Lua Nova: Outros Caminhos escrita por Sarah Lee


Capítulo 7
22. Vermelho


Notas iniciais do capítulo

Ora ora, aposto que por essa vocês não esperavam! (/゚Д゚)/
Imaginei que vocês também estariam curiosos para saber como se deu a batalha contra Victoria (eu particularmente não me aguentei e acabei por escrever o cap logo depois da postagem do último).
Então como um mimo para vocês, aqui está o cap dessa semana adiantado U-U
Espero que tenham um bom domingo queridxs, até sab agora. ♥



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Eu nem cheguei a perceber que o vento havia ficado mais forte, soprando da floresta, ou que uma grande nuvem negra estava crescendo, devorando vagarosamente o céu alaranjado. Eu me concentrei apenas em uma única coisa, um cheiro doce, dos mais suaves e viciantes que eu conhecia tão bem.

O vento, Sam tremendo. Tudo ficou em segundo plano enquanto eu absorvia o delicado aroma. Era como uma droga, e eu sentia que quanto mais a usasse, mais as dúvidas ficariam para trás, eu não precisaria me esforçar mais para nada. A felicidade estava logo ali, em forma de milhares de diamantes, com os cabelos em um ruivo vivo, parecendo chamas mágicas. Caminhando de maneira perfeita em minha direção.

A primeira coisa que eu notei foi o andar, não era como se ela estivesse caçando, nada em sua postura mostrava que ela estava alerta, era um andar tão delicado, feminino, e confiante, que me fazia querer ir de encontro a ela. Costas retas, meio sorriso no rosto, mãos largadas casualmente atrás do corpo, como uma menina inocente. A próxima coisa foi a despreocupação, ela não estava querendo se esconder, esconder sua pele brilhante de ser avistada facilmente por qualquer pessoa, ela andava graciosamente mostrando a todos o que era, caso o contrário, acredito que ela estaria se esgueirando pela floresta já escura. Tão brilhante, com seu cheiro doce sendo soprado pelo vento forte. A terceira coisa foi o olhar, intenso, mas convidativo, eu poderia olhar seus olhos vermelho claro para sempre, como se fossem duas cerejas à deriva em um mar de leite. Ela estava bem alimentada. Foi só então que eu percebi, olhando aqueles olhos maravilhosos, que Victoria sabia, senão de tudo, mas de boa parte do nosso plano. E isso significava duas coisas, a primeira, era que provavelmente ela estava preparada, talvez até de mais. A segunda, eu já estava morta.

Rezei por um segundo, para que pelo menos Paul conseguisse sair dessa vivo.

Os lobos não teriam como chegar tão rapidamente, pelo o que eu entendi, eles estariam em uma distância considerável, para que Victoria não sentisse a presença deles e desistisse de se aproximar. O que eles não contavam com, era uma Vampira completamente preparada, contra uma humana em choque e um lobisomem emocionalmente instável. Minha mente só voltou à realidade quando Paul me atirou ferozmente contra o freezer. Eu não tinha notado que ainda estava abraçada a ele, o impedindo de se transformar. O choque com o objeto me fez bater as costas com força, retirando o ar dos meus pulmões, e ferindo minha nuca. Mas ainda estava grata a Paul, provavelmente eu teria ficado pior que Emily se eu ainda estivesse perto dele. Foram poucos segundos de diferença, de eu ter batido no freezer e Paul ter virado um lobo gigante, e posso jurar que senti sua mão, se transformando em pata, encostando no meu braço. A situação só ficava pior enquanto minha cabeça latejava, e eu lutava para recuperar o ar que me foi arrancado, Victoria nos tinha pegado de surpresa, apesar de não ter utilizado desse tempo para nos destruir ali mesmo – ah não, ela queria brincar conosco –, lembrei do aviso de Laurent, enquanto estava caída no chão frio. – Desculpe por te meter nisso Paul – eu acabei por murmurar. Ele estava morto, e a culpa seria minha.

Eu acabei sentando, e a cena que eu vi era de dar arrepios. Paul, em sua forma de lobo gigante, rosnou ferozmente para uma Victoria tranquila, que estava me observando com fascínio, sem se importar com o adversário na sua frente. Não, o alvo sempre fui eu, Paul seria apenas uma distração, ao qual ela daria conta antes do reforço chegar. Mais um rosnado poderoso, tão alto que me fez cobrir os ouvidos, agora Victoria olhou para ele, como se fosse a primeira vez que tivesse visto o Lobo em sua frente. Paul mordia o ar, exigindo por atenção, exigindo por uma luta mortal, seus pelos cinza escuro se ouriçando perto da nuca.

— Então é tudo isso que você tem?! – Victoria disse diretamente para mim. – Apenas um cachorrinho para te proteger – Ela ria agora, fazendo Paul ficar cada vez mais irritado. – Prefiro pensar que você não estaria me subestimando garota, pois isso só me deixaria com mais raiva.

Paul continuava em sua posição defensiva, a uma boa distância da vampira. Me perguntei porquê que ele não atacava logo, ou ela. Me ocorreu que Paul também sabia, ele tinha consciência que sozinho não mataria uma vampira em perfeita saúde, principalmente do jeito que ele estava, cansado e fraco. Ele estava ganhando tempo, provavelmente Sam o ordenou que o fizesse, já que conhecendo Paul, ele atacaria na primeira oportunidade que tivesse. Ele era paciente, estudando os movimentos da ruiva, como ela estudava os dele, mas essa tensão não duraria muito tempo, assim que ela percebesse que a cavalaria estava chegando atacaria sem mais nem menos, e Paul teria que reagir.

— Foi o bastante para matar Laurent! – Menti, não sabia se ela conhecia a verdade. Mas não importa, tinha que a fazer continuar falando. – E James – tentei rir com desprezo, apesar das dores no meu peito. – Também não teria precisado de mais, mas os Cullen queriam se divertir em família – Falar desse momento da minha vida me machucou, mas conseguiu meu objetivo. Victoria estava olhando mortalmente para mim, e eu não parei para refletir se essas provocações foram uma boa ideia.

Minha cabeça latejava, e minhas costas doíam de uma forma descomunal, mas mesmo assim reuni forças o suficiente para me levantar do chão, me apoiei no refrigerador branco e tentei parecer o mais confiante possível quando falei:

— Eu acredito que você está se superestimando Victoria – a encarei bem no fundo dos olhos, para ela perceber que não havia mais medo em mim. – Você é apenas uma dor de cabeça.

— Olha menina – ela disse calma, mas segurando o riso. – Você deveria parar de falar, eu realmente gostaria de te matar lentamente – Tratou de dizer a última parte com cuidado, aproveitando cada sentimento que ela carregava. Lambendo os lábios por final.

Era quase como se ela já pudesse sentir gosto do meu sangue em sua boca.

Foi ela que fez o primeiro movimento, um pequeno passo em minha direção, ela não aguentaria esperar muito mais para me destruir, seus olhos me fitavam profundamente e eu sentia sua sede crescendo. Então, Paul estourou. Ele correu em direção a ela, como se fosse um animal descontrolado, sons horríveis escapavam de sua boca enorme, e seus dentes eram todos visíveis. Ele mergulhou furiosamente de cabeça em sua inimiga, provavelmente querendo arrancar a dela, foi só então que ela voltou a encarar o lobisomem. Com um movimento tão gracioso quanto preciso, desviou do ataque, e completou dando um chute certeiro em suas costelas, que fez o lobo voar para muito longe. Só parando quando bateu em uma árvore grossa, a fazendo tombar levemente. Paul não se movia mais.

— Cachorro mau – ela sorriu. E voltou a olhar diretamente para mim, com um desconcertante movimento de cabeça.

Eu procurei pelo facão que eu segurava antes de ir abraçar Paul, ele estava jogado no chão, perto da mochila – a mochila! –, eu gritei em pensamentos, não sei para o que o musgo serviria, mas eu tentaria de tudo. Com sorte Victoria se sentiria intimidada e fugiria. Me lancei para o canto do lugar, conseguindo segurar a alça da mochila com a ponta dos dedos.

— Não pense em se esconder agora... – Victoria sussurrou no meu ouvido, ela já estava logo atrás de mim. Eu paralisei de terror.

Ela segurou meu braço, tão forte que eu imaginei que ela o tinha quebrado. Como se eu não tivesse peso, ela me atirou para trás, para fora do galpão. Eu quiquei e rolei por alguns metros, para o meio do campo em que a casa ficava. O mundo girava vertiginosamente, e eu tinha certeza, agora, que ela havia quebrado meu braço. O ar me foi tirado no impacto com o chão duro, hoje estava sendo um dia difícil de respirar. Eu abri rapidamente os olhos, querendo saber onde ela se encontrava, e para minha surpresa, ela já estava em cima de mim. Seus olhos me fitaram com desejo, e a satisfação da vingança. Me agarrando pelo pescoço, ela me levantou do chão.

— Foi mais fácil do que eu gostaria – disse desapontada. Enquanto eu arfava, tentando continuar a respirar. Mas meu braço quebrado estava inutilizável pela dor, e o outro estava pesado por algum motivo. Já estava consideravelmente escuro agora, o sol havia me abandonado novamente, e uma garoa fria começava a cair do céu.

Um rosnado alto fez Victoria se virar, em poucos segundo havia um lobisomem cinza escuro a puxando para trás. Ela me largou para tentar se proteger do ataque, mas Paul foi mais rápido. Ele mordeu o braço da vampira, fazendo um som parecido com o de duas rochas se chocando, e a jogou violentamente para trás, para dentro da floresta. Ao longe, mais sons de árvores se quebrando.

Paul estava exausto, ele estava muito machucado também, provavelmente internamente, o grande lobo arfava e eu vi sangue escorrer de dentro de sua orelha. Mas mesmo exausto ele estava lá para me proteger. E eu estava cansada de ficar apenas olhando. Com muito esforço eu consegui me levantar, me apoiando no animal ao meu lado. Uma rápida olhada para meu braço direito, e eu vi o grande hematoma. – droga! –, pensei tentando ignorar a dor que crescia, Paul se virou, seus olhos profundos queriam me dizer algo, mas eu não entendia o que. Pensei por um momento que ele queria que fugíssemos, talvez fossemos de encontro com o restante do bando que deveria estar a caminho, mas eu não conseguiria me segurar nas suas costas, e imagino que muito menos ele consiga correr mais rápido que ela agora.

Ele se virou, olhou para meu ferimento arroxeado, e delicadamente. Lambeu ele.

O local da ferida ficou incrivelmente quente em contraste com a chuva gelada. Eu esperei que alguma coisa acontecesse, como uma “super cura lupana”, mas a ferida permanecia a mesma, foi apenas um gesto de carinho. A situação seria até cômica, se nossa sentença de morte não estivesse selada. Mas eu não desistiria agora, tínhamos muito pelo o que viver. Tratei de clarear meus pensamentos e deixar a dor de lado por um momento, a primeira coisa que eu tinha que fazer era estar a par de meus ferimentos, enquanto Victoria não se recuperasse. Eu era esperançosa, mas não iludida, sabia que ela não estava morta ainda. Imaginei que meu braço esquerdo estaria ainda pior que o outro, pois mal conseguia movê-lo, e com relutância eu olhei. A surpresa me pegou por completo. Ele não estava machucado, mas de alguma forma a mochila de Paul tinha se enroscado na minha mão por algumas fitas de couro.

— Paul! – tentei chamar a atenção dele, talvez eu tivesse um plano. Mas não consegui.

O lobo fitava as árvores negras, o rosnado voltando a brotar de sua garganta. A chuva estava se intensificando agora, as frias gotas de água estavam ficando mais grossas, aliviando um pouco a dor da minha cabeça e braço. Com um barulho alto de algo sendo quebrado, Paul me empurrou novamente para o lado, desta vez bem a tempo de escaparmos de uma árvore gigantesca, que foi atirada contra nós. O barulho dela se chocando com o galpão foi igualmente estrondoso.

— Droga, errei – Victoria disse enquanto saia da floresta, ela sorria de canto de boca, e continuava perfeita como sempre. Como se não tivesse sido atirada pelo ar há alguns segundos atrás.

Eu levantei com dificuldade de novo, me sentando na grama, procurei a vampira e a vi a alguns metros de distância, e se aproximando. Mas ela não corria agora, estava tudo acabado, eu não conseguia mais me mover direito, minhas forças já haviam praticamente se esgotado, eu também estava muito cansada dos últimos dias. Olhei com esperança para Paul, pelo menos se ele conseguisse fugir o fim não seria tão trágico. Mas ele não conseguia. O lobo estava deitado, respirando com dificuldade e irregularmente, a árvore tinha acertado o canto de seu corpo, e uma ferida grossa expelia sangue, que era levado com a água fria para a grama. Ele havia se sacrificado por mim. A chuva estava forte agora, era como se os céus estivessem chorando por nós. E eu chorava com ele, chorava por Paul.

No chão, o lobo emitia um lamento fraco.

Tentei gritar, gritar para que ele corresse, para que magicamente ele estivesse bem e fugisse. Gritar para alguém vir nos ajudar. Eu queria apenas gritar, pois sabia que logo minha voz seria silenciada. O medo tomando conta de mim novamente. Como que as coisas acabaram dando tão errado? Há algumas horas estávamos todos rindo e se divertindo na praia, e logo não restaria mais nada. Pelo menos eu não teria que lidar com o peso que a morte de Paul traria para a minha vida, pois acredito que nunca conseguiria suportar. Ao longe, Victoria continuava sua caminhada lenta até nós.

— Desculpe Paul – falei, mas duvido que ele tenha ouvido por causa da chuva. – Desculpe de verdade! – Eu tentei mais alto.

A vida tinha sido um turbilhão de dor até agora, e eu não podia acreditar que ela acabaria assim também. Meu pai disse uma vez que a vida se começa com dor, que quando um bebê nasce, e faz sua primeira respiração no nosso ar, seus pulmões inflam, como se fossem bexigas de aniversário. A dor é tão forte que faz o bebê chorar. Nós nascemos com a dor, e eu irei embora com ela, com mais de um tipo dela.

— Paul! – tentei mais uma vez, agora o grito saiu consideravelmente alto, fazendo minha garganta doer um pouco. O lobo moveu suas orelhas na minha direção, ele estava consciente. – Paul mova-se! – agora sua cabeça se levantou lentamente, seu olhar parecia perdido, mas quando ele o focou no meu, era como se eu pudesse ouvi-lo.

Eu entendia agora o que ele quis me dizer há alguns minutos atrás. Não era para que fugíssemos juntos, que eu escalasse suas costas e encontrássemos o resto do bando pelo caminho. Paul sabia que ele não escaparia, talvez não quisesse escapar. Seu olhar implorava, para que eu fugisse sozinha.

— Desculpe – foi o que consegui dizer, o choro havia virado um soluço desenfreado. – Eu não consigo me mover – Já estava tão cansada de lutar, será que não teríamos descanso? Mas antes de morrer, antes de deixar esse mundo eu gostaria de dizer. – Paul... Você não é um monstro – as palavras brotaram da minha boca entre os soluços, queria dizer mais, muito mais, dizer os motivos comprovando que ele não era o que pensava, dizer até fazê-lo enxergar a verdade. Nem que fosse a força. Estava fraca agora, mas queria reforçar a verdade, eu o devia isso.

Seus olhos me encaravam sem vida, ele estava agradecido por essas serem as últimas palavras que ouviria? Não sei dizer, gosto de imaginar que ele gostaria disso. Gostaria de morrer com a certeza que pelo menos eu não o achava um monstro. O grande lobo deitou novamente sua cabeça, Victoria havia chegado aos nossos corpos, ela olhou para minha face, com pena.

— Palavras bonitas – sorriu de canto de boca. Ela se virou para o lobisomem caído, o contemplando enquanto ele sangrava. – Cuidarei de você primeiro – ela abaixou ao lado dele, ficando praticamente de joelhos. Ela não precisava se preocupar, eu não conseguiria fugir dela.

Mas eu não podia aceitar isso, Paul não merecia morrer por mim, morrer por um erro que eu carreguei até aqui, ele ainda tinha tanto para ver, para sentir, agora que ele parou de se culpar pelas coisas que estão fora de seu controle. Em um último momento de genialidade eu me lembrei da bolsa – o musgo! –, me agarrei nesse pensamento, mesmo que ele fosse inútil. Com o restante de força que existia dentro de mim, eu enfiei meu braço bom dentro da mochila, minha mão tateou com ansiedade, até eu agarrar algo macio como algodão. O musgo Dente-de-urso. Imediatamente ela começou a arder, como se eu tivesse segurando carvões em brasas, o vidro havia se quebrado lá dentro, e o musgo estava exposto. Eu o agarrei sem pensar duas vezes, fazendo minha mão arder ainda mais, e eu tinha certeza que alguns cacos de vidro haviam cortado a minha pele também. Mas eu não o largaria. E em um raciocínio rápido, eu já sabia o que fazer.

Eu precisava chegar mais perto.

Victoria acariciava distraidamente o lobo derrotado – Que pena que seus amigos não estão aqui agora, gostaria de ter me vingado por Laurent também – disse vitoriosa.

Ela levantou sua mão ameaçadoramente no ar, provavelmente acabaria com tudo, mas eu não permitiria isso. Com uma força que não sabia que tinha, eu pulei em cima da vampira, passando meu braço direito por seu pescoço para conseguir alguma estabilidade. Ela reagiu imediatamente, apertando meus ossos já quebrados, os quebrando ainda mais. Mas a dor não me pararia agora, eu já estava acostumada demais com ela para ficar paralisada. O medo e a raiva impulsionaram minha outra mão, e eu enfiei todo o musgo no seu rosto perfeito.

Victoria gritou de dor.


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Notas finais do capítulo

Lupus: Vem do latim "lobo". Então a “super cura lupana” é a super cura dos lobos / feita por lobos.



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