Reencontro escrita por Lucca


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Um momento Jeller que ficaram nos devendo na série e que justifica a grande suspeita do nosso casal no final da season 3, antes do nosso mundo desabar.

Boa leitura!



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Jane foi para a cama procurando abrigo ao lado de Kurt porque sabia que seria incapaz de conciliar o sono naquela noite. Não era só pelos rumos que a história dela e de Roman haviam tomado, por mais que isso a desagradasse, mas também pela forma como tudo se organizava no seu interior. A sobreposição das dores que todos os eventos desencadearam parecia fundir em sua alma uma estranha frieza para lidar com o que havia pela frente. Sua  vontade era colocar um ponto final no seu passado e no que havia restado dele: Roman. Por outro lado, ela se questionava se encarar tudo dessa forma era realmente algo próprio dela ou apenas mais um sinal que Remi, aos poucos, recuperava o controle sobre seu ser.

Assim que ela deitou na cama, rolou para perto dele. Mesmo adormecido, o instinto de Kurt  o fez envolvê-la em seus braços. Jane se aconchegou buscando ali o conforto necessário para conseguir algum tempo de descanso para seu corpo e sua alma. Essa certeza ela tinha: o amor que os dois compartilhavam. Embalada pelo cheiro do marido e por sua respiração compassada, ela cedeu a exaustão e adormeceu.

Os beijos suaves percorrendo seu pescoço e clavícula a despertaram parcialmente. Aquele espaço e tempo surreal entre o sono e a realidade era seu favorito. Sem plena consciência da realidade e sem os pesadelos que a assombravam, Jane podia ser entregar por inteiro a ilusão da felicidade. Ela se espreguiçou e buscou alcançar Kurt para prolongar as carícias.

— Eu odeio ter que dizer isso, mas é hora de acordar, Jane. Não temos muito tempo.

Não foi preciso nenhum outro comando para que ela reagisse imediatamente abrindo os olhos e sentando-se na cama.

— Bom dia. _ disse tentando esboçar um sorriso que já lutou pra se formar porque o despertar trouxe à memória todos os problemas que tinham pela frente.

— Bom dia. _ Kurt disse com um sorriso carregado de carinho, correndo a mão do seu rosto até seus cabelo e se aproximando para um beijo matinal que ela retribuiu. _ Você precisa se aprontar.

— Alguma novidade? Patterson nos chamou?

— Não. Na verdade, nem vamos para o SIOC hoje. Pedi o dia de folga para Reade e ele concordou.

— Mas Kurt, precisamos descobrir os planos de Crawford e colocar um fim em tudo isso...

— Não há novas pistas por hoje, Jane. Passar o dia remexendo os arquivos não tem nos levado a lugar algum e só aumenta nossa ansiedade. nublando nosso olhar. Vamos encarar o dia de hoje como um “recarregar as baterias” para seguir com nova energia amanhã, ok?

Jane fechou os olhos e soltou a cabeça na mão de Kurt que acariciava seus cabelos. Junto a ele era tão fácil esquecer todos os problemas de sua vida.

Após desfrutar daquela sensação por mais alguns segundos, ela perguntou:

— Você disse que tenho que me aprontar. Onde vamos?

— É uma surpresa. Só não podemos demorar. Vista algo confortável.

Jane ficou pronta em minutos. Enquanto saíam do apartamento, notou a bolsa levada por Kurt:

— O que é isso?

— Só algumas coisas que podemos precisar.

No carro, conversas casuais fluíram espontaneamente. Os dois compartilhavam o prazer de ouvir o outro mesmo quando o assunto não era algo que atraía sua empatia. Jane se esforçou para desenvolver qualquer tipo de sintonia com o beisebol, paixão de Kurt, mas não rolou. Mesmo assim, ela amava ouvir o marido relatar os momentos de sua vida ligados ao esporte. Kurt, por sua vez, nunca foi capaz de assistir repetidas vezes a saga Star Wars ou guardar qualquer detalhe dos filmes, mas adorava ouvir Jane contando teorias.

Quando chegaram a auto-estrada, Jane não foi mais capaz de conter a curiosidade:

— Vamos deixar a cidade?

— Só por algumas horas. Estaremos de volta ao final do dia. Também não vamos longe.

A mão de Kurt alcançou a dela procurando passar segurança. Incapaz de controlar seu lado investigativo, os diálogos desencadeados por Jane buscavam pistas consistentes do destino do casal. Kurt entrou no jogo, fornecendo as informações que poderia distrair a esposa sem estragar a surpresa.

— Com certeza não é algo que faz parte do nosso cotidiano. Talvez você se sinta um pouco desconfortável com o ambiente no começo, mas tem algo lá que vai ser muito familiar.

— Como vou me sentir desconfortável com algo familiar?

Kurt riu. Ele já nem sabia mais como responder aos inúmeros questionamentos dela. A próxima curva, antes de iniciarem a descida, permitiu que a própria paisagem oferecesse respostas. Os olhos de Jane brilharam e ela balbuciou antes de se calar completamente:

— O lago...

Kurt sentiu-se completamente satisfeito. Ele sabia que aqueles momentos ofereceriam a Jane novas descobertas de antigas sensações e experiências. Participar desses momentos era muito especial para ele. A forma como a paisagem captou completamente a atenção dela demonstrou que nos dezoito meses em que estiveram separados ela não teve essa oportunidade.

Enquanto seus olhos corriam por cada detalhe da paisagem, a mente de Jane imaginava a pequena cabana que Kurt devia ter reservado pra os dois. Ela abriu alguns dedos do vidro do carro para deixar entrar o aroma da natureza que os cercava. Na sua cabeça, planos e mais planos se articulavam: ela iria propor uma trilha de exploração assim que chegassem, depois colocariam os pés para descansar na água fresca. Será que seria possível nadar? A ideia a encheu de expectativas. Ela pensou em perguntar sobre isso, mas desistiu temendo que Kurt achasse que ela ficaria decepcionada pelo contrário. 

Quando o carro parou na guarita monitorada e Jane visualizou o grande hotel de luxo ao fundo com arquitetura em estilo de chalé, ficou apreensiva. Aquilo não era o que ela imaginava. Ela sequer sabia se podiam pagar por algo assim. Mas ela não estragaria os planos de Kurt, então, deixou-se guiar por ele.

Na recepção, o nível social dos hóspedes era visivelmente discrepante com o deles. Kurt segurava firme na sua mão. Jane tentou demonstrar naturalidade, mas sentia que qualquer roupa que ela já usou nos seus disfarces era mais adequada do que a que ela usava naquele momento. Mesmo com boa parte do seu corpo coberta, as tatuagens a mostra nos braços e pescoço chamaram a atenção das pessoas no saguão. Os olhares desaprovadores já eram uma rotina com a qual ela sabia lidar sem incômodo algum.

A próxima surpresa foi o sorriso que se abriu no rosto do atendente quando Kurt informou seu nome. Os empregados correram oferecendo auxílio com a pequena bolsa que ele carregava, mas sua recusa foi gentil. Pelo jeito, eles eram hóspedes esperados e valorizados. Resolvidas as formalidades, rumaram para o quarto.

Enquanto caminhavam pelo imenso corredor, ela simplesmente teve que falar, quase num sussuro, dirigindo um olhar tomando de apreensão à ele:

— Kurt, isso tudo é lindo, mas... nós podemos pagar?

— Nós não estamos pagando, Jane. É um presente de casamento atrasado. Rich. Ele me enviou isso um dia após você partir do Colorado. Recusei porque jamais aceitaria um presente adquirido com dinheiro ilícito da dark web.  Desde que você voltou, ele tem me lembrado do presente. E, como agora também conhecemos todos os investimentos tecnológicos dentro da lei que ele tem, resolvi aceitar.

Jane respirou aliviada, tentando se acostumar com o ambiente. Mas Kurt abriu a porta do quarto desencadeando uma nova surpresa: uma suíte  esplêndida apareceu diante deles. Os dois se entreolharam maravilhados e partiram para o reconhecimento do ambiente. O requinte da decoração harmonizava com a paisagem externa visível pelas enormes vidraças. A varanda dava para um deque privado. Todos os outros quartos do hotel compartilham outras áreas de acesso. Aquele ambiente era só deles.

Kurt observava Jane mais atentamente do que observava as acomodações. Vê-la descobrindo os detalhes, comentando com curiosidade tudo que desconhecia, seu olhar brincalhão diante das novidades, tudo nela o encantava. Ele nunca se cansaria disso. Nunca se cansaria dela.

De repente, ela interrompeu a inspeção e voltou rápido para junto dele. Lançando os braços ao redor de seu pescoço, começou o beijo que dizia mais que qualquer palavra.

— Hum, vou entender isso como uma aprovação pela minha ideia de um dia de folga.

Ainda sem soltar os braços  do pescoço de Kurt, Jane brincou:

— Bem, digamos que isso é apenas o começo...

— Então você tem planos... Você é boa nisso.

Jane abaixou a cabeça rindo meio encabulada da ironia trágica e não intencional do marido. O comentário inevitavelmente a remeteu de volta ao plano traçado por ela quando era Remi para se infiltrar no FBI.  Percebendo a situação, Kurt voltou a recostar seu corpo no dela e sussurrou no seu ouvido:

— Eu realmente não sou bom com palavras... Podemos partir pra ação?

— No carro, pensei em começarmos por um trilha ao redor do lago. Mas agora não estou nem um pouco disposta a deixar essa discreta acomodação que Rich providenciou para nós. Será que podemos nadar?

— Foi exatamente por isso que aceitei o presente. No tempo que passamos juntos ainda não tive a oportunidade de ver você nadando. E tudo indica que você é boa nisso também.

— Suponho que tem roupa de banho na bolsa que você arrumou pra nós.

— Suposição correta. Mas preciso passar uma informação que prometi a Rich: segundo ele, esse lado do lago é totalmente privado e para uso exclusivo nosso, portanto, não será necessário você usar qualquer tipo de roupa de banho._ Weller limpou a garganta incomodado com alguma lembrança.

Jane se afastou um pouco para ser capaz de ler o rosto do marido:

— O que foi?

— Ele também disse daria o resto de sua vida para ver a obra de arte que seria seu corpo nu tatuado nadando naquele lago.

Não havia raiva ou ciúmes no relato de Kurt, algo que Jane considerou completamente surpreendente. Seu marido estava tomado pela projeção feita por Rich e ela compreendeu perfeitamente sua intensão por trás da réplica do relato.

— Bem, as propostas de Rich sempre são um pouco ousadas... Acho que eu deveria começar usando meu maiô, depois... quem sabe?_ e mordeu o lábio inferior olhando maliciosamente para o marido.

Em minutos os dois estavam na água. Era impossível acompanhá-la ali. Jane parecia tão adaptada a água quanto um peixe.  Nadava com agilidade e rapidez, mergulhava por um tempo muito acima que qualquer outra pessoa que ele conhecia, se revirava em piruetas alegres totalmente tomada por uma alegria constante. Kurt voltou ao deque muito mais vezes que ela. Observá-la naquele ambiente era formidável.

Outras vezes ele já tinha pensado em proporcionar momentos assim para ela, mas um medo velado o havia impedido. A água proporcionaria que novas memórias do tempo em que ela foi uma Navy Seal viessem à tona? Junto dessas memórias, outros aspectos de Remi aflorariam? Enquanto Jane desaparecia nadando para longe, ele deixava se consolidar a certeza de que o passado não era algo que ele poderia afastar dela sem privá-la de coisas essenciais para sua felicidade. Uma nova lição aprendida. Ele desejou profundamente saber como colocar isso em prática.

Então, Kurt a viu mergulhar. Seus olhos correram a superfície do lago aguardando o momento e o lugar em que ela ressurgiria. A cada segundo que passava, ele lutava para conter a vontade de gritar o nome dela ou de se atirar na água para começar uma busca frenética.

“Quatro minutos. Ela é capaz de ficar quatro minutos submersa.”  Pensava tentando se acalmar. Nova busca visual e nada. “Ela não nada há bastante tempo. Uma câimbra poderia impedi-la de subir à tona...”

— Jane! _ ele não chegou a gritar, mas a chamou num tom alto o bastante para alcançar o limite máximo de onde a tinha visto submergir.

Kurt só não se atirou na água porque sabia que ela merecia um pouco mais de sua confiança, um minuto mais de seu auto-controle. Jane sabia cuidar de si mesma. Ela era o grande desafio de sua vida, ensinando-o a lidar com seu lado super-protetor. Suas mãos se agarravam a beirada do deque e sua respiração já estava descompassada com a espera.

De repente, ela emergiu da água bem aos pés dele, causando-lhe um sobressalto de surpresa e alívio. Ele finalmente sorriu pensando que sua respiração logo reencontraria o compasso normal. Nesse momento, sentiu algo molhado ser depositado sobre suas pernas: o maiô de Jane:

— Você vem? _ ela disse com um olhar nada constrangido e deu uma nova reviravolta na água permitindo que parte de seu corpo ficasse exposto ao olhar do marido.

A visão dela nua na água era algo ainda mais fantástico do que sua imaginação tinha delineado. Incapaz de articular as palavras, Kurt se atirou na água para se juntar a ela.

Em instantes ela o envolvia por completo. Era incrível como ela era capaz de beijá-lo e, com movimentos precisos, manter os corpos dos dois conectados e sem afundarem. Num novo mergulho, Jane aproveitou para livrar Kurt de sua sunga.

— Melhor assim. _ disse arremessando a peça de volta ao deque.

— Definitivamente fui capturado por uma sereia. Não sou capaz de me afastar de você.

A risada dela ecoou pelo espaço. O tempo não fez qualquer sentido a partir daí. Brincadeiras e carícias se alteraram num ritmo sensual e divertido.  Quando os dois já não eram mais capazes de retardar a união de seus corpos, voltaram ao deque.

Assim que subiram na madeira, nem mesmo o peso de seus corpos se adaptando à densidade fora d’água os impediu de buscarem imediatamente o contato de novo. Jane entrelaçou suas pernas nas deles enquanto aprofundava o beijo que parecia querer devorá-lo. Ele correspondeu e sua mão brincou com o bico do seio direito dela antes de deslizar por todo o abdômen avançando depois para a lateral e para trás até ser capaz de segurá-la e deitá-la na superfície de madeira. Seus lábios começaram a distribuir beijos pela parte interna das coxas dela descendo cada vez mais e fazendo a gemer mais a cada ponto mais próximo do lugar que ela mais desejava tê-lo.

Quando os beijos dele alcançaram a tatuagem do coliseu logo abaixo de seu abdômen, ela levantou os braços acima da cabeça para se agarrar à beirada do deque e então arcou seu corpo em direção a ele pedindo mais. A leve mordida no seu clitóris disparou um gemido alto:

— Kurt... Eu preciso de você agora!

Ele se deitou sobre ela deixando que ela sentisse na sua rigidez o quanto ele também desejava tudo aquilo. Ela envolveu os braços ao redor do pescoço dele, selando seus lábios novamente e sugando sua língua, enquanto o acomodava entre suas pernas.

— Só um momento, meu amor, eu já volto._ ele sussurrou antes de tentar se levantar, mas ela estreitou o abraço em torno dele de forma significativa.

O olhar dele buscou o dela precisando apoio para qualquer decisão que tomassem.

— Jane, eu não sei se posso me controlar...

Ele não se lembrava de ter visto o olhar dela tão carregado de emoção e certeza. Sua mão percorreu suavemente o rosto dele até seus dedos delinearem seus lábios:

— E eu não quero que você se controle.

Kurt não precisava de nenhuma outra confirmação. Um novo beijo carregado desejo e amor antecedeu o momento em que ele deslizou para dentro dela. A sensação de pertencimento flui tão forte quanto o prazer que desfrutavam juntos. Em alguns momentos os dois apenas desejaram continuar ali por toda a eternidade. Depois a necessidade de mais e mais veio avassaladora exigindo tudo dos dois. Jane parecia tomada de uma estranha empolgação e reverteu a posição, se colocando sobre Kurt para ter maior mobilidade. A forma como ela se movimentou mantendo se conectada a ele também através de um olhar completamente tomado de desejo o enlouquecia. Ele sabia que todas as palavras de maldição que proferia só carregavam a gratidão por tê-la em sua vida.  Quando ela fechou os olhos e ondulou a pelves para traz desacelerando por ter chegado lá, ele não foi mais capaz de conter seu próprio orgasmo, pois não havia prazer maior no mundo que ver todo o prazer que ele podia proporcionar a ela.

Kurt achava que sabia exatamente o que aconteceria a partir daí: ela se aninharia em seus braços para um cochilo. Contrariando suas expectativas, ela se inclinou sobre ele salpicando beijos por todo o seu rosto. Então se levantou e se jogou na água flutuando de costas:

“Deus, de onde ela tira tanta energia?”_ ele pensou ostentando um sorriso repleto de felicidade e satisfação .

— Kurt, você não vem?

Ele deu uma piscadinha e disse:

— Acho que preciso recuperar um pouco do fôlego primeiro.

Jane revirou os olhos como quem duvidava do argumento dele acreditando ser apenas uma desculpa para observá-la nua na água. Ela não estava totalmente errada. Dando uma reviravolta, mergulhou novamente.

 “É, sereias não ficam muito tempo fora da água, Weller. E, se isso faz tão bem à ela, melhor implementar um plano para tornar momentos assim parte da rotina. E se acostumar à água também!”

Seu pensamento acompanhou seu retorno ao lago. Não demorou nada até senti-la ao redor dele buscando um novo beijo:

— Você veio!

— Eu sempre vou, Jane. Sempre.

Abraçados na água, tudo que os dois desejavam é que essa promessa pudesse ser sempre realidade.


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Notas finais do capítulo

Ai, como senti falta de algo assim nos episódios finais dessa temporada.

Por favor, me deixem saber se gostaram dessa possibilidade.

Muito obrigada pela leitura.



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