Amem escrita por Liz Setório


Capítulo 29
Caminhos Tortos


Notas iniciais do capítulo

Bom, cá estamos nós com mais um capítulo... Eu gostaria de sugerir uma música para vocês, uma música que não aparece no decorrer do capítulo, mas que ao meu ver, tem a ver com o capítulo e até mesmo com a história toda. O nome da canção é "Sangue Latino". Caso queiram vocês podem ouví-la enquanto leem ou até mesmo depois.
https://www.youtube.com/watch?v=BliqScxpNRs

Boa leitura!



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— Sim, sou eu, meu amor — disse num tom de voz extremamente doce.

Naquele momento, movido pela emoção dei um forte abraço em Miguel, quando nos soltamos do abraço ele segurou o meu rosto com as duas mãos e nós nos encaramos por alguns instantes, tive muita vontade de beijá-lo, todavia contive-me.

— O que você está fazendo aqui? — questionei ainda muito surpreso.

— Eu vim te buscar — respondeu num tom de voz meigo.

— Me buscar? — indaguei, franzindo o cenho.

Eu ainda estava confuso e não conseguia acreditar na veracidade daquele encontro. Miguel estava mesmo diante de mim? Flávio havia lhe revelado o meu paradeiro? Ou será que de alguma forma ele conseguiu entrar em contato com Ângelo e meu irmão lhe informou onde eu estava?

Muitas coisas se passavam na minha cabeça, os meus pensamentos estavam completamente embaralhados, nada parecia fazer sentido.

— Sim, não aguento mais viver um segundo sequer sem você.

— Isso é mentira não é? É só um sonho idiota, você não está aqui de verdade…

Miguel me deu um beliscão e eu me dei conta da realidade daquele momento. Meu Deus, eu estava tendo um momento feliz? Mal conseguia acreditar naquilo. Diante de tantas tristezas e desgraças, enfim as coisas começavam a melhorar.

— Ai — reclamei.

— Eu te daria um beijo, mas acho perigoso de mais, não quero ser excomungado — disse meio brincalhão.

Meu coração que já tinha batidas aceleradas, acelerou-se ainda mais quando ouvi a possibilidade de ser beijado por Miguel.

— Venha comigo—  pedi, o pegando pela mão.

Andei com ele pelo mosteiro a passos rápidos, a última coisa que queria era ser visto com Miguel, provavelmente me questionariam sobre ele e eu ficaria sem saber o que dizer, principalmente se eu fosse questionado pelo abade Francisco ou pelo Rafael.

Conduzi Miguel até o meu quarto, lá poderíamos conversar melhor.

Quando fechei a porta do quarto, Miguel me agarrou e me deu um longo beijo. Ah, como eu sentia saudades dos beijos apaixonados do meu amor. Como pude sobreviver sem eles?

Findado o beijo começamos a conversar, expliquei a Miguel o quanto estava perdido quando decidi ir pro mosteiro e lhe contei sobre todos os acontecimentos recentes da minha vida.

— Meu Deus, Paulo. Aconteceu tanta coisa contigo e comigo também… Eu realmente sinto muito pela dona Jussara… Mas agora ela está em paz, ao lado do Senhor.

—  Sim, com certeza ela está… Ao menos tivemos tempo de nos perdoar.

— Graças a Deus...

— E com você, meu amor, o que aconteceu? Eu sei que você teve as suas aventuras… Como veio parar aqui? Quem te contou sobre o meu paradeiro?

— Estão mais pra desventuras… As coisas sem você não têm a menor graça, Paulo..  Como disse na carta que te deixei, me envolvi com vários homens lá na cidade e depois quando resolvi sair de lá, fui mudando de cidade em cidade e me envolvi com mais alguns homens… Mas nunca amei nenhum deles, não poderia… Meu coração é só seu…. Estava tentando te esquecer, porém não consegui, isso seria impossível… O amor que sinto por ti, Paulo é tão grande… É um amor maior que um milhão de Maracanãs … Maior que esse planeta Terra todinho... E movido por esse sentimento tão imenso que habita o meu peito, decidi ir atrás do Flávio. Afinal você já tinha tido tempo o bastante para pensar… Tinha certeza que dessa vez ele me diria onde você estava….  Eu não conseguia viver sem ti… Tive medo de não te encontrar. Se eu não te achasse aqui, nem sei o que faria, provavelmente morreria de tristeza e frustração... Felizmente Deus é bondoso e graças a Ele hoje estamos nos encontrando, apesar dos nossos caminhos tortos… Caminhos que nos levaram pra longe, mas agora nos trazem pra perto e nunca mais eu vou te largar. Agora vou dormir com um olho aberto e o outro também, você não vai mais fugir de mim, Paulo.

A forma como ele disse tais palavras foi muito emocionante. Pela maneira como ele me olhava e falava, dava pra sentir todo o seu amor por mim.

Naquele momento, decidi que dali em diante, nunca mais abandonaria Miguel, eu o amaria a cada dia um pouco mais. Seria Deus no céu e Miguel na terra. Ele passaria a ser a coisa mais importante para mim.

— Miguel, meu amado Miguel… Tudo isso é muito lindo. Hoje eu consigo ter a certeza de que Deus escreve certo por linhas tortas. Agora eu só quero sair daqui, se eu já estava começando a ter vontade de abandonar esse mosteiro agora tenho muito mais. Quero ser feliz contigo e recuperar o tempo perdido, meu amor você não precisa ter medo, pode dormir sossegado, porque eu não sou louco de te deixar de novo. Eu quase morri de tristeza… Sem você os meus dias eram todos cinzas...

Nós dois tínhamos lágrimas nos olhos, aquele reencontro foi umas das coisas mais emocionantes da minha vida.

O meu amor por Miguel parecia ter aumentado ainda mais com a distância, era incrível a forma como eu amava aquele homem e como me sentia grato a Deus por ter colocado ele novamente diante de mim, se restava ainda alguma dúvida dentro de mim sobre largar ou não a Igreja, tal dúvida dissipou-se no momento em que reencontrei Miguel.

— Você nunca tirou? — indagou de forma descontextualizada.

— An?

— A aliança. Ela nunca saiu do seu dedo?

Aquela aliança já havia sido esquecida por mim, ela estava no meu dedo há anos e eu nunca tinha sido questionado quanto a ela, provavelmente pelo fato de alguns padres usarem alianças para mostrarem o seu compromisso com Deus, com a diferença de que o uso da aliança por esses padres ser na mão esquerda, enquanto a minha estava na mão direita. Afinal, era uma aliança que deveria selar o meu compromisso com  Miguel.

— Não, ela sempre ficou aqui… Uso ela há tanto tempo... Sinceramente já havia me esquecido de sua existência. Em algumas das minhas noites insones cheguei a encará-la, porém depois ela passou a fazer parte de mim de tal forma, que eu nem lembrava dela.  

Naquele momento olhei para a mão direita de Miguel e vi que ele também usava a dele.

— Você também usa a sua — observei.

— Nunca poderia deixar de usar…

Naquele instante me encorajei e dei um passo para consertar os meus equívocos do passado.

— Meu amor… Isso vai parecer muito aleatório e eu sequer me preparei antes, até porque não sabia que te veria… Bom, não é tão bonito quanto o que você fez pra mim, mas… Eu… Eu — Fiz uma pequena pausa e respirei fundo — Eu quero saber… Se… Se… Você quer casar comigo.

Miguel riu de uma forma boba e bonita parecia estar surpreso com aquele pedido. Afinal, nem eu me imaginaria fazendo tal coisa, imagine ele, que sofreu tanto com a minha indecisão…

— Casar contigo? Isso é o que eu mais quero na vida — respondeu com um leve sorriso no rosto e em seguida selou nossos lábios com um beijo.

Esse beijo foi mais quente que o anterior e após ele vieram outros, um mais cheio de paixão do que o outro e eu fui, aos poucos, direcionando Miguel até minha cama e  assim que caímos na cama tratei de tirar sua camisa. Feito isso lhe dei beijos por todo o seu peitoral, beijos quente e demorados. Além de umas leves mordiscadas.

O corpo de Miguel pegava fogo, assim como todo o meu ser, que ansiava imensamente por aquele momento e pelo que aconteceria dali a alguns instantes.

Ele me ajudou a tirar a batina e quando a tirou, a arremessou para longe, era como se estivesse matando de vez o padre que habitava em mim, esse padre daria lugar ao homem, ao homem que sempre tentei matar.

Desabotoei a calça de Miguel e antes de tirá-la, coloquei a mão dentro da cueca dele e comecei  a masturbá-lo, enquanto fazia isso, dava leves beijos em Miguel e entre um beijo e outro pude escutá-lo soltar leves gemidos.

Tirei a mão de sua cueca, fiquei de joelhos sobre a cama e comecei a desabotoar lentamente a minha camisa, Miguel me olhava com desejo e antes de eu concluir a minha tarefa, ele a completou de forma incrivelmente rápida e me puxou para si. A forma como ele fez isso foi bruta e desesperada, isso mostrou que assim como eu, ele estava ansioso para aquele momento.

Logo estávamos completamente sem roupas, vez ou outra eu tinha medo de alguém aparecer ali, de bater na porta e eu desesperado precisar me recompor rapidamente para responder ou poderia ser ainda pior, alguém poderia escutar algum gemido e me questionar sobre isso.

O medo fazia eu sentir ainda mais tesão e desejo, mais vontade de ser de Miguel e fazê-lo meu também.

A cada momento tudo tornava-se ainda mais intenso. O suor escorria pelos nossos corpos. O calor daquele quarto era enorme e só aumentava. O prazer?! Ah, esse era maior que o calor. Eu havia me esquecido o quão era bom ter aquela sensação, uma sensação louca que me fazia ir no céu.

Naquele momento, eu estava sentado sobre ele e apesar de ser o passivo da situação eu tinha o total controle de tudo, era eu quem ditava a velocidade do sexo e às vezes a diminuia para provocar Miguel, porém eu nunca deixava de olhá-lo nos olhos, aquilo fazia eu me sentir ainda mais conectado a ele e além do mais o olhar dele era extremamente sedutor e isso me excitava ainda mais.

Curtimos muito o corpo um do outro, matamos as saudades de todas as formas possíveis e quando tudo acabou deitamos lado a lado naquela apertada cama. As nossas respirações ainda estavam aceleradas, após um tempo em silêncio, sussurrei:

— Havia esquecido de como isso era bom.

— É tão bom te ter comigo de novo.

 Eu o beijei, todavia dessa vez não foi um beijo quente, mas sim calmo, um beijo que dizia Eu te amo.

Ficamos em silêncio por algum tempo, algumas coisas começaram a passar na minha cabeça. De repente comecei a me questionar sobre a vida sexual de Miguel e me perturbei com o fato dele já ter transado com várias pessoas.

— Ei, o que foi? Você ficou calado do nada.

— Estou pensando — respondi.

— Sobre? — quis saber Miguel.

— Nada, é besteira.

— Não, Paulo, fala. Eu fiquei curioso.

— Não… Não é nada de mais.

— Vamos, fale — insistiu.

— É que… Você já transou com tanta gente… E eu só transei contigo…

— Qual o problema disso?

— Não sei, eu só me sinto estranho por transar com um homem tão experiente e eu só ter transado com uma única pessoa na vida.

— Ei, não fique inseguro — disse pegando na minha mão — Das pessoas que transei eu só tive sentimento por duas: você e o Tobias, o resto foi só sexo, sexo sem importância, sabe? Eu estava te procurando neles, mas nunca te encontrei, quer dizer, te encontrei agora e percebi que como você, só você — completou, beijando a minha mão.

Olhei para Miguel e não disse nada, tinha achado muito bonita a forma como ele havia dito aquilo.

Diante do meu silêncio, ele propôs de forma humorada:

— Se quiser arranjo alguém pra gente fazer um ménage. Você transa com o cara e eu fico de voyeur.

— Você é muito ciumento pra isso, era capaz de você querer bater no cara.

— Ciumento? Eu nunca fui ciumento! — protestou.

— Não era eu que tinha um ciúme danado do Flávio…

— Eu tinha ciúme dele mesmo. Tudo era aí porque o padre Flávio isso, porque o padre Flávio aquilo.

— Não tinha menor necessidade desse ciúme… Eu gostava dele como padre, o admirava pelo padre que era e até o invejava um pouco…

— Sério? Você não achava ele nem bonitinho? — interrogou, rindo.

— É pra falar a verdade ou mentir? — perguntei com um leve riso no rosto.

— Você achava ele bonito não é? Achava o Flávio um gostoso, com certeza pegaria ele — disse em tom de brincadeira.

— Achava ele bonito, mas não queria nada com ele… Eu só tenho olhos para você e além do mais, o  Flávio é muito centrado na Igreja. Ali tem vocação pra dar e vender… Ele nunca iria querer nada comigo nem com ninguém.

— Paulo… Sabe de uma coisa? — questionou manhoso.

— O que?

— Eu te amo. Te amo tanto, que até sinto vergonha de achar que você poderia desejar o Flávio… Me desculpa por ser tão ciumento.

Dei um beijo em Miguel, aquela era a minha forma de dizer que aceitava as suas desculpas, mas do nada outra dúvida surgiu em minha mente, eu imediatamente finalizei o beijo e perguntei:

— Vem cá, você usou camisinha com eles né? Eu não quero pegar doença…

—  Claro que usei, só transo sem camisinha contigo, porque sei que você não tem nenhuma DST…

—  Hum…

De repente fomos interrompidos por batidas na porta.

— Merda — resmunguei.

— E agora? — sussurrou Miguel.

— Paulo, Paulo abre, por favor, estou preocupado contigo… Você não foi pras orações coletivas. Está tudo bem?

— Sim, Rafa está tudo ótimo. Espera um minuto… Eu tô me trocando.

— Se esconde — murmurei pra Miguel.

— Onde?

— Debaixo da cama.

Ele me obedeceu e eu vesti a batina sobre o meu corpo nu, depois empurrei rapidamente as outras roupas para debaixo da cama.

— Paulo, tem alguém aí como você? Eu ouvi vozes… — insistiu Rafael.

— É um rádio que o meu irmão trouxe pra mim… Espera um minuto que eu abro a porta — enrolei.

— Você demorou — disse Rafael quando eu abri a porta.

— Batinas às vezes podem ser complicadas para vestir — respondi meio sem graça.

— Posso entrar um pouco? Eu tenho uma coisa pra te contar.

— Não — rebati assustado — Vamos lá pra fora, eu quero tomar um pouco de ar fresco — completei após aquele não tão grosseiro.

Fomos caminhando silenciosamente, em direção ao jardim e quando chegamos lá sentamos debaixo de um lindo e florido flamboyant.

— Você está estranho, Paulo.

— Deve ser o calor.

— Não, eu te conheço. Está acontecendo algo.

— Eu estou normal, Rafa. Estou apenas vivendo mais um dia neste entediante e silencioso mosteiro. Inclusive, nós estamos descumprindo as regras… Imagina se o abade nos pega aqui de bate papo?

— Você está me enrolando… Alguma coisa aconteceu.

Naquele instante tive dúvidas se deveria ou não contar a Rafael sobre Miguel. Afinal, eu precisava levar em conta o sentimento de Rafael por mim, se ele ficou estranho quando viu o Ângelo e pensou que ele era o Miguel, com certeza ele ficaria ainda mais, quando soubesse que o Miguel estava ali e eu não queria de forma alguma acabar ferindo os sentimentos do meu amigo


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Notas finais do capítulo

Eita, o Paulo está numa saia justíssima. E agora? O que será que ele vai fazer?

Nesse capítulo teve um hot e eu sempre fico meio insegura quando escrevo esse tipo de cena. Então se puderem dizer o que acharam, ficarei feliz.

Vejo vocês no próximo capítulo :)



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