oito cenas e um prólogo escrita por Salow


Capítulo 1
8/1


Notas iniciais do capítulo

GIULA, HERE IT IS!!! Foi bem doloroso parir isso, então é bom que eu pelo menos consiga um sorrisinho na tua cara rs
Enjoy~~



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Sempre tentou convencer o pai a assistir Cats. Estava escuro e silencioso. Stiles ainda ouvia alguns cochichos, algumas risadas, mas simplesmente não conseguia dar atenção. Algumas luzes espalhadas impediam a penumbra total — essas também se apagaram quando as cortinas se abriram mais uma vez. Stiles ficava sempre na ponta da poltrona, agarrava o tecido do encosto da frente e nem notava caso quem quer estivesse sentado lhe desse um olhar de soslaio.

Era sempre o melhor momento. O início. O tecido vermelho — era sempre vermelho — sumia nas laterais e o palco se iluminava. A história surgir acompanhada de toda sua imprevisibilidade lhe dava um frio na barriga. Iria rir e repetir a piada para seu pai sempre que pudesse? Iria chorar e esconder os olhos molhados até as luzes se acenderem de novo? Murmuraria as canções no banho e dançaria sozinho?

Num segundo considerava tudo e, no outro, não precisou mais. Seu olhar brilhava e passava rápido pelos dançarinos e cantores. Não se sentia mais em um teatro, estaria onde quer que fosse a nova história.

Quando Grizabella cantou o último verso, e mais uma vez as cortinas se fecharam, Stiles com certeza foi quem aplaudiu com mais afinco. O primeiro ato havia acabado.

 

 

— Tá bem, gente, foi ótimo! — No canto do palco, Stiles forçou a voz acima do burburinho. Deixou a prancheta de lado e olhou bem para todo mundo. — Sarah, mesmo problema de antes, você tá um pouco atrasada no primeiro número. — Apontou para um loirinho cabisbaixo e sorri. — Lucas, eu quero mais energia de você!

Lucas se sobressaltou e pareceu encolher ao receber alguns olhares. Stiles quase se sentiu culpado por chamar a atenção dele na frente de todo mundo, mas ele precisava aprender a lidar com os holofotes, não é? Ao menos, é para isso que muitos costumavam entrar no clube de teatro — Stiles não, ele simplesmente gastou toda sua infância assistindo musicais, filmes e peças de teatro. Produzi-las era diferente e, até certo ponto, melhor. Ter feito parte da plateia anteriormente só aumentava o seu gosto em receber aplausos no fim de cada espetáculo. Não lembrava exatamente de quando decidiu participar do clube, pareceu algo natural, certo e ele tinha quase certeza de que sua inscrição foi precedida de um por que não?

— Mesmo horário amanhã?

Aos poucos, o palco foi se esvaziando. Stiles recolheu sua prancheta mais uma vez e andou de um lado pro outro, no palco. Parecia concentradíssimo em algo no teto e mal notou que Lucas caminhava decidido em sua direção.

— Não acredito que ainda não mandaram consertar isso! — Apontou para os holofotes superiores. — O Sr. Ridley me prometeu isso pra semana passada.

Lucas reagiu confuso por alguns momentos e sua expressão decidida sumiu logo em seguida. Encarou o equipamento junto do outro garoto e balançou a cabeça devagar, concordando sem pensar.

— Queria falar alguma coisa? — Stiles recolheu sua mochila do chão e desceu as escadas do palco, apressado. Lucas abriu a boca. — Mas pode esperar, né?

Lucas fechou a boca e Stiles fez um legal com as mãos enquanto seguia na direção da saída.

 

 

— Não, Stiles, o diretor não está fugindo de você, tenho certeza de que ele vai garantir que o auditório fique pronto até a apresentação. Ele já terminou o expediente! — A voz de Mirian, a secretária, soou entediada e como se estivesse repetindo aquilo pela milésima vez.

— Você disse isso da última vez. — Stiles estreitou os olhos e encarou a mulher, mas sua atenção foi desviada quando sentiu seu celular vibrar.

— Sim, dois dias atrás, ele ainda... — Talvez fosse uma boa desculpa, mas Stiles tinha quase certeza de que já havia ouvido. Murmurou um okay enquanto conferia a mensagem e voltou para o corredor (estranhamente vazio para o horário). Era do Scott.

“Você vai pra festa, não é?”

“Uhh…festa?”

Um print de um evento do Facebook surgiu na conversa junto de vários emojis sorridentes. Aparentemente uma ingênua casa foi deixada sem adultos responsáveis e todo mundo queria aproveitar a oportunidade.

“Não tenho certeza? Fiquei de revisar o roteiro, o elenco sugeriu algumas coisas...”

Stiles não tinha que revisar o roteiro e o elenco não tinha sugerido nada. Ultimamente, se sentia um pouco desanimado de sair com Scott, talvez porque de repente todo mundo o tivesse notado enquanto Stilinski continuava no anonimato. Ou melhor, na indiferença.

Não que ele externasse isso de alguma maneira ou sequer aceitasse essa possibilidade, mas agarrava algumas poucas oportunidades de usar desculpas não tão inacreditáveis.

Emojis chorosos subiram pela tela do smartphone. Stiles estava esperando alguma mensagem com palavras reais quando sentiu alguém esbarrar no seu ombro. Se equilibrou o menos espalhafatosamente que conseguiu enquanto gritava pro fujão olhar por onde anda.

Estava perto da saída e percebeu que sua voz não seria ouvida já que uma multidão enorme se juntava no estacionamento, rindo e gritando palavras que ele não compreendia ainda pela distância.

Naturalmente, seu rosto foi tomado por uma expressão de curiosidade. Se aproximou com passos longos e se meteu no meio do alvoroço. Seus braços magrelos não o levaram pra muito longe, mas agora compreendia os gritos mais claramente. Com certeza era uma briga e a plateia parecia saber com bastante propriedade os movimentos que os lutadores deveriam usar.

Milagrosamente, após se forçar por entre alguns braços, acabou dando de cara com a cena. Infelizmente (?), perdeu boa parte da ação. Eram dois garotos engalfinhados enquanto trocavam socos. Ou melhor, um deles recebia com bastante vontade enquanto o outro fazia a maior parte do trabalho.

— Derek, já chega! — Stiles tinha quase certeza de que era o professor de história segurando o garoto raivoso. Não parecia se sair muito bem na tarefa, já que era um tanto magrelo e ainda não conseguiu impedir Derek de socar o outro algumas vezes. — Eu disse já chega!

O professor se meteu entre os dois e conseguiu finalizar a briga, aparentemente. Enquanto Derek olhava ao redor, com raiva, o outro se deixou cair ao chão e levou as mãos ao rosto.

— Todo mundo pra casa, não tem mais nada pra ver aqui! — O professor, ainda entre os dois garotos, grita para a multidão. Stiles ouve alguns sons entediados e vê que a maioria segue a ordem.

Não iria fazer o mesmo, mas mudou de ideia quando Derek, enquanto encarava os curiosos, parou no seu rosto. Stiles já o tinha visto pela escola, conhecia um pouco da sua família, os Hale. Seu pai dizia que eram gente decente, talvez um pouco estranhos por morar no meio da mata, mas isso não significa que não sejam boas pessoas. Não lembrou de nada disso, via apenas fúria no olhar do outro e a única coisa que tinha certeza foi que se distanciar era a melhor opção.

  

  

Stiles remexia a perna, impaciente. Mirian tinha dado uma desculpa qualquer, mas dessa vez ele decidiu esperar para ver. O diretor Ridley não iria escapar dessa vez.

— Qual é, faz tipo uma hora que eu tô aqui! — Reagiu automaticamente quando a secretária lançou um olhar de poucos amigos.

— Faz quinze minutos e…

Os dois se calaram e se viraram para a porta que se abria. Uma mulher alta apareceu, suspirava pesado e tinha uma expressão séria. Stiles reconheceu de cara quem vinha logo atrás dela. Dessa vez, Derek parecia mais calmo — talvez contido.

Nenhum dos Hale deu atenção para Stiles, mesmo quando ele passou apressado por eles e seguiu para a sala do diretor, finalmente livre. Ridley levantou o olhar de alguns papéis em sua mesa e encarou o garoto. Sorriu, mas não parecia inteiramente feliz.

— Antes que você comece a falar, gostaria de dizer que Mirian me informou que você esteve aqui. — Ridley começou antes que o outro consiga. — Todas as várias, várias vezes. Só preciso de mais algum tempo, a escola tem várias preocupações.

— Diretor, temos a apresentação marcada para daqui a um mês e infelizmente não vou mais poder continuar com as visitar com tanta frequência. — Stiles se sentou na ponta da cadeira e apoiou os cotovelos na mesa. Juntou as duas mãos enquanto faz seu pedido. — Não são só os holofotes, aquilo vai precisar de uma reforma logo!

— Até o fim da semana, sim? — O diretor voltou o olhar para os papéis a sua frente.

Stiles pensou em responder, mas sabia que Ridley não iria escutar, reconheceu o hábito imediatamente.

Antes que ele se levantasse, a porta se abriu mais uma vez. Derek entrou na sala sem falar uma palavra, foi até o sofá no canto e pegou sua mochila. Stiles seguiu ele com o olhar, mas quem falou foi o diretor.

— Derek, acho que mudei de ideia sobre aquela suspensão.

Stiles se sentia esquisito. Normalmente o auditório era completamente barulhento durantes os ensaios ou então totalmente silencioso quando ficava sozinho. Aquele era um meio termo estranho. Sua voz, enquanto explicava, para Derek, cada um dos problemas que Ridley negligenciou, parecia tão menor. Principalmente porque não recebia qualquer resposta.

— Você realmente acha que pode dar um jeito nisso ou o diretor só te mandou aqui pra matar dois coelhos com uma cajadada? — Stiles se virou para o outro e o encarou. Estreitava os olhos de leve.

Estavam os dois nas coxias e Derek continuava calmo. Deveria usar calmo para descrevê-lo? Introvertido, talvez. Mesmo assim, poderia jurar que continuava pronto para socar alguém a qualquer instante. Stiles queria ter certeza que não fosse o próximo, então mantinha uma distância relativamente segura. Ou pelo menos uma que garantisse certa vantagem caso tivesse que fugir.

— Ele disse que caso eu não consiga, vou ter que cumprir detenção de qualquer modo, então. — Revirou os olhos, os braços ainda cruzados.

Mesmo que não comentasse coisa alguma e nem parecesse ter prestado muita atenção, Derek perguntava algumas coisas em certos momentos. Ao menos estava acompanhando. Com uma única frase, conseguiu deixar Stiles inseguro da interpretação. Nem conhecia o garoto, afinal — além de que, até agora, só sabia que ele gostava de socar outras pessoas e fazer cenas em estacionamentos. Ao refletir um pouco, não parecia bem a melhor escolha de encarregado do seu auditório.

Provavelmente não deveria estar usando esse termo, mas aparentemente ninguém mais ligava para aquele lugar!

— Qual é a da atitude? — Continuaram seguindo pelos bastidores.

— Que atitude? — Stiles ouvia os passos lentos contra a madeira atrás de si.

— Você sabe. — Ainda caminhando, encarou Derek por cima de ombro e fingiu um rosnado enquanto socava o ar. — Essa pose de bad boy.

— Eu não tenho pose de nada. — Derek pronunciou as palavras mais pausadamente, como se o outro fosse ter algum problema para entender. — O Jared é um completo babaca e mereceu o que ganhou.

— Jared…? Ah, eu não o reconheci com a cara totalmente destruída. — Stiles devia lembrar de seguir seus próprios planos. Durante os segundos de silêncio que se seguiram, considerou seriamente que terminaria igualzinho ao Jared.

— Você não precisava estar lá para reconhecer ninguém. — Derek alcançou o passo do outro. — E eu só preciso estar aqui pra te ajudar com esse… troço abandonado. Não temos que conversar.

Foi uma reação melhor do que Stiles esperava.

— Mesmo horário amanhã?

  

   

Derek realmente cumpriu a promessa. Aparecia todos os dias depois dos ensaios e trabalhava sem muitas palavras. Stiles o acompanhava como o diretor o pediu para fazer. Levava algum livro ou dever de casa para diminuir o tédio.

Stiles não havia mentido para Ridley, o lugar realmente precisaria de uma reforma logo. Começaram pelos holofotes e Derek explicou os problemas da fiação, mesmo que o outro apenas fingisse que entendia. Uma semana depois, já estavam passando para as cortinas, alguma coisa emperrava os puxadores.

— Esse auditório não faz o menor sentido… — Derek resmungou, pensando alto.

— Eu sei! O Ridley provavelmente odeia artes e prefere desviar os recursos direto pro time de lacrosse. — Stiles, no canto do palco, respondeu enquanto fechava o livro de química.

Derek deixou a cabeça cair de leve para poder encarar o garoto que sorria.

— O time tem bem mais gente interessada, imagino. — Dessa vez, seu tom de voz foi normal. — Além de que eles ganham alguns campeonatos.

— Isso aqui ficou lotado na nossa última apresentação, muito obrigado! — Não era comum alguém defender o time de lacrosse dentro daquele auditório. Que blasfêmia!

Derek soltou uma risada.

— Tenho certeza que ficou!

Stiles estreitou os olhos.

— O quê? Você não acredita? — Levantou-se e caminhou até Derek, encontrou ele ainda rindo.

— Vai me dizer que tem um grande público fã de musicais em Beacon Hills?

Stiles cruzou os braços.

— Temos um público fiel, sim. — Balançava a cabeça enquanto falava. — Quando fizemos Grease, todo mundo cantou junto.

— … Grease?

Os dois ficaram calados. Derek forçava uma das cordas próxima das cortinas, mas ela não se movia do lugar. Stiles simplesmente o encarava confuso ao tentar decifrar o rosto do outro.

— Grease, 1978, John Travolta, Olivia Newton-John? — Tentou, mas Derek reagiu como se ainda não conhecesse. — You’re the one that i want?

— Isso é algum tipo de cantada de musical? — Derek estreitou os olhos, largou a corda e encarou o outro. — Parece inapropriado e…

— O QUÊ?! — Stiles gaguejou e deu alguns passos pra trás, na defensiva. — Isso nem faria sentido!

— Foi uma piada. — Voltou a forçar a corda. — Cê sabe, sobre todo mundo achar que quem gosta de musicais é viado.

— … Tá. — Stiles revirou os olhos e deu as costas pro outro, voltaria para o seu livro. Química parecia mais interessante que isso.

— Quer dizer… vocês não… esquece! — Derek não costumava se sentir mal por falar besteira, mas as maneiras de contornar o que tinha dito estavam vindo automaticamente. Nenhuma parecia convincente o suficiente. — Não, nunca vi Grease, não faço ideia do que seja.

Stiles já estava de volta ao palco, mas se voltou para Derek. No seu rosto, um grande sorriso de quem tinha muita coisa para falar.

   

   

Derek era um bom ouvinte. Não por simplesmente ficar calado enquanto Stiles avançava em seu monólogo sobre a história dos musicais — ele fez isso quando foi apresentado ao auditório e Stiles tinha certeza de que metade do tempo ele estava contando os minutos para ir embora. Mas sim por realmente demonstrar interesse, algo que Stiles não recebia a algum tempo. Não conseguia evitar rir de algumas perguntas, mesmo que fossem dúvidas legítimas. Outras eram só sem sentido, como não entender porque o remake de Rocky Horror Picture Show não era tão bom quanto o original.

— Os figurinos são bem melhores e os vocais também. — Derek assistia, sempre sério, os vídeos que Stiles exibia no celular.

— Mas não é só isso que importa! — Stiles levava a conversa bem a sério. — Eles não tem o Carisma, nem estão quebrando regra nenhuma como o original fez. É uma boa homenagem, mas só isso.

Em algumas questões, eles simplesmente não concordavam. Era a penúltima sexta-feira antes da estreia quando Stiles decidiu tomar uma atitude.

— Vem, senta aqui. — Stiles trazia seu notebook consigo, deixou ele numa cadeira a sua frente e sentou na primeira fila da plateia.

— Finalmente vai desistir de tagarelar e me mostrar algum filme? — Derek se divertia com a ideia enquanto descia do palco. — Não tinha um projetor aqui?

— Sim, mas também não está mais entre nós. — Stiles deu de ombros. — A gente pode começar com algo atual para que você não desista.

Começaram com La La Land. Stiles tentava se controlar, mas tinha a necessidade de apontar as referências. Tentava fazer apenas rápidos comentários, mas explicar quem era Gene Kelly parecia importante para a ocasião.

— O que foi? Não gostou? — Após os créditos, Stiles encarou o outro. Não compreendia a expressão em seu rosto.

— Não é isso. — Coçou a cabeça. — Eles não terminarem juntos foi maldoso.

— Que fofo. — Stiles sorriu. — Você tem sentimentos.

Derek o encarou, mas Stiles continuou olhando para a tela. Sentia o olhar do outro em cima de si e parecia pesado. Engoliu em seco.

— Chicago? — Stiles imaginou que uma história sobre assassinas de maridos fosse quebrar o clima.

Derek apenas confirmou com a cabeça. Nenhum dos dois continuou com os comentários, mas Stiles ainda sentia os olhares.

   

    

— Mas você é o meu melhor amigo! — Scott insistia enquanto encarava um Stiles esparramado na cama.

— Só falta uma semana pra apresentação, tenho muita coisa na cabeça… — Jogou a mão sobre a testa num trejeito exagerado.

— Vamos, a gente tem sempre que apoiar um ao outro. — Scott remexeu o corpo preguiçoso do outro. — A Lydia vai estar lá com a Allison…

Scott se animou quando Stiles reagiu surpreso. A dedução do amigo, obviamente, foi que ele estava tão cheio de trabalho e dever de casa que nem considerou a possibilidade da Lydia também ir. A verdade é que Stiles considerava muitas outras possibilidades bem mais rápido do que Scott conseguia imaginar.

— Claro que vão… — Falou devagar. — Todo mundo vai, você mesmo disse, né?

Scott balançou a cabeça rápido e, no segundo seguinte, observou o amigo pular da cama. Quinze minutos depois, estava pronto para ir.

Não conseguiram estacionar com o jipe perto da casa. Aparentemente não era exagero e todo mundo realmente estava lá. Caminharam algumas quadras e conseguiram se espremer para dentro da festa.

Scott estava animado com todo mundo dançando, bebendo e se pegando, mesmo que estivesse atento para encontrar Allison. Stiles estava atento igual ao amigo, embora chamasse bem mais atenção com seus movimentos de dança.

Derek não estava em nenhum lugar a vista. Ele provavelmente era desses que se atrasava levemente para acharem que ele não se importava.

— É, ele com certeza faz isso.

— Falou alguma coisa, Stiles?

— Quê? Anh, nada!

Não soube bem quando começou a beber, mas em algum momento conseguiu um gosto amargo na boca, uma mancha na camiseta e um copo cheio de um líquido de aspecto duvidoso. Pouco depois, ouviu Allison chamando Scott. A voz dela parecia perto e tinha certeza que Lydia estaria junto. Se perdeu no meio dos bêbados antes que tivessem a chance de vê-lo.

Saiu para o terraço e o encontrou razoavelmente vazio. Alguns casais que preferiam ter certa privacidade e encontraram os quartos ocupados estavam ali. Provavelmente se tivesse uma piscina, estariam por ali, mas era apenas um quintal pequeno e mal iluminado ligado ao terraço por uma escada. Se encostou no parapeito e bebericou o líquido estranho. Não era tão ruim, afinal.

Ficou lá por algum tempo. Antes de voltar para dentro da casa, olhou o relógio de pulso. Havia passado um pouco da meia-noite. Suspirou derrotado, mas seu rosto se iluminou quando notou Derek próximo da escada. Estava usando uma jaqueta de couro que confirmava sua atitude de bad boy com bastante êxito. Ele sempre usou calças tão apertadas? Stiles não tinha certeza, mas encarou por alguns longos segundos para refrescar a memória.

— Realmente, são bem apertadas.

Demorou um pouco a notar o garoto perto dele. Viu as costas dele, percebeu que ele não usava casacos de couro, não tinha um lindo cabelo escuro e muito menos uma bundinha redonda.

Os dois conversavam animados. Talvez animados demais. Talvez próximos demais.

— Definitivamente próximos demais.

Stiles seguiu direto para a saída, a noite não tinha saído nada como esperava que fosse, mas ainda poderia voltar não tão tarde para casa e abraçar seu travesseiro.

— Minha única companhia confiável.

— Por que você tá falando sozinho? — Derek surgiu do seu lado, tinha uma expressão divertida no rosto. — Podia ter ao menos me respondido, tô te chamando desde que você saiu da festa.

— São pensamentos altos. — Stiles continuou andando pela calçada, mas não tinha certeza se era a direção correta. — Você é quem claramente não estava falando sozinho.

— O que…? — Derek iniciou a frase, mas desistiu quando viu o outro garoto se distanciar apressado. — Pra onde você tá indo?

— Jipe. Casa. — Continuou andando até ser puxado pelo pulso. Não encarou o outro, apenas puxou o braço de volta. Não teve resultados.

— Você não vai dirigir nesse estado, Stiles. — Derek não precisava se esforçar para segurar o garoto no lugar.

— Claro que vai. Vou. — Continuou tentando se soltar. — Por que você se importa?

— Eu não… Eu só… — Suspirou. — Não parece certo deixar um amigo bêbado e sozinho.

— Então é isso? Eu sou seu bêbado agora? — Encarou o outro, finalmente.

— Quê?

— Um amigo! Eu sou seu amigo? — Stiles perguntou irritado.

Derek iria gaguejar caso respondesse imediatamente e ele não sabia lidar com isso, então apenas aproveitou alguns segundos de silêncio.

— Bem, claro. Como não seríamos amigos? — Derek soltou uma risada. — Não que não fosse melhor do que servir de faz-tudo, mas você me obrigou a fazer uma maratona de musicais.

— Não estou te obrigando a nada agora, você já pode me soltar. — Balançou não só o braço, mas o corpo todo dessa vez. — E voltar para o seu outro amigo!

— Ah. — Derek reagiu como se tudo fizesse sentido de repente. — É sobre isso então? Aquele é só o meu primo Miguel.

— Miguel?

— Miguel, meu primo.

— Isso é uma mentira? — Stiles estreitou os olhos. — Parece uma mentira que eu contaria.

— A gente pode voltar e eu te apresento ele, se quiser. — Derek afrouxou o aperto quando viu o outro mais calmo.

— Eu não quero voltar. — Stiles ainda ouvia o som da festa.

— Posso te levar para casa, amanhã você vem buscar seu jipe. — Derek largou Stiles e avançou alguns passos na direção que ele seguia, mas não foi acompanhado. — O quê?

— Também não quero ir.

Derek olhou para um lado da rua, depois para o outro. Sentou-se no meio fio. Logo depois, Stiles fez o mesmo.

— Você não costuma beber, né? Imagino que amanhã vai se odiar por ter agido assim.

— Você está certo. — Stiles balançou a cabeça várias vezes, concordando. — Mas se já sei que vou me arrepender, posso fazer uma última besteira.

Derek viu todos os movimentos desajeitados de Stilinski enquanto o rosto deles se aproximava cada vez mais. Havia bebido um pouco, mas sua garganta insistiu em secar quando sentiu a respiração do outro tocar sua pele. Por um lado, parecia que havia esperado isso durante um bom tempo, por outro, só desejava que quando ele acordasse sóbrio, não o acusasse de assédio.

Derek não soube se ficou aliviado ou decepcionado quando Stiles deixou a cabeça cair em cima do seu ombro e adormeceu, roncando audivelmente.

Mais tarde, um Scott confuso observou seu amigo sendo carregado nos ombros por Derek Hale.

   

   

Stiles não se sentia nervoso com uma apresentação em muito tempo. Estava tudo pronto, todos os atores estavam se aquecendo nos bastidores enquanto ele tentava secar o suor das mãos sem sucesso. Até o Lucas estava lá e parecia animado.

Sabia que não deveria, mas espiou a plateia por entre as cortinas mesmo assim. Estava cheio, sim. Viu seu pai, Lydian, Allison, até Scott. Derek não. Não haviam se falado desde a festa, ele não teria motivo para estar ali hoje.

— Bem melhor, Lucas! — Voltou para as coxias e esperou os últimos minutos antes das cortinas se abrirem.

— Você fez um ótimo trabalho. — Stiles se assustou quando ouviu a voz de Derek perto do seu rosto. — Não deveria estar tão desanimado.

— Não estou desanimado. — Sentia um frio na barriga familiar. Olhou para os atores que começavam o primeiro número. — Só nervoso, quero que tudo acabe bem.

— Você muda de assunto muito rápido.

Stiles riu de leve antes de sentir uma mão firme segurando seu rosto. Não reagiu imediatamente ao beijo, mas o alívio de finalmente conseguir o que queria, mesmo sem admitir exatamente, era maior do que a timidez.

Não precisava de aplausos dessa vez, Stiles sabia que aquele era o melhor começo de todos.


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Notas finais do capítulo

TÁ ENTREGUE! kisses kisses