Lua Nova: Outros Caminhos escrita por Sarah Lee


Capítulo 8
23. Início


Notas iniciais do capítulo

Oie queridxx!
Primeiramente desculpe pelo atraso, eu sei que o cap deveria ter saído ontem, mas houve alguns imprevistos ヽ(T▽T)ノ Porém! Prometo que vocês não ficarão desapontados com esse cap, pois afinal esse será o ultimo! :O
Guardarei meus choros e explicações para as notas do prox cap, então bom leitura ♥ (não se esqueçam de conferir as notas ein!).



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/754584/chapter/8

A reação foi instantânea, assim que eu encostei na pele de porcelana da vampira, ela começou a se contorcer de dor, se jogando para trás em um movimento automático, tentando me acertar com uma cotovelada. Por pouco eu consegui desviar, e agora ela não era mais um problema, se tudo que Paul disse sobre o musgo for verdade. Victoria estava caída de costas na grama, tentando desesperadamente limpar o rosto com a água da chuva. Eu consegui me afastar no meio da confusão, me arrastei para o corpo de Paul e observava espantada o poder de destruição da natureza.

Senti o lobo se mexer nas minhas costas e me virei rapidamente. Ele ainda não estava morto, mas não tinha nada que eu pudesse fazer, minhas mãos tremiam e a ferida estava tão cheia de sangue, que eu me sentia completamente incapaz agora. E isso me destruía por dentro.

— Desculpe... – Murmurei enquanto encostava minha cabeça no corpo dele, parece que essa palavra não era o suficiente para expressar o quanto eu sentia de verdade. Mas eu não conseguia parar de usá-la.

O lobo suspirou, um suspiro pesado de quem estava perdendo as forças. Já não me restavam mais esperanças. A vampira continuava gritando atrás de mim, de alguma forma ela conseguiu tirar parte do musgo de seu rosto, e quando ela abriu os olhos. Eles estavam brancos. Victoria estava cega, seu rosto estava com pontos vermelhos de aparência dolorosa, com uma expressão anestesiada. Suas mãos estavam com as mesmas feridas vermelhas, eram queimaduras.

— Onde você está garota!? – Ela gritou furiosa no chão, enquanto atacava inutilmente o ar na sua frente, com a esperança de conseguir de alguma forma me acertar. Mas ela estava acabada, era praticamente inofensiva. Um choro fraco começou a sair de sua garganta enquanto ela tentava, de forma desajeitada, se levantar. Ela era digna de pena agora.

— Você perdeu Victoria – disse baixo, mas tendo certeza que ela me ouviu muito bem. Contudo não conseguia me sentir vitoriosa de maneira alguma, aliás, sentia como se fosse eu a perdedora.

— Quando eu te pegar...! – Ela gritou novamente, mas foi interrompida. Quando uma pata negra gigantesca pisou em seu tórax, a colocando de volta no chão e retirando sua fala.

Os lobos haviam finalmente chegado, imponentes e furiosos com a cena que encontraram, me deixando paralisada de surpresa ao lado do lobisomem. Queria gritar para que ajudassem Paul, que nos tirassem daqui, mas o pânico crescente não me deixava falar. Não me deixava respirar.

— Bella! – gritou Jacob se aproximando, ele saiu de trás de Sam, cuja forma de lobo escondia os outros. Ele arrumava o short na cintura e estava ofegante quando chegou ao meu lado – Você está bem!? – Seus olhos eram o mais puro terror, negros de tanto desespero. Seu coração estava incrivelmente acelerado, e eu podia senti-lo claramente quando Jacob finalmente me abraçou. Só então eu percebi o quanto eu estava com frio.

Não senti alívio em sua voz quando ele constatou que eu estava “bem”, eu queria dizer para que parasse de se preocupar comigo, já que era Paul que estava praticamente morrendo, mas a única coisa que escapava dos meus lábios era um murmúrio fraco. Enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto, se perdendo na chuva forte, eu desejava com todas as forças que tudo acabasse bem. Eu não queria acreditar ainda que Paul poderia morrer, me agarrava com força nos braços de Jacob e me esforçava para não olhar para trás e encarar a verdade.

Eu finalmente desisti quando vi Embry e Jared se aproximando do amigo, os garotos em sua forma humana, estava igualmente aterrorizados. Eles agarraram o corpo do Lobo caído, e saíram em disparada pela floresta. Eu apenas consegui ver a mão caída de Paul por trás dos grandes corpos deles. Eu olhei para frente novamente, e vi que Sam continuava em sua poderosa forma animal, com os dentes afiados, enquanto segurava Victoria no chão. Ela se contorcia e tentava escapar, Mas Sam não deixaria. Ele parecia estar se divertindo em vê-la assim, provavelmente uma vingança pelo amigo.

Sam aproximou lentamente sua boca mortal do rosto de Victoria, e eu me forcei a olhar para o outro lado. Quando eu percebi o rastro de sangue, que foi deixado pelo Paul como uma trilha pelo campo, eu desmaiei.

Acordei atordoada, não sabia onde estava, mas definitivamente não era na casa dos peixes, o gelado da chuva não estava mais presente, mas seu barulho soava alto por fora da janela. Demorei a recobrar a visão, os pontos pretos que eu via desapareceram aos poucos e eu senti que poderia me levantar. Senti errado. Quando eu tentei, uma grande dor de cabeça me atingiu, meu braço latejou e parecia que estava em chamas, até me perguntei se ele não tinha encostado no musgo por acidente. Eu precisei deitar novamente, estava em um sofá de estampa florida, de uma casa que não reconhecia.

— Bella? – A voz grave me chamou. Ele se aproximou, encostando levemente sua mão nas minhas pernas, me chacoalhando de leve. O local onde ele encostou, deixou uma marca quente na minha pele. – Está acordada? – Ele tinha um tom preocupado.

— Jake... – minha voz soou estranha, como se não fosse minha. Provavelmente o tempo que permaneci na chuva tinha me feito pegar um resfriado. – Onde estamos? – consegui completar depois de um momento. Havia mais perguntas que eu queria fazer, mas elas me escaparam durante o torpor. Eu não queria mais levantar, pois levantar me faria ter que encarar a realidade, e pelo o que eu sabia, a realidade seria péssima.

— Estamos na casa da Sue Clearwater, Bells – ele se sentou no chão, do lado do meu rosto. Se aproximou, me dando o mais leve dos beijos na testa. – Trouxemos vocês para cá após o confronto. – Suas palavras foram cuidadosas, ele não queria me assustar. Coisa que teve exatamente o efeito contrário, me deixando em alerta.

A menção a palavra “nós” me fez lembrar Paul, fazendo uma onda de ansiedade percorrer pelo meu corpo. Eu queria levantar, ir checar como ele estava. Nós deveríamos estar em um médico ou algo assim, não na casa de Sue. Paul pode ter seus poderes de lobisomem, mas pelo o que eu tinha visto, a ferida estava muito feia. Eu tentei desajeitadamente levantar, queria me sentar, e Jacob logo estava ao meu lado para me ajudar. Sentar foi um processo mais difícil do que eu imaginava, minhas costas doíam, assim como meu abdômen e nuca, mas uma dor particularmente horrível percorria meu braço. Uma rápida olhada e eu vi a tala em volta dele, segurando meus ossos quebrados no lugar. – Fui tratada? – minha mão esquerda estava igualmente cuidada, com uma faixa a enrolando no lugar da queimadura que eu tinha certeza que estava lá. Jacob fez um sinal de “sim” com a cabeça.

Sem condições de sair andando eu perguntei – Como está Paul? –, tinha medo da resposta, mas queria sanar logo minhas dúvidas. Ver meu olhar apreensivo fez Jacob se calar, seus lábios se juntaram em uma expressão amarga e seus olhos eram apenas tristeza.

— Paul... – ele suspendeu por um minuto. – Ele está estável... – Foi o que disse, mas seu olhar não permitia que eu acreditasse nele.

— Não deveríamos levar ele para um médico? – disse um pouco eufórica, me arrependi logo em seguida, quando minha garganta doeu novamente. – Por que estamos aqui afinal?

— Ele está sendo bem tratado – seu olhar ficou distante. – Sue é a médica da reserva Bella. Ela tem um pequeno consultório aqui ao lado e Paul está lá – ele se sentou ao meu lado, sua mão sob a minha, fazendo-a derreter. – Seria loucura levar Paul para um médico comum, com sua temperatura e a ferida, tudo exigiria muitas explicações e talvez até a polícia se envolvesse – ele acariciava as costas da minha mão levemente, talvez para me tranquilizar, já que eu tinha começado a tremer por algum motivo. Eu sabia o quanto os segredos deviam ser protegidos. – Não temos todo o aparato de um hospital grande, mas Sue é muito boa, ela cuida de todos nós aqui desde que eu me lembro, e tenho certeza que cuidará muito bem de Paul. Afinal ele é um lobisomem, ele resiste e se cura mais rápido que os humanos comuns – porém foi com um tom sombrio que completou. – E Paul é duro na queda, eu acredito nele.

Eu estava pouco mais tranquila após ele terminar de falar, pois realmente sabia que Paul não desistiria fácil. Ele não pode desistir. Finalmente consegui me acalmar, minha respiração se regularizando, eu sentei ainda mais próxima de Jacob para tentar absorver seu calor. Ele cuidadosamente passou seu braço pelo meu ombro, e me puxou para seu peito nu. O cheiro amadeirado que ele carregava me tranquilizava, e em um gesto simples, deu um beijo na minha cabeça e me afagou por alguns minutos.

— Graças aos céus que você está viva Bella... – ele sorriu, mas o sol escapando de seu peito. Respirou forte na minha cabeça, sentindo o cheiro dos meus cabelos. – Já é a segunda vez que eu quase te perco esse ano – disse divertido, mas no fundo ainda estava escuro. – Não me faça mais passar por isso, ok? Pelo menos por esse ano. Eu acho que meu coração não aguentaria – ele está mais sério agora, como se fosse meu pai me dando um sermão. Eu não merecia repreensão, mas entendia sua dor.

— Ok – respondi simplesmente. Continuava de olhos fechados, aproveitando sua mão nos meus cabelos. Eu estava precisando de um pouco de calor. – O que aconteceu lá na floresta? Victoria está... – perguntei curiosa. Eu tinha uma ideia do que havia acontecido, mas queria a certeza que tudo estava finalmente acabado.

— Morta – ele completou antes de eu acabar a pergunta. – Sam tratou de garantir isso muito bem – Senti seu corpo estremecer um pouco, talvez com as imagens que agora ele carregava na mente. Acredito que eu tive muita sorte de desmaiar, eu não gostaria de ter visto o que Sam fez com a vampira. – Embry e Jared trataram de trazer Paul para cá o mais rápido possível, Emily já tinha ligado para Sue, prevendo o pior. É muita sorte termos Emily e sua incrível intuição feminina, mais um pouco e acredito que Paul não teria sobrevivido – seus punhos estavam fechados, com uma raiva negra. Seu abraço mais apertado. – E segui correndo com você logo atrás, mas seus ferimentos não eram tão sérios para ficar em observação na clínica. Se tivéssemos demorado mais para chegar a vocês... Eu ainda não entendi como ela... – Jacob parou, vendo meu rosto perdido. – Não importa, tudo que importa é que você está aqui. Está bem. – Ele continuava me abraçando forte, mas agora era com tanta ternura, que eu queria chorar. O peso dos acontecimentos finalmente caindo sobre mim. Eu adormeci em meio aos soluços, nos braços de um Jacob ainda sem sol.

Recobrei a consciência novamente, agora estava escuro no lado de fora. Jake se espalhava desleixadamente em uma poltrona no canto do quarto que estávamos, eu estava deitada em uma cama no meio dele, pelos pôsteres de motos e as roupas que estavam jogadas no chão, eu presumi que estava no quarto de Seth. O ronco de Jacob era baixo e sereno, ele estava em sono profundo. Eu me levantei cuidadosamente, estava com um pijama estranho, provavelmente tiraram minhas roupas molhadas. Com os pés descalços para fazer menos barulho possível, eu saí do quarto. Não que eu precisasse, já que Jacob não acordaria por nada agora, ele tinha chegado ao seu limite de privação de sono. Fechei a porta e fui caminhando pela casa, ela não era muito maior que a de Emily, mas tinha um ar reconfortante apesar da situação. Meu braço ainda estava dolorido, mas a queimadura já não sentia, Sue realmente tinha feito um ótimo trabalho, tinha que me lembrar de agradecer a ela depois. A casa assim como a noite estava escura e silenciosa, pela janela da sala eu vi uma luz forte vinda de uma construção próxima na floresta, e imaginei ser o consultório. Antes que eu conseguisse pensar direito no assunto meus pés me levaram para a porta, pelo menos a chuva havia parado. O lado de fora estava mais frio que eu pensava, me fazendo encolher e cruzar meus braços pelo meu peito dolorido, a brisa, por mais leve que fosse, fazia subir arrepios pelo meu corpo. Eu não sabia o que eu encontraria quando chegasse ao consultório, se eu aguentaria o que quer tivesse lá para ser encontrado, mas eu precisava saber. As folhas molhadas faziam um barulho estranho quando eu pisava nelas, fazendo meus pés e a barra do meu pijama se ensopar.

Chegando ao local eu tive que estreitar meus olhos para não ficar completamente cega com a luz branca. A cena que encontrei era caótica, havia sangue, não tanto quanto eu imaginei, então consegui me manter de pé. Alguns utensílios médicos estavam espalhados em cima de uma grande bandeja de metal, perto de uma mesa feita do mesmo material, no canto oposto do quarto estava o único leito do local. A cortina estava meio aberta, então pude ver que Paul estava realmente lá, próximo a ela tinha um pequeno banco. Sam estava sentado nele, encarando o vazio. Demorou um pouco para ele perceber que eu estava presente.

— Bella – Ele disse sem olhar para mim, seus olhos demoraram mais que o normal para se fixarem nos meus. Ele estava exausto. – Como você está? – ele disse se levantando. As olheiras embaixo de seus olhos eram terríveis, pareciam grandes hematomas.

— Bem Sam – me aproximei do leito de Paul. – E ele?

— Estável – Jacob tinha me dito a mesma coisa, e assim como ele, Sam não passava credibilidade em suas palavras. Acredito que “estável” não representasse tudo pelo o que Paul passou e passará de agora em diante.

Quando eu me aproximei do leito e passei pelas cortinas eu o vi, Paul estava dormindo sereno, sua respiração subia e descia regular, e ele estava suando. Tinha uma grande bandagem, com um pouco de sangue, em cima do seu peito, o curativo era grande o bastante para cobrir todo o tórax. Pelo menos ele estava vivo.

— Agora que começa a parte difícil – Sam disse atrás de mim, ele estava apoiado na janela, respirando um pouco do ar frio da noite. – Seu corpo de lobisomem está em processo de cura. Mas isso gasta muita energia. – ele me olhou sério. – Vamos rezar para que Paul consiga passar por isso sem seu corpo ceder com o esforço.

— Ainda não sei como sobrevivemos – falei mais para mim do que para ele. – Victoria parecia saber do nosso plano, ela estava bem descansada e preparada. Não sei como ela descobriu... – olhei para Sam, ansiando por respostas que ele não tinha, ninguém tinha.

— Sempre há a “pior possibilidade possível” – ele respondeu consternado, sua aura ficando cada vez mais negra. – Mas ninguém acredita que ela realmente possa acontecer, foi muita falta de sorte. Ainda bem que vocês estavam preparados.

— Eu não estava – disse envergonhada, queria me livrar desse sentimento de culpa no meu peito. Queria que alguém me culpasse. – Quando ela apareceu – engoli seco, ainda estava muito cedo para eu me lembrar, mas eu não queria continuar guardando isso para mim. – Quando a vampira surgiu no campo, eu perdi completamente meus sentidos, eu não conseguia raciocinar direito eu queria apenas... – não conseguia encontrar a palavra.

— Se deixar levar por ela, permanecer perto nem que fosse para morrer poucos segundos depois – Sam me olhou com desgosto estampado no rosto, mas esse sentimento não era para mim. – É algo no cheiro que eles exalam, pelo o que sabemos – Ele torceu o nariz com nojo. – Os malditos sugadores de sangue fazem isso com as pessoas. Seu odor é como uma droga para vocês, te deixa viciado em pouco tempo depois do contato. Vocês não conseguem pensar, logo não conseguem resistir aos outros “aspectos deles”, se tornando presas fáceis. A “beleza”, o tom de voz, tudo se complementa depois, eles foram criados para caçar vocês.

Botar isso deste modo me deixou assustada, e o pior era que tudo realmente fazia sentido. A partir do momento que eu avistei Victoria, perfeita, andando em direção para mim, eu já estava acabada, a minha sorte foi ter Paul lá comigo. Céus, como eu fui descuidada.

— Eu não fazia ideia... – falei, o choro se instalando na minha garganta. – Acreditei estar preparada para ela, mas por minha culpa Paul...

— Não – Sam tratou de me interromper. – Paul sabia dos riscos Bella, assim como você, e mesmo assim ele concordou com isso. Vocês ajudaram um ao outro, o resultado poderia ser bem pior que esse, acredite.

Era um sono perturbado que o garoto estava passando no leito, inconscientemente eu coloquei minha mão sobre seu peito quente, de algum modo queria alcança-lo dentro do sonho, garantir que ficará tudo bem. Mas isso seria uma mentira. – Você consegue Paul – disse baixinho no seu ouvido. Ele não poderia desistir agora, eu não o permitira fazê-lo. Dei um leve beijo em sua testa e fui me juntar a Sam na janela.

— Foi algo extremamente perturbador, sabe... – ele falou, com o olhar distante, se perdendo na floresta escura. – Demoramos mais que o esperado para encontrar vocês. Sinto como se tivéssemos dados voltas pela floresta, circulando o local que vocês estavam. – suas mãos se apertaram com raiva, assim como Jacob havia feito no sofá. – Enquanto nós ouvíamos todos os pensamentos dele Bella. – Seus olhos se fecharam com força, ele começou a tremer um pouco – E quando chegamos. Ah... Eu ainda acho que peguei muito leve com a vampira.

Foi de fato uma experiência traumática para todos os lados. Mas para o dos lobos me parece ter sido bem pior. Ouvir os pensamentos do amigo em agonia, enquanto você está impotente tentando alcança-lo. É algo que ninguém deveria experimentar. Não há dúvidas que esse seja o motivo para Sam não estar dormindo, apesar do cansaço evidente. Eu não dormiria por algum tempo também. Me lembrei de Sam e sua raiva materializada em forma de seu lobo negro, e eu sei que ele não pegou leve com ela. Mas eu não o julgo. É sobre a família dele que estávamos falando.

— Eu só queria dizer... – ele suspirou pesado, suas mãos se abrindo e olhar finalmente voltando para mim. Os tremores cessaram e ele estava quente quando disse. – Obrigado. Obrigado por protegê-lo, Bella.

Eu fui pega de surpresa, apesar de ter mudado muito minha visão sobre Sam, eu não esperava isso. Ele não era mais o Sam carrancudo e frio, ele era o Sam protetor, preocupado o bastante com seu amigo para ficar acordado a noite toda ao seu lado. Mesmo estando igualmente cansado como os outros. Eu agradeci suas palavras com um meio sorriso, ele, e todos os outros, tinham mudado tanto na minha concepção que era algo quase irreal. Queria tê-los conhecido melhor antes. Antes de tudo isso acontecer.

— Você é mais corajosa do que eu imaginava – sua voz soou paternal e com um pouco de admiração. Não sei bem se isso foi um elogio. – Agora vá dormir, se Jacob acordar e não te ver por perto, ele vai pirar. – Esse tom divertido me deixou chocada, provavelmente ele me considerava muito próxima agora, e eu estava grata. Apesar do desconforto eu sorri de volta e segui para a casa. O quanto a minha relação com Jake havia evoluído me deixava feliz, ele já significava mais para mim do que eu poderia imaginar. De fato não imaginaria isso quando me mudei para Forks.

Eu entrei no quarto, estava muito mais escuro agora já que minha visão estava desacostumada com a falta de luz. Então eu não vi que Jacob agora estava jogado no chão e tropecei nele. Eu caí de joelhos nas suas costas, o xingando mentalmente. Com a confusão ele acabou acordando – Bells? – ele disse assustado. – O que está acontecendo? – completou quando sentava e vinha ao meu socorro.

— Tropecei em um sem noção que resolveu que deitar no chão do quarto escuro era uma boa ideia! – disse irritada, minhas pernas doíam como nunca agora, e eu tinha batido a cabeça no sofá. Pelo menos consegui poupar meu braço quebrado do impacto com o chão.

— Bem, acredito que isso seja algo que você deva evitar. Pode acabar se machucando – Ele respondeu divertido, até mesmo no escuro eu conseguia ver seu sorriso branco e isso só me deixava mais irritada. O sol tinha voltado para o peito do Black. – Venha, segure em mim – Ele me envolveu com cuidado em seus braços, e me deitou de volta na cama. – Você está congelando. Aqui, me deixe ajudar. – E antes que eu pudesse fazer qualquer objeção, ele já estava gentilmente reivindicando um lugar ao meu lado, me abraçando para me aquecer.

A cama de Seth era pequena, um pouco maior que uma cama de solteiro comum, mas isso não era um problema. Jake estava mais quente que o normal hoje. Pelo menos era assim que eu o sentia. Ele me abraçava com força e eu me agarrava no seu peito, parte do seu corpo, assim como o meu, estava para fora da cama, mas não havia lugar que queríamos estar agora se não aqui.

— Bells? – ele me chamou novamente, sua respiração escaldante fazendo cócegas no topo da minha cabeça. – Tem uma coisa que eu queria... Perguntar a você – ele parou pensativo, tentando escolher as palavras certas.

— O que foi? – perguntei curiosa. Eu já tinha visto ele nervoso, mas não como agora, Jacob parecia que iria desmaiar a qualquer instante.

Ele se levantou e sentou no final da cama, ficando de costas para mim, senti sua voz fraca quando falou – Bella, o que somos nós?

Demorei um pouco para entender a pergunta. Primeiro acreditei que era uma daquelas charadas filosóficas, em que a resposta era simples e complexa ao mesmo tempo. Mas não era disso que ele estava falando. Jake estava se referindo a “nós”, o que nós dois temos, em que tipo de relacionamento estamos. Realmente isso me fez pensar, o que eu e Jacob somos? Claramente já somos muito mais que amigos, eu até admiti que eu o amava de uma forma especial, então não estava óbvio?

Não, não estava.

É claro que tínhamos uma relação especial, e trocamos vários beijos e gestos de carinho, mas o problema estava que eu nunca o disse realmente como eu me sentia, eu nunca conseguia encontrar as palavras certas. No meu quarto, ou quando recebi o colar, eu não havia conseguido me expressar verdadeiramente, e isso me fazia sentir culpada agora. Eu já decidi há algum tempo, parar de negar que eu o amo, amo mais que um simples amor de irmãos ou melhores amigos. Jacob queria que eu confirmasse com todas as letras o que ele acreditava que eu sentia por ele, e eu não poderia culpa-lo. Dentre todas as incertezas da vida, de uma coisa eu sabia muito bem, Jacob Black me amava de uma forma extraordinária, e eu decidi que tentaria corresponder a esse amor.

— Nós somos... Mais que eu pensei que poderíamos ser – disse com humor, mas ele não estava rindo. Seu olhar intenso me estremeceu por dentro. Eu estava com algum tipo de bloqueio, por que dizer isso era tão difícil? Será que eu estava com medo de me ferir, de ser abandonada de novo? Que bobagem.

Eu nunca tinha sentido isso antes, sentido o que eu sinto por Jacob. É algo “natural”, se essa é uma palavra possível de ser usada para descrever uma relação, eu não tinha que me esforçar para me sentir digna dele, e isso era algo com o qual eu não estava acostumada. Antes, com Edward, eu me sentia constantemente indigna do amor, eu passava cada hora do meu dia pensando nele e querendo ficar com ele - parando para pensar agora isso não era algo muito normal -, o que Sam me falou na clínica, martelava minha cabeça, será que era amor que eu sentia por ele? Observando agora, estava mais para uma “dependência” mútua.

Sim, dependência é a palavra que mais se aproxima do que nós tínhamos, eu estava entorpecida por tudo que Edward era, isso explica por que minha cabeça não andou muito certa no último ano. Eu estava mais atrapalhada, mais desligada e até meio lenta, tenho que admitir. Se o vampiro era uma droga, eu estava completamente viciada nele, e isso também explica meu estado de tristeza profunda quando ele foi embora – abstinência –, foi a palavra que apareceu como resposta, era a única explicação que fazia sentido por eu me sentir assim quando ele se foi. É claro que eu ficaria triste, mas “morrer de amor” nunca foi uma coisa ao qual eu acreditei. Não literalmente. Então, após esse tempo de desintoxicação que eu passei, agora estava tudo mais claro na minha vida, minha mente voltou a trabalhar normalmente e eu percebo, que não preciso de ninguém para me sentir completa. Os buracos que sentia no meu peito foram criados por mim mesma, e a falta que eu me fazia, eu somente transferi a culpa para outras pessoas. Mas agora não mais.

Eu entraria nesse relacionamento com Jacob, pois o amo, isso agora é inegável. Mas não seria uma dependência mais, seria realmente uma relação. Dois seres completos e felizes com eles mesmos (na maior parte do tempo), juntos para superarem as dificuldades da vida. Eu sei que sou capaz de muito, e com Jacob ao meu lado me complementando, eu acredito que seja capaz de muito mais. Foi com certeza nas palavras e a felicidade gritando em um horizonte iluminado pelo meu sol particular, que eu consegui dizer:

— Eu estou apaixonada por você – minha voz vacilou um pouco, eu não sabia que esse sentimento poderia crescer em mim ainda, ou que seria tão estranho dizer essas palavras novamente. Ele me olhou, intensidade demais, o calor aumentando no quarto. Eu me aproximei e segurei seu rosto em minhas mãos, forçando ele a me derreter. – Eu te amo Jacob Black.

O sol que brilhou no seu olhar era capaz de me cegar, realmente, acredito que o próprio sol ficaria com inveja de Jacob agora. Ele primeiro segurou minha mão, beijando-a a palma, depois, com a sua, trouxe meu rosto para mais perto. Eu não me lembro de muita coisa após isso.

Mas ainda sinto o calor percorrendo no meu corpo.

Escolhi ficar com ele, mas não para me sentir inteira, decidi ficar em seus braços para completar a paz que eu sentia. Que eu sabia que era capaz de me trazer. Com Jake tudo era fácil – tão fácil quanto respirar –, era a frase que vinha na minha mente toda vez que eu pensava em ficar junto dele. Com ele eu não precisaria abrir mão da minha mortalidade, dos meus amigos ou família, só por que tinha medo de perder a única pessoa que eu acreditava que amava. Abandonar todos que me apoiaram até agora, era algo irreal e doloroso demais para ser feito. Eu poderia continuar me desenvolvendo e aprendendo cada vez mais, e quando chegasse a hora, eu sei que partiria feliz. A imortalidade nunca me pareceu tão trivial como agora, e a expectativa de um amanhã diferente enchia meu coração de algo que eu ainda não sabia o que. Em um mundo de incertezas, mentiras e dores, eu escolhi confiar em Jacob Black.

Eu olhei pela janela, com o verdadeiro sol começando a aparecer por entre as árvores. Esse era o início de uma nova vida para mim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Só passando para lembrar de lerem as notas do próximo cap! \(*T▽T*)/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lua Nova: Outros Caminhos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.