Treacherous escrita por Lavs Black


Capítulo 2
Not MY First Rodeo


Notas iniciais do capítulo

♥ Então, aqui apresento mais um capítulo! Espero mesmo que vocês estejam gostando. Ainda não vamos conhecer nenhum dos personagens dos livros, será no próximo capítulo prometo, mas fiquem aí com um pouco mais da dinâmica dos Kingsleys ♥.

♥ Aproveitem o capítulo! ♥



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Arrumar, organizar e acomodar todas as nossas coisas na nova casa era uma tarefa que todos nós já estávamos acostumados e a cada novo momento, quebrávamos o nosso recorde anterior. A maioria das pessoas costuma levar uma semana para pôr tudo em seu devido lugar, porque trabalha gradualmente e sem nenhuma pressa, mas nós sempre buscamos eliminar logo essa tarefa da nossa vida, por uma insistência de Pauline. Ela sempre dizia que não valia a pena perder preciosos momentos do nossos futuros dias se preocupando em arrumar as malas. Um pensamento que poderia dar abertura para simplesmente deixarmos tudo em suas devidas caixas, mas ela também nunca permitiu isso.

Desde então, eu sempre tentei encontrar um pouco de diversão enquanto realizava essa árdua e de certa forma monótona atividade, seja através de música ou apenas de tagarelar sobre baboseiras sem motivo nenhum e acabei contagiando todos da família e esse se tornou um momento em família; único aos Kingsleys.

Desci sem cerimônias as escadas em direção a sala, o isqueiro pesando em meu bolso porque eu precisava devolvê-lo com a mesma sutileza que conseguira surrupiá-lo; o que talvez não seria possível pois todos e mais alguns funcionários da equipe de mudança estavam indo e saindo por toda a casa. Minha mente circulava por desculpas caso eu fosse pega com a mesma tranquilidade que tentava arrumar um jeito de me aproximar da mala escura de Nolan.

Quatro auxiliares de mudança entraram carregando a armação do que parecia a minha cama e eu aproveitei essa oportunidade para correr em direção ao meu alvo.

— Oh, Di, ainda bem que você desceu. – A voz da minha mãe me chamando foi tão súbita que me fez derrubar o isqueiro na mala ao invés de sutilmente colocá-lo e fingir que dali ele nunca havia saído. Eu virei de uma vez para a sua direção, com as mãos atrás das costas como uma criança sendo pega fazendo o que não devia. – Já íamos começar sem você. O jantar, quero dizer. Eles ainda estão trazendo os móveis. –

Ela arqueou uma sobrancelha, avisando-me que havia visto minha pequena ação e questionando-me com um simples olhar, mas não teceu nenhum outro comentário, apenas acenou para a cozinha, onde estavam os outros.

Nós jantamos algo bem simples, apenas alguns sanduíches de sabores variados pois nem o fogão, nem a geladeira estavam devidamente montados ou com energia. Reed não conseguiu esbanjar seus dotes culinários para a sua família como sempre gostava. Comemos quase em silêncio, algo não característico nosso, em meio ao barulho que os auxiliares faziam enquanto montavam todos os móveis. Reed às vezes cantarolava alguma música country, ou Ezra batucava nervosamente os dedos contra a mesa de mogno, mas além disso, ninguém conversava. Depois que todos terminaram, eu me ofereci para lavar os pratos e limpar tudo, apenas para fugir da poeira da sala.

Era quase madrugada quando os funcionários terminaram de montar tudo que era necessário ser mudado e teoricamente, nós tínhamos permissão para começar a organizar tudo. Mesmo correndo o risco de acabar apenas quando fosse o horário de aula, cada um buscou se ocupar com as inúmeras caixas que se acumulavam no corredor, todos os nossos pertences. E o humor da casa melhorou consideravelmente, se transformando em nossos momentos de família que sempre aconteciam.

Talvez os únicos pontos de tensão fossem eu e Ezra que ainda não estávamos nos falando completamente, e para irmãos gêmeos que faziam tudo juntos qualquer pequeno problema se transformava em algo dramático e apocalíptico, os dois percebiam isso, todos da família percebiam isso, mas ninguém reconhecera ou interceptara. E mesmo aquela pequena interação mais cedo não fora o suficiente para amenizar nossa ligação. E claro, Nolan, com suas variações de humor e sarcasmo destilando para todos.

Enquanto organizava os nossos talheres, tentei não deixar isso me incomodar novamente, mas ficava cada vez mais consciente de que a paz só alcançaria o seu ápice quando voltássemos a ser unidos como sempre éramos. Essa não era uma mudança que nossa família suportaria.

Eu estava casualmente limpando uma de nossas facas de prata quando Ezra esbarrou pela segunda vez em meu ombro e eu decidi que havia chegado ao meu limite. Meu temperamento conseguia ser tão imprevisível quanto o de Nolan. Mas Ezra era sortudo por eu não estar particularmente violenta naquele dia pois eu repetiria um dos incidentes da nossa infância; quando eu jogara uma faca de manteiga em sua perna quando tínhamos por volta dos oito anos. Suspirei e larguei a peça no balcão junto com as suas semelhantes e fui atrás dele.

Quanto mais eu me aproximava, mais ele se afastava, até que eu consegui encurrala-lo no corredor que separava o quarto que ele escolheu depois de perder o principal para mim e o quarto de Andy.

— Ei, ei, não fuja de mim! – Eu avancei e puxei-o pelo seu braço, impedindo que ele entrasse e fechasse a porta na minha cara. Ezra sempre fora um pouco magricela, embora alto, para a nossa idade e era por isso que eu ainda conseguia ter a vantagem física em nossas lutas. Mas agora era um momento sério.

Ele ignorou completamente o meu chamado e virou-se para me abandonar novamente, mas eu mantive meu aperto firme em seu braço e puxei-o com mais força, forçando-o a me encarar.

Ele evitava meu olhar; tão típico do meu irmão. Mas eu não havia subido dois lances de escada por nada.

— Eu acho que precisamos conversar, tipo, de verdade e não soltando piadinhas ou esbarrando no meu ombro. Muito maduro. – Meu olhar era duro sobre o dele e acho que isso o fez parar de tentar evadir essa conversa e realmente me encarar. Me levar a sério. Eu raramente era de deixar algo não resolvido, era simplesmente parte da minha personalidade, mas Ezra era o contrário, ele era mais introvertido, o que significava que eu que tinha que tomar a liderança em nossas discussões. Não era algo confortável, mas era algo que eu precisava tirar do meu sistema e que bem havia em adiar.

— Eu sei, está tudo bem. – Ele murmurou, com indiferença. E eu queria perguntar retoricamente se ele achava que eu era alguma estúpida que iria acreditar nisso. Eu era a sua irmã gêmea, não a professora que ele tentava ludibriar por não entregar o dever de casa. Minha mão circulou novamente seu bíceps, apertando com mais força só para amenizar a minha raiva.

— Não, venha com uma de ‘está tudo bem’. Não seja assim. Não comigo. – Eu estava quase implorando agora, mas ainda tentando não ser tão vulnerável. Sempre me disseram que eu tinha olhos expressivos, toda aquela baboseira de como meus olhos eram a porta da minha alma apenas por eles serem ligeiramente grandes e muito claros. Mas aquele foi o primeiro momento que eu acreditei nisso pois, Ezra me encarou por alguns segundos e sua expressão se abrandou, eu tinha sua atenção e seu coração aberto. E isso me deixou apenas mais nervosa com o que eu tinha que dizer em seguida.

Eu sempre tive a filosofia de que as coisas só iriam melhorar quando eram confrontadas como deviam, que adiar, que manipular e adular não eram tão eficientes quanto parecia no exterior e por isso que eu deveria me desculpar com meu irmão pela minha atitude de quando deixamos Seattle. Nós haviamos saído da cidade em péssimos lençóis, brigados de uma forma que nunca havíamos antes, normalmente era com Nolan que tínhamos nossas diferenças, nunca um com o outro. E era totalmente minha culpa. Ezra veio ter comigo logo que descobrimos que estaríamos nos mudando naquele exato dia, uma grande amálgama de bênçãos como a casa de Forks já estar pronta para nos receber e o caminhão de mudanças ter nos contatado, e eu estava em um péssimo humor. A culpa de ter que abandonar tudo e todos já estava me consumindo e eu descontei nele, em palavras duras e estragando alguns de seus projetos.

Eu admito que havia sido uma atitude infantil e grosseira, babaca até. Mas eu estava tentando consertar e seguir em frente, e intenções sempre deveriam ser levadas em consideração. E apesar de terem sido apenas alguns bobos projetos, meu irmão tinha uma alma sensível, ele puxou isso de nosso pai, então eu sabia que minhas ações o haviam magoado, machucado ao ponto de ele ser arisco e rude comigo de uma maneira que nunca havia sido. Nem quando eu o empurrava ou quando lutávamos para gastar nossas energias de crianças.

— Ezra, eu sinto muito. Eu fui uma idiota com você, uma ridícula. Não deveria ter descontado tudo em você, nas suas coisas. Não era justo. – Eu poderia dizer muito mais. Dizer que eu não suportaria se nossa relação nunca mais fosse a mesma, que esse não era o tipo de mudança que eu aspirava, que ele era meu irmão gêmeo, a pessoa mais próxima de mim e eu não suportaria perdê-lo pelos meus ataques egoísta. Eu não suportaria começar uma nova escola, raios, eu não suportaria Forks sem ele.  

Ele tomou seu tempo para considerar minhas palavra, a cabeça levantada para que eu não pudesse ler sua expressão. E novamente eu o amaldiçoei pelos centímetros que havia me roubado, pois eles viriam a calhar agora.

— Está tudo bem, agora sério, Diana. – Voltou a me olhar nos olhos respondendo de forma suave e eu podia sentir o perdão em seu olhar, era mais que o necessário.

Sem cerimônias eu pulei em seus braços, agarrando-o em um apertado abraço fraternal para transmitir toda a minha felicidade por sermos gêmeos conectados novamente.

— Agora podemos descer amanhã e reclamar de termos que ir à escola. Dois é melhor que um, não? – Ele sussurrou, ainda me tendo em seus braços e eu gargalhei alto, mais em felicidade por termos reatado que em concordância com o que ele falava. Inclinei-me e beijei-o estalado na bochecha e voltei ao meu quarto.

Ezra desceu para ajudar Pauline com o quarto de Andy, mas eu não consegui voltar a acompanhar todo o trabalho, pois por volta das duas da manhã, quando estava no meu quarto a culpa se esvaiu do meu corpo e eu caí no sono enquanto estava pondo minhas roupas no guarda-roupa, em meu estupor usei meu próprio vestido como lençol e dormi no chão duro, mesmo que minha cama estivesse bem ao meu lado.


( ... )

 

Eu quase não acordei na manhã seguinte. Meu corpo estava esperando um raio de sol para poder me avisar que era hora de acordar, mas Forks não nos concedia esse luxo. O céu estava pesado com nuvens cinzentas quando Andy invadiu meu quarto para me acordar e um gélido vento entrava pela janela, o que deixava meu edredom e cama ainda mais atraentes. Não era do meu feitio ser tão preguiçosa de manhã, especialmente quando era o início da minha estadia em uma nova cidade, mas o clima estava tão frio, eu quase podia jurar que havia uma neblina no piso. Mas claro, eu tinha a obrigação moral de levantar-me.

Era o clima de Forks já surtindo efeito em meu comportamento. Era melhor tirar o mal pela raiz.

Com esse pensamento, eu levantei em um pulo, tentando afastar a sonolência e a preguiça do meu corpo me espreguiçando. Eu havia lido junto com Pauline alguns exercícios matinais para fazer ainda na cama alguns anos atrás e embora eu não tivesse certeza que minha mãe continuasse a segui-los fielmente, eu ainda os fazia. Realmente eram úteis para dar aquela guinada de manhã cedo.

Energizada novamente, eu me preparei para um dia de aula. Ainda restava água quente no chuveiro o que significava que nem todos da casa estavam prontos ainda, pois em uma casa com seis pessoas, dificilmente sobrava água quente cedo da manhã quando todos tinham obrigações. Ponto para mim. O choque térmico ao sair foi a pior parte, eu realmente levaria algum tempo para me acostumar com o gelo mórbido de Forks, Seattle não era tão ruim. Mas eu podia me adaptar ao frio, assim como me adaptei ao calor da Califórnia, ao vento de Chicago, entre muitos outros.

Não havia muito o que fazer quanto a minha aparência, eu não dera uma boa olhada no que o pessoal jovem de Forks usava para ir à escola para poder não estar simples demais nem ousada demais. Cada cidade tinha seu estilo diferente e também era bom adaptar-se a ele. Mas julgando pelo seu tamanho e tradicionalidade, eu ia apostar em algo mais básico. Meu guarda roupa estava perfeitamente arrumado, embora eu podia apostar que não duraria por muito tempo assim; eu me conhecia, então foi fácil achar a minha jardineira estampada com um xadrez em um fundo mostarda que era bastante confortável por acabar em uma saia. Usei-o por cima de uma blusa simples branca, peguei um cardigã escuro e um par de tênis escuros que eu usava com meias maiores. Eu não tinha certeza nem que me pertenciam ou se era algum sapato que eu roubara de Ezra quando ele ainda calçava o mesmo que eu.  

Meu cabelo era bem mais fácil de lidar, seu corte e cor já eram todo o estilo que ele precisava. Por muito tempo eu usei meu cabelo castanho longo e natural, sem algo específico feito para que ele me destacasse, mas no último ano eu o havia cortado curto, acima dos meus ombros e pintado-o da altura dos meus olhos abaixo de um vermelho vivo que às vezes parecia mais rosa quando não recebia a luz do sol. Em Forks, aparentemente todos veriam mais no tom róseo desbotado. Ele era liso com apenas um leve ondulado o que significava que não me dava trabalho nenhum para arrumá-lo. Era apenas soltá-lo e eu estava pronta.

Eu estava no processo de ajustar os últimos detalhes no espelho, para garantir que eu estava legal quando uma batida ritmada soou na minha porta. Ezra nem esperou eu proferir nada e ele já estava entrando. Ele vestia jeans pretos que não o deixavam mais esguio do que o normal, uma camisa simples azul escura e trazia no braço a jaqueta que eu sabia que ficava muito bem nele. Eu lhe dei um olhar de aprovação assim como dois polegares para cima quando ele olhou para mim. Ele apenas revirou os olhos, o insensível.

— Vamos descendo logo, já são quase 8 horas. – Ele pausou em meio a sentença, pois uma outra linha de raciocínio atingiu-o. – Imagine a cena que causaremos chegando atrasados, Forks jamais esqueceria. –

— É uma cidade pequena, não morta. – Recolhi tudo que serviria de material escolar e enfiei em uma mochila púrpura que estava bem desgastada mas ainda servia, o puxei para fora do meu quarto e fomos descendo as escadas. Quando passamos pela porta do Nolan, Ezra deu três batidas para lembrar ao nosso outro irmão que ele ainda não havia se formado.

— É, mas nós seremos as novidades. Nada demais acontece por aqui. Veja, hoje mais cedo vieram uns três vizinhos nos dar boas-vindas, e claro espiar um pouco, mas quem faz isso hoje em dia? –

— Você está exagerando! – Não era possível que Forks fosse tão desesperada por algo que os tirasse da monotonia assim. Dar boas vindas aos vizinhos parecia algo de filme ou de histórias antigas, não algo que acontecia na vida real.

— Aparentemente não chegam tantas pessoas novas assim, especialmente pessoas que não tem nenhuma conexão com os moradores. A filha do xerife se mudou pra cá alguns dias atrás de Phoenix  e só conseguem falar disso! – Ele exclamou. E o nome da cidade aleatoriamente saltou em minha mente.

— Oh, Phoenix! Já moramos lá? – Perguntei, buscando em minha mente por memórias da cidade do Arizona, ela me parecia estranhamente familiar.

— Não, passamos por lá quando éramos pequenos, lembra? Tinha ruas legais. –

Nah, você é quem tem a memória boa, não eu. – Dei de ombros. Então não havia motivo algum para eu lembrar de Phoenix ou talvez as ruas tenham me marcado quando criança, eu tinha um fraco por cidades como Phoenix.

 

( ... )

 

Não havia ninguém na cozinha quando chegamos. Eu me surpreendi, normalmente Pauline e Reed sempre estavam à vista quando você os estava buscando, era quase um dom, a onipresença. Mas agora eu só podia ouvir o barulho do que eu julgava ser Nolan se arrumando para também desfrutar do café da manhã. Ezra tomou a frente e foi fazer os ovos e bacons que era o prato preferido dos Kingsley e alguns minutos depois foi colocando um em meu lugar da mesa, um para ele e um para Nolan que chegava.

— Bom dia. – Desejei, minha voz aguda elevando-se contra seus passos pesados e obtive apenas um murmúrio inaudível e um olhar mortal. Nolan estava de péssimo humor hoje, nada de novo sob o sol. Eu não deixaria que isso estragasse o meu dia.

Andy desceu apenas quando nós já estávamos comendo, e sonolento e vestindo azul também, ele parecia ainda mais parecido com Ezra porque ambos tinham o cabelo cortado mais longo que apenas realçava a cor escura. Era estranho notar a semelhança e quanto eu não era igualmente parecida.

Pauline e Reed se juntaram a nós logo depois, rindo e ele tinha seus braços envolto nela. Eles vinham da porta da frente então isso logo me atiçou a curiosidade.

— O que foi? –

— Os Newtons da frente já vieram nos desejar boas-vindas, acredita? Um casal e eles disseram que tem um filho adolescente também. Estou quase acreditando que vou querer morar para sempre em uma cidade pequena. Que gente simpática. – Meus lábios se curvaram em um riso involuntário. Eu não era de questionar ou duvidar da minha mãe, mas eu a conhecia o suficiente para saber que isso jamais seria o caso, nem do meu pai, que agora concordava acenando ao comentário dela enquanto ocupava uma cadeira. Nenhum deles era capaz de se assentar em um lugar e logo, logo estariam dizendo que preferem morar em uma agitada capital.

Olhei ao redor e todos os meus irmãos tiveram respostas semelhantes, apenas jeitos diferentes de demonstrar. Ezra tinha o mesmo sorriso que o meu, mas escondia em uma xícara de café, Andy abertamente ria e Nolan parecia ainda mais mal-humorado revirando os olhos.

— Adoráveis, não são? Acho que nunca conheci pessoas como eles, o terceiro apenas essa manhã. – Acrescentou Reed, um sorriso aberto em seu rosto. Era incrível como simples coisas podiam alegrar meus pais e ainda mais, porque eu sabia que era esse o motivo da felicidade de ambos, inspirá-los.

Meus olhos encontraram os de Ezra do outro lado da mesa e eu podia quase imaginar o que ele estava pensando. Cidade do interior.

— Então, mãe, aproveitando que você está de bom humor com todo o novo ambiente.Tem certeza que vale a pena começar com essa nova escola? – Eu quase engasguei no meu café com as palavras de Ezra, não era bem o que eu estava esperando. E ele ainda continuou, em um tom dramático. – Nesse ritmo, é melhor que a gente estude em casa mesmo, não? Tem um monte de programas e meios de regularizar isso se a senhora sentir peso na consciência. –

Todos os olhos da mesa voltaram-se para Pauline de imediato, curiosos para a resposta. Ela levantou uma sobrancelha loura, pela audácia do pedido de Ezra e por alguns segundos eu suspeitei que ela concordaria, mas Pauline começou a rir.

É, Ezra. Valeu a tentativa.

— Nem se eu quisesse, querido. Você sabe que é importante vocês se manterem ocupados, interagindo com outros adolescentes. – Ela piscou um olho azul para nós como se estivéssemos todos entendendo a mesma mensagem sublimar e eu decidi ali mesmo que não ia comentar mais nada. Comi em tempo recorde e aguardei os meus irmãos fazerem o mesmo. Nós abraçamos Pauline e Reed em uma filinha antes de ir.

Embora fôssemos privilegiados em dinheiro, Pauline e Ezra não daria um carro para cada filho adolescente, era praticamente inviável, então nós normalmente dividimos um carro menor e mais econômico entre eu, Ezra e Nolan, sob a responsabilidade de atender Andy quando ele sentisse a necessidade. Nessa manhã porém, nós - e por nós eu quero dizer eu, a perdedora do joquempô - estaríamos levando o carro dos nossos pais mesmo, enquanto o nosso chegava com uma transportadora que teve alguns problemas.

Eu não sei porque eles ainda aceitavam que eu conduzisse um veículo com eles dentro. Eu tinha plena consciência que dirigir não era uma das minhas qualidades, não porque eu não sabia os mecanismos de dirigir um carro, mas porque eu não tinha senso de espaço. Eu me perdia em qualquer lugar que me largassem se não tivesse alguma orientação externa para me manter nas linhas. Até tentava utilizar isso para escapar da tarefa de ser a motorista da vez, mas nunca conseguia. Assim que eu toquei no volante, Ezra pegou as instruções que um dos visitantes nos havia deixado de presente e assumiu como meu co-piloto.

Surpreendentemente, Forks não estava se revelando um desafio. As ruas eram largas e objetivas, não havia muito o que ver e o que me confundir. Consegui encontrar a escola fundamental de Andy fácil pois ficava apenas a algumas quadras da nossa própria casa e a escola do ensino médio era ainda mais fácil tomando aquele como seu ponto de partida. Alguns minutos depois e pouquíssimas curvas depois e eu já podia ver o pequeno prédio de tijolos marrons bem ao lado da rodovia, com uma placa “Forks High School” bem em frente. Agradeci imensamente por terem nos dado uma descrição pois senão, eu jamais julgaria que aquele lugar era uma escola de ensino médio. Vários alunos já estavam chegando, mas ainda foi fácil achar uma vaga entre os carros.

— Olha só! Chegamos em tempo recorde e eu não me perdi nenhuma vez. – Anunciei. Isso só podia ser um bom sinal, era um feito quase inédito para mim.

— Se você conseguisse arrumar um jeito de se perder por aqui, eu digo que você merece um prêmio. – Ezra respondeu, enfiando o mapa em sua mochila. Eu infantilmente mostrei-lhe a língua, mas ele já estava saindo do carro. Fiz o mesmo, puxando a minha própria mochila e a colocando nas minhas costas, com as duas alças certinhas.

— Di, olha esse monstro! – Virei-me para ver o que Ezra tanto havia achado interessante e eu soltei uma risada. Era uma caminhonete enorme, parruda, algo que parecia competir em corridas se não fosse tão velha e tão desgastada. Era de um laranja queimado horrível. Se meu pai tivesse vendo, com certeza diria que era era o carro perfeito em um cenário pós-apocalíptico.

— Wow! Eu acho que a Senhora hixon tinha uma dessas, não? –  Lembrar da odiosa mulher que vivia no apartamento acima do nosso quando moramos em Chicago era o suficiente para fazer-nos estremecer, até Nolan que parecia nos ignorar completamente ao se encostar no nosso carro e fazer cara de tédio.

— É, mas o dela era mais vermelho. – Lembrou Ezra.

— Uma Senhora Hixon mais velha então. Quem será o funcionário que ainda anda com uma velharia dessas? – Eu conseguia imaginar um velho zelador ou um professor desesperançoso.

— Vocês dois já terminaram de julgar o carro dos outros, ou vão passar por cada um do estacionamento? – Perguntou Nolan, em seu tom que destilava sarcasmo.

Caminhamos então, os três, eu, Ezra e Nolan em direção a secretaria. Alguns anos nos lançavam olhares curiosos, abrindo discretamente o espaço para passarmos, mas eu nem prestava atenção em suas expressões ou se eles falariam algo. Estava tentando absorver o ambiente, era muito diferente do que eu estava acostumada. Como toda Forks, era rústico e tentava ser aconchegante, mas faltava todos os elementos de uma escola de grande porte como eu estava acostumada. Mas nada que eu não pudesse me adaptar. Quando entrei na secretaria, a mulher atrás do balcão, ruiva e com óculos, levantou os olhos.

— Posso ajudá-los? –

— Olá. Bom dia. – Coloquei meu mais simpático sorriso no meu rosto ao me apresentar. Era quase roteirizado o que eu tinha a falar, então eu suavizava com um pouco de simpatia. – Eu sou Diana Kingsley, esses são Nolan Kingsley e Ezra Kingsley. Nós somos os alunos novos, certamente você recebeu a ligação da nossa mãe. –

Pelo jeito, Ezra estava correto em sua suposição de que nada acontecia nessa cidade, pois os olhos dela demonstraram reconhecimento assim que disse nossos sobrenomes. Algum vizinho já devia ter comentado sobre os estranhos Kingsley que chegaram para morar na cidade, pois eu tinha certeza que minha mãe não havia falado com uma mulher quando estava realizando nossas matrículas.

Tentei ao máximo não esboçar nenhuma reação quanto a isso, mas meu sorriso se tornou um pouco falso, esticado em meus lábios enquanto eu me segurava para não fazer nenhuma pergunta intrometida.

— Ah, sim. Os garotos de Seattle, não é sempre que temos novos alunos. – Ela respondeu em um tom aconchegante, mas ainda havia curiosidade e espanto enquanto ela nos analisava por detrás dos óculos. Eu aumentei o meu sorriso ainda mais quando notei o que ela estava fazendo e ela teve a decência de desviar o olhar.

Levantou-se para procurar entre alguns papéis empilhados nossos horários. Nolan, que era o mais velho, já estava em seu último ano então ela lhe explicou separadamente todos os horários, embora eu tivesse certeza que ele nem estava escutando e depois virou-se para mim e Ezra, que estaríamos um ano abaixo e felizmente compartilhando a grande maioria das aulas. Vantagens de ter um gêmeo.

Ela terminou com um mecânico desejo que nós aproveitássemos Forks e era muito para o meu auto controle.

— Nós vamos sim! – Gritei pelas minhas costas, dando-lhe um tchauzinho em despedida. Eu não pude ver a sua face, mas imaginar como ela ficou da mesma cor que os cabelos vermelhos quase me fez querer voltar para dar uma espiadinha, mas Ezra apertou meu braço com força.

— Pare. Você quer que ela nos ache esquisitos? – Eu rolei meus olhos.

— Ah, que é isso. Ela já estava nos julgando você não viu. É o meu cabelo, tenho certeza. – Ele não retorquiu nada então pude julgar que concordava comigo. Ezra também havia percebido os olhares atônitos que ela estava nos dando, que todos nos dariam, ele era inteligente demais para não ter notado.

— Eu vou pras minhas aulas. Vejo vocês… depois. – Nolan murmurou, lançando-nos um último olhar antes de virar em um corredor qualquer.

Eu suspirei. Nolan estava a cada interação mexendo mais com os meus nervos e eu simultaneamente odiava-o e me sentia mal por odiá-lo, por odiar um membro da família. Seu temperamento era arisco demais e eu não tinha nada para pedir perdão como fizera com Ezra; não era minha culpa.

Ezra olhou para mim e nós trocamos o mesmo olhar de cumplicidade, eu sabia que ele estava pensando na mesma linha que eu e isso me fazia sentir melhor; eu tinha alguém que compreendia.

Chegamos a porta de entrada da secretaria, que dava ao mesmo pátio por onde entramos. Podia ver diversos alunos entrando, conversando com seus semelhantes e se preparando para o dia. Um lado do meu cérebro estava verificando que talvez eu não tivesse me vestido tão inadequada assim, parecia até uma residente veterana por não estar usando um casaco pesado. Ainda não estávamos nos seus campos de visão então éramos incógnitos ainda, mas não por muito, quando atravessássemos o portão estaríamos entrando em um novo universo. O universo do colegial de Forks; uma nova aventura.

Ezra buscou o meu olhar e eu não tardei em retribuí-lo. Ele sorriu um pouco, apenas de canto dos lábios.

— Pronta? – Eu não tinha nada a que me preparar.

Ou assim achava. 


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Notas finais do capítulo

♥ Já no segundo capítulo vocês vão conhecer uma das facetas da Diana, que é o fato dela ser muito direta; é algo bem desafiador de escrever porque é muito diferente do que eu sou, mas quando ela vê um problema ela resolve e dá a cara a tapa mesmo, até quando ela é a errada. ♥

♥ Fun fact: esse negócio de jogar a faca no irmão foi algo que aconteceu com meus primos, só que foi uma faca normal. eles realmente se odiavam. risos. ♥

♥ Não esqueçam de comentar, três beijos! ♥



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