Yesterday escrita por Bruninhazinha


Capítulo 1
Yesterday


Notas iniciais do capítulo

Um dia tomo vergonha na minha cara e escrevo uma long-fic.
Boa leitura a todos, espero que gostem!



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Ontem te vi caminhar pela calçada, apressada. Nunca fui atento, mas tive certeza que era você dessa vez; por um segundo não acreditei. Uma mão equilibrava uma pilha de livros grossos, a outra segurava o celular firmemente contra a orelha. Você estava diferente, mas não de uma maneira ruim. Não enxerguei a doçura da adolescência em suas feições, apenas a maturidade adquirida ao longo dos anos. 

Você sentou em um daqueles bancos de praça e largou os livros ao lado, ainda tagarelando ao telefone, depois desembaraçou o cabelo com a ponta dos dedos. Ora franzia a sobrancelha, ora torcia o nariz gargalhando daquele jeito que só você consegue. Senti um aperto no peito. Éramos adolescentes quando te escutei gargalhar assim, pela primeira vez. Na época não havia nada além da sua voz e seus olhos em meu campo de visão; perguntei-me quais as chances de me deparar com uma criatura tão dócil e adorável. 

Nessa mesma época juvenil eu andava meio emburrado, já você era outra história, exibindo divertimento no olhar e a inocência nos gestos. O cabelo escorria pelos ombros, ousaria dizer como uma cascata, só que você nunca gostou de comparações clichês. 

Chegava os tempos em que eu precisava me barbear todos os dias. Como qualquer adolescente, não me importava com aparências nem com a barba por fazer.  

— Vai ficar barbudo como o Gandalf se não se cuidar. — me falou certa vez, tocando meu rosto. Ainda lembro de como riu da minha carranca e de como passamos o resto da noite no meu quintal, embaixo daquele carvalho; arrastamos um colchão até o gramado, deitamos para observar as estrelas e conversamos sobre música clássica, Edgar Allan Poe, zodíaco e trivialidades, crentes que a juventude jamais cessaria. 

Só que a juventude foi embora tão rápido quanto nosso relacionamento. Nunca esqueci de como você chorou quando terminamos, Hinata. Não havia chuva nem vento, mas havia tempestade entre nós, dentro de nós.  

Você se foi sem olhar para trás, sem se dar conta de que levava o melhor de mim. E eu fiquei na esperança de te reencontrar imaginando como seria se você estivesse aqui.  

Se ficasse ao invés de partir, teria te levado ao meu quarto. Você sentaria na beirada da cama observando-me inclinar sobre o colchão para ligar meu pequeno rádio na mesa de canto. Tocaria Ludovico Einaudi. Você sempre gostou das músicas dele, alegando que elas expressavam sentimentos de forma que palavras jamais seriam capaz de fazê-lo, por isso colocaria Einaudi – para falar tudo o que não pude. Que te amava, que queria fazer amor contigo e, mais do que isso, que desejava ardentemente ser o amor da sua vida.  

Minha única saída foi contentar com o vazio em meu peito e a lembrança de seus olhos.  

Ontem te vi sentada naquele banco de praça, adulta feita, tão diferente da menina que conheci. O tempo passou, mas a saudade em mim continua a mesma.  

Sinto falta de como nossos olhares se cruzavam, dos beijos, dos carinhos. Sinto falta de quem eu era quando estava com você.  

Mas tudo bem, Hinata. Tudo bem. Não há nada de errado nisso.  

Você seguiu em frente. Agora sei que preciso fazer o mesmo.   


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