Reencontro escrita por Lucca


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Avery e Jane foram sequestradas. Como Mamãe Doe reagirá em cativeiro vendo que sua cria está em perigo? E o maridão Kurt Apaixonado Weller, o que fará para encontrá-las?
Boa leitura!



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Jane estava disposta a despertar devagar por causa das fortes latejadas de dor em sua cabeça, mas assim que o menor lampejo de raciocínio passou pelo seu cérebro, sentou-se imediatamente e tentou fazer o reconhecimento do local. Seus olhos procuravam desesperadamente por ela: Avery.

Ao ver a filha deitada não muito longe dela, rapidamente se colocou ao seu lado, tentando despertá-la para verificar se estava bem. Avery abriu os olhos devagar, compartilhava a mesma dor de cabeça que sua mãe. Ao ver Jane ao seu lado pedindo silencio com o dedo indicador sobre o lábio, sua expressão foi da surpresa ao medo. Jane sussurrou:

— Você está bem?

— Minha cabeça dói. _ Avery respondeu também sussurrando.

— Deve ser um efeito colateral do dardo tranquilizante que nos acertou. Mais algum ferimento?_ Jane continuou ajudando a filha a se movimentar e testar braços e pernas.

Avery respondeu negativamente com a cabeça.

Vozes pareciam vir de longe, depois elas perceberam que, na verdade, vinham do outro lado da porta da sala onde estavam reclusas. Jane se aproximou lenta e silenciosamente da porta para ouvir melhor. Um frio percorreu sua espinha ao identificar o idioma falado pelos homens lá fora: russo. Um gosto amargo subiu a sua boca porque ela sabia bem os danos que tinha causado à máfia russa. Então, veio a sua cabeça, a última frase que ouviu antes de apagar com os tranquilizantes: Avery tinha sido só uma isca para chegarem até ela. Ver que a filha não tinha sido deixada para trás pelos sequestradores só aumentou seu desespero. Ela poderia suportar qualquer tipo de tortura enquanto aguardava uma oportunidade de escapar, como tinha feito no black site da CIA. Também tinha certeza que seu team estava em seu encalço e logo a alcançariam, mas sabia que, se Avery estava ali, era porque o plano daquela organização era usar o sofrimento da garota para ter o que queriam de Jane. E isso não era algo que ela pudesse suportar.

Não, ela não poderia esperar por Kurt e o resto da equipe. Era preciso tirar Avery dali o quanto antes. Não seria fácil equalizar aquela situação: por a filha ciente do problema sem assustá-la, criar uma alternativa rápida de fuga para as duas com riscos mínimos, alcançar um lugar seguro, entrar em contato com o team e aguardar seu resgate.

A voz de Roman ecoou nas suas lembranças “Sempre há uma saída”. Ela respirou fundo várias vezes tentando se controlar. Sem os fatores tempo e observação, as chances pareciam mínimas.

“Pense, Jane, pense!”

Após não mais que alguns minutos de reflexão, já que Jane não podia se dar ao luxo de nada mais que isso,  veio a decisão: começar pelo básico era sempre a melhor escolha. Então, ela se aproximou de Avery:

— São russos lá fora. Isso não é bom. Eu meio que estraguei vários negócios deles_ disse retorcendo os lábios para o lado.

— Aff _ Avery bufou_ Existe alguém no mundo que não te odeie?

— É um numero bem pequeno e que diminui a cada ano..._ Jane tentou mostrar um sorriso para aliviar a tensão da situação._ Avery, precisamos sair daqui rápido. Se te trouxeram comigo, os planos deles pra você não serão bons. Você precisa fazer tudo exatamente como eu disser.

Pela primeira vez, Avery não se contrapôs ao que a mãe dizia. Ela concordou com a cabeça e pôs toda sua atenção no que Jane diria.

— Eles estão em apenas quatro lá fora. Pelo menos nessa sala aqui em frente e beberam um pouco, isso está a nosso a favor.

— Como você sabe de tudo isso?

— Eu escutei as conversas deles.

— Você fala russo?! Quantas línguas você sabe?

— Eu não sei. Muitas, nem sei te dizer ao certo, mas vamos deixar isso para depois que sairmos daqui._ e Jane continuou relatando seu plano.

O plano era básico: atrair algum dos capangas para dentro da cela, nocauteá-lo para tomar sua arma, enfrentar outros possíveis caras que estavam lá fora. Avery seguiria sempre atrás de Jane. A forma como o plano foi exposto, o tom de voz e a segurança no olhar da mãe, despertou em Avery uma garra além do convencional.

Tudo decidido, as duas começaram a execução do plano. Avery ficou sentada no fundo da cela escura e fez barulho na tubulação e ar quente. Logo a porta se abriu e um dos capangas entrou. Com poucos golpes, Jane foi capaz de derrubá-lo e tomar sua metralhadora. Outro entrou, mas foi logo derrubado por um tiro. Então, Jane saiu para a próxima sala.

 Avery se aproximou da porta e acompanhou as rajadas de tiros aflita, em sua alma fervilhava uma oração silenciosa pela segurança de sua mãe. Seguiram-se sons de luta corpo a corpo. Isso a encheu de esperança. Se havia luta, Jane ainda estava ali e viva!

Mesmo estando rente à lateral da porta, a garota pode visualizar quando um cara enorme jogou Jane sobre a mesa quebrando o móvel em dois. Avery arqueou-se como se estivesse sentindo a dor das costelas da mãe rompendo, mas antes que pudesse tomar qualquer atitude para ajudá-la viu Jane alcançar uma arma e acertar esse último capanga que caiu sobre ela.

As habilidades de Jane deixaram Avery eufórica e ela finalmente saiu da cela indo até onde a mãe estava:

— Nossa, isso foi incrível. Estar como você é como ter um exército inteiro!

Jane tentou sorrir, mas o peso do capanga morto sobre ela a mantinha travada entre os estilhaços da mesa.

— Qualquer dia eu te ensino algumas coisinhas. Mas agora preciso de ajuda.

Avery deu um sobressalto ao perceber que Jane precisava de sua ajuda, se aproximou e somou sua força à dela para deslocar o corpo de cima da mãe. Observou como Jane levou alguns segundos para se recompor e recompassar a respiração. Então observou que Jane tinha uma faca cravada na coxa direita.

— Droga, droga, droga. Ele enfiou uma faca em você! Ai, meu Deus, e agora?

— Avery, eu preciso que mantenha a calma. _ Jane tentou controlar a voz para não deixar transparecer a dor que vinha de seus ferimentos._ Eu vou sobreviver. Preciso que me ajude com isso para podermos sair daqui, ok?_ tentou por o máximo de tranquilidade no que dizia._  Venha cá...

Jane arrancou uma das mangas da blusa e começou a fazer um torniquete na perna. Depois arrancou a outra e entregou a Avery dobrada em três.

— Eu vou arrancar a face. Vai sangrar. Preciso que você pressione com força sobre o corte para evitar que eu perca muito sangue antes de começar o processo de coagulação, ok?

Avery assentiu com a cabeça, mas não estava nada segura sobre como fazer aquilo. Os momentos que se seguiram pareceram um pesadelo para a garota. O urro contido de dor que Jane soltou ao puxar a faca não era algo que ela poderia esquecer facilmente, assim como foi horrível a sensação se sentir o tecido ficando encharcado sob suas mãos com o sangue de sua mãe. Mesmo assim, ela tentou olhar para Jane sem demonstrar seu desespero.

— Eu acho que isso não está funcionando...

— É assim... logo vai melhorar... _ a voz de Jane estava carregada de dor. Ela reuniu suas forças para ajudar Avery a fazer pressão sobre o ferimento.

Quando o sangramento diminuiu, Jane disse:

— Acho que já podemos sair. Vou te ensinar como usar uma dessas_ e jogou uma metralhadora para a filha que arqueou a sobrancelha:

— É, melhor eu aprender o quanto antes. Algo me diz que, já que sou sua filha, vou precisar muito disso.

Apesar de compreender o alívio cômico que Avery tentou empregar à situação, aquelas palavras não deixaram de perturbar Jane. Tudo que ela desejava era poder manter sua filha longe de toda a violência que sempre foi rotina na sua vida.  Mas ela logo dispersou esses pensamentos. Não era hora nem lugar para isso. Ela precisava estar focada para tirá-las dali. A orientação sobre o uso da metralhadora foi rápida e Avery pegou facilmente como fazer aquilo.

— Não consigo caminhar sozinha. Vou precisar que você me ajude._ Jane admitiu com pesar pois sabia a carga física e emocional que estaria impondo à filha.

Sem dizer nada, Avery se aproximou e passou o braço ao redor de Jane.

Pouco antes de atingirem metade do corredor, a garota desconfiou da facilidade com que estava conduzindo o peso da mãe. Jane era maior que ela. Algo não estava certo. Imediatamente seus olhos alcançaram o ferimento e verificaram que o sangramento estava mais intenso.

— Você está evitando por seu peso em mim! Você precisa parar de me poupar e me deixar te ajudar._ e puxou o rosto de Jane para ter um contato visual_  Pense que eu não tenho nenhuma chance de sair daqui sem você. Se insistir nisso, nenhuma de nós duas sairá viva daqui!

Jane inspirou e torceu a cabeça para o lado como faz quando é contrariada, mas teve que admitir que Avery tinha razão. O próximo terço do corredor foi transposto mais devagar até sons de passos forçarem uma parada atrás de uma pilha de latões vazios. Eram mais dois homens armados.

O elemento surpresa garantiu que Jane acertasse o primeiro precisamente. Os tiros de Avery não atingiram o alvo, mas mantiveram o segundo homem sob controle para que Jane finalizasse. Assim que passaram pelos corpos, notaram um celular caído do lado. Imediatamente Jane se lembrou de como Kurt destravou o celular para utilizá-lo em Berlim e, usando a mesma estratégia das digitais dos mortos, habilitou o aparelho para uso.  Logo em seguida, entregou o aparelho para Avery:

— Chame o Kurt e mantenha a ligação até que Patterson nos rastreie.

Estranhando que a mãe passasse essa incumbência para ela, a garota observou mais atentamente o estado físico de Jane: as mãos estavam trêmulas demais para teclar o número. Isso não era um bom sinal. Avery discou o número e, antes mesmo de esperar que a chamada fosse atendida, amparou Jane para retomarem o trajeto até a saída e continuaram a caminhada.

— Weller._ a voz de Kurt soou do outro lado da linha.

— Kurt, é Avery.

— Avery! Vocês estão bem? Nós estamos chegando. Faltam poucos quilômetros para alcançarmos vocês.

— Eu tô bem, mas a Jane tá ferida, vem logo.

Weller tinha mil perguntas para fazer, mas o tom de voz de Avery e sua respiração ofegante ao telefone eram evidências de que ela estava amparando Jane. Fazer a garota falar só atrapalharia as duas. Então, ele tentou se controlar e só pediu:

— Mantenha a ligação pra que eu possa te rastrear. Se precisar de qualquer informação pra ajudar, peça.

A resposta não foi verbalizada, mas a ligação continuou ativa mostrando que ela tinha compreendido como agir. Os poucos sussurros das duas e os gemidos abafados de Jane podiam ser ouvidos por Kurt mesmo dentro do helicóptero porque Patterson ligou os celulares aos comunicadores.

Assim que saíram do prédio, perceberam que estavam numa instalação rural. Havia um bosque próximo e foram até lá. Não se embrenharam fundo pela mata. Foi o máximo de distância que Jane foi capaz de percorrer. Avery ajudou-a se sentar apoiada numa árvore.

— Avery, aqui não é seguro. Você precisa adentrar mais no bosque. Leve o celular para a equipe vai te encontrar...

— Eu não vou deixar você aqui. Esquece!

— Eu não tenho condições de seguir... as marcas de sangue vão trazê-los rapidamente até aqui. Você precisa ir.

— Não, eu não vou! Eu não vou perder você, entendeu? _ e a garota abraçou Jane

Os olhos de Jane se encheram de lágrimas. Ela esperou tanto por um momento assim. Tudo o que queria era poder se entregar àquele abraço, mas ela precisa ser firme, por Avery.

— Preste atenção _ disse, segurando o rosto da filha entre as mãos_ Eu te amo muito. É por isso que preciso que você vá. Por favor, vá. Faça isso por mim...

Do outro lado da linha, Weller ouvia tudo e sentia-se totalmente impotente. Um desejo enorme de gritar pedindo que Avery ficasse com Jane varria seu interior. Que chance Jane teria sozinha e ferida? Mas ele sabia que não devia fazê-lo. Jane estava certa. Não era seguro para Avery ficar ali. E a vida da garota era um preço alto demais para Jane pagar. Tudo que ele podia fazer era manter firme a esperança de que as duas sobreviveriam até sua chegada. O helicóptero voava em velocidade máxima.

Inerte, Kurt ouviu Avery se afastando entre soluços.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pela leitura.
Espero que não estejam desejando minha morte pela emoções finais.