Ela de letras, eu de amores escrita por Bruninhazinha


Capítulo 1
Único, como ela.


Notas iniciais do capítulo

Mais uma one clichêzenta sobre como o amor acontece, nada demais. Feita, como sempre, para minha musa, Ero Hime ♥

Espero que gostem!



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Assim que vi a garota de cabelo negro soube que ela não era normal.

A primeira vez foi quando ela trombou em mim no refeitório, derrubou minhas coisas e nem se desculpou. A segunda foi na sala de aula.

Eu conversava com Sasuke quando a vi atravessar a porta ostentando uma expressão séria. Caminhou até uma das cadeiras no fundo da sala, jogou a mochila no chão e sentou-se.

Não pude ver seus olhos, mas o cabelo escorria pelo ombro até a altura da cintura, suas vestes escuras variavam entre o preto e o roxo. Gótica e revoltada foram as primeiras palavras a soarem em minha mente.

— Caloura? — cochichei e meu amigo arqueou uma sobrancelha, levantando o olhar primeiro para mim, depois para ela.

— Parece que sim. — deu de ombros. — Soube que ela é prima daquele Hyuuga. Neji o nome, acho.

— O gênio?

— Esse mesmo. — falou, passando a mão pelo cabelo.

Virei a cabeça para mirá-la e ela fez o mesmo, revelando grandes globos claros e opacos como duas pérolas, ambos rodeados por uma camada generosa de lapis preto. Permanecemos assim até o momento em que a professora Kurenai adentrou a sala distribuindo sorrisos e tentando nos animar sobre o começo do ano letivo que, sinceramente, não tinha nada de animador.

Virei-me para prestar atenção, ainda sentindo olhar dela queimar em minhas costas.

Descobri que o nome dela é Hinata, conhecida também como "aquela caloura que conseguiu entrar em uma turma de literatura avançada". Nada menos que o esperado de uma Hyuuga.

O extraordinário mesmo aconteceu semanas após, quando marquei de me encontrar com Sakura para estudar. Algumas horas mais cedo mandei uma mensagem avisando que estava indo ao dormitório, por isso nem me dei o trabalho de bater na porta. Apenas abri e me deparei com o inesperado.

— O que ele está fazendo aqui? — Hinata perguntou, aparentemente infeliz, trajando um pijama de unicórnios, com o cabelo bagunçado e tentando tirar toda aquela maquiagem do rosto. Era uma combinação bizarra; me segurei para não gargalhar.

Sakura saiu rapidamente do banheiro com uma toalha enrolada na cabeça.

— Desculpa, Hina. — falou, sem jeito. — Esqueci de te avisar que ele viria aqui para estudarmos.

Fitei a Hyuuga, que fez o mesmo sentada na própria cama com um notebook entre as pernas.

— Meu nome é Naruto.

— Eu sei quem você é.

Mesmo com a máscara de indiferença, soube que era apenas um disfarce. As bochechas avermelhadas denunciaram-na.

Sentei na cama de Sakura ainda tentando não rir. A morena bufou e rolou os olhos, evitando me encarar diretamente no rosto.

Mesmo com o pijama ridículo e o rosto borrado pela maquiagem, nunca a julguei tão linda.

Com as provas bimestrais se aproximando, passei a visitar o quarto das duas mais do que realmente gostaria. Hina geralmente saia para me deixar a vontade ou então passava longas horas digitando no notebook, julguei que naquela tarde não seria muito diferente.

Bati a porta. Não foi Saky quem atendeu.

— Ela não está aqui. — soltou mecanicamente. — Saiu para resolver algo na coordenação.

— Não tem problema, eu espero. — tentei entrar, mas ela não deu passagem. Arqueei uma sobrancelha.

— Espere aqui fora.

O que?!

— Oi?

— Isso mesmo que você ouviu. — ralhou, cruzando os braços. — Não vou deixar um desconhecido entrar no meu quarto.

— Sou o melhor amigo da sua colega de quarto e venho aqui quase todo dia.

— Isso não te torna um conhecido, nem no direito de ficar entrando quando bem entender. De qualquer forma, estou ocupada e você só vai me atrapalhar.

— Como pode ter tanta certeza?

— Porque você fala muito.

Um ótimo argumento, mas eu não ia esperar do lado de fora. Não quando está fazendo uns dez graus negativos e os corredores estão sem aquecedores.

— Qual é, você vai mesmo me deixar aqui no frio? Juro que vou ficar caladinho.

Ela me fitou longamente como se pensasse, depois me deu passagem.

O cômodo continuava o mesmo de sempre, sem muito decoro ou móveis extraordinários.

Sentei-me em meio as cobertas de Saky, observando a morena sentar-se em frente ao notebook, já ligado no programa de escrita. Seus dedos eram ágeis ao digitar, ora suas sobrancelhas estreitavam, ora um pequeno e reprimido sorriso enfeitava seus lábios carnudos.

Eu só a via sorrindo nessas horas.

— O que está fazendo? — indaguei sem conter a curiosidade, inclinando-me em sua direção.

Ela me encarou. Seu olhar era vazio.

— Não é da sua conta.

— Algum trabalho?

— Você disse que ia ficar quieto.

Sorri de canto.

— Sou do tipo que mente, não sempre, mas às vezes é necessário.

— E eu sou do tipo que expulsa bisbilhoteiros do meu quarto, principalmente aberrações loiras.

— Você tem a língua muito afiada para uma garota.

Ela fez uma longa pausa, me fitando sem qualquer expressão. Sustentei o olhar com as duas sobrancelhas arqueadas.

— Você é sempre assim?

— Assim como? — perguntei, confuso.

— Assim. — apontou com o queixo em minha direção, sorrindo, venenosa. Seus olhos brilhavam em divertimento. — Irritante. Insuportável.

— Só com quem eu gosto.

Ela fechou a boca no mesmo instante, com as bochechas coradas. Gargalhei.

— Não tem graça. — replicou, enfurecida.

— Agora, falando sério... Sobre o que você tanto escreve nesse computador?

Hina estreitou o olhar como se pensasse se deveria me dizer ou não.

— Escrevo fanfics. Histórias criadas por fãs. — acho que ela percebeu que não entendi nada. — Pego personagens e um universo que já existe e crio histórias com eles.

— E você é fã do que?

— Você vai rir.

— Não, não vou.

— Akatsuki.

— Akatsuki? — questionei, piscando uma, duas, três vezes. — A banda? Aquela formada por caras bizarros que vestem capas com nuvens vermelhas?

— Exatamente.

Fiquei sinceramente surpreso. A Akatsuki, apesar de não ser muito conhecida, é uma banda legal, mas não imaginava que Hinata Hyuuga poderia gostar tanto ao ponto de criar histórias com os membros do grupo.

Além disso, uma pergunta ainda pairava no ar.

— Que tipo de história?

Novamente, estreitou o olhar, dessa vez fitando a cômoda isolada atrás da porta como se buscasse fugir de mim.

— Romance.

Eu disse que não ia rir, mas foi impossível diante da informação jogada em meu colo. Ela bufou.

— Eu disse que você ia rir.

— Desculpa. — tentei falar, sem fôlego por conta da gargalhada. — Você é realmente uma pessoa surpreendente. Sério, eu preciso ler isso. — consegui ser rápido; em meio aos seus protestos, me inclinei e retirei o notebook da escrivaninha. Hina quase voou em meu pescoço.

— O que pensa que está fazendo? — questionou depois que consegui afastá-la com os braços.

— Lendo.

— Eu não disse que deixava. — murmurou, sentando-se ao meu lado, desistindo de lutar; comecei a ler, olhando-a entre os parágrafos. Seus olhos estavam sobre mim, provavelmente buscando por qualquer reação como se minha opinião fosse realmente importante. — Só para deixar bem claro, não sou uma depravada.

— Escrever fanfics gays e picantes não te torna depravada. — falei, reprimindo uma risada. — Só estranha, não que você já não seja.

Ela gargalhou; foi a primeira vez que sorriu tão abertamente para mim.

Desejei que esse momento durasse para sempre.

Após um tempo, Hinata parou de se incomodar com minhas visitas, agora nem sempre feitas para estudar. Eu aparecia propositalmente quando Sakura não estava. Era divertido vê-la me chamar de idiota por surgir tão repentinamente e sem aviso prévio, com as bochechas coradas e os olhos fixos em um ponto do chão.

Então eu ria, ela me deixava entrar e passávamos a tarde inteira sentados na cama bagunçada de Sakura, lendo suas fanfics estranhas.

Ela colava a lateral dos nossos corpos, repousando o notebook entre as nossas pernas e me deixava mexer em seu cabelo. Cheirava a hortênsias. Sabonete. Chocolate com menta. Um dia perguntei se gostava de chocolate com menta e me respondeu que sim.

Também perguntei qual sua cor favorita.

— Azul, mas não qualquer azul. — respondeu, desviando o olhar, envergonhada. — Azul como seus olhos.

Quando me dei conta, estava perguntando sobre seus sonhos. Sobre sua vida, seus medos. Passamos uma madrugada conversando. Sakura nos mandou calar a boca várias vezes porque precisava dormir já que teria prova no dia seguinte, mas limitávamos a rir e continuamos com nossas perguntas.

Nesse dia, eu só pensava em como era reconfortante o toque eventual de nossas mãos e o brilho alegre em seu olhar.

Assim que vi Hinata soube que ela tinha algo de anormal, mas nunca imaginei que um dia ela me faria sentir coisas anormais. Quando a beijei pela primeira vez, percebi que amava não só sua escrita, como também todos os seus detalhes, esquisitices, defeitos e manias.

Vi todos os seus sorrisos bobos, olhares discretos e gestos delicados.

Só não vi quando me apaixonei.


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