O dia mal tinha começado e já estava uma tortura, acordei pela manhã ouvindo as reclamações de minha mãe sobre minha saída noturna e por ter voltado muito tarde. Estou realmente muito cansada dessas brigas sem sentido por parte dela, já era maior de idade e sei muito bem das minhas responsabilidades, mas como estou na casa dela não posso discutir nem protestar sobre o assunto, mas isso me deixou mais motivada em buscar um trabalho, já passou da hora de ter um lugar só para mim, irei em busca de um emprego o mais rápido possível, mas o que eu mais quero e preciso mesmo é focar em meu livro, minha paixão sempre foi escrever, e não seria agora que iria mudar. 

Bem após ouvir o sermão de minha mãe, eu corro para me arrumar para a faculdade, mais um pouquinho e perderia o horário. O caminho até a faculdade é tranquilo, por incrível que pareça as coisas parece estar fluindo bem. Não tomei meus remédios, e não tive nenhuma “visita” indesejada. Ontem depois  de ver Camila indo embora tive uma conversa com Michael, falei que não sabia como ajuda-lo, mas que buscaria ajuda para descobrir como o guiar. Alejandro, bom, não o vejo desde ontem, quando ele foi ficar com Camila.  

Cheguei na faculdade e tive que apenas dar uma corridinha até a sala de aula, para não chegar depois do professor. As primeiras aulas foram tranquilas e passaram rapidamente. Quando menos espero já estávamos no horário da pausa. E mais um dia fiz o possível para evitar Luis. 

Quando estava saindo da sala, recebi uma mensagem das meninas dizendo que estavam sentadas em uma das mesas ali perto, e que não deveria me preocupar com a comida que já estava tudo a minha espera. Foi inevitável não sorrir e me sentir acolhida e realmente importante para elas. Apresso meus passos.

Rapidamente chego a mesa em que elas estavam, de longe posso notar Camila, ela esta rindo de algo que Ally diz. Não posso controlar o riso que aparece em meus lábios.

—Hey pessoal! - Falo ainda sorrindo.

Recebo um “Oi” em coro. Confesso que nenhum momento tirei meus olhos de Camila, vejo ela sorrir timidamente para mim, logo em seguida abaixar a cabeça. Só ai noto a presença de Alejandro, ele me encarava com uma sobrancelha arqueada, me fazendo sorrir sem graça e olhar ao redor coçando a nuca. Posso o ouvir rindo de deboche. 

—Senta ai Laur, Dinah trouxe comida pra carai! - Normani fala, chamando minha atença. - Parece que ela veio alimentar uma manada! 

Então eu me sento ao lado de Ally, em minha frente esta sentada Normani, ao seu lado esta Dinah e logo em seguida esta Camila.

—Só Camila vale por uma! - Dinah fala rindo, logo em seguida sendo acompanhada por Ally e Normani. 

—Hahaha! Nossa que exagerada você Dinah! - Camila rebate, parece estar envergonhada. 

—Tem certeza? - Pergunto.

E então ela olha para mim, sorri sem graça e revira os olhos, e fala baixinho: Fica quieta. 

—Oxe Camila, que vergonha é essa agora? Nem parece que estava comendo que nem um porco até agora pouco. - Dinah volta a falar arrancando gargalhadas das outras meninas. 

Eu apenas dou um pequeno sorriso, e começo a me servir com alguns donuts que tinha ali em cima da mesa. A conversa continua não presto muita atenção no assunto, estava quase terminando de comer, quando noto que Dani ainda não tinha chego.

—Ei, cade Dani que não chega? - Pergunto, posso sentir Ally se mexer estranhamente ao meu lado, parece desconfortável.

—Aah! Ela esta super estranha hoje, disse que tinha que resolver uns assuntos ai com alguém lá na fonte, e disse que apareceria se desse. - Normani me avisa, eu apenas concordo com a cabeça e volto a falar.

—Então eu vou indo lá, preciso falar com ela! - Falo já me levantando da mesa com o donut na mão. 

—Mas já? Você ainda me terminou de comer! - Camila se pronuncia, parece estar meio afobada, me encarava estranhamente. 

—Sim, preciso resolver algo com ela!

—Mas…

—Deixa ela ir Camila! Depois ela volta - Ally fala nervosamente. Então eu a encaro, ela evita qualquer tipo de contato comigo.

—Não se preocupa Camila, depois nós conversamos. - Falo a encarando, e de relance olho para Alejandro, sei que ele espera por isso também. E então, ela apenas concorda com a cabeça. Me despeço rapidamente das meninas e vou em direção a fonte.

Não demoro muito até chegar lá. vejo algumas pessoas sentadas aos redor da fonte, porém não vejo Danielle. Então busco com o olhar ao redor, e é ai que a encontro sentada de baixo de uma árvore, agradeço por isso, o sol esta forte hoje. Então ando em sua direção, em passos largos e rápidos chego rapidamente. Ela esta lendo, o livro praticamente esconde seu rosto todo, não parece ter notado minha presença, então me sento ao seu lado.

—Oi Laur - Ela fala sem ter tirado o livro do rosto, fico um pouco surpresa. 

—O-oi

—Não precisa ficar nervosa, você deveria saber disso melhor que ninguém - Ela diz tirando o livro do rosto, exibindo um lindo sorriso. Faço uma cara de confusa com sua fala, mas logo em seguida retribuo com um sorriso.

—Ei, esta tudo bem? - Pergunto.

Vejo seu sorriso sumir lentamente de seu rosto.

—Sim e você esta bem? 

—Sim, mas você não parece estar bem, o que houve? - Volto a perguntar.

Então ela suspira.

—Nada demais, é que Ally e eu tivemos uma pequena discussão.

—E por quê?

—Troy.

—Agora me conta uma novidade - Falo dando um pequeno sorriso.

—Você sabe das minhas suspeitas!

—Claro que eu sei, desconfio também! 

—Então, ontem quando você saiu com Camila, nós ficamos conversando, tipo, a Dinah, Normani, Ally e eu estávamos ali, quando ele aparece do nada, mandando nela, como se ela fosse uma propriedade dele, parecia alterado e agressivo, claramente eu não aceitei o modo que ele estava a tratando, e ela pareceu nem se importar, nem as meninas ligaram, deixaram ela sair dali com ele naquele estado, você sabe que eu não sou de aceita essas coisas, então eu fui atrás deles, demorei um pouquinho pra achar eles, e quando eu os achei no dormitório dela, me senti mal, e quando falei com ela, me sentir pior ainda, ela me disse várias coisas do tipo pra ficar longe dela e do seu relacionamento.

—Nossa Dani, isso é horrível, não imaginei que Ally faria uma coisa dessas!

—Nem eu!

—É por isso que você não foi tomar café com a gente?

—Sim, eu só não quero piorar as coisas.

—Ei mas você não deve se afastar por isso, você não deve se afastar só por causa dela!

—Eu sei, mas não iria me sentir confortável nessa situação…

—Mas não quero que se afasta da gente, se afastar de mim, você sabe que é minha melhor amiga e que eu preciso de você!

—Ei! Não vou me afastar de você Laur! - Então ela me abraça, ficamos um tempinho assim até a gente se afastar lentamente. - Mas e então, como foi ontem com Camila?

Ela me pergunta, fazendo eu suspirar lentamente e então começo a contar tudo a ela, desde  Alejandro ao o fim da noite de ontem sobre meu pai. 

—E é isso, Michael esta preso aqui e não consegue partir dessa pra melhor nem morto. - Ela ri com meu comentário infame.

—Olha, neste momento eu não saberia dizer exatamente o que esta acontecendo, mas minha avó já falou sobre isso para mim, mas só me recordo vagamente, talvez seu pai não consiga partir para outro plano por algo ou alguém, alguém deve estar prendendo ele aqui!

Ela fala simplesmente, como se fosse algo mais obvio do mundo, não consigo esconder minha expressão de dúvida.

—Outro plano, hum… Saquei…

Então ela torna a rir.

—É difícil de explicar, mas em cada religião tem teorias sobre a vida após a morte, algumas falam sobre o céu e o inferno, sobre o sono eterno, como não sabemos exatamente o que de fato é, e no nosso caso agora o sono eterno não é a questão, vamos falar sobre o segundo plano, depois da morte ainda existe algo, o que não sabemos exatamente se seria o céu, inferno, purgatório ou até mesmo o paraíso, sabemos que seu pai já não pertence mais a esse mundo e que ele deveria ir, mas se ele não consegue ir, deve ser por algo que o prende aqui e os casos que costumam ser mais recorrente nessa situação é por causa de alguém.

—Alguém? Ainda não faz muito sentido para mim, como uma pessoa do nosso “plano” - Falei fazendo aspas com os dedos. - Consegue segurar ou prender um espirito?

—Bom eu não sei exatamente, faz muito tempo que não leio ou falo com alguém sobre isso, mas me recordo de alguns detalhes vagamente, como por exemplo, pensamentos recorrentes sobre essa pessoa ou guardar itens pessoais do falecido, apego as lembras e a falta que a pessoa faz ou até mesmo a raiva, quando não conseguimos perdoar algo, que quando viva a pessoa nos causou.

—É isso faz sentido. - Falei olhando para Dani e fazendo sinal de afirmação com a cabeça. - Minha mãe é a causadora disso, desde que Mike morreu, ela vive enfurnada no quarto dela chorando, além de não ter jogado nada dele fora ou doado. - Danielle me encara curiosa.

—Sim, pode ser isso mesmo…

—Droga! Isso não é muito bom, sabe nós não temos um relacionamento muito agradável e ultimamente tem sido cada vez mais complicado.

—Talvez nós possamos achar um jeito resolver isso meio que indiretamente.

—Mas como isso seria possível? Teríamos que no minimo falar com ela e você pode ficar bem ciente de que se citarmos algo do tipo de “segundo plano” com toda a certeza sera muito pior!

—Sim, mas deve haver algum livro ou alguém que possa nós ajudar a resolver sem ter que falar nada do gênero com ela!

—Alguém? E quem seria?

—Conheço algumas pessoas, não tem com o que se preocupar, hoje mesmo irei ver isso, não tenho nenhuma tarefa da faculdade e nem compromissos, e se eu precisar de algo eu te chamo. 

—Maravilha! -Falo me levantando. 

—Enquanto isso acho que você deve passar mais tempo com Camila, ela deve precisar muito de ajuda, principalmente a sua.

Olho para ela fazendo cara de confusa. O que? Como assim? Não me lembro de disser nada sobre isso com ela.

—Por que você diz isso? - Pergunto para ela, arqueando uma sobrancelha.

Então ela da de ombros.

—Aaah deve ser meu sexto sentindo ou uma Camila a poucos metros de distancia de nós com cara de confusa e tentando pedir ajuda para os maconheiros de plantão. - Diz ela com um sorriso sapeca, enquanto indicava a direção.

Rapidamente a localizei e neguei com a cabeça.

—Acho melhor ir lá. 

—Com toda certeza, te ligo mais tarde!

Apenas concordei e sai em direção a Camila, andava o mais rápido que eu podia. Quando estava perto o suficiente não esperei nem um minuto se quer para chamar sua atenção.

—Heey Camila!

E então ela se vira em minha direção, assim que ela me vê faz uma cara de confusa e logo em seguida da um sorriso sem graça.

—Ah! Oi Lauren, pensei que não a veria mais hoje.

Eu apenas dou uma risada curta. Ta bom que seu pai me deixaria em paz por um dia, só ai noto que Alejandro não esta presente. Que estranho, não parece ser algo que ela faria.

—Esta precisando de alguma ajuda. - Falo olhando para o menino em sua frente, noto seus olhos vermelhos, deveria estar mais chapado que tudo.

—Na verdade sim, ele estava tentando me explicar a onde fica a biblioteca.

—Aaah eu posso te levar até lá se quiser!

—Não seria muito incomodo pra você? Sem falar que este rapaz esta me ajudando. - Ela diz apontando para o menino a nossa frente. Eu apenas o encaro o mais seria possível e transpareço o quanto a presença dele é indesejada ali. Apenas isso é o suficiente para fazer com que ele saia dali sem dizer uma palavra.

—Ei, ei, ei! - Camila chama por ele, sem sucesso. - Mas o que? Como ele sai assim do nada? - Diz indignada.

—É… Camila as vezes é melhor nem falar com essas pessoas, mas enfim é claro que você não esta me atrapalhando e sera uma honra acompanhar você até a biblioteca, não tem com o que se preocupar. - Falo dando um sorriso no final.

—Bom… - Ela diz me encarando.- Se é assim eu aceito sua companhia.

Dito isso meu sorriso só aumenta e então eu indico a direção que devemos ir e seguimos o caminho.