Conte-me uma história escrita por Chão


Capítulo 12
Capítulo 12 - O Interrogatório




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A poça de sangue tornava-se cada vez maior conforme ele morria.
Seus olhos estavam fechados. O corte na lateral de seu rosto começava perto da orelha e descia até seu queixo. As cordas apertavam seus pulsos, erguidos para cima. Seu corpo balançava a alguns metros do chão.
Os olhos castanhos por trás da máscara estavam frios, sem qualquer resquício de emoção.
— Sabe. - disse ele sentando sobre uma das caixas. - Quando eu era criança, meu pai me espancou com um cabo de vassoura só porque eu não queria ler a Bíblia.
Ele olhou seu reflexo na lâmina, suja de sangue, de sua faca.
— Desde aquele dia eu percebi que a religião, ao ser usada de modo errado, transforma as pessoas em monstros cegos. - ele sorriu por baixo da máscara. - Fanáticos querendo agradar um falso deus movido a ódio e desespero.
Ele deslizou o dedo sobre a lâmina. Então a pôs sobre a caixa de madeira. Levantou-se e caminhou até o corpo do jovem rapaz.
— Os falsos pregadores merecem ser punidos. - sua máscara foi puxada para o lado, o suficiente para deixar seus lábios roçarem na orelha do rapaz. - Eu sou o Diabo e acabarei com todos vocês. Assim como acabei com o meu pai. A paz se restaurará através do caos.
Seus passos ecoaram em meio ao galpão vazio. Ele segurou a faca com força, mas então seu olhar se voltou a algo maior e mais ameaçador.
O grito ecoou quando a lâmina separou o primeiro braço do corpo. O sangue jorrou, manchando o terno azulado. O membro balançou de um lado para o outro. Enquanto o corpo pendia para a esquerda.
— Para. - os olhos desesperados do jovem rapaz encontraram os do Diabo. - Por favor.
O corpo tombou para a frente, assim que o outro braço foi arrancado, caindo com um baque surdo sobre a enorme poça de sangue.
— Parar? - a voz rouca soou com um certo tom de diversão. - Estamos apenas começando.


Matheus

O som das batidas na porta nos fez olhar em direção à ela.
— Fique aqui. - disse Vinicius se levantando.
Ele caminhou em direção à porta, pisando com apenas a parte da frente dos pés. Ele olhou em minha direção enquanto levava a mão até a maçaneta.
Algo dentro de mim se agitou. Uma mistura de ansiedade e medo. A folha com a mensagem enigmática ainda estava em minha mão, e conforme Vini girava a maçaneta, mais ela se amassava. Parei a alguns passos longe dele, apenas o suficiente para ajudar caso fosse preciso.
— Polícia. - disse a voz grossa do outro lado.
Soltei um longo suspiro de alívio, mas logo vi o mesmo desaparecer.
Parei ao lado de Vini e juntos olhamos para os policiais do lado de fora.
— Eu preciso que os dois me acompanhem até a delegacia. - disse o mesmo polícial careca do outro dia.
— Posso avisar os meus pais? - perguntou Vini descruzando os braços.
— Claro. - respondeu o policial de modo amigável. - E recomendo que você faça o mesmo.
Balanço a cabeça confirmando.

Vini e eu nos sentamos no enorme banco de madeira encostado à parede. Seus pais sentaram ao seu lado e apesar da situação, eles pareciam tranquilos demais.
— Digam a verdade. - seu pai olhou para nós dois. - E se eles fizerem perguntas pessoais, digam que só irão responder com a presença de um advogado.
Balançamos a cabeça em concordância.
Depois de uns longos minutos, nos quais eu me senti em uma série de tv, o policial careca chamou e conduziu Vini para uma sala afastada.
— Não devíamos ter demorado tanto. - disse enquanto Vini desaparecia do meu campo de visão.
— Não mesmo. - disse o pai de Vini.
A hora seguinte se passou de forma lenta. A delegacia não estava cheia, mas algo me fazia sentir um mal estar por esta ali. Talvez fosse o álcool ainda em meu organismo.
Quando minha vez chegou, eu já estava ansioso demais e quase tropecei no meu próprio pé enquanto seguia o policial até o fim do corredor.
A sala era grande, com uma enorme mesa de madeira e uma cadeira que aparentava ser confortável. A pilha de papel sobre a mesa estava desarrumada. Alguns papéis voaram assim que o policial ligou o ventilador.
— Desculpa por isso... - ele parou me encarando. Claramente esperando que eu falasse meu nome.
— Matheus. - respondi limpando as mãos na calça.
— Certo, Matheus. - ele agrupou as folhas e se sentou. - Você poderia me contar o que você e o Senhor Vinicius estavam fazendo naquela praça?
— Bem, nós estávamos conversando, como costumamos fazer.
— O que vocês ouviram naquele dia? - seus olhos castanhos me estudavam com cautela.
— Resolvemos caminhar e então ouvimos um estalo alto. Trocamos olhares, esperamos um pouco e resolvemos ir até lá ver o que tinha rolado.
— Não passou pela cabeça de vocês que ambos poderiam levar um tiro também?
— Olha, confesso que sim. - respirei fundo, soltando o ar lentamente enquanto falava. - Algumas pessoas correriam e se protegeriam ao ouvir um tiro, mas nós não somos esse tipo de pessoa.
— E que tipo de pessoas vocês dois seriam?
— Pessoas idiotas. - forcei um sorriso. - Quem corre em direção ao perigo? Tipo, sério mesmo.
— E o que vocês encontraram quando chegaram lá?
— Aquele homem caído em uma poça de sangue. - fechei os olhos, mas ao invés de ver o corpo, vi Vini aparecendo coberto de sangue. - Ele ainda estava agonizando. O Vini tentou ajudar, estacar o sangue. Mas foi tarde.
— Entendo. - o polícial juntou as mãos sobre a mesa. - O que você sabe das mortes que aconteceram recentemente?
— Nada. - COMO ASSIM NOVAS MORTES?
— O senhor acredita que você e seu amigo podem estar sob circunstâncias de perigo?
— Bem, ele viu a gente. - limpei as mãos na calça novamente. - Talvez queira vir atrás de nós e nos calar de uma vez.
O policial anotou alguma coisa em seu caderninho e me encarou.
Tentei responder às perguntas com o máximo de convicção, do jeito que Vini e eu havíamos planejado.
No final do dia estávamos livres, mas o ar ao nosso redor havia ficado pesado. Apesar de sua mão estar na minha, é como se não estivéssemos aqui.
Quando entramos no quarto dele, a primeira coisa que fizemos foi pegar o notebook e ver as notícias. Aparentemente todas as vítimas tinham entre 30 e 40 anos e eram pastores de alguma igreja. Todas as 4 pessoas, incluindo o cara da praça.
— Ou esse cara é muito burro ou ele tá super afim de deixar claro o que tá fazendo. - resmunguei.
— Não é meio óbvio? - Vini me encarou.
— Ele deixar esse padrão logo de cara? - retribuo o olhar.
— Precisamos descobrir o por que dele estar fazendo isso.
Confirmei com a cabeça.
— Mas antes de brincarmos de Sherlock Holmes, podemos só ter uma noite de sono?
— Quer dormir aqui? - ele corou.
— Vou avisar meus pais.

Havia voltado a chover do lado de fora quando acomodei minha cabeça sobre o peito nu de Vini. Sua respiração irregular era tranquilizadora. E então ele respirou fundo e soltou um longo suspiro.
— Está tudo bem. - o olhei de baixo para cima. - Eu tô aqui.
E foi nessa pequena fração de segundos que seus lábios tomaram com meus. Vini nos cobriu com a coberta e sorriu em meio ao beijo. E por um instante eu me senti em segurança. E o mundo pareceu longe demais de nós dois, deixando apenas a chuva em meio à noite escura.

•.•.•.•

Costumam dizer que a calmaria antecede uma grande tempestade.
A chuva caía com força sobre a cidade de Miríades. E em meio aos relâmpagos e trovões a morte caminhava pela rua deserta, carregando um enorme saco escuro.
Ele tratou de pendurar os membros desmembrados pelos postes da rua principal.
O sangue, agora lavado pela chuva, escorria pela máscara vermelha.
O Diabo encarou a casa branca no fim da rua. Os dedos se fechando ao redor do cabo do machado.
Ele sorriu por baixo da máscara.
— Querida, cheguei!


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Notas finais do capítulo

EAE GALERO
Espero que ceis gostem do capítulo.
Deixa aquele review marotaum
E recomenda pros abigos ae
Façam o tio feliz



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