuva era uma ótima canção de ninar e eu não tinha mais problemas para acordar desde o primeiro dia. No geral, a escola era definitivamente mais fácil que a antiga de Seattle então esse era decerto um ponto positivo. 

Enturmar-se em uma cidade pequena também se provou uma tarefa facílima, especialmente quando todos são tão solícitos em querer conhecer os novatos. Lauren foi a única com quem eu precisei deliberadamente iniciar a conversa e ela estava se provando bem leal, sentando ao meu lado nas aulas que temos juntas, caminhando junto comigo para o almoço e me convidando para sua casa dia sim, dia não. Eu acabei, por comodidade, me juntando aos seu grupo de amigos, arrastando Ezra comigo e logo eu já estava familiarizada com seus nomes e personalidades. Descobri logo quando ele repetiu seu nome que o menino de rosto infantil era o filho adolescente que nossos vizinhos mencionara, ter Mike morando próximo era vantajoso caso fosse necessária alguma carona; foi o que meu cérebro primeiramente armazenou, mas ele não parecia uma pessoa ruim, apenas levemente simplório. Angela e Jessica eram interessantes ao seu modo, era difícil imaginar que elas ficariam amigas se não tivessem crescido juntas em uma cidade pequena, mas curioso. Eric e Tyler eram os únicos com quem eu não havia conversado direito, eram mais tímidos ou eu os deixavam nervosos. 

Forks não era apenas flores, especialmente levando em consideração que dia era. Quinta-feira significava que o fim de semana estava próximo. Eu tinha que admitir, entretanto, que não havia muito como se distrair em Forks, e eu necessitava de um pouco de movimento além de ir à escola e vez ou outra à casa de Lauren. Ela havia convidado a mim e a Ezra - claro que ele não seria escusado do convite -, para se juntar aos outros em uma ida à La Push, que aparentemente era uma praia em uma reserva indígena que eu nunca havia ouvido falar antes, mas já era algo para animar-me. 

Entretanto, não escapou aos meus olhos que não eram todos os Kingsleys que estavam se sentindo assim. Nolan a cada dia ficava mais arisco, mais distante, seu mau humor afastando até mesmo Andy que costumava ser o mais leniente de nós e eu continuava a não interferir. Eu conseguia fuzilá-lo com os olhos tanto quanto ele.

Quinta-feira iniciou-se pacata e eu pensava que assim continuaria, a animação estava prometida para o fim de semana, afinal. Ezra que tomou o volante dessa vez porque eu precisava terminar de pintar as minhas unhas e ele o fez sem reclamar, diferentemente de Nolan, mas essa foi a última vez que eu vi o meu irmão mais velho no dia, pois ele logo sumiu pelo estacionamento. Lauren elogiou minha calça jeans clara quando me viu entrar na sala para a aula de Trigonometria, eu elogiei seu cardigã púrpura e trocamos mensagens aleatórias o dia inteiro até liberarem para o almoço.

Durante esse período de intervalo eu tentei ficar um pouco mais atenta. Lauren estava fuzilando severamente a menina dos cabelos escuros do outro lado da mesa, que apresentaram rapidamente como Bella Swan, então isso não me interessava, mas o assunto era a ida a La Push. Mike tentava a todo custo assegurar-nos de que estaria quente para os padrões Forks exatamente como ele planejou, talvez ele estivesse percebendo o olhar entediado que Ezra lhe mandava sempre que ele falava “eu planejei”. Eu tinha pouco a acrescentar nessa conversa então comecei a divagar; meu olhar inexplicavelmente recaindo sobre a mesa afastada no canto. 

Mesmo afastados, silenciosos, os Cullens conseguiam atrair mais a minha atenção que qualquer um naquela mesa. Ao menos eu podia ver que não era a única, ao meu lado, Ezra não se tornava tão discreto quanto ele pretendia. Não havia muita diferença deles no momento para o que eu, sem querer, havia observando no primeiro dia de aula. Ainda se vestiam perfeitamente, o Cullen arruivado não estava entre eles, então felizmente a simetria era conservada; e por algum motivo isso parecia embelezar-los ainda mais. As besteiras que corriam em minha mente. 

Ao mesmo tempo que encarava eu me sentia perturbada pelo meu próprio comportamento. Eles eram tão cativantes, era quase absurdo. Eu queria poder desviar e esquecê-los por inteiro. No fundo eu sabia que estava me comportando de forma completamente hipócrita quando há pouco reclamava que todos faziam apenas encarar-me como a um animal em um zoológico, mas havia algo neles que afastava qualquer ímpeto de se aproximar como costumeiramente eu faria. Era desconcertante. 

Gostaria que eles se mexessem, que conversassem entre si, que não se assemelhassem tanto com mármore esculpido, que eles se tornassem mais ordinários para que a necessidade de observá-los não fosse tão ardente. O ondulado perfeitamente cacheado dos cabelos dourados de Jasper não deveria ser o motivo pelo qual eu desejava sentar exatamente naquele ângulo. 

Por um milésimo de segundo meu olhar se desviou da figura de Jasper para a irmã ao seu lado e eu pude ver que ela era a única que não encarava a mesa ou outro Cullen, porque ela olhava diretamente para nós. Mais especificamente para Ezra. E ele olhava de volta, olhos esmeralda quase brilhantes firmes nos dela como eu nunca havia visto antes. E quando Alice Cullen sorriu de volta, seu sorriso brilhante quase cegante, eu sabia que algo havia escapado do meu radar.

— Hã… está acontecendo algo que eu não estou sabendo? — Soltei silenciosamente, quase um murmúrio sem mexer muito os lábios, por algum motivo eu sabia que isso seria o suficiente para denunciar a minha pergunta. Entretanto, a curiosidade me consumiu e não pude aguardar pela boa vontade dele, perguntei novamente. — Como você ousa? — Como ainda estava vidrada neles pude perceber um ligeiro movimento, tão súbito porque eles sempre estavam estáticos como mármore, Alice desviou-se para olhar para Jasper, lábios de ambos se movendo mas suas expressões continuavam fechadas.

Ezra mexeu-se na cadeira, desconfortável, aproximando-se de mim como se a contar um segredo. 

— Não agora. — Havia um leve rubor em suas bochechas e eu sabia por experiência que Ezra não era de se abalar por qualquer coisa, era o mais centrado da família inteira; o que me deixava ainda mais curiosa. Prestativa, minha primeira reação foi vasculhar a nossa mesa para ver se alguém havia prestado atenção a nossa conversa ou à troca de olhares, mas felizmente estavam todos entretidos nos preparativos para La Push.

O não agora de Ezra provou-se ser apenas um eufemismo para jamais, ele estava se sentindo ousado o suficiente para evitar aplacar a minha curiosidade. O mais perturbador, principalmente ao meu ponto de vista, era que essa era a primeira vez que algo semelhante estava acontecendo. Éramos todos os clichês de gêmeos existentes na mídia, opostos em personalidade, porém colados na vivência, e tirando o caso atípico do início dessa semana, eu não conseguia sequer lembrar de um momento de nossa infância que Ezra houvesse deliberadamente ocultado informações.

Ele sabia que eu era naturalmente propensa a curiosidade. Convivemos juntos há 17 anos completos, ele deveria saber que me atiçar só provaria sendo pior no final. 

Podia sentir o ímpeto de investigá-lo até ele ceder coçando na minha pele.

Entretanto, me contive. Ao menos, até o resto do dia, quando não haviam mais aulas para alienar ou Lauren para me distrair com fofocas aleatórias sobre outras pessoas. Quando estávamos apenas nós dois à espera de Nolan, sentados em bancos gelados encostados na parede do bloco mais próximo do estacionamento, chuva pingando em nossos sapatos, Ezra com um livro em seu colo, com nada além da paisagem cinzenta de Forks High School como distração, se tornou questão de força maior. 

— Então, já ouviu falar que segredos consomem a alma? — Perguntei solenemente, como se anunciasse algo importante, sem desviar o olhar para analisar a sua a expressão, sabia que estaria me ignorando com todo o seu ser. Era quase mais combustível para que eu continuasse importunando-o. — Concorda, Ezra? —

Porém, Ezra não deu o braço a torcer de imediato, ele apenas sorriu sardonicamente, seu olhar ainda baixo no livro em seu colo, que por algum milagre da ciência não estava completamente encharcado. Estreitei meus olhos, imaginando empurrar seu ombro até ele derrubar o livro na chuva caso ele me esgotasse a paciência; seria provavelmente o fim da nossa trégua, ao menos por um tempo. 

— Particularmente, não. — Respondeu, agindo naturalmente.

— Claro que você acha isso. — Meus olhos estreitaram mais ainda. Recostei na parede gelada, estirando as minhas pernas e molhando ainda mais as minhas pernas com a chuva gelada que não parava de cair. Queria que Nolan chegasse logo para podermos sair da chuva, estava começando a ficar frio demais, porém, nenhum sinal do meu irmão no estacionamento. — Mas teremos um tempinho, aparentemente. — 

Ele deu de ombros, sem sequer abalar-se. Resolvi uma abordagem mais direta, estava começando a entediar-me.  

— O que poderia fazer essa sua pele de porcelana corar que nem um camarão? — Inclinei-me rapidamente para apertar sua bochecha pálida apenas para irritá-lo, embora mal consegui juntar pele o suficiente para esticar; para o meu infortúnio, Ezra havia herdado as maçãs do rosto do meu pai. Ele tentou afastar minha mão com seu ombro enquanto eu ria.

— Poderia deixar eu me concentrar? Alguém da família tem que estudar. —  Retrucou. 

— Você sabe que eu não vou parar até você me dizer. Teimosia é um dos meus dons. — Cutuquei-o com a ponta do meu tênis molhado. 

— Já parou pra pensar que talvez seja um dos meus também. —  Levantou uma sobrancelha, desviando rapidamente do seu objetivo para me responder e, percebendo que era isso que eu queria, voltou o olhar ao seu colo.

— Você vai ceder. Sabemos bem como essa banda toca. — 

Ezra bufou, consternado. 

— Você está tão entediada assim? —  Óbvio. Isso sequer precisava ser declarado e ele podia ler claramente em minha expressão, tanto que calou-se. 

— Estamos aqui plantados esperando o Nolan. Claro que eu estou entediada! — E um tanto… apreensiva, com a demora de nosso irmão, mas não queria comentar nada - apenas tornaria um motivo real de preocupação -, embora pelo olhar que Ezra me mandou, ele seguia a mesma linha de pensamento. Quase sorri com a nossa sincronia, ambos estranhando e não querendo alertar o outro, mas lembrei que estava focada em outra coisa. — E eu estou curiosa. Curiosidade genuína. Bora lá, se não é nada demais por que você não me conta. — 

Por pouco, quase sorri vitoriosamente. Eu o havia encurralado. Se ele quisesse manter-se firme dizendo que não era nada importante, teria que me contar, do contrário, estaria apenas confirmando que havia algo que merecesse a minha curiosidade nesse caso.

Ele soltou um suspiro audível, o som de um homem derrotado. 

— O que você quer saber? —  

Hesitei por alguns míseros segundos, alinhando exatamente o que eu queria, repassando a cena em minha mente. Envolvia Alice Cullen. Os Cullens. Era o suficiente para deixar-me curiosa e eu não estava completamente confortável com essa constatação. Queria perguntar se ele sentia o mesmo interesse mórbido que eu tentava disfarçar, ou por que Alice Cullen lhe dirigia sorrisos radiantes como se eles se conhecessem há anos, ou ainda, por que ele estava sendo tão furtivo quanto a isso. Mas foi algo diferente que saiu da minha boca.  

— Por que você se interessa pelos Cullens? — Um arrepio percorreu a minha espinha e eu quase cedi à vontade de olhar sobre o meu ombro para conferir se eles estavam na proximidade, mas não o fiz. 

— Por que eu não me interessaria? — Retrucou, desviando o olhar, um movimento que eu reconhecia muito bem de Ezra tentando se passar por mais determinado do que realmente estava. Não havia parado exatamente para pensar que talvez meu irmão também percebia o efeito que aquele grupo de irmãos tinha sobre nós pobres mortais, erro meu.

— São apenas supermodelos bilionários reclusos, Ezra. Aposto que eles agem assim de propósito para afastar todo mundo. — Falei, cruzando os braços de forma petulante. Quase conseguia ouvir a vozinha levemente anasalada de Lauren no meu ouvido, repetindo para mim as palavras, mas continuei firme no que disse, mais para ver a reação de Ezra do que algo que realmente refletisse o meu ponto de vista. A situação cada vez provava-se mais complexa do que apenas uma fofoca bem estruturada oriunda do ciúmes de Lauren ou de Jessica. 

— Acho que você está sendo influenciada demais. — Zombou, ainda concentrando-se em parecer despreocupado. Eu revirei os olhos com a acusação pífia que ele queria jogar para cima de mim, teria que ser bem mais criativo para desvencilhar-se. 

— Além daquela classe de artes você alguma vez já conversou com um deles? — Pressionei, recordando eu mesma do encontro com os dois Cullens, única vez que eles realmente agiram como pessoas de carne e osso, provavelmente só porque estavam confinados a um grupo conosco, porque não era assim que agiam na hora do almoço quando se isolavam. 

— Não, mas… — 

— Talvez você devesse. — Falei e ele olhou-me surpreso, os olhos arregalados, como se jamais esperasse que algo assim saísse da minha boca e isso me fez rir um pouco; particularmente adorava ser imprevisível. — Se está tão interessado assim. — 

— Não enche, Diana. Eu não estou interessado em nada. Em nada além disso que você me sobrecarrega. — Apontou para o livro em seu colo, que eu não fazia ideia de que matéria se tratava e não seria agora que me interessaria saber. 

— Não venha mudando de assunto, meu caro. — Fechei seu livro abruptamente e podia perceber sua paciência se esvaindo, Ezra era tão possessivo com seus pertences. 

— Você simplesmente está querendo saber algo que não existe. Eu estava apenas olhando para uma garota, é algum pecado? — Mordi o lábio para fisicamente segurar a minha boca tagarela para não citar todos os romances de Ezra que se resumiam a nenhum; não era disso que se tratava. 

— Pecado não. Mas ela estava olhando de volta para você. Eu queria saber se vocês já tinham conversado antes para se olharem tanto, ué. —

— Ela… ela faz isso às vezes. — Murmurou, enfim. 

— O que? — Perguntei, entrando especificamente no tópico que eu pretendia, se ele havia notado algo de particular ou estranho naquele grupo tão característico de indivíduos. Ou se havia algo de errado comigo em estar tão fixada em uma família completamente aleatória que jamais faria diferença na minha vida no final das contas; uma hora ou outra nos mudaríamos de qualquer jeito e não seriam os Cullens que deixariam sua marca nas minhas memórias.  

— Me olha como se já me conhecesse. Acho que ela olha assim para todo mundo. — Ele desviou o olhar novamente, para a capa do seu livro, entrando nas próprias divagações e assim eu sabia que Ezra havia tantos questionamentos quanto eu, era apenas mais lento em compartilhá-los. 

Tentei lembrar exatamente do momento que meu olhar cruzou com o de Alice Cullen, o que não era difícil pois ninguém poderia acusá-la de ser o esquecível, mas eu tinha certeza que não era com reconhecimento que ela me olhava, nem de perto. O contrário, por assim dizer, sua expressão sempre se fechava como se estivesse se concentrando em ler minhas feições em busca de algo, mas nada mudava, ela apenas desviava para comentar algo com alguém do seu lado. Era difícil adivinhar o que ela falava de mim.

— Ela não olha assim para mim. — 

— Talvez esteja acontecendo algo com você então. — Ele esboçou um sorrisinho agora.

— Isso não faz nenhum sentido! — 

— Acabou o interrogatório? Está ficando tarde. Nolan nos abandonou completamente. — Foi só com essa fala que eu percebi que já estávamos sozinhos ali naquele estacionamento, todos os outros estudantes, mesmo aqueles que ficaram para atividades pós-aula já haviam saído há tempo. E nada de Nolan. Nós dois nos levantamos para caminhar em direção ao carro estacionado sozinho.

— Não é possível que ele tenha ido andando para casa só de birra. Eu vou acabar com a raça dele! —  Gritei, explodindo e fechando a porta irritada, recebendo um olhar irritado de Ezra, porém considerando que ele deveria estar mais irritado com nosso irmão, sequer rebati. A minha paciência tão preciosa e escassa tinha limites e Nolan conseguia ultrapassá-la sempre. Minhas mãos quase se flexionavam ao imaginar esganando-o ali mesmo se quando chegássemos ele estivesse ao meu alcance. Ao menos Ezra que iria dirigir, porque eu seria capaz de causar um acidente de tanta ira.

 

Frustrando as minhas expectativas de violência e de ver justiça sendo feita na casa dos Kingsleys, Nolan não apareceu durante a noite. Ou durante a madrugada. Quando acordamos, ele também não estava lá. Restou-nos uma amálgama de emoções, cada um expressando graus de preocupação distintos e ao seu modo. 

Eu, minha raiva ainda não havia dissipado, por ter ficado plantada esperando-o na chuva, não ter recebido nem um aviso de que ele não ia voltar conosco pra o que quer que ele estivesse se metido. Irritada por ele ter sido arisco o dia inteiro para no final me deixar esperando e ao seu dispor. Ezra estava mais preocupado que furioso, sempre me balanceando. Ele tentou ligar diversas vezes para o celular de Nolan mas estava dando sempre descarregado, típico. E depois encontramos o aparelho no quarto dele então ele sequer havia levado consigo para a escola. Andy estava à beira de um choro antes de dormir, ele era tão sensível e medroso que as vezes eu não conseguia imaginar que compartilhávamos os mesmos genes Kingsleys, eu não queria nem estar presente para escutar suas teorias de conspiração e pedidos para ligarmos para a polícia de Forks quando ele acordasse pela manhã e visse que Nolan ainda não havia voltado.  

Eu sequer tinha certeza se meu pai havia percebido que faltava um filho dentro de casa, ele passou a semana em um surto de inspiração, trancafiado no quarto com seu computador, escrevendo o que eu imaginava ser seu mais novo livro; e nenhum de nós iria atrapalhá-lo. Minha mãe tentava dar desculpas vazias, confiando firmemente que nada havia para se preocupar, que Nolan estava apenas extravasando energias negativas. Não nego que ela devia estar mais próxima da verdade que qualquer um de nós, porém isso não aplacava nem um pouco a minha ira. 

Café da manhã foi mais tenso e menos movimentado que o costumeiro, Andy ficaria em casa para evitar maiores estresses, mas eu e Ezra combinamos silenciosamente de procurar por Nolan pela escola e pelos arredores. Apenas a minha mãe desceu rapidamente, beijando a cabeça de suas três crianças e subindo novamente com um copo de café morno em suas mãos. 

Esperamos ao máximo por Nolan na frente, no estacionamento e nos corredores próximo ao que achávamos que era a sala da primeira aula do Nolan. Ezra queria contatar os professores ou funcionários da escola, mas eu discordava que seria um método útil, que profissional estaria preocupado em perceber onde Nolan foi parar, mesmo sendo nós os alunos novos. Ainda não havia passado 24 horas do seu desaparecimento para realmente irmos à polícia; e eu tinha certeza que se Nolan me obrigasse a falar com a polícia apenas para ele aparecer depois são e salvo eu realmente o esganaria. 

Mas eu não tinha uma solução melhor para oferecer, e me sentia desconfortável em tomar a posição de ter que pensar racionalmente para resolver um conflito; só queria que Nolan me poupasse e nos poupasse em geral, aparecendo de uma vez. Era difícil. Tínhamos apenas uma semana aqui. Eu sequer sabia se Nolan tinha amigos para quem eu pudesse perguntar quando foi a última vez que eles o viram, se é que Nolan interagiu com qualquer aluno de Forks.

Era mais difícil ainda concentrar-se em aulas desinteressantes quando se pensava no irmão sumido, mesmo Lauren deve ter percebido o quão dispersa eu estava, porém não me questionou. Eu nem sabia se responderia.

A ideia surgiu no meu cérebro e se recusava a esvair-se assim que eu vi Jasper Hale saindo de uma das salas durante o almoço. Eu o associava a diversas palavras, mas dessa vez, devido ao contexto, a informação de que ele era um senior assim como Nolan piscou no meu cérebro e se tornou o único plano que eu tinha. 

Lauren havia saído mais cedo. Ezra não compartilhava essa aula comigo. Estava sozinha. Ele me deixava nervosa de uma forma inédita pra mim, nunca fui de hesitar ou de pensar duas vezes antes de agir quando firmava-me no que queria. Porém, ali fiquei, por breve segundos, parada no corredor assistindo-o se afastar em direção ao refeitório, coluna reta como uma parede e tão rígida quanto. Retomei toda a ousadia que me caracterizava e segui em sua direção. 

— Jasper! Ei, Hale! — Gritei, minha voz sendo engolida por todos os outros alunos e suas vozes paralelas, mas por algum milagre eu não precisei forçar mais alto porque Jasper voltou sua atenção diretamente para mim, como se houvesse escutado em alto e bom som. Eu lutei contra a correnteza de alunos que nos separavam, para parar à sua frente.

— Olá. — Respondeu e percebi que nunca havia escutado sua voz antes, ele era o mais retraído da família pelo que eu havia longamente observado. Não sei o que eu havia imaginado exatamente, mas era melodiosa da forma mais masculina possível, grave e com um leve sotaque sulista que eu não havia percebido nos outros; era algo unicamente de Jasper. Era ótimo notar algo assim, tornava-o singelamente mais real, ao menos para mim.

Sua postura era rígida, músculos da face tensionados, porém tentando parecer relaxado, uma dissimulação que talvez só fosse perceptível pela proximidade que estávamos. Eu não sabia se queria aproximar-me ou afastar-me ou sequer se eu deveria agir. 

Os olhos dele eram tão dourados.

Não castanho claros, não âmbar ou tons de uísque como alguns mais comuns, mas puro ouro cintilante. Nunca havia visto olhos tão… chamativos. A luz artificial de porca qualidade refletia na sua pele alva e acentuava ainda mais o tom das orbes, deixava-as ainda mais brilhante, mais chamativas. Tão dourados. Mais que ouro puro. Minha mãe tinha uma pequena escultura de ouro que custou caríssimo para a produção e foi vendida por ainda mais, que não fazia jus ao ouro dos olhos de Jasper. Comparável ao seu cabelo loiro. Ele encara-me de volta, educado. Eu nunca havia acreditado na poesia descritiva de livros ou canções românticas, mas ao encarar Jasper Hale e seus olhos singulares, era impossível não pensar que aqueles olhos já presenciaram história.

Questionei-me, de súbito e sem controle, o que ele via nos meus olhos pálidos e esse pensamento quase tornou-se um questionamento. 

Os segundos se passaram em um silêncio desconfortável devido a minha imobilidade; o que era patético porque havia sido eu que o chamara e Jasper acabou por quebrá-lo porque eu ainda estava presa encarando-o, como uma idiota sem cérebro.

— Kingsley, correto? Diana. — Continuou com sua voz melódica, e um arrepio subiu à minha espinha ao ouvir meu nome em sua voz. Agora eu que estava levemente desconfortável, nunca havia reagido tão fisicamente a alguém antes. 

— Sim, como você sabe? —  Foi a minha resposta automática, e eu me soquei mentalmente pela lentidão. — Ah, deixa para lá. —  

Respirei fundo, ajustando a minha mochila no meu ombro e evitando ativamente encarar novamente os olhos de Jasper. 

— Você é um sênior, certo? — Ele apenas assentiu silenciosamente, um pequeno cacho do seu cabelo ameaçando cair em sua testa. — Você, por acaso, viu meu irmão, Nolan Kingsley ontem ou hoje? Ou… por algum acaso tem alguma ideia de onde ele poderia estar metido? — 

Jasper ficou em silêncio por alguns instantes, absorvendo minhas palavras.

Eu não estava constrangida pela minha primeira interação com Jasper Cullen ser pedindo um favor, estava firmemente convicta de que não ele não seria nada demais para mim apesar de momentos de fraqueza.

— Lembro vagamente dele em uma de minhas aulas no começo. Mas nada suspeito. Não hoje. — Respondeu de forma tão apologética sincera que eu não consegui nem ficar frustrada por nenhuma novidade.

 Acenei rapidamente e virei-me para ir embora.

— Diana… — Chamou-me, e de imediato virei-me. Ele não havia se movido ainda — Se você consentir, eu posso ajudá-la. A procurar seu irmão, após a aula. —

Eu só consegui assentir, coração pulsando estranhamente em meu peito.




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