Amem escrita por Liz Setório
Notas iniciais do capítulo
Aqui está mais um capítulo. Espero que todos gostem.
Boa leitura!
— Vou ver o que elas querem.
Nunca as tinha visto ali na igreja. O que de tão urgente poderiam ter para tratar comigo?
— Eu já estou indo, padre. Vou deixar vocês conversarem.
— Tudo bem.
Fui até as mulheres e logo percebi que tratava-se de uma garota, aparentando ter entre dezesseis e dezoito anos e uma mulher mais velha, esta deveria ter pelo menos uns quarenta e cinco anos, a perguntei então como poderia ajudá-la.
— Por acaso não se lembra de mim? — indagou com um leve riso no rosto.
Olhei bem para o rosto dela. Realmente ele me parecia familiar, mas eu não conseguia lembrar de onde a conhecia.
— Não senhora.
— Você tem certeza, Paulo?
Atentei-me aos detalhes daquela bela face. A mulher em questão era uma linda negra de pele clara, como a minha, e olhar marcante.
— Sim — respondi depois de pensar um pouco.
— Como você esqueceu de mim? — indagou visivelmente irritada.
Naquele momento, foi como se num estalar de dedos a minha memória fosse refrescada. Lembrei quem era a mulher, era Maria Fernanda, só ela falava daquele jeito.
Meu Deus, como eu poderia ter esquecido o rosto da minha irmã? Tudo bem, fazia algum tempo que não nos víamos, alguns anos para falar a verdade, porém mesmo assim ainda era imperdoável aquele esquecimento.
— Mafê — disse com um largo sorriso.
— Pensei que tinha esquecido de mim, Paulinho — disse com um tom de voz leve.
— Jamais, minha irmã. Nunca vou esquecer dos nossos tempos de criança, lá no interior e dos cuidados que você tinha comigo.
— Receio que seja a hora de retribuir.
— Como assim, minha irmã?
— Dê a bênção a seu tio, Michele — ordenou para a garota que tinha até então ficado calada.
A menina obedeceu e a mãe não satisfeita, insistiu que a benção fosse completa.
— Beije a mão dele, sua herege.
Novamente ela obedeceu.
Michele parecia estar muito envergonhada com aquela situação e do nada murmurou:
— Tão católica que não conhece as exceções.
— O que? — questionou a mãe, furiosa.
Antes da menina responder, eu tomei a voz.
— A partir do momento que ela me chama de tio, isso faz com que o beijo na mão seja facultativo. Em momentos familiares, essas formalidades podem ser esquecidas.
— Isso é muito complexo pra mim. Deixa eu contar o que vim contar. Antes de tudo, eu quero pedir desculpas. Eu casei e fui pra longe, te privei da convivência com os seus sobrinhos, mas eu tava cega de amor, irmão…
— Não precisa se desculpar, isso já passou.
Depois de muitas voltas, Maria Fernanda contou sobre a morte do marido e como isso afetou Michele, que segundo ela virou uma rebelde sem causa e acabou engravidando de um rapaz, considerado um marginal por minha irmã.
Michele havia perdido o bebê e Mafê via isso como uma chance da menina recomeçar, por isso queria que ela fosse viver comigo para poder estudar e também para que ficasse longe do garoto que tinha a engravidado.
Fui um pouco relutante quanto a menina ficar comigo. Na verdade, eu estava um pouco irritado, a minha irmã tinha tomado aquela decisão sem me avisar nada. Entretanto, eu sabia que não poderia simplesmente negar abrigo àquela sobrinha, a garota estava passando por uma situação complicada e visivelmente precisava de ajuda, mas antes de tudo era necessário saber se ela queria aquela ajuda.
— Minha filha, você tem quantos anos?
— 19.
— A decisão é sua então.
— Como assim? Você acha que essa cabeça de vento pode escolher algo? — interrogou Mafê em tom irritadiço.
— Ela é maior de idade, pode tomar suas próprias decisões — argumentei.
— Paulinho, isso não…
— Eu vou ficar — disse, interrompendo a mãe.
— Boa escolha — declarou Mafê.
— Um tio padre deve ser menos pior do que uma mãe carrasca.
Mafê levantou a mão para bater em Michele, mas depois conteve-se.
— Não posso fazer isso na casa de Deus — resmungou.
— Vamos até minha casa. Nós podemos tomar um café.
Fiz aquele convite, pois realmente gostaria de conversar com a minha irmã e também porque não aguentava mais aquela tensão entre mãe e filha.
O convite foi aceito e dentro de dez minutos nós já estávamos em minha casa. Minha irmã fez questão de me manter atualizado sobre a vida de todos no interior. Michele ficou calada durante todo o tempo, parecia estar muito irritada com a mãe.
No dia seguinte, após a partida de Mafê, tentei puxar um pouco de assunto com a minha sobrinha.
— O que você pretende estudar?
— Não faço ideia. Só aceitei vim pra cá, porque minha mãe é insuportável, ela não me entende.
— Você tem mais interesse por humanas ou exatas? — indaguei ignorando o comentário que ela havia feito sobre a mãe.
— Humanas, eu não sei nem contar — respondeu com um leve riso.
— Então agora é só pensar numa carreira nessa área.
— É tão difícil escolher o que a gente quer ser pro resto da vida…
— Não precisa ser pro resto da vida, depois você pode mudar.
— Verdade... Mas e o senhor? Como decidiu ser padre?
— Não foi bem uma escolha, foi uma reflexão. O padre da minha paróquia me deu essa sugestão e eu acabei a aceitando.
— Nunca pensou em desistir do sacerdócio?
Aquela pergunta automaticamente me trouxe Miguel à mente. Lembrei dos pedidos dele para que eu largasse da vida de padre e fossemos viver juntos, em pecado.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
E aí o que acharam do capítulo? Fiquem a vontade para comentar. A opinião dos meus leitores é muito importante para mim e também me motiva a continuar escrevendo.
Beijinhos e até o próximo capítulo ♥