Conte-me uma história escrita por Chão


Capítulo 3
Capitulo 3 - O Fim




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E eu estava certo, ela quase me matou. Tá, ela me perseguiu com a sapatilha na mão por boa parte do primeiro piso do shopping. E então eu cedi e nós dois caímos no chão rindo que nem retardados. Os seguranças do shopping quase nos expulsaram? Claro, mas foi bem divertido. Por fim ela me desculpou o atraso e me bateu por não ter beijado o Vinicius.

— Às vezes a sua lerdeza ultrapassa os limites, Theus. - disse ela assim que sentamos na praça de alimentação.

— Que? Primeira vez que eu falo com o garoto, não podia simplesmente sair tacando minha boca na dele.

— Podia sim. - ela revirou os olhos. - Funciona assim, no meio do papo você olha pra ele e diz, "opa o que é isso na sua boca? Opa é a minha.".

— Você é horrível. - nós rimos.

— Passou pelo menos o seu número para ele?

— Sim, anotei no braço dele?

Isa fez exatamente aquela cara do emoji do WhatsApp, aquele com a mãozinha na cara.

— Ele pode tomar banho e apagar. Ou pode pegar uma chuva e perder. – ela suspirou de forma frustrada. - Você não sabe usar o celular, garoto?

— O celular foi à última coisa que eu pensei em pegar. - mordi uma batata. - E no braço parecia mais legal.

— Que você tenha sorte. - Isa arrumou o cabelo loiro.

— Agora eu sei o nome e onde ele malha. Não vai ser tão difícil achar-lo.

— E o Nicolas?

E uma enorme e pesada nuvem escura pairou sobre mim.

— O que tem ele?

— Tu vai terminar com ele, certo? Ou vai simplesmente esperar ele terminar?

— Eu não sei. Acho que vou conversar com ele hoje de noite.

— E?

— Eu não sei o que vai rolar garota. Sei nem o que tô sentindo.

— Você ainda o ama?

— Depende do dia e do tamanho da briga. - dei um sorriso fraco. Daqueles que você só mexe o canto da boca.

— Você tá muito ferrado. - Isa atirou uma batata em minha direção, o que me fez jogar outra nela.

Batatas voaram para todos os lados.

O bom de ter a Isa como amiga era que qualquer coisa poderia acontecer e ela daria uma solução. Menos pra problemas amorosos. Porque infelizmente ela deixou de acreditar parcialmente no amor. Motivo? Divórcio dos pais há três anos.

É, foi uma época complicada.

— Em que tu tá pensando? - perguntou ela. E só então me notei que estava encarando a outra ponta da praça de alimentação.

Nicolas caminhava em nossa direção. Uma bandeja nas mãos. Um dos fones para fora da orelha. Pele cor de café com leite reluzindo. Tá essa parte é exagero. Cabelo bagunçado e aqueles incríveis olhos cor de amêndoa.

Isa acompanhou meu olhar e lançou-me um olhar mal humorado.

— Satanás escolhe as piores horas para aparecer. - disse ela, então se virou na direção de Nicolas e deu o seu melhor sorriso falso.

— Oi estranhos. - disse ele sentando ao meu lado. E antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, seus lábios tomaram os meus em um longo e demorado selinho.

— Minha glicemia aumentou. - disse Isa.

Nick separou nossos lábios e se virou para Isa.

— E você está aqui. - disse ele com indiferença.

Pelo que vocês podem reparar, Nick odeia a Isa deste a nossa última grande, dramática e arrasadora briga.

Motivo? Essa simples frase "Você tem certeza que ele te ama? O garoto não é capaz de colocar você em primeiro lugar nunca.".

E por incrível que pareça, ela estava totalmente certa.

Em meio a esses quatro anos de namoro, eu nunca fui a primeira escolha. Desde companhia para um show à rolezinhos. Vou nem tocar na parte dos amigos, porque aí sim vocês vão dizer: "Aí meu Deus, olha como o coitado é trouxa".

Nick havia começado a contar sobre o dia dele, como sempre ele fazia. Quando Isa o interrompeu.

— Que tal você parar de fala sobre si e perguntar como foi o dia do seu namorado? Aposto que aconteceu alguma coisa bem legal, não é Theus?

Ela me encarou, o que me fez engolir minha própria saliva.

Nick bufou frustrado e olhou para mim.

— E então moh, como foi o seu lindo dia?

E nós nunca havíamos chegado a essa parte, o que me fez pensar por um longo segundo, filtrando o que devia e o que não devia falar.

— Normal. Pouco trabalho. Almoço, sono. Muito sono, mais pouco trabalho e Isa.

O pé de Isa se chocou contra o meu. Com força até demais.

Trocamos um longo e bem demorado olhar.

— E um garoto bem bonitinho veio falar comigo. - por um segundo eu achei que ele fosse ter uma crise de ciúmes e me atacar com o garfo.

— Ah, legal. - Nick deu de ombro. - Vai dar pra ele?

E essa foi a gota d'água para Isa.

— Você é idiota assim mesmo ou fez algum tipo de curso? – disse ela com o máximo de desprezo que conseguia. - Olha Theus, você até pode ser trouxa e ainda estar apaixonado por esse cara, mas eu declaro meu total nojo por ele.

E foi nesse momento que um copo de suco de laranja voou na direção de Nick e o atingiu em cheio.

Parte de mim queria rir até não poder mais. A outra parte era sensata demais para isso.

— Vai se foder, garota! - gritou Nick enquanto se levantava.

E essa pequena cena chamou a atenção de toda praça de alimentação. E a Isa? Bem, ela saiu requebrando como se nada tivesse acontecido.

DEUSA DA PORRA TODA

Nick desferiu uma série de palavrões enquanto caminhava a passos rápidos para o banheiro.

E eu fiquei. Tipo, eu devo seguir meu namorado ou minha melhor amiga?

Nenhum dos dois! Eu vou é pra minha casa. Mas infelizmente a sorte não estava do meu lado e Nick estava parado na porta do banheiro. Que ficava na mesma direção que as escadas rolantes.

— Vai me esperar ou vamos ter que terminar aqui?

— Sei lá. - olhei para meu All Star.

Nick continuou a falar, mas a única coisa que eu conseguia prestar a atenção era na estranha mancha na ponta do tênis.

— Você está me escutando? -Perguntou ele irritado.

— Sim, eu acho.

— Você acha Matheus? Você me escuta alguma vez?

— Não deveria ser eu a fazer essa pergunta? - minha voz saiu tão baixa que eu duvidei que ele tivesse ouvido.

— Como é? Eu não te escuto? Então eu faço tudo por você e ainda não é o suficiente?

— Defina esse seu "tudo por você", Nicolas. - encarei Nick nos olhos. E minha gente ele só tava faltando salivar de raiva. - Porque até aonde eu lembre, você nunca fez muita coisa por mim. Afinal, eu sempre sou sua segunda opção, não é?

— Segunda opção? Puta que pariu. - ele deu um passo para frente, e eu já conhecia essa cena.

Nick jogaria algumas coisas na minha cara, como o dia do hospital, a única festa que ele foi comigo e o dia que ele me pediu em namoro, e alguma outra coisa que ele achasse relativamente importante. Ou ele simplesmente tentaria fazer parecer que tudo era minha culpa. Então eu me sentiria mal por estamos brigando e pediria desculpas. Mas não dessa vez.

E ele jogou todos esses fatos na mesa. Mas eu não me senti mal, pelo contrário, só reforçou ainda mais minha decisão.

— Olha, você quer que eu fale todas as coisas que eu fiz por você? Porque eu posso começar agora e a gente só sai daqui amanhã. - algo queimava dentro de mim. - Você é tão egoísta que não consegue ver nada além do seu próprio nariz. Você é o maior babaca que eu pude conhecer e eu não sei como deixei essa merda ir tão longe.

As lágrimas ameaçavam a cair, mas não dessa vez.

— Faz dois anos que esse namoro virou apenas aparência.

TA ACONTECENDO.

Joguei o máximo das minhas cartas na mesa, e ver o ódio crescer dentro dele foi a melhor sensação que eu pude ter. Porque finalmente ele deveria estar sentindo a mesma coisa que eu senti por meses.

E agora tá na hora da cartada final.

— E tenta não brochar na próxima vez que for transar com alguém, nem todo mundo tem a mesma paciência e compreensão que eu.

E FOI UM GOL EXTRAORDINÁRIO.

A dor se espalhou por meu rosto. E o soco foi tão inesperado que quase me fez andar para trás.

— Vai se foder, seu lixo.

E foi nesse momento que ele cuspiu em mim e saiu caminhando.

Tá, eu não sei qual foi a pior sensação. A de ter levado um soco ou ver tudo acabar daquele jeito terrível.

Felizmente eu consigo respirar mais tranquilo. E todo o peso está começando a desaparecer.

Limpei o rosto com a barra da camiseta e caminhei devagar para fora do shopping. Eu tinha que sair de lá, estavam todos olhando para nós.

Isa estava sentada em um dos bancos na pracinha ao lado do shopping. Ela acenou para mim, mas seu sorriso desapareceu assim que notou que eu estava chorando.

— Me diz que essas lágrimas são de alegria. - disse ela me encarando. - Ou eu juro que te bato.

— Terminamos. - e essa foi à única coisa que eu disse.

Apesar de ter sido um alívio ainda estava doendo. Tipo, mesmo que seu namoro seja um lixo e seu namorado seja babaca, o término sempre doerá.

— Olha pelo lado bom. Agora você tá na pista. - Isa sorriu. - E o Vinicius vai adorar saber disso.

Revirei os olhos, enquanto limpava as lágrimas.

— Nada de macho por um tempo.

— Você que manda, chefia.

* * *

E esse foi o dia mais longo da minha vida. Terminei, levei um soco na cara, chorei feito uma criança, e não recebi nenhuma mensagem dele. Talvez a Isa estivesse certa e ele tenha perdido o meu numero de algum jeito.

É, esse foi um dia extremamente produtivo.


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Notas finais do capítulo

Oia aquele cap novo e fresquinho.
Deixa aquele comentário maroto ♥

Capitulos novos as Seg, Quarta e Sexta



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