Reencontro escrita por Lucca


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

A tensão dos capítulos anteriores tem efeitos sobre Jeller e também sobre a relação entre Jane e Avery.
Boa leitura.



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Como Jane dormia pesado e as últimas 30 horas tinham sido intensas, Kurt se permitiu adormecer também. Entretanto, pouco depois, ele foi acordado por ela:

— Kurt...

— Oi _ disse sorrindo_ eu acabei pegando no sono. Tudo bem?_ perguntou automaticamente enquanto tentava despertar por completo.

Só então ele percebeu que Jane não estava totalmente acordada. Seus olhos estavam ainda mareados pelo efeito dos sedativos e estavam fixos num ponto distante. A palidez dela era outra coisa que o desagradava.

— Por favor... água._ ela disse olhando para o jarro sobre a mesinha no canto do quarto.

Kurt não tinha conversado com os médicos sobre se ela estava liberada para beber água. Por isso, caminhou devagar até a mesinha, ponderando se o melhor não era dizer que precisava aguardar uma visita da enfermeira para perguntar sobre a água. Assim que ele se virou para novamente para ela, seu olhar suplicante o transportou de volta a uma das raras vezes que percebeu em Jane sequelas dos tempos como prisioneira da CIA.

Flashback

Eles estavam na cama, tinham acabado de fazer amor e tudo que ele queria era adormecer agarrado a ela. Mas, de repente, Jane começou a se remexer em seus braços aflita e se levantou abruptamente. Estranhando esse comportamento, ele se levantou e a seguiu até a cozinha onde observou enquanto ela, ainda enrolada no lençol, bebia um copo de água com as mãos trêmulas. Assim que secou o copo, ela se apoiou na bancada, tentando controlar a hiperventilação. Devagar, procurando não assustá-la, Kurt contornou a bancada e ficou ao lado dela. Receando que um toque fosse incomodo para Jane naquele momento, ele procurou colocar em seu olhar toda a sua preocupação e disse:

— Janie, está tudo bem?

Ela fez um breve contato visual que logo interrompeu para focar novamente na respiração. Ainda trêmula e e forma discreta, a mão dela se moveu em direção a ele. Era tudo que Kurt precisava para agir. Sua mão cobriu a ela e seu polegar acariciou suavemente as costas de sua mão, mostrando-se presente e aguardando qualquer sinal para se aproximar mais. De repente, ela se lançou contra ele e o abraçou fechando os olhos na busca de força para falar:

— Sede me traz lembranças... ruins.

Kurt a envolveu cuidadosamente, sua mão subia e descia pelas costas dela. Naquele dia, como em muitos outros, ele se questionou sobre dar continuidade a conversa. Quase sempre sua escolha era o silêncio e a espera deixando espaço para que ela se abrisse no momento em que se considerasse pronta. Mas dessa vez, ele ousou perguntar:

— Você quer falar sobre isso?

A primeira resposta veio no silêncio e na forma como ela estreitou o abraço. Ele achou melhor não insistir, manteve o contato para que ela se sentisse segura. Antes que ele pudesse pensar sobre o que fazer, ela o surpreendeu, afastando-se dele apenas o suficiente para encará-lo e completou com uma postura firme e decidida:

— Não, eu não quero falar sobre isso. Quero deixar o passado no passado._ e respirou fundo, levando a mão ao peito dele e reabrindo um sorriso _ É meu presente que importa. Estou aqui agora, com você, e não quero desperdiçar um minuto sequer falando sobre coisas que não posso mudar.

Ele retribuiu o sorriso e ficou a admirando por alguns segundos. Era incrível a capacidade que ela tinha de se reerguer nas situações adversas.  Procurando aliviar ainda mais a tensão do momento, ele resolveu dar outro tom a conversa:

— Então, temos que fazer cada segundo valer à pena...

— Exato. E eu acho que falta um pouquinho para chegarmos lá._ ela continuou correndo os dedos pelo peito dele.

— Eu acho que posso mudar isso...

Sem esperar mais nada, Kurt a abraçou e começou a distribuir beijos com o propósito de fazer cócegas em sua clavícula. O riso dela ecoou pela casa e na alma dele. Realmente os dois não podiam mudar o passado, mas o presente estava ali para desfrutarem. Sem interromper o contato físico e os beijos, os dois se dirigiram de volta ao quarto.

Depois do amor, enquanto ela cochilava, ele foi até a cozinha e trouxe uma jarra de água fresca para deixar ao lado dela na cama. Desde então, Kurt sempre garantiu que ela tivesse água ao seu alcance no quarto, no trabalho, nos passeios, no balcão da cozinha antes mesmo do café da manhã.

De volta ao quarto do hospital

As lembranças deixaram claro para Kurt que negar água para Jane agora não era uma opção. Então, colocou pouco mais de um dedo d’água no copo para levar até ela. Devagar, subiu a cabeceira da cama para deixá-la numa posição mais adequada. Ela manteve um olhar duvidoso sobre ele, como quem temia não receber a água. Aquilo partiu o coração dele que se acomodou à frente dela para oferecer o copo.

Com as mãos trêmulas, ela bebeu rápido numa necessidade atípica até mesmo para suas sedes repentinas. Kurt franziu a testa ao perceber isso. Estranhou ainda mais quando ela não reclamou da quantidade oferecida por ele. Depois depositou o copo sobre a mesa na lateral e pode, finalmente, segurar a mão dela. Gelada, muito gelada. Instantaneamente, levou a outra mão até seu rosto tentando sentir sua temperatura. Febre. Isso não era nada bom. Ela já tinha fechado os olhos novamente. Sem soltar a mão dela, acionou a campainha de emergência pra chamar a equipe de enfermagem.

A enfermeira chegou rápido e fez uma primeira avaliação. Em poucos minutos, a cama de Jane estava rodeada de médicos e enfermeiros. Kurt estava decidido a permanecer ao lado da cama segurando sua mão, principalmente porque ela acordou assustada a movimentação.  Amostras de sangue foram colhidas e ela foi ligada aos aparelhos de monitoramento para garantir uma melhor segurança.

Durante todos os procedimentos, Kurt lutou contra o sentimento de impotência que o dominava. Ele queria poder fazer do que apenas segurar sua mão e sorrir tentando demonstrar segurança. Esse sentimento piorava ao ler todo o esforço dela em gerenciar o incomodo que sentia por ter tantas pessoas ao seu redor a tocando. Algumas vezes, ela fechou os olhos e respirou fundo buscando o auto-controle.

Terminados os cuidados necessários, todos saíram com excessão do médico chefe que explicou:

— Febre, normalmente, é sinal de infecção. Como Jane já está coberta por antibióticos desde a cirurgia, então tudo está sob controle. Mas existe outra possibilidade. A transfusão sanguínea de emergência           que foi realizada pode estar causando uma rejeição. Quando isso acontece, o sangue do receptor pode atacar as células do doador. Essa é a nossa preocupação no momento. Se Jane precisar de outra transfusão, o risco de choque vai ser maior. Tudo que podemos fazer é aguardar até o resultado do hemograma. Fizemos uma medicação para baixar a febre. Deve fazer efeito em aproximadamente 40 minutos. Qualquer alteração no monitor, é só nos chamar. Agora ela precisa descansar.

— Ok, Doutor, muito obrigado. Vou cuidar para que ela descanse.

Assim que o médico saiu do quarto. Kurt se voltou para ela. Jane respirou insatisfeita e virou o rosto, fugindo ao olhar do marido. Um cansaço físico e emocional parecia querer sufocá-la. Ele tentou focar no necessário:

— Você ouviu o médico: hora de descansar.

—Eu quero ir pra casa.

— Eu sei. Hospitais são difíceis. Não vamos ficar muito tempo. Também quero te levar pra casa, mas agora você precisa descansar para se recuperar.

Ela balançou a cabeça em discordância ainda sem olhar para ele:

— Você vai me dar ordens agora? _ voz saiu falhada pelo efeito da febre.

— Se for pra conseguir que você se recupere, sim, eu vou! _ Kurt foi firme e decidido a não colocar em discussão a saúde dela.

A reação de Jane foi instantânea, puxando a mão que estava entrelaçada a dele. Kurt respirou uma, duas, três vezes. Era tudo tão claro: ela precisava de cuidados e o hospital era o melhor lugar para aquilo. Ele sabia que aquela reação dela era emocional, ela estava vulnerável ali e não estava acostumada àquilo. Perceber o impacto que isso tinha sobre ela, despertava nele o desejo de poder tirá-la dali por mais que isso fosse pura loucura. Ele odiava como ela conseguia fazê-lo ter dúvidas de suas decisões mais acertadas. Ele levou a mão até a nuca e pensou sobre como agir. Ela estava sob o efeito da febre e dos medicamentos. Confrontá-la ou medir forças naquele momento não era o melhor caminho. Mais uma vez ele não sabia o que dizer, mas pela primeira vez sentiu que talvez isso lhe desse uma vantagem. Expor a ela que ele conhecia suas fraquezas e seus fantasmas só pioraria a situação.

Ele deu a volta na cama, buscando contato visual com ela. Devagar, analisando cada reação,  levou a mão até o rosto dela e acariciou sua bochecha com o polegar.

— Você ficar bem, não se preocupe. Logo estará em casa. Eu estou aqui. Sei que está cansada. Foram dias difíceis..._ ele parou por um momento e avaliou melhor o tempo, então arqueou a sobrancelha pra continuar procurando demonstrar que compreendia o que ela sentia_ Foram anos difíceis. Essa é só mais uma batalha. E você vai superar. Apenas descanse agora.

Ela colocou sua mão sobre a dele que ainda estava em seu rosto, fechou os olhos e se aconchegou no calor que vinha dela, deixando as lágrimas correrem. Kurt se curvou e depositou um beijo demorado em sua testa mantendo seu rosto próximo ao dela dela até sentir que sua respiração começava a ficar compassada com o sono.  Aos poucos, ela foi relaxando, deixando-se envolver pelo calor dele. Por mais que ela tentasse construir barreiras entre eles, Kurt sempre terminava dentro delas, como seu porto seguro, seu ponto de partida, seu lar.

Vê-la ceder e adormecer era para Kurt a maior prova do quanto ela confiava nele. Antes de se afastar para uma posição mais confortável, ele sussurou:

— Isso, Jane... Obrigado...

Em instantes, ela adormeceu.

Mas o sono não era um lugar de paz para Jane. Muitas vezes era ali que ela perdia suas batalhas para as piores lembranças e medos que trancava sob sete chaves durante a vigília do dia. Cerca de 15 minutos depois seu corpo já se contorcia num pesadelo regado pela temperatura ainda alta. Ao perceber sua agitação, Kurt beijou a mão dela que ainda estava entrelaçada a sua, tentando acalmá-la: 

— Está tudo bem, Jane, é só um sonho.

Ela abriu os olhos e o encarou aflita:

— Roman...ele..._ sua respiração estava muito descompassada.

— Ele não está aqui, Jane. Foi só um pesadelo. Você está segura.

— Ele é meu irmão, Kurt! Não fui capaz de protegê-lo no orfanato, não fui capaz de protegê-lo de Shepherd, não fui capaz de fazê-lo ficar do lado do FBI. Eu falhei com ele.

— Eu sei que ele é seu irmão..._ e respirou fundo pensando em como dissuadi-la de um assunto tão complexo naquele momento._ Por favor, Jane, você ainda está com febre, precisa descansar pra melhorar. Não é hora nem lugar para discutirmos isso.

— Você o odeia...

Weller queria fugir daquela conversa pelo bem de Jane, mas percebeu que ela não desistiria, o desespero nos olhos dela pediam que ele falasse:

— Ele cometeu crimes graves, Jane...

— Eu sei... Ele deve pagar pelos crimes que cometeu.  Mas eu não posso deixar que ele apodreça num black site da CIA. É desumano!

Kurt se sentou na cama ao lado dela e trouxe sua mão que estava livre do IV para o peito, segurando forte para deixá-la segura sobre que ia dizer:

— Eu odeio tudo que Roman fez. Odeio como ele nos machucou. Mas você sabe que não concordo com os métodos da CIA, Jane. Faremos todo o possível para impedir que isso aconteça.

Ela fechou os olhos e as lágrimas escorreram.

— Eu não tenho futuro, Kurt... Eles vão vir atrás de mim também... Eu estava por trás de tudo.

— Não! Você é um ativo do FBI, eles não poderão fazer nada com você.

— Eles pegaram o Cade. Nas e Keaton só estão aguardando o momento certo. É uma questão de tempo. E eu não posso fugir mais...prometi pra você.

Ele levou a mão até o queixo dela convidando-a com seu toque para voltar a olhar pra ele.

— Se a fuga for necessária, nós iremos juntos. Não vou deixar que eles sequer toquem em você, entendeu? Dessa vez, você não estará sozinha, eu vou estar lá por você.

— Você confia nela... Ela vai te convencer que eu sou um erro...

— Não, Jane! Eu confio EM VOCÊ. Eu conheço o seu coração, lembra?Se Nas tentar me virar contra você, pior pra ela. Eu te amo. Não vou deixar que ela ou qualquer outra pessoa se coloque entre nós. _ e ele correu a mão até seus cabelos_ Estaremos longe antes de pensarem em te afastar de mim. Mesmo que... mesmo que tenhamos que viver de Sequestros & Resgates, ok? _ e deu um sorriso brincalhão para ela. Depois voltou a ficar sério e completou _ Você confia em mim?

— Mais que tudo._ ela disse apertando sua mão ainda trêmula no peito dele.

— Então, me escute. Tudo vai ficar bem. Nós vamos ficar bem. Agora descanse, por favor, por nós.

Quando Jane voltou a fechar os olhos, entorpecida pelo cansaço somado ao efeito dos remédios, Kurt sentiu um misto de alívio e medo. Ele sabia que Roman e Keaton povoavam os pesadelos dela mesmo que ela nunca tenha dito isso à ele. Nas estar neles no mesmo patamar que Keaton foi a grande surpresa. Kurt confiava nela. Mas se Jane não compartilhava essa confiança, era o que bastava para ele mudar sua posição. Sua esposa conheceu Nas a partir de uma posição totalmente diferente da dele. E Jane era forte e justa, não se sentiria ameaçada se houvesse uma ótima razão para isso. 

Uma hora e meia depois, o resultado dos exames mostraram que se tratava de uma rejeição pela transfusão sanguínea. Como ela estava estável, os médicos decidiram que era melhor deixar a coleta de sangue para acompanhamento do quadro para algumas horas mais tarde não atrapalhando aquele descanso que consideravam importante para sua recuperação.

Dessa vez, Kurt não tirou sequer um cochilo. Ficou em vigília o tempo todo, acompanhando os números dos monitores e a temperatura de Jane que não voltou a se elevar. Ele observou cada movimento que ela fez durante o sono e, quando se intensificaram, aguardou pacientemente que olhos dela se abrissem.  Ao poder finalmente ver o verde deles sondando o local e depois seu próprio rosto, um sentimento forte de gratidão o invadiu: ela estava melhor. Essa era a Jane que ele amava: atenta a tudo e todos.

— Hei. _ ela cumprimentou demonstrando inquietação.

— Olá.

— Estou dormindo há quanto tempo?

— Você quer saber sobre antes ou depois de seus comentários sobre nossa vida sexual para o médico?

Jane arregalou os olhos surpresa:

— Ah não! Por favor, diz que é brincadeira...

Ele se aproximou e puxou a mão dela para um beijo.

— Claro que é brincadeira, Jane. E então, como você se sente?

Ela sorriu.

— Acho que estou como aquele bichinho esquisito do desenho que Patterson me fez assistir para me identificar com ele. Aquele que foi atropelado por um caminhão.

Kurt sorriu tentando equacionar todas as informações daquela frase para dar continuidade na conversa:

— Não conheço o desenho e se é mitologia da Patterson, talvez eu nunca entenda, mas se sentir como se fosse atropelada por um caminhão não é uma referência animadora. _ então ele se sentou ao seu lado na cama e acariciou seus cabelos _ Você passou por momentos bem difíceis. É normal que seu corpo sinta o impacto disso.

— Avery?

O altruísmo de Jane estava acima do seu próprio bem estar e isso era uma das coisas que Kurt mais desejava mudar nela, mas ele não podia negar que isso também fortalecia ainda mais o amor que sentia por ela.

— Voltou para NYC. Você se lembra dos flashbacks sobre a tatuagem de pássaro?

— Sim._ o olhar de Jane ficou carregado de inquietação_  Como ela reagiu?

— Eu nunca a vi tão feliz. _ contemplando a inquietação de sua esposa se transformar num sorriso.

— É bom saber que tive uma atitude mais humana no passado_ e olhou para o lado, fugindo do olhar de Kurt para concluir _  e que não fui apenas um monstro._ ela respirou espantando seus fantasmas e retornou o olhar pra ela para continuar: _ E eu vou sobreviver?

— À facada na perna e à rejeição ao sangue certamente sim. Quanto aos desenhos que Patterson te faz assistir, tenho dúvidas.  Você não é um monstrinho esquisito, Jane. Você é muitas coisas: teimosa, rebelde, com compulsão sexual por mim, mas não é um monstro.

Jane lançou um olhar vingativo e depois levou a mão até o rosto dele.

— Eu sei quem sou, Kurt. Só não sei quem fui. Patterson tentou me ajudar com isso. O monstrinho deixa de ser mal quando encontra seu lugar e uma família. Como aconteceu comigo. Você e o team me fizeram querer ser uma pessoa melhor. E a trilha sonora me apresentou Elvis. Foi uma experiência muito boa. Quanto à compulsão sexual por você..._ ela respirou fundo _ talvez role um pouco. Aliás, podemos fazer essa experiência aqui no hospital pode ficar muito melhor se você me ajudar a tomar um banho...

Ele depositou um beijo rápido na testa dela antes de continuar:

— Tentador, mas não posso te ajudar dessa vez. Impossível te tirar dessa cama com todos os fios. Teremos que aguardar liberação médica. A propósito..._ ele acionou a campainha para pedir a presença da equipe de enfermagem_ Você tem exames a serem colhidos.

Novos exames foram colhidos e mostraram a estabilidade no caso. Uma nova transfusão não seria necessária, mas a anemia necessitaria de uma atenção especial, mantendo Jane no hospital para que doses de ferro fossem ministradas por IV nos próximos dois dias. Ela foi liberada do monitoramento e do oxigênio e pode, finalmente, tomar um banho.

Dois dias depois eles retornaram para NYC. Assim que entraram no apartamento, a surpresa foi a presença de Avery ali. A garota cumprimentou os dois rapidamente, sem muita intimidade.

— Finalmente vocês estão em casa. Eu já estava a ponto de voltar ao Missouri. Queria ter ficado no hospital com você, mas nenhum dos três agentes carrancudos do FBI aceitou. “Você estará mais segura em Nova York, Avery”(ela imitou a voz de Kurt).

Jane riu divertidamente com a imitação e depois revirou os olhos:

— Acredite, eu sei como é. O pior deles ficou comigo no hospital. Eu não podia me mexer sem que ele estivesse ao meu lado se dispondo a ajudar.

Avery lançou um olhar repreensivo para Kurt que, logo depois o modificou ao se dirigir novamente à Jane, mostrando seriedade e preocupação:

— E você, como está?

— Bem. Estou realmente bem agora.

Até aquele momento, a mão de Kurt não tinha saído das costas de Jane, aguardando o desenrolar do encontro com Avery.

— Ela está bem, mas... precisa descansar por mais alguns dias, tomando os suplementos de ferro e cuidando da alimentação. _ Kurt completou

— Com relação a isso, pode ficar sossegado. Estou aqui pra garantir que ela não vai se esquivar dos cuidados._ então Avery tomou a mão de Jane a conduzindo até o sofá e Kurt aproveitou para levar as malas até o quarto e deixar as duas a sós.

Assim que se acomodaram, Avery continuou:

— Zapata se ofereceu para me dar algumas aulas de autodefesa. Seria uma forma de ocupar meu tempo fora da casa segura.

— Isso é bom. E Zapata é uma das melhores, será uma excelente professora.

— Mas eu recusei.

— Bem, a decisão é sua...

— Eu recusei porque estive pensando muito sobre tudo que aconteceu. Desde a morte dos meus pais, a procura por você, Roman, Kurt, Crawford, a Máfia Russa... Não dá pra dizer que é o tipo de vida que sempre sonhei.

Jane baixou os olhos procurando o que dizer a filha. Foi então que ela sentiu que Avery estava mais próxima e tocou seu ombro:

— Sabe, mesmo que você tivesse me entregado para a adoção, hoje isso não me desperta mais raiva. Eu tive a oportunidade de ter uma infância feliz, com uma família normal e longe dessa loucura que é sua vida.

Jane nunca havia enfrentado uma batalha tão grande entre o seu emocional, que se sentia rasgado pelas palavras de Avery, e o seu racional que entendia que a filha estava absolutamente certa. Não deixar tudo isso transparecer no olhar foi ainda mais difícil. Ela buscou palavras, mas só foi capaz de dizer:

— Eu entendo.

— Não, não é só isso. Eu também me sinto grata porque depois que eu achei que tinha perdido tudo que tinha, eu descobri que ainda tenho você. E agora eu tenho um passado maravilhoso ao lado da minha família pra lembrar e um presente incrível pra construirmos juntas. Se for pra ter aulas de autodefesa, eu quero aprender com alguém que é melhor que a Zapata: você! Não agora. Depois que você se recuperar. Porque eu quero passar mais tempo com a minha outra... mãe.

Pela primeira vez, Jane não repensou e repensou sobre como agir com Avery, apenas puxou a garota para um forte abraço e deixou que as emoções falassem mais alto.


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Notas finais do capítulo

Esse foi o capítulo que mais me deixou insegura até aqui. Por favor, se puderem apontar pontos positivos e negativos para o forma como a história está sendo conduzida, agradeço.
Obrigada pela leitura.



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