Reencontro escrita por Lucca


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Atendendo à pedidos, temos um momento em família. O conjunto dos acontecimentos é algo que acho que não esperavam, mas sempre imagino uma fusão entre a rotina louca do FBI e a vida doméstica.
Tentei focar nos diálogos para ficar no impacto externo das palavras.
Espero que esses momentos sejam divertidos.
Boa leitura.



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No sábado, Jane e Kurt convidaram Avery para um almoço no apartamento. Não se surpreenderam quando ela chegou ainda para o café da manhã. A solidão da casa segura estava sendo uma ótima aliada para aproximá-la do casal.

Eles estavam na mesa conversando quando a campainha tocou. Kurt se apressou em ir até a porta visivelmente empolgado. Era Allie que trazia Bethany. Depois de um forte abraço, a criança já se desvencilhou dos braços do pai e correu em direção a Jane, escalando seu colo e permanecendo ali durante o diálogo que se seguiu.

— Entre, Allie. Junte-se a nós.

— Obrigada, Kurt. Mas preciso ir. Connor está me esperando no carro.

— Por favor, Allie, só por um minuto. Avery está aqui._ Jane pediu.

— Avery?_ Allie entendeu imediatamente a importância que aquele momento tinha para Jane_ Olá, Allison Knight, mas pode me chamar de Allie. Estava ansiosa pra te conhecer. Já ouvi falar muito de você.

— Avery.... Espero que tenha algo de bom no que você ouviu. _ a garota contrapôs assumindo uma posição de defesa.

— Só as melhores, pode ter certeza. Pena que tenho que ir. Espero que, em breve, possamos nos conhecer melhor, Avery. Estou muito feliz que possa conhecer Bethany. Foi um prazer.

Allie se despediu apressadamente e foi obrigada a conter os comentários que gostaria de ter compartilhado com Jane sobre a garota e a alegria estampada nos seus olhos.

Assim que fechou a porta, Kurt sentiu aquele ímpeto de voltar a ter Bethany nos braços para desfrutar alguns momentos com sua filha, mas foi Avery quem chamou sua atenção, sentada na cadeira, com os braços cruzados no peito, testa franzida, observando Jane com a criança.

Bethany distribuía beijos, balançava as pernas empolgada e dava saltinhos no colo de Jane, falando sem parar:

— Você brinca comigo, brinca? Depois desenho, depois uma cabana no quarto, depois bolo._ a garotinha parecia ter acabado de reencontrar a melhor amiga.

— Que bom que você está aqui, Bethany. Nós sentimos tanta saudade... E você se comportou com a mamãe?

— Xim, eu fui boazinha. Voxê bonita. _ e segurou o rosto de Jane para observá-la melhor_ xeu olho tá aceso!

Jane não conteve o riso com o comentário da criança. Olhos acesos não era algo à que ela tinha qualquer referência.

— Bem, eu não sabia que meus olhos podiam acender, mas se você diz isso, tudo bem! _ então ela ajeitou Bethany na lateral do seu quadril para que ela olhasse na direção indicada._ Olhe, hoje temos uma visita. Essa é Avery. Ela é alguém muito especial pra nós, assim como você. Avery, essa é Bethany.

— Oi. _ foi o máximo que Avery articulou como resposta, acompanhada por um gesto curto. Seus braços voltam a se cruzar e sua expressão facial não era tão animadora.

— Oi._ Bethany diz deitando a cabeça no ombro de Jane.

Kurt se aproxima e acaricia a cabeça da filha:

— Bethany, os olhos da Jane estão brilhantes hoje porque você e Avery estão aqui._ e deposita um beijo suave na testa de Jane que concorda com a cabeça olhando diretamente para a filha.

Logo em seguida, Kurt solicita que Bethany venha para seus braços. Ele odiava separá-la de Jane. Vê-la juntas era alimentar o “felizes para sempre”, mas ele sabia que era preciso pela reação de Avery. A garotinha protestou muito, mas Jane tentou ajudar o marido:

— Por favor, Bethany, você precisa brincar com seu pai agora. Mais tarde, eu prometo que vamos fazer muita coisa juntas._ e um beijo selou o acordo que fez a garotinha ceder.

Olhar fuzilante de Avery foi rapidamente desviado para o nada quando Jane entregou Bethany e se aproximou dela sem saber o que dizer:

— Avery, eu vou adiantar as coisas na cozinha, se você quiser aproveitar pra ficar com Kurt e Bethany, fique a vontade.

Mesmo não totalmente disposta a isso, Avery se junta à Kurt e Bethany no chão da sala. A timidez inicial da criança logo deu lugar à empolgação de ter alguém jovem como Avery por perto. A adolescente se tornou o foco principal da atenção. Bethany parecia encantada e ignorava completamente a resistência da garota à ela. Kurt se esforçou em intermediar a relação das duas, contendo os excessos da filha e estimulando Avery sem conseguir grandes avanços.

Mais de meia hora depois, Avery se juntou a Jane na cozinha:

— Ela gosta de você. Por que não brinca com ela?

Enquanto guardava a louça nos armários, Jane respondeu:

— Eu adoro brincar com Bethany e vou fazer isso mais tarde. Kurt é o pai dela e acho justo que tenha sua atenção primeiro. Enquanto isso posso adiantar o almoço.

Avery repuxou os lábios para a lateral numa expressão que fez Jane lembrar de si mesma e disse:

— Ok. Menos mal se você não está evitando ela por minha causa...Nem gelando a criança pra afastar ela de você.

— Não, não. Eu não faria isso. _ Jane respira fundo buscando um caminho pra continuar_ Eu sei que o meu jeito parece frio e..._ então ela se lembra do diálogo com Rich na festa hacker_ ... e assustador, mas isso não quer dizer que eu não ame muito todos vocês. Eu tenho dificuldade em demonstrar sentimentos, algumas vezes é mais forte que eu. Kurt está me ajudando com isso. Eu tinha melhorado, mas a avalanche dos últimos tempos me arrastou de volta. Eu juro que estou tentando.

— Você devia tentar sorrir mais vezes. Quando você sorri, seus olhos “acendem” e você parece menos assustadora. _ Avery brinca.

Jane sorri espontaneamente ao ver à referência à fala de Bethany. Avery usa o celular pra fazer uma foto da mãe rindo:

— Olha só!_ e mostra a imagem para Jane_ Bem melhor assim.

Jane sorri, sentindo que seu rosto queimava. Não era timidez, aquele calor vinha direto do seu coração porque agora Avery tinha uma foto sua sorrindo guardada no celular.

Bethany veio várias vezes até a bancada tentando arrastar Avery de volta ao chão da sala sem sucesso. Na enésima tentativa, a adolescente cedeu:

—  Ok, ok. Eu vou lá ver o que é esse gugu dadá tão incrível que você e Kurt estão fazendo..._ e virando-se para Jane_ Ela é insistente, hein?!

— Bastante! E cuidado, ela é extremamente cativante também. _ Jane respondeu.

E parou os preparativos do almoço por alguns momentos para apreciar a cena: Avery sorria dos comentários inocentes da garotinha e logo soltou um “Owm” para suas fofurices. A emoção cresceu de forma tão intensa e rápida que Jane só percebeu as lágrimas quando elas já escorriam pelo seu rosto. Três das quatro pessoas que ela mais amava no mundo estavam bem ali na sua frente, interagindo e sorrindo de uma forma que nem seus sonhos ousaram desejar. Então ela olhou ao redor, mordeu o lábio inferior e se lembrou da promessa que fizera a Kurt: procurar expressar seus sentimentos. E, naquele momento, tudo o que ela sentia era uma vontade imensa de se sentar no chão da sala com eles. Sem se permitir pensar muito sobre isso, Jane se deixou guiar por seus sentimentos e se juntou à sua família.

Foi mágico todos ali, como pessoas completamente normais, se permitindo a felicidade que mereciam. E teriam dois dias inteiros repletos disso pela frente.

Mas a mágica se quebrou minutos depois quando Kurt cedeu aos inúmeros toques de notificações de seu celular.

— É a Patterson. O Tattoo alert soou hoje pela manhã. Ela quer nos quer no SIOC.

Jane fez uma cara de insatisfação.

— Em pleno sábado! Eu pensei que todos estavam de folga hoje. _ e já se levantou do chão. Afinal, ela está na base de todas aquelas tatuagens. Se alguém devia sacrificar o dia perfeito, nada mais justo que fosse ela._ Eu vou.

— Não, você fica e eu vou _ Kurt disse acenando discretamente para Avery num gesto que Jane interpretou rapidamente como o fato de sua filha desejar sua presença.

Em circunstancias normais, os dois discutiriam a decisão, mas antes disso, o celular de Kurt tocou:

— Oi, Patterson. Já vimos sua mensagem. Logo estarei aí. _ Kurt parou para ouvir por um momento_ Ok, entendi. Estamos indo._ e voltou-se para Jane_ Jane, é urgente e precisam de nós dois lá.

— E as meninas?

Os dois se entreolharam e depois voltaram o olhar para Avery:

— Avery, temos um problema urgente para resolver. Será que você poderia cuidar de Bethany por algumas horas?_ Jane tentou demonstrar firmeza na fala sem parecer intimidadora.

— Não, não... eu nunca cuidei de uma criança.

— O almoço já está preparado. De resto, tudo que você precisa fazer é brincar com ela assim como estamos fazendo agora. Voltaremos o mais rápido possível_ Kurt tentou encorajar a adolescente.

— Isso vai ajudar a pegar o Crawford?

— Sim._ Kurt somou à afirmação aquele olhar de súplica que quase sempre dobrava Jane, apostando alto que teria o mesmo efeito sobre a filha dela.

Avery inspirou claramente insatisfeita, mas concordou.

— Temos certeza que você fará um ótimo trabalho, Avery._ Jane disse. Ela estava realmente orgulhosa pela filha ter aceitado cuidar de Bethany. _ Muito obrigada.

O casal saiu de casa carregando um sentimento que nunca antes experimentaram: a insegurança de deixar suas filhas sozinhas para irem ao trabalho.

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Patterson foi rápida em passar as informações para o team. Uma sequencia de atentados aconteceriam em poucas horas pela cidade se não agissem depressa. Todos se prepararam e foram à campo. Rich e Patterson permaneceram no laboratório para orientar a missão.

O primeiro alvo foi alcançado e o ataque desmantelado em tempo recorde. Não era apenas o profissionalismo do team ali, mas a necessidade de desarticular outros dois pontos pela cidade garantindo que muitas vidas fossem salvas.

Enquanto se dirigiam para o segundo alvo, Rich chamou pelos comunicadores:

— Pai e Mãe, recebemos uma ligação fresquinha do apartamento dos Wellers. Vocês dois têm mais coragem do que eu imaginava. Deixaram a Jane Junior cuidando da Kurt Junior! Vocês são loucos, caras!

— Rich, quer engolir esses comentários desnecessários e nos dizer logo o que aconteceu com as meninas?_ Jane não foi capaz de medir suas palavras ao saber que algo poderia ter acontecido.

— Wow! Manere sua agressividade, Mãe, nós já conversamos sobre isso!

— Rich, fale logo. _ Weller intercede sentindo os dedos de Jane se cravarem em sua perna.

— Tudo bem em casa. Jane Junior só queria saber se vocês estavam bem e se voltariam logo porque a Kurt Junior parece não ter um botão de desligar ou nem mesmo um de desacelerar.

O casal se entreolhou respirando aliviados. Foi Kurt quem deu sequencia:

— Ok, Rich. Obrigada pela informação. Por favor, avise Avery que estamos bem, mas ainda vamos demorar um pouco.

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No apartamento, Avery estava vendo todas as atividades que criava para Bethany se esgotarem através da horas. A garotinha seguia incansável.

— Desenho! Desenho! _ Bethany pediu.

— Ok, vamos ver se encontro algo pra você rabiscar.

Vasculhando pelos armários, Avery encontrou o bloco de desenho de Jane sem saber do que se tratava. Bethany levou as mãozinhas à boca demonstrando encantamento naquilo:

— Wow. Caderno da Jane! Bethany só pode desenhar aí com a Jane. Vamos ver! _ e bateu palminhas.

Avery se sentou no sofá e colocou a pequena no colo enquanto folheava o bloco e comentava as imagens. Logo percebeu porque Bethany se encantava com aquele caderno: Jane tinha realmente um talento grande para desenhos.

A página com o desenho de Avery e Kurt emocionou as duas e inflou o ego da adolescente. Quando chegaram à uma página com alguns rabiscos da criança junto aos desenhos e a inscrição Jane & Bethany, a garotinha ficou eufórica:

— Aqui! Eu que fiz! Eu e minha Jane.

— Grande coisa. Aff. E ela não é SUA Jane. Ela é a MINHA MÃE, sabia?

— Não! Jane não é mãe. Allie é a mãe.

— A Jane é minha mãe sim.

— Jane é mãe sua? Então é minha também!

— Não é sua mãe não! É só minha.

O bico de choro se formou rapidamente no rostinho de Bethany que logo começou a soluçar inconsolavelmente.

— Hei, ok, ok. Ela é nossa, tá bem? De nós duas.

— Da Bethany e da Avery?

— Sim, Jane é da Bethany e da Avery.

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Para a felicidade geral dos habitantes de NYC o segundo ponto de ataque também foi cercado e os terroristas impedidos a tempo. Sem troca de tiros e sem baixas. Só faltava mais um ponto e logo estariam em casa de novo.

O grupo por trás do terceiro ponto de ataque estava mais preparado para resistir ao FBI. O cerco ao local foi rápido, mas o fogo cruzado intenso. Eles invadiram o prédio e estavam verificando as salas separadas quando Rich chamou:

— Pai, Mãe, estão na escuta? Temos uma emergência de verdade agora. Jane Junior não consegue entender o que é Guli e Pacalolo. E a Kurt Junior não para de chorar pedindo os dois.

—Limpo _ Jane respondeu e tentou sussurar a resposta para Rich sem chamar atenção dos terroristas._ Pacalolo é o ursinho que ela segura pra dormir. Deve estar na bagagem que Allie deixou. Geralmente fica no bolso esquerdo da mala menor...

Nesse momento, começou ouvir as informações complementares de Kurt pelos comunicadores e se dirigiu para a sala onde ele estava:

— Guli é a mamadeira. O leite deve estar morno.  Não dê achocolatado. Coloque só o preparo de aveia que está no armário sobre a pia. São duas colher... _ antes de concluir a informação, um dos terroristas saiu de trás de um armário, disparando contra Weller.

Antes dele ter qualquer reação, Jane o derrubou no chão impedindo que as balas o acertassem.

— Kurt, você está bem?

— Bem, e você?

— Bem. Rich, são três colheres da aveia senão ela não bebe. Kurt, vai pela esquerda e eu vou pela direita. Ele está com o detonador.

Com a estratégia de Jane, rapidamente o casal cercou o terrorista, se apossando do detonador e impedindo o último ataque.

Finalmente eles podiam voltar pra casa.

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Pouco menos de uma hora depois, eles entraram no apartamento que estava uma bagunça. O silêncio logo chamou a atenção. Entreolharam-se e começaram a vasculhar os cômodos sentindo seus estômagos revirarem pelo medo de algo ter acontecido com as meninas.

Encontraram as duas dormindo abraçadas nos quarto de hóspedes, então se abraçaram aliviados. Deixaram o cômodo na ponta dos pés para não acordá-las. As duas pareciam exaustas.

Após um rápido banho, foram pra cama. Apesar do cansaço, nenhum deles fechava os olhos nem tirava o sorriso do rosto. Kurt não resistiu:

— Hei, Janie, seus olhos estão acesos de novo!

Ela sorriu deixando transbordar a alegria dos momentos que viveram e que nem mesmo uma sequencia de atentados terroristas foi capaz de abater.

— É, o nosso primeiro dia com a família completa foi um desastre. Mas eu não consigo deixar de me sentir... feliz. É tão bom tê-las aqui, Kurt.

— Eu não chamaria esse dia de um fracasso. Foi uma vitória. Nós quatro estamos felizes, Janie, e isso é o que importa._ e deu um selinho nela_ Mas se você quiser elevar esse dia de feliz para fantástico, eu tenho ideia do que fazer para chegar lá. _ e deu uma piscadinha pra ela.

— Kurt, elas estão no quarto ao lado!

— E nós queremos que isso se repita muitas vezes..._ e distribuiu alguns beijos molhados pela clavícula dela_  então acho que teremos que aprender como ligar o modo silencioso.

Jane o afastou para o encarar com seu olhar ainda mais aceso:

— Kurt ????

A única resposta que teve foi um olhar que misturava desejo e súplica. Então, ela revirou os olhos para o alto sem conseguir disfarçar o sorriso:

— Passe a chave na porta!


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todos que chegaram até aqui!

Sou muito grata por cada visualização e comentário.



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