Lua Nova: Outros Caminhos escrita por Sarah Lee


Capítulo 6
21. Monstro


Notas iniciais do capítulo

Mais um dia, outro cap!
Vou falar a verdade para vocês, eu fiquei morrendo de vontade de shippar o Paul e a Bella agora, mas isso é assunto pra outra hist.
(talvez um one shot muahahahaha)
Aproveitem o cap queridxs ♥



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Tirando o constante ronco do motor, o caminho estava silencioso, e tudo o que eu não precisava agora era de tempo para pensar.

— O que vamos pegar na minha casa mesmo? – Disse desesperada, queria estimular uma conversa antes de eu ficar louca com a situação.

— Roupas – Paul respondeu ríspido, e após um longo tempo completou. – Qualquer coisa que esteja com seu cheiro – me olhou de canto de olho, e acho que senti uma pontada de desprezo na sua voz.

Lembrei de como meu cheiro era viciante para os vampiros, pelo menos era assim que eles diziam ser, então torcia para que isso funcionasse. Mas ainda não era o bastante para me distrair, Paul não é um sujeito muito falador. Ele está sempre de cara fechada, com raiva de algo ou de tudo ao mesmo tempo, nunca soube bem. Talvez fosse algo mais profundo.

— Entendo... – falei após mais algum tempo. O mau-humor dele finalmente me contaminando, a situação já era pesada, e ele só servia para deixar tudo pior. – Bom saber que minha vida depende de um monte de roupas usadas.

— Alguma ideia melhor? – disse bufando. Percebi neste momento que Paul era um completo babaca. Uma criança mimada, que estava nervosa por não conseguir o que queria, seja lá o que for que ele queira.

— Por que se ofereceu a vir? – soltei de uma vez, queria não ter sido impulsiva na casa, Embry, Jared, até Sam teria sido uma companhia melhor pra essa viajem. Se o mundo um dia precisasse me punir, essa punição viria em forma de “ficar várias horas confinada com Paul em um ambiente apertado”.

— Jacob não estava com cabeça para fazer sua proteção – o mesmo tom frio de Sam se mesclava com a voz dele. – Achei que seria uma melhor ideia eu vir.

— Achou errado – agora eu o encarava. Assim como ele estava me encarando. Estávamos testando um ao outro, pelo menos foi o que eu senti. Eu não temeria alguém como Victoria, então não temeria alguém como Paul. Ele era como uma criança, mimada o suficiente para ter brinquedos caros, que no caso era sua forma de lobo, mas isso não o fazia algo muito assustador.

Chegamos à minha casa após alguns minutos. Depois da minha resposta fria a conversa tinha ido para o túmulo, mas eu não precisava mais dela. Minha mente já estava ocupada o suficiente pensando no melhor jeito de empurrar Paul do carro em movimento, e chegar sozinha ao local da armadilha.

Antes que o lobo entrasse, eu fiz um movimento para que ele esperasse no carro, coisa que ele fez com uma bufada e um olhar zangado no rosto. Não queria alguém bisbilhotando meu quarto em busca de “roupas usadas”, e outras coisas mais. Não sei o que se passava naquela mente conturbada dele. Subi correndo as escadas, peguei um casaco surrado que estava jogado no chão do quarto - isso vai servir –, pensei rápido. Em um repentino momento de brilhantismo, corri ao quarto do Charlie e peguei um de seus casacos grossos que ele usava na polícia, a peça fedia a colônia e creme de barbear – deve ser de alguma ajuda –, enfiei tudo em uma sacola e desci para a cozinha, tratei de pegar algumas coisas para depois, estava com medo que essa casa que vende peixes, “só tivesse” peixes para comer.

Voltei para o carro me despedindo mais uma vez da minha casa, talvez desta vez para sempre. Entrei pelo banco do passageiro sem discutir, não estava com cabeça para dirigir, muito menos para pedir informações a Paul para localizar a casa dos peixes. Boa parte do caminho, seguimos em silêncio, ambos com os rostos fechados e perdidos nos próprios pensamentos. Mas por algum motivo, foi Paul que tentou iniciar uma conversa agora.

— Pegou tudo o que precisava?

— Sim – respondi seca.

Ele suspirou pesado – Olha, acredito que não vamos conseguir nos manter vivos se ficarmos insultando um ao outro – completou com ar sério. Até o tom de irritação tinha desaparecido de sua voz.

— Tudo bem... – falei derrotada. Critiquei tanto o temperamento infantil de Paul, que nem percebi eu estava me igualando a ele. – Desculpe por isso.

— Desculpe também – o ar dentro da cabine estava consideravelmente mais leve, tínhamos dado finalmente um passo em direção a um relacionamento amigável? Acredito que não. Paul e amigável são duas coisas que eu acredito serem completamente opostas.

— Então – decidi continuar a conversa. – Me lembre do plano.

— Bom – ele tinha um ar profissional agora. – Iremos nos encaminhar para a casa do meu amigo. Ele não estará lá – tratou de realçar. – Espero que o cheiro de peixes frescos disfarce um pouco do nosso “aroma de lobo” – brincou, divertido. – Ou que ela esteja tão faminta que irá se concentrar apenas no seu. Por isso, vamos tratar de deixar uma trilha bem convincente do seu cheiro de humana pela floresta até a casa. E lá, tentaremos te esconder e esperar a presa cair – seus olhos tinham uma aparência monstruosa quando falou. – E quando a sanguessuga menos esperar, terão cinco lobos em cima dela, prontos para despedaça-la por completo.

— Isso foi – engoli seco. – Bem detalhado mesmo.

— Desculpe – disse sem veracidade nas palavras.

— Mas e se o plano falhar – estava longe enquanto as palavras saiam da minha boca, presa nas imagens da cena que ele acabou de descrever. – E se ela arranjar algum jeito de passar por você, e chegar a mim.

Ele suspirou pesado, com certeza Paul não pensava em falhar. Mas os lobos sabiam que essa era uma das muitas possibilidades. – Bem, se o pior acontecer, temos o plano B – Ele apontou para a sua mochila no banco de trás. Eu não havia o visto colocar isso no carro.

Eu inconscientemente a peguei e coloquei no colo, havia dentro um par de sapatos e um pequeno pote de vidro, com algum tipo de erva estranha. Ela era de um verde escuro lindo, com as pontas em um roxo brilhante. Eu olhei para Paul com uma grande interrogação na minha expressão. Com certeza não seriam os seus sapatos surrados o plano B.

— Você está olhando para o nosso plano B – Seus olhos brilharam de um jeito assustador quando pronunciou. – Musgo dente-de-urso.

Minha expressão continuou a mesma, eu ansiava por respostas mais claras. Talvez eu me lembrasse de ter ouvido sobre esse musgo em uma das aulas de biologia. O nome me era familiar.

— É um musgo que cresce só em áreas úmidas – ele riu. – E como em Forks não para de chover...

— Mas como um musgo nos ajudaria? – perguntei curiosa

— Ele é um repelente natural de vampiros – esclareceu. – Um musgo que só consegue crescer em algumas árvores, e os ursos daqui se alimentam deles. Por isso o nome brilhante – riu com a constatação.

— Então por que eu nunca ouvi falar dele antes? – disse incomodada. – Era mais fácil cultivar ele em casa se possível, assim estaríamos livres de vampiros.

— Não é simples assim – continuou. – Ele é perigoso para humanos também, é como uma “faca de dois gumes”. O cheiro dele é forte e se entrar em contato com a pele, causa queimaduras sérias – ele estava sério agora. – Mas para os lobos é ainda pior. Da pra sentir o cheiro dessa coisa a metros de distância, e quando se tem ele em grande quantidade no mesmo lugar, você fica praticamente sem olfato. – fez uma pausa, deveria estar pensando se eu era digna de saber dos segredos de seu povo. – Além de queimar com o contato, ele causa problemas aqui – apontou para a cabeça. – como alucinações, além de irritar os olhos, tornando muito difícil ver. Como se tivesse um nevoeiro espesso na sua frente – estava ainda mais assustador quando completou. – E se ficarmos em exposição prolongada os efeitos podem ser permanentes – riu sombrio.

— Eu não sabia... – realmente os Quileutes conheciam os segredos da floresta.

— Por isso que não caçamos ursos aqui Bella – ele riu. – Eles são praticamente nossos salvadores. São os únicos animais que conseguem comer isso, sem eles, Forks já estaria sem lobisomens.

— E em vampiros? – perguntei ainda mais curiosa. Tinha realmente algo capaz de feri-los, a não ser as grandes presas dos lobos?

— É similar – falou vitorioso. – As lendas contam que eles perdem algum dos movimentos do corpo, onde a erva entra em contato, como se estivessem anestesiados. Além da visão e olfato serem prejudicados também. Apesar de eu nunca ter visto de perto – mas algo em seu rosto me dizia que ele adoraria ver. – Esse musgo só pode ser usado em últimos casos, é um segredo dos lobisomens.

— Parece mortal – disse sem humor nenhum, esse papo todo havia me deixado enjoada. — E o que faremos exatamente com isso? — continuei.

— Isso — disse já cansado de ter que me explicar tudo. Mas devido à circunstância eu não estava raciocinando muito bem. – O usaremos para te esconder. Enquanto a vampira irá me procurar, pensando que eu sou você – fez um sinal para a minha jaqueta. – Você estará sã e salva em baixo de alguma coisa ou sei lá.

— Absolutamente não! – falei ficando furiosa. – Eu não concordei com isso para ficar me escondendo enquanto vocês fazem o trabalho perigoso.

— Bella, pense – ele falou irritado também. – Se você morrer agora, a vampira terá o que ela queria e desaparecerá, enquanto você estiver viva podemos fazer o plano mais algumas vezes – ele estava mortalmente animado com essa ideia. Já eu, estava horrorizada, me sentindo um pouco ofendida. Do jeito que ele falava, era como se eu estivesse sendo usada. – E também – completou com um riso sombrio. – eu não gostaria de estar no mesmo mundo que o Jacob, se eu te deixasse morrer.

Nos calamos em seguida, eu estava assustada demais com a perspectiva das coisas para continuar uma conversa. Era como se para ele, matar vampiros fosse a grande justificativa, para usar o que, ou quem fosse, para conseguir seu objetivo. Paul mudou de uma criança birrenta para um maníaco suicida.

Ele faria de tudo para matar Victoria, e imagino até onde isso o levaria.

O passeio de carro não durou muito, nós iriamos percorrer o resto do caminho a pé, afinal eu tinha que espalhar meu cheiro pelo percurso até a casa. Coloquei minha jaqueta e dei a de Charlie para Paul, coisa que ele me parabenizou por fazer. Nem ele tinha pensado em camuflar o próprio cheiro nesse caminho que faríamos. Soltei meus cabelos e sendo guiada pela mão de Paul, para que eu não caísse, partimos floresta adentro. Agora eu estava empenhada para mostrar a ele que eu não seria alguém inútil, que eu poderia ajudar na luta contra Victoria.

Agradecia secretamente a mão dele me segurando, apesar do meu esforço para me mostrar independente, eu quase fui ao chão diversas vezes durante a caminhada. E Victoria nem teria o trabalho de me matar – Estamos quase chegando –, ele falou depois de quase duas horas. Eu estava completamente perdida, mas o senso-lobo de localização de Paul não o deixava se perder. Talvez ele tivesse seguindo o cheiro dos peixes.

— Até que chegamos antes do previsto – ele debochou da minha cara. – Imaginei que chegaríamos aqui no anoitecer.

— Muito engraçado Paul – ri verdadeiramente, o humor dele tinha melhorado quando entramos em contato com a natureza, e isso deixava tudo mais fácil. Eu estava muito orgulhosa de mim, fiz essa caminhada em tempo recorde pelo menos. Não eram mais que cinco da tarde quando eu avistei a cabana. E junto veio o cheiro enjoativo de peixes.

A casa era pequena, um pouco maior que de Emily talvez. Toda pintada de vermelho com um telhado cinza-escuro, ao lado tinha uma pequena estrutura, como um galpão, que devia ser para limpar os peixes e armazena-los. Presumi isso quando vi a mesa de metal frio, e o grande refrigerador branco que estava encardido com o tempo.

— Ele vende os peixes aqui mesmo? – a pergunta saiu da minha boca sem eu pensar.

— Óbvio que não! – ele riu da minha cara. – Ninguém andaria floresta adentro para comprar peixes, ele tem uma loja perto da cidade, aqui ele apenas os prepara para a venda. – continuou, rindo alto. – ele recebe o produto de pescadores, alguns da própria reserva. Da algum dinheiro pelos peixes, os limpa, e leva para a loja.

Talvez fosse impressão minha, mas Paul fazia questão de me explicar tudo como se eu fosse uma verdadeira ignorante, não sei ao certo se era pelo tom de sua voz, ou o jeito que ele me debochava com os olhos. Estava realmente difícil de gostar dele, em alguns momentos ele parecia um humano de verdade. Outras, ele era apenas uma das muitas facetas de um monstro.

O sol já se preparava para desaparecer, descendo no horizonte enquanto começávamos a arrumar as coisas. Paul tinha ficado ainda mais sério agora. Quanto mais sério ele ficava, mais meu estômago se revirava, a hora estava chegando. Dei minha jaqueta para ele, que a amarrou na cintura, fui avisada também que talvez nunca mais a veria de novo. Entre uma jaqueta velha e minha vida, ele poderia comer ela crua, se ele quisesse. Decidimos ficar no pequeno galpão de limpeza dos peixes, o cheiro lá era definitivamente mais forte, e dava de frente para a trilha que criamos. Empurramos a mesa de metal para o lado, em uma das paredes tinha uma grande coleção de facões afiados, que eu não tinha visto antes, imagino se algum deles funcionaria com Victoria. Tratei de me sentar ao lado do freezer branco, que ocupava quase todo o espaço no fundo do galpão, mas deixava uma pequena abertura ao qual Paul insistiu em me enfiar.

— Aqui – ele disse me dando a mochila com o musgo dentro, eu a abracei para buscar algum conforto. – Fique preparada, não tem hora para acontecer agora.

Eu já estava conformada em ser caçada, mas esperar no canto de um galpão fedendo a peixe, abraçada com uma mochila velha, me deixava desconcertada. Eu me sentiria mais segura segurando um dos grandes facões. Coisa que eu fiz

— Acha mesmo uma boa ideia? – ele disse quando me viu pegar o maior, dos ganchos na parede.

— Acho – não estava com humor mais, só teria que tomar cuidado para não cortar minha própria garganta com ele.

— Se você diz... – respondeu derrotado, ele sabia que argumentos não funcionariam mais comigo.

Paul silenciosamente entrou na casa, e saiu de lá com um banco acolchoado. Ele tratou de posicionar na entrada no galpão, encostado na parede. Assim ele poderia esconder minha presença com seu corpo musculoso, e ficar observando a floresta sombria. Ele apoiou as costas no metal e ali ficou, calado.

Eu consegui aguentar por alguns minutos, que mais pareciam horas, mas a tensão e o silêncio não estavam ajudando. Eu sentia que poderia gritar a qualquer momento, e isso não seria uma coisa recomendável. Eu tinha que ocupar a minha cabeça.

— Paul? – falei por fim, ele estava tão imóvel que pensei, por um momento, que ele tinha dormido. Se não fosse seu peito subindo e descendo, poderia jurar que ele tinha virado uma estátua ali naquele banco.

— Sim? – disse desinteressado, ele não estava olhando para mim quando falou.

— Por que você realmente quis vir comigo? – estava mais tentando preencher o silêncio do que realmente curiosa. Mas desculpa que ele deu no carro não tinha me convencido por completo.

Ele agora olhava em minha direção, avaliando por alguns segundos. Seus olhos, apesar de ter uma coloração parecida com as de Jacob, eram definitivamente diferentes. Os de Jacob tinham um brilho, bem lá no fundo no marrom-negro do olhar, como se fosse a luz no fim de um túnel escuro. Os de Paul não tinham esse brilho, parecia que quanto mais fundo se ia, mais escuro ficava. Devia ser o mesmo com a sua personalidade.

— Eu precisava provar uma coisa... – seu olhar voltou para a floresta. – Provar uma coisa para os outros...  E para mim.

— Provar o que? – eu estava curiosa, queria descobrir mais a fundo os segredos de Paul, me afundar na escuridão dele. Mesmo sabendo que não poderia mais voltar.

— Provar que eu não sou esse monstro que todos pensam que eu sou – ele riu, um riso sem alegria ou brilho. – Que eu tenho certeza, que você também acha que eu sou.

Quando ele se virou para mim, seus olhos eram só escuridão. Eu tentei começar a falar, dizer ele para não se preocupar com isso. Mas eu não conseguia. Ele acima de todos sabia que isso era verdade. O quão doloroso era isso? A dor está presente quando você menos espera. Eu sabia disso muito bem.

Se até Sam, que tinha o ar frio em suas palavras, possuía um coração inacreditavelmente quente, e por trás da invulnerabilidade de Jacob, existia uma pessoa frágil. Eu tinha que acreditar que no fundo da escuridão de Paul, havia algum brilho. Se eu aceitasse que Paul era um monstro, por aquilo que ele é hoje, eu teria que admitir que Jacob também era. E isso seria inaceitável.

— Você não é – minhas palavras saíram quase inaudíveis, sem a segurança que eu queria passar. Imagino o que Paul passou por sua vida, para se tornar quem ele é hoje. Um ser que desacredita na própria humanidade.

— Não precisa mentir pra mim – falou, o olhar preso na floresta silenciosa. – Eu sinto isso – ele apontou para o peito. – O lobo, crescendo, tomando conta! – ele estava furioso agora. – Sabe o que me incomoda realmente? Todos conseguiram superar, conseguiram aceitar completamente o lobo, mas para mim é tão complicado – seus punhos estavam cerrados e tremendo. – Todos os outros conseguiram seguir tão bem suas vidas – debochou. – Até tem alguém que os aceitam como são. E sabe quando eu terei isso? – ele riu de novo, aprecia um louco agora. – Pelo menos eu posso descontar esse incômodo nos seus queridinhos sanguessugas.

— Será que você precisa, realmente, ser um grande imbecil na maior parte do tempo?! – ele me olhou furioso quando gritei, estava farta desse dilema. Eu sabia que eles não eram monstros, os outros sabiam, mas parece que a cabeça dura de Paul não conseguia compreender. Ninguém estava contra ele, além dele mesmo, ele não estava sozinho como achava. – Você não está sozinho Paul – disse convicta, finalmente. – Para ninguém foi, ou é fácil. – Me lembrei do rosto de Sam, com dor, toda vez que via as cicatrizes de Emily. Me lembrei de Jacob, me rejeitando tantas vezes por acreditar que ele seria um perigo para mim. Que eu acreditava que ele era um monstro. – Se você precisa de alguém para te dizer isso, então que seja eu. Você não é um monstro Paul! – tratei de dizer lentamente a última parte.

Ele estava estático agora, quase incrédulo. Suas mãos haviam parado de tremer e seu olhar estava pesado, talvez o peso de se culpar por tudo.

— Não sei o que você passou pela sua vida – estava realmente com pena dele. – As dores que você provou. Mas não pode deixar isso te consumir Paul. Não pode desistir de sua humanidade tão facilmente.

— Você falar isso não vai mudar o que eu sinto – ele fechou os olhos com força. – Eu era um cara diferente antes, eu tinha raiva de algumas coisas, mas nada se compara a isso. Quando o lobo chegou, eu realmente comecei a odiar tudo. Odiar de verdade. Esse animal dentro de mim não é mais nada que isso, uma grande massa de ódio com dentes afiados, esperando a primeira coisa, ou pessoa, para descontar tudo.

— Você não é assim... – Eu não podia acreditar. Não desistiria dele ou de nenhum dos outros. Levantei do meu esconderijo e peguei sua mão. – Eu não vou acreditar que você é somente raiva – coloquei a mão em seu peito, queria desesperadamente sentir seu coração. Garantir que ele tinha um. – Você se põe em risco todas as noites, sacrificou tanta coisa para me proteger de Victoria. Inclusive está aqui agora. Eu não vou ficar parada enquanto você diz ser uma coisa que você não é! – Lá no fundo, eu senti um coração bater. – Se você precisa que alguém acredite nisso por você, até você conseguir enxergar isso sozinho. Eu estarei aqui.

Ele tinha aberto os olhos, me olhava com tanta intensidade que chegava a doer. Ele estava perdido, mas eu acreditava, queria acreditar pelo menos, que havia um brilho no fundo da sua alma. Eu lentamente passei meus braços pelo seu pescoço, ele ainda estava sentado quando retribuiu meu abraço. De começo foi um movimento hesitante, mas lentamente cedeu ao meu ato. Ele não chorou como Jacob, mas podia ver em sua respiração, agora calma, que ele estava grato. Grato por ter alguém nesse mundo, que realmente não pense que ele é um monstro. Éramos uma família, e a família não abandona ninguém, não é?

O sol estava praticamente se pondo agora, apenas alguns raios de luz passavam por entre as árvores. Parece que finalmente teria a calmaria, após a tempestade que era Paul. A paz finalmente. Eu vi, antes dele ficar rígido enquanto em abraçava, o brilho quase mágico, como centenas de pequenos diamantes flutuantes saindo por entre as árvores, com pedaços de labaredas o seguindo, andando mortalmente na minha direção.

Imagino que foi o cheiro familiar, doce, que o ar floresta trazia consigo, que fez o corpo de Paul começar a tremer violentamente.


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Notas finais do capítulo

Faca de dois gumes:
1 - Faca que possui fio dos dois lados, ou seja, tem os dois lados afiados.
2 - Expressão popular que significa que algumas coisa, algum fator, que alguém, que traz consigo boas estimativas, em dadas circunstâncias pode ser prejudicial. Diz-se que algo ou atitude é "uma faca de dois gumes" quando pode ter o efeito contrário ao esperado,isto é, pode ter um efeito prejudicial. Uma faca que corta para os dois lados pode ser prática, mas podemos nos confundir e nos cortar.



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