Conte-me uma história escrita por Chão


Capítulo 13
Capitulo 13 - Sexta-feira 13


Notas iniciais do capítulo

A World Alone - Lorde
Team - Lorde

Boa leitura



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Provavelmente você já ouviu várias histórias de terror sobre sexta-feira 13. Também já deve ter assistido a franquia de filmes com este mesmo nome. E assim como eu quando criança, deve ter passado várias noites temendo pela aparição do Jason em seu quarto. Felizmente, todas essas histórias são falsas, diferente do filme de terror que estávamos vivendo nos últimos quatro meses.

O número de morte havia aumentado, passando de 4 para 7. Apesar de parecer pouca coisa, não podemos esquecer que ainda se tratam de vidas. E que essas vidas pertenciam a alguém com família, amigos e até mesmo inimigos.

Tirando o fator de que todos eram pastores de igrejas de bairro que cresceram rapidamente na vida financeira. E que cada um foi morto em um dia da semana.  Não encontramos mais nenhum padrão.

Quem diria que brincar de Scooby Doo era tão irritante  e frustrante.

Recebemos mais duas cartas todas escritas do mesmo jeito que a primeira. Na última, meu pai quase foi atropelado por um carro preto que surgiu na contramão de uma rua de mão única. Como todo adolescente em série e filmes, preferimos deixar nossos pais com o mínimo de informação possível. E claro que não contamos nada a polícia. Talvez o medo de que as ameaças fossem sérias nos impedia de cometer alguma burrice.

No meio desse tempo, sai algumas vezes com André, mas no fim decidimos continuar apenas amigos. Ele era um ótimo garoto para se conversar e disse que se algum dia eu mudasse de ideia ele estaria ali. E Vini e eu estávamos engatando em algo mais sério. E claro, eu tentava ao máximo fazer coisas idiotas para compensar toda a tensão pela qual estávamos passando.

— Tava pensando em fazer um reencontro da nossa turma. - disse enquanto olhava notícias aleatórias no Google.

— Como assim? - Vini arrastou a cadeira até parar ao meu lado.

— Tipo, o que as pessoas chamam de destino deu um jeito de fazer nós dois, antigos melhores amigos, se reencontrarem e se apaixonarem um pelo outro.

Vini me encarou com uma expressão de "Continue".

— Então por que não ver como todos estão? - fechei a guia do jornal e voltei a olhar-lo. - Precisamos fazer alguma coisa normal pra variar.

— Não. - ele gesticula com a mão e sorri. - Concordo com você. Mas qual a sua grande ideia para isso acontecer?

— Vamos até a escola, damos uma conversada com a galera da secretaria e damos um jeito de reunir o máximo de pessoas. Tipo, alguém ainda deve ser amigo de alguém, não é?

— Claro, é impossível que geral parou de se falar. - Vini segurou minha mão. Então deslizou o polegar suavemente sobre a palma.

Nos encaramos por um longo segundo, então ele sorriu e eu sorri.

— Como você consegue transformar isso em algo fácil de lidar?

— Sei lá. Eu tento ao máximo não pensar que tem um Jason lá fora querendo nos matar. Sem nem um motivo, já que você nem viu a cara dele. E também não é nenhum pregador.

— Ele é um serial killer.

— Exatamente, ele precisa de um padrão para matar, não é só ir matando como um psicopata. - Vini me encarou por um longo segundo. - Precisamos descobrir em qual padrão você se encaixa.

Revíramos a vida dele ao máximo, desde o nosso primeiro dia de amizade até o dia do assassinato. E o que encontramos? Exatamente! Nada. Nem uma pequena parte que se encaixasse nos padrões que havíamos descoberto.

— Chega! - Vini fechou o notebook com força. - Desisto.

Ele se jogou na cama, colocando os braços atras da cabeça, e encarou o teto.

— Podíamos esperar ele vir atras de mim, e aí damos uma surra nele. - disse ele sério. Então riu. - Podíamos dar uma panelada na cabeça dele.

Deitei ao seu lado. Encarei as estrelas e planetas que já haviam deixado de brilhar a muito tempo atrás.

— Panela de pressão ou frigideira?

— Frigideira pra ser mais épico. - Vini riu mais alto. - Imagina a notícia. "Jovens capturam Serial Killer usando frigideira".

— Torrada e frigideira combatendo o crime. - isto o fez rir ainda mais. E me fez rir.

Então nos viramos, ficando de frente um para o outro.

— Não devíamos fugir. - disse Vini.

— Não estamos. Estamos tentando parar esse lunático. - sorri. - E vamos conseguir.

Nos encaramos em silêncio por um tempo.

— Seus pais foram pra onde?

— Casamento de alguém. - Vini se virou, ficando de barriga para cima.

— Você deveria ter ido, distrair a cabeça com outras coisas ajuda.

— Eu já tenho a melhor distração aqui. – ele sorriu.

A luz no teto piscou.

— Acho que vai acabar a energia. - me sento. - Tem lanternas ou velas?

— Na cozinha, relaxa.

— Quando eu era criança, meu primo me trancou dentro de uma mala de viagem. Tipo, ele me trancou e foi brincar com as outras crianças.

— E o que aconteceu?

— Bem, talvez tenha sido só minha imaginação, mas tinha alguém do lado da mala. Quando anoiteceu, e cansaram de me procurar, me acharam em estado de choque dentro da mala.

— E seu primo?

— Nada, ele nem ficou de castigo. Desde aquele dia, eu odeio ele.

— Nem conheço e já odeio também.

A luz pisca novamente, e então se apaga. Lançando uma doce escuridão sobre o quarto. O filete de luz laranja atravessa por uma pequena fresta da janela.

— Lá fora tem luz. - digo olhando a silhueta de Vini ao meu lado.

— Vamos tentar dormir. Amanhã vai ser um puta dia cheio.

— Mas são só dez da noite. E a luz pode voltar daqui a pouco.

A mão de Vini pousa sobre minha coxa.

— Vem cá então. - e em um segundo lá está ele sobre mim.

Seus lábios tocam os meus de modo lento. Sua mão desliza por baixo da minha camisa, deixando um rastro ardente por onde suas unhas passam. Passo as pernas ao redor de sua cintura, puxando seu corpo para mais perto do meu.

Vini tira a camisa, ao mesmo tempo que eu tiro a minha. Sua pele quente toca a minha, fazendo meus pelos se arrepiarem. Seus lábios passam a percorrer meu corpo, a língua deslizando por sobre minha pele.

O som de vidro se quebrando o faz parar. Algo pesado parece cair ao chão lá embaixo, seguido de passos esmagando o vidro. E em um segundo estamos em pé, caminhando na ponta dos pés em direção à porta. Os dedos de Vini apertam minha mão com força. Os pelos em seu braço estão arrepiados. O suor faz seus dedos escorregarem pelos meus.

— Talvez seu pai tenha esquecido a chave. – digo em sussurro.

Vini abre a porta, deixando apenas um pequena brecha. A luz do poste lá fora recai sobre a escada, deixando um mesclado de escuridão e sombras assustadoras. Um longo minuto se passa e nenhum outro som é ouvido.

Vini abre a porta mais um pouco, colocando a cabeça para fora dela.

A luz azulada corta o ar, iluminando o rosto de Vini, o que o faz fechar a porta com força, trancando-a logo em seguida.

O som de botas pesadas se torna cada vez mais alto, até que as mesmas param do outro lado da porta. O feixe de luz passa por debaixo da porta, lançando a sombra dos pés e de alguma outra coisa.

Caminhamos lentamente para trás, até nos chocarmos contra a cama.

— Toc Toc. – diz a voz rouca. Batendo algo contra a madeira.

— Podíamos pular a janela. – sussurro. – Talvez a queda não seja fatal.

— São três metros até o chão de concreto. – os dedos de Vini se soltam dos meus. – Nada de fugir, lembra?

— Auto preservação não é vergonhoso. – murmuro.

— Não vou fugir. – diz Vini parecendo irritado.

O silêncio se instala novamente.

— Tá ouvindo alguma coisa? – Pergunto. Meu coração bate tão forte que parece ecoar no silêncio.

— Não. – Vini se afasta. Ele mexe em algo e volta. – Raquetes de tênis devem ajudar.

— Só pode ser brincadeira. – murmuro pegando a raquete.

Algo pesado se choca contra a maçaneta da porta. Esta se abre de forma lenta, deixando a luz da lanterna entrar.

Não ah ninguém ali. A lanterna esta no chão, apontada em nossa direção.

— Fica atrás de mim. – Vini se põem entre mim e a porta. Sua voz está tão rouca e grossa que quase não parece ele falando.

A luz da lanterna trêmula e então se apaga, lançando o quarto novamente em meio à escuridão.

Essa realmente é a cena mais clássica dos filmes de terror.

"Casal tava quase transando. Entra o assassino na casa. O mais frágil ou o mais bonito morre primeiro. Porque não temos nenhum loiro aqui." Poderia ser mais clichê que isso?

Algo brilha de forma forte, então se apaga. A luz se parece com flash de câmera.

— Aparece maldito! – Grita Vini.

Seus dedos tremem.

Um longo minuto se passa. A tensão se torna maior. O silêncio é tão ensurdecedor que se torna algo insuportável. Outro longo minuto. E então mais outro. O tempo se arrasta de forma lenta e dolorosa.

— Talvez ele já tenha ido. – sussurro.

— Sério? – mesmo em meio ao escuro, eu sabia que Vini estava me encarando com o semblante confuso. – Não assistindo filmes de terror e suspense o suficiente?

— Então provavelmente ele está escondido embaixo da escada. Quando descermos, ele corta nossos calcanhares e aí é o fim. Ou talvez ele esteja dentro do armário com um machado e aí já era também.

— Não sei se fico com mais medo dele ou de você. –  sussurra Vini. O que quase pareceu um grito em meio ao silêncio.

— Não podemos ficar parados. Tipo, somos presas fáceis de qualquer jeito. Nossa melhor chance é chegar na cozinha. Facas serão melhores que raquetes.

Vini ficou em silêncio. Sua respiração pesada e entrecortada era preocupante.

— Isso, precisamos chegar na cozinha.

Mas nós fizemos o caminho inverso. Ao invés de descer as escada, caminhamos para o quarto dos pais dele.

— Meu pai guarda...

A voz de Vini se perdeu no ar quando algo se jogou contra ele. Corpos rolaram pelo chão, seguidos se uma série de palavrões e gritos furiosos.

— MATHEUS, CORRE!

O grito de dor cortou o ar.

O mundo girou lentamente, e então em uma fração de segundos ele girou rápido demais. Tudo acontecendo em uma fração de segundos. O grito de Vini me tirando do estado de transe.

"O que fazer quando seu quase namorado está sendo atacado por um maluco armado.

Me lancei sobre eles, empurrando o Diabo para o lado com força. Fazendo-o sair de cima de Vini. Seu corpo rolou pelo corredor.

O líquido viscoso preenchia o chão.

— Sai daqui, ele não quer você. – Vini se levantou. – Agora!

— Eu não vou a lugar nenhum. – algo quente escorria por seu braço, melando nossas mãos agora juntas.

Vini estava ferido e eu não sabia o que fazer.

O Diabo se levantou. Sua silhueta apenas pareceu mais assustadora em meio a escuridão, e então seu rosto se iluminou. O brilho avermelhado refletia a morte. O sangue escorria em meio às luzes neon que formavam o desenho deformado em sua máscara. Xs formavam as formas costuradas nos olhos e na boca.

— Toc Toc. – ele bateu com a ponta da faca contra a parede.

— Nos deixe em paz. – coloquei toda a minha coragem em cada palavra. – Não somos quem você quer.

— Você tem razão. – ele parou. Levantou a faca na altura do rosto e a olhou. A lâmina emitiu um brilho sobrenatural. – Mas são o que eu preciso.

E então em uma fração de segundos, a dor se espalhou por meu ombro. O que me fez cair de joelhos.

Vini grita, mas sua voz parece distante. Seus passos se afastam.

As coisas começam a fica borradas. E então o som de algo rolando escada abaixo imunda minha mente.

O Diabo para em minha frente. Seu rosto se aproximando lentamente do meu. Vermelho e sombrio, carregado por um cheiro de cravo e hortelã que preenche  o ar ao meu redor. As luzes da máscara piscam, fazendo o desenho mudar de forma. Os Xs da boca se abrem, formando um sorriso macabro. Seus dedos se fecham ao redor do cabo da faca, e então ele a gira. Fazendo a dor se espalhar como fogo por baixo da minha pele.

Meu grito parece longe, quase como se não pertencesse a mim.

— Toc Toc.

— Quem bate? – o som de algo de vidro se quebrando ecoa pelo ar. – Ah, é o Super Zac.

Algo pesado caiu  sobre o chão, ao meu lado, fazendo-o tremer.

A silhueta parada na porta caminha em minha direção. Seu rosto sendo iluminado pela luz avermelhada da máscara.

Zach parou ao lado do corpo do Diabo, então o chuta repetidas vezes.

— Vi... – e então o mundo gira ao meu redor e a escuridão inunda minha mente.


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Notas finais do capítulo

Deixo aqui minhas humildes desculpas.

— Chão



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