Conte-me uma história escrita por Chão


Capítulo 1
Capitulo 1 - A piscadela




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E foi desse jeito que aconteceu.

Estava um dia com poucas nuvens, o que permitia o sol quente aparecer de vez em quando. Eu estava sem a menor vontade de ir trabalhar, o que me fez ir andando da estação de trem até o meu serviço. O percurso levava cerca de uma hora e era mais do que o tempo suficiente para eu chegar, não fazer nada e ir embora.

Estava passando em frente à minha primeira escola do primário. E era incrível como nada nela havia mudado. Os pequenos coqueiros ainda ficavam ao lado da porta de entrada para a secretaria. As barras de ferro que contornavam toda a frente da escola ainda estavam pintadas de modo colorido. E as paredes ainda eram de um bege triste. Vê-la despertou certas sensações estranhas dentro de mim. Tive vontade de entra, ver se tudo ainda estava do jeito que eu imaginava, mas algo me impediu. Como se uma força superior e misteriosa controlasse meus pés, me arrastando o mais rápido para longe dali.

Ainda lembro a sensação horrível que preencheu meu peito no dia em que minha mãe chegou e disse que eu não estudaria mais ali. Lembro-me de correr para fora de casa, até o campinho do bairro e sentar dentro do gol e chorar como nunca. Definitivamente foi um dos piores dias da minha vida.

A escola havia ficado uma quadra para trás, juntamente com a praça que ficava em frente a ela. Mas a estranha sensação continuava ali. Todos os meus pensamentos se distanciaram da musica que tocava em meu fone de ouvido e se voltaram para as lembranças dos meus melhores amigos no fundamental.

E foi ai que ele surgiu.

Os lábios estavam abertos em um sorriso travesso. A língua encostada no canto inferior dos lábios. Seus olhos eram de um castanho escuro e por uma longa fração de segundos eles encontraram os meus. E então ele deu uma piscadela que fez meu coração disparar. E isso quase me fez ter um treco. Não só pelo fato dele ser lindo de morrer. Tipo, ele realmente era extremamente, inegavelmente gato.

Ele era a mistura perfeita, uma pequena obra de arte. Seu corpo era magro, daquele tipo natural mesmo. Com músculos pequenos. O que fazia com que a regata e o short parecessem grandes demais.

Ele passou, deixando um rastro de perfume amadeirado e suor.

Virei o rosto a fim de observá-lo se afastar. E ele estava olhando de volta para mim, o que me fez voltar a olhar para frente o mais rápido que consegui. E isso resultou em risinhos por parte de três moças que estavam encostadas em uma pequena mureta. Uma delas tirou o cigarro da boca e disse algo para a amiga do lado.

Eu não sei vocês, mas passar por esse tipo de situação me fez gerar uma série de hipóteses. Será que ele piscou por que me achou bonito? Ou ele faz aquilo com frequência?

AHHHHHHHHHHHHHH, e se ele me achou feio e só ficou olhando porque estava se perguntando de onde uma aberração como eu havia fugido. Talvez ele tenha um tique no olho e saia piscando aleatoriamente por ai. Ou melhor, talvez tenha passado alguém do meu lado e ele piscou para a pessoa.

JÁ SEI! ISSO ERA UMA PEGADINHA DO SILVIO SANTOS. SÓ PODE.

"Respira Matheus, respira".

Desculpem-me. Eu sou meio paranoico com essas coisas. Apesar delas não acontecerem comigo. Para vocês terem ideia, eu nem sei como estou namorando. Tipo, eu realmente não sei.

É claro que eu contei para os meus melhores amigos o que havia rolado e levei broncas por não ter ido pedir o número dele.

Só que gente. EU NEM SEI SE O GURI ME ACHOU BONITO. Vai que eu ia falar com ele e acabava por levar um soco na cara. Eu não sei vocês, mas eu fico muito melhor sem um olho roxo.

— Amigos. – digo revirando os olhos e sorrindo feito idiota.

E agora aqui estou. Rindo que nem um retardado ao lembrar a cena.

Estou encarando as paredes brancas e cheias de desenhos e fotos que compõe meu quarto. Meu lençol e edredom estão jogados perto da parede e uma música totalmente aleatória esta tocando em meus fones. E tá chovendo lá fora, o que era mais do que esperado. Já estava fazendo sol por duas semanas seguidas.

Queria saber desenhar, assim nunca perderia a imagem do rosto dele. Apesar de que eu posso fazer um desenho de palitinho.

Mas espera aí, Matheus. Tire esses pensamentos da cachola agora, tipo, agora mesmo. Você tem namorado e isso é extremamente errado. Afinal, você o ama correto? CORRETO? Apesar de que nas últimas semanas nós demos uma boa esfriada. E não paramos de brigar. Seria esse o fim? Ou é só mais uma fase conturbada?

Não, pensar nesse garoto que eu vi aleatoriamente na rua e tenho quase certeza de que nunca mais irei ver de novo, é totalmente errado. Apagando isso.

Ahhhhhh droga, eu não consigo! Eu sou um fracasso completo.

E agora estou me revirando de um lado para o outro com esse maldito frio na barriga. E essa adrenalina que tá me fazendo querer correr pelo bairro, de novo.

EU VOU TER UM TRECO MINHA GENTE!

Bem, tentarei dormir antes que eu tenha um ataque. Só tenho que me despedir do mozão. Apesar de não estarmos nos falando direito, ainda somos namorados. Eu acho. 


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