Reencontro escrita por Lucca


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Avery se afastou e Jane ficou sozinha. Kurt e o team ainda estava a caminho...
Esse capítulo traz momentos muito especiais de Jeller e dessa relação mãe e filha que está sendo forjada no fogo.
Boa leitura.



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Avery correu por mais de 1000 metros até enroscar o pé numa raiz e cair. Levantou-se rapidamente e entrou atrás de uma árvore grossa o bastante para escondê-la. Ela estava hiperventilando. O cansaço físico e emocional pareciam que iriam derrotá-la. Sentiu falta do celular e arriscou levar o corpo mais à direita para ver se era capaz de enxergá-lo no meio das folhas secas. Foi fácil localizá-lo a poucos metros dali, com a tela acesa e o número de Weller no visor. Ela voltou a uma posição mais segura, fechou os olhos e recostou a cabeça na árvore, buscando se acalmar.

“Faltam poucos quilômetros para alcançarmos vocês.” A voz de Weller ecoou na sua cabeça e ela passou a repetir mentalmente a frase como um mantra: uma, duas, três vezes. Seu corpo começava a sentir o frio que fazia ali fora. Então, olhou novamente para o local onde o celular estava e viu a tela se apagar. Incapaz de conter seu impulso, lançou-se até o local para recuperar o aparelho e voltou mais rápido ainda para atrás da árvore. Nada, sem bateria.

Tentando conter seu desespero, voltou para a posição de meditação: olhos fechados, cabeça recostada na árvore, “faltam poucos quilômetros para eles nos alcançarem. Faltam poucos quilômetros para eles nos alcançarem. Faltam...” Seu mantra foi interrompido pela lembrança da voz de Jane: “...as marcas de sangue vão trazê-los rapidamente até aqui.”

Se lembrar as palavras de Weller trazia alguma calma para a garota, relembrar a fala de sua mãe teve um efeito muito diferente. Uma necessidade de agir tomou conta de seu ser, ela ficou em pé, segurou firme a metralhadora entre as mãos, observou atentamente ao redor traçando o melhor trajeto e iniciou a caminhada rápida de volta ao local onde tinha deixado Jane.

No helicóptero

Quando o sinal do celular que estava com Avery desapareceu da tela de Weller, ele fechou os olhos e concentrou todas as suas forças em conter as lágrimas. Reade e Zapata levaram as mãos até os ombros do amigo enquanto Patterson tentava demonstrar calma pelos comunicadores:

— Calma, pessoal. Pode ter sido só a bateria. Estou com a última localização aqui. Vai dar tudo certo!

— Estamos quase lá, cara. _ Reade apontou para fora.

Eles já conseguiam visualizar o local do helicóptero.

Na mata

O caminho de volta foi feito de forma cautelosa. Quando estava a cerca de trezentos metros de distância de Jane, Avery parou e escolheu um local com visibilidade, mas que fosse capaz de escondê-la. Jane parecia lutar para manter a consciência. A garota sabia que, se se aproximasse mais, sua mãe entraria em pânico por saber que ela estava em perigo. Mas, àquela distância, Avery poderia defender Jane enquanto ela acreditava que a garota estava distante e protegida. Ela posicionou a metralhadora e esperou.

Não demorou muito para outro cara armado aparecer. Avery mirou, mas não atirou. Se ele não estivesse seguindo o sangue, poderia não ver Jane e se afastar. Poupar o tiro também evitaria chamar a atenção de outros soldados da milícia russa. Mas o cara estava chegando perto, perto demais. O som do helicóptero sobrevoando a mata foi tudo que Avery precisava para puxar o gatilho. O alvo tombou e Jane deu um sobressalto em busca da origem dos tiros. Outros tiros vieram da esquerda, forçando a garota a se deslocar naquela direção em busca de proteção e contato visual para o tiro.

A troca de tiros também foi intensa  fora da mata. Foi preciso abater três atiradores para que o helicóptero conseguisse pousar. Assim que desceram do aparelho, identificaram facilmente as marcas de sangue no chão. Zapata sussurrou para Reade:

— É muito sangue, precisamos ser rápidos.

A equipe correu para a mata buscando resgatar mãe e filha. Os tiros direcionaram Reade e Zapata enquanto Kurt seguiu o rastro deixado pelo sangue de sua esposa.

Os agentes localizaram a garota primeiro e neutralizaram seu opositor. Avery nem chegou a agradecer e já correu em direção ao local onde Jane estava.

Kurt encontrou Jane já quase inconsciente. Abaixou-se ao lado dela e tomou seu rosto entre as mãos:

— Ei, ei, calma. Estou aqui agora.

Ao ouvir o som da voz de Kurt e sentir o calor de suas mãos, ela se esforçou para abrir os olhos:

— Kurt...

Numa rápida avaliação percebeu a hipotermia dela que não tinha mais as mangas da blusa. Então tirou sua jaqueta e a envolveu procurando aquecê-la. Depois avaliou o ferimento buscando uma forma de diminuir o sangramento:

— Jane, fica comigo, vamos lá! _ disse enquanto tentava mantê-la acordada_ Eu não estou perdendo você. Eu não posso perder você, lembra?

A voz de Jane estava fraca e oscilava entre as tentativas de manter a respiração:

— Kurt, vá... estou bem... Avery... proteja ela.

— Zapata e Reade estão com ela. Eu vou ficar aqui e proteger você.

— Não... Avery... por favor... estou bem...

Kurt sabia que Jane precisava mais dele do que Avery, mas também sabia que devia a ela a proteção que não conseguiu dar a sua filha em Berlim. Encurralado entre o que desejava fazer e o devia fazer para provar a Jane que não cometeria os mesmos erros, disse:

— Ok, eu vou...Só preciso que olhe pra mim, Jane, por favor._ assim que os olhos dela se abriram e se fixaram nos dele, completou: _ Não morra!

Antes que ele pudesse partir, Avery os alcançou. A curta distância permitiu que ela ouvisse as súplicas da mãe a seu favor. Por isso, assim que chegou, envolveu os braços ao redor de Jane:

— Estou aqui. E você não está bem. Pare de repetir isso e nos deixe cuidar de você._ e olhou para Kurt_ Ela sempre é teimosa assim?

— Sempre! _ Kurt respondeu enquanto terminava de envolver outra atadura improvisada na perna de Jane._ Jane, qual é o nosso trato?

A resposta não veio. Tasha exigiu:

— Vamos levá-la logo.

Kurt tomou Jane nos braços e, enquanto caminhavam até o helicóptero, insistiu:

— Vamos, meu amor, você consegue me dizer isso. Qual o nosso trato, Jane?

Mais alguns segundos de silêncio e Kurt tentava acelerar os passos mais que podia.

— Não..._a voz dela vacilou_  morra...

— Isso! Isso! Não morra. Eu te amo.

Entraram no helicóptero e tentaram acomodar Jane da melhor forma possível, recostando-a no corpo de Kurt para manter seu dorso elevado e ajudá-la a respirar melhor.

— O hospital mais próximo está a 20 minutos. _ Reade informou.

Todos se entreolharam apreensivos enquanto o helicóptero decolava. Tasha desabotoou as botas de Jane e as removeu devagar. O silêncio dentro do aparelho contrastava com a fala ininterrupta de Patterson nos comunicadores tentando passar informações positivas. De repente, o silêncio foi interrompido por gemidos e sussurros de Jane:

— Não... por favor... traz ela de volta pra mim... eu faço qualquer coisa, Shepherd, qualquer coisa... por favor...

Avery lutou em vão contra as lágrimas. Se aproximou de Jane e segurou sua mão:

— Ninguém vai me separar de você nunca mais, Jane. Eu estou aqui e vou ficar!

O tempo se arrastou durante o voo. Assim que aterrissaram no heliporto do próprio hospital, Kurt e Avery se mantiveram ao lado de Jane só soltando sua mão quando foi exigido na porta da sala de emergências. A garota se encostou na parede mantendo firme sua luta contra as lágrimas. Tasha se aproximou e a abraçou. Kurt ficou olhando para as portas fechadas na sua frente por alguns segundos, depois caminhou até as meninas:

— Tasha, por favor, leve ela para uma avaliação médica e garanta que coma alguma coisa.

— Não, eu não vou sair daqui!

— Avery... _ Kurt tentou se controlar _ Eu sei que quer ficar, mas cuidar de você é tudo que podemos fazer por ela agora. Por favor, vá com Tasha. Assim que tiver qualquer notícia, eu vou até você. Vou ficar aqui na sala de espera com Reade.

A forma como a garota enrijeceu seu corpo e trancou a expressão facial era tão semelhante à reação de Jane ao ser contrariada que fez Kurt sorrir.

— O que foi? _ Avery perguntou ainda mais desafiadora.

— Você me lembra muito ela.

O comentário de Kurt fez Avery ceder e, por fim, aceitar acompanhar Tasha. A avaliação médica foi rápida, depois elas seguiram para o refeitório. Antes da garota terminar a refeição, Kurt veio ao encontro das duas. Avery se levantou imediatamente abandonando a comida, algo que Zapata classificaria como uma missão impossível minutos atrás.

— Como ela está? _ perguntou apressada.

O sorriso no rosto de Kurt já representou uma boa resposta:

— Ela está bem..._ e ele foi interrompido pelo salto que Avery deu em seu pescoço. Após retribuir o carinho da enteada, se afastou e completou:_ A cirurgia correu bem. Foi necessária uma transfusão sanguínea, mas agora ela já está no quarto.

— No quarto? E você a deixou lá sozinha? _ Avery parecia intimidadora novamente bufando antes de exigir: _ Vamos, vamos logo pra lá.

Kurt olhou para Tasha e Reade antes de começar a responder da forma mais calma possível:

— Sim, claro que vamos pra lá. Vim te buscar pra isso. Sei que Jane ficaria decepcionada se eu entrasse naquele quarto sozinho.

Avery puxou um pequeno sorriso de satisfação no canto do rosto e saiu na frente. Tasha gesticulou para os amigos:

— Detesto admitir, mas Rich estava totalmente certo: Jane Junior!

Kurt abriu a porta do quarto dando passagem a Avery. Tasha e Reade deixaram um tempo só para os três. Jane dormia sedada e ainda estava com o cateter de oxigênio.

— Você disse que ela estava bem. _ a garota sussurrou para Weller.

— E está. Mas perdeu muito sangue. A transfusão amenizou os danos, mas ela ainda está anêmica. Nada que o organismo dela não possa superar sozinho. Até lá, estão facilitando a oxigenação pra ela. Será só por mais algumas horas.

 Kurt se debruçou sobre Jane e deu um beijo suave em sua testa. Foi o que bastou para ela se mexer e abrir os olhos ainda muito sonolenta.

— Kurt...

— Está tudo bem. Você só precisa descansar agora.

— Avery?

A garota se aproximou rindo e tocou o rosto da mãe para chamar sua atenção.

— Nossa! Toda essa preocupação comigo já está virando obcessão, hein! Cuidado! Estou bem, graças a você. Agora descanse, estaremos bem aqui._ e ela se debruçou sobre a mãe para depositar um beijo em sua testa.

O gesto de Avery fez com que a correntinha em seu pescoço roçasse o rosto de Jane, que apesar de ainda sob o forte efeito dos sedativos, levou a mão até a joia fixando o olhar na peça. Como isso imobilizava a garota, Kurt tocou a mão da esposa e pediu que ela soltasse. Jane, mesmo com a voz embargada pelo sono, disse:

— Eu coloquei isso junto de você quando nasceu... tinha medo que a levassem... A correntinha me ajudaria a te encontrar._ então levou a mão até o pescoço sobre a tatuagem de pássaro, lutando pra permanecer acordada. _ Isso era pra você... me reconhecer... mesmo depois que eu não pudesse mais me lembrar...

Foi tudo o que Jane conseguiu dizer antes de voltar a adormecer. Os olhos lacrimejantes de Avery caíram sobre Kurt questionando-o sobre tinha acabado de ouvir. Ele levou a mão até o braço da garota.

— Ela nunca antes tinha mencionado isso. O flashback deve ter ocorrido agora, quando ela segurou sua correntinha.

Avery beijou a mão de Jane. Sua euforia não conseguia deixá-la dentro do quarto, então Kurt sugeriu que voltasse para NYC com Tasha e Reade. Ele ficaria com Jane até a liberação médica.

Assim que a enteada saiu, Kurt aproximou sua cadeira da cama e acomodou a cabeça ao lado de Jane para desfrutar de sua presença. Então seus olhos correram pela tatuagem de pássaro. O amor dentro de seu peito parecia querer explodir.

— Você é incrível, Jane. Incrível!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha consegui trazer um pouco de emoção à você durante essa leitura.
Muito obrigada.
Por favor, comentários são bem vindos!



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