Iguais, porém opostos escrita por Cellis


Capítulo 5
Como verdades e mentiras


Notas iniciais do capítulo

Hellooooo, meus queridos! Olha só quem voltou (mais rápido do que vocês esperavam, podem admitir) e, como sempre, a rainha da madrugada trazendo um capítulo no início da manhã.
Mas enfim, é aqui que a história começa a seguir um rumo que eu tenho certeza de que muitos de vocês não esperavam. Espero que gostem, de verdade.

Boa leitura.



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Para a sorte de Bo Ra, Taeyuna era o tipo de gente que detestava acordar cedo; se tivesse uma reunião imperdível às oito horas da manhã, tentaria convencer os outros a mudar o horário dos seus compromissos apenas para poder acordar mais tarde. Por isso, quando ela dizia um dia inteiro, ela estava realmente se referindo à metade de um dia, pois o mesmo para ela só começava depois do almoço. Bo Ra nunca ficou tão feliz em ter de lidar com alguém tão preguiçoso. Se fosse obrigada a conviver ainda mais com Kim Taehyung, que fosse, para a sua momentânea felicidade, pelo menor número de horas possíveis.

O dia anterior não terminara com a chegada de Taeyuna. Assim que foi convencida a ser submetida à tortura de aturar Taehyung no dia seguinte, Bo Ra pôs os pés em casa, bufou e recebeu uma ligação de Jimin no segundo seguinte. Como ela já esperava, ele estava simplesmente surtando por conta do pequeno acontecimento que perdera na hora do almoço.

Como assim você socou a cara dela, espaguete?! — foi a primeira coisa que ele disse, ou melhor dizendo, gritou no outro lado da linha, quando ela atendeu logo no segundo toque.

Bo Ra, então, teve de contar toda a história para Jimin; que, por sua vez, gostava de ouvir as coisas em seus mínimos detalhes. Foi uma longa conversa, até que ele finalmente passasse alguns segundos em silêncio, ponderando os dois lados da moeda.

Bem, até que você não está errada. — disse, por fim, e aquele era o seu jeito pacífico de apoiar a violência. — Eu só queria ter visto a cena.

Bo Ra não conteve uma risada. Talvez fosse porque os dois se davam muito bem, mas ela achava o simples jeito do garoto naturalmente engraçado.

E o que você está planejando fazer nos seus três dias de folga? — ele indagou, mais animado do que deveria. — Nós poderíamos sair amanhã à noite.

Ela não era, exatamente, fã de saídas noturnas, mas até considerou a proposta dele quando levou em consideração que não teria nada para fazer nos próximos dias.

Pelo menos em teoria.

Lembrou-se do planejamento de Taeyuna, e acabou contando a Jimin tudo o que acabara de acontecer. Como ela já esperava, ele teve um crise nervosa de risos.

Isso não pode ser verdade. — afirmou, ainda rindo. Diante do silêncio significativo de Bo Ra, ele acalmou-se. — Isso é verdade?

E assim seguiu a ligação. Quando Bo Ra resolveu desligar, para finalmente poder tomar um banho e se preparar para contar à sua avó sobre sua primeira suspensão, Jimin ainda estava meio abismado. Ele chegou a pedir à amiga que tentasse não terminar o dia na prisão nem nada do tipo, o que a fez revirar os olhos quando ouviu. Por fim, ela tomou um longo banho quente e esperou pacientemente que sua avó chegasse em casa.

Horas depois, quando já havia escurecido e Bo Ra estava prestes a pegar no sono sobre sua cama ainda arrumada, ela ouviu passos lentos e arrastados subindo as escadas. Sua avó já não conseguia terminar o dia com a mesma disposição que começava, mesmo que seu trabalho na mansão dos Kim não chegasse a envolver esforço físico.

Mas, mesmo assim, ela ainda se esforçava e muito.

Isso fez com que os pés de Bo Ra praticamente enraizassem em sua cama. Ela ainda não se arrependia do que fizera com Yoon Hee, contudo, começou a pensar que poderia tê-lo feito de outro jeito. Deveria ter sido mais racional, mesmo que se sentisse no direito de não ser naquele momento; assim, teria evitado a suspensão. Três dias em casa ou na escola não fariam a mínima diferença para ela, mas com certeza fariam para sua avó. A idosa tentaria não demonstrar o quão decepcionada estava com sua neta, mas não era uma atriz tão boa quanto pensava. De repente, Bo Ra sentiu-se triste por ela e, consequentemente, pelo o que fizera.

Assim, quando ouviu duas batidas carinhosas na porta de seu quarto, ela se manteve em silêncio. Naquele breve momento que tivera entre as batidas e a porta sendo aberta, ela tomou uma decisão que não seria fácil para ela e muito menos correta, porém que julgou necessária: não falaria nada. Talvez estivesse sendo apenas covarde. Talvez, quem sabe, estivesse fazendo aquilo realmente para poupar sua avó. O fato era que, mesmo não tendo completa certeza do porquê o fez, ela simplesmente esperou sob seu edredom que sua avó constatasse que ela estava dormindo e fosse embora, exatamente como a mais velha fez.

Agora, encarando-se no espelho, ela ainda não tinha certeza se havia feito a coisa certa. Mal conseguira pegar no sono, porém, esperou a porta da frente ser batida para se levantar. Não chegou a tocar na farta mesa de café da manhã que sua avó preparara, já que não sentia um pingo de fome. Passou toda a manhã estudando por conta própria o que seus colegas de classe estariam estudando naquele dia e, quando recebeu uma mensagem de bom dia de Taeyuna lhe dizendo para estar pronta dentro de uma hora, suspirou fundo e largou seus livros.

Usava um vestido jeans confortável que servia para diversos tipos de climas, com algumas pregas na cintura, e um par de sapatilhas brancas. Preferiu deixar o cabelo solto, pois não estava exatamente disposta a se arrumar — muito menos porque Taeyuna não lhe dissera para onde iriam. Por fim, quando fechou a porta da frente esperando que Taehyung não tivesse dado com a língua nos dentes e a denunciado para sua avó, ela caminhou rapidamente até o carro dos Kim, que a esperava na frente da mansão. Para a sua sorte, Taehyung ia na frente, ao lado do motorista, e não disse uma palavra sequer ou lhe direcionou um olhar quando ela entrou atrás e sentou-se ao lado de sua unnie.

Aigoo... você está tão bonita! — foi a primeira coisa que Taeyuna disse, abraçando Bo Ra de lado.

Para Bo Ra, era engraçado ouvi-la dizer isso. Taeyuna fazia faculdade de moda na França e, naquele exato momento, vestia-se elegantemente como tal — diferente da garota e seu simples vestido. Mesmo assim, ela agradeceu ao elogio com um breve sorriso.

— Não se preocupe, eu não disse nada para a sua avó sobre a sua suspensão. E também não deixei o Tae dizer. — disse, lançando uma piscadela para Bo Ra.

Antes que a garota pudesse dizer alguma coisa, foi interrompida pelo bufar descarado de Taehyung.

— Como se eu fosse perder tempo com isso. — afirmou, como um resmungo, sendo logo repreendido pela irmã com um tapa na nuca.

— Obrigada, unnie. — Bo Ra agradeceu em voz baixa, ignorando o outro e seu temperamento colérico.

O caminho que se seguiu foi praticamente dominado pela voz de Taeyuna. Seu irmão manteve-se calado o tempo todo, ao passo que Bo Ra vez ou outra se pronunciava sobre as infinitas histórias de Taeyuna e sua vida no exterior. A mais velha era divertida e tinha um astral leve, o tipo de pessoa que Bo Ra gostaria de ter mais ao seu redor, mas o problema era que a adolescente tinha um sentimento estranho dentro de si naquele dia. Era diferente do que ela sentia em relação a não ter contado a verdade para sua avó — era mais como um pressentimento de que algo desagradável aconteceria. Talvez fosse por causa da simples presença de Taehyung mas, mesmo assim, ela ainda sentia algo a mais lhe incomodando e lhe impedindo de aproveitar por completo a presença de sua unnie.

Por fim, quando o motorista da família Kim estacionou no local onde Taeyuna ordenara, Bo Ra sacudiu a cabeça para espantar os pensamentos paranóicos e tentou descobrir onde estava. Surpreendeu-se tanto quanto Taehyung quando deparou-se com a fachada simples de um restaurante no centro da cidade, que parecia ser um daqueles estabelecimentos antigos que passavam de pai para filho como herança.

— O que é isso? — indagou Taehyung, assim que saltou do veículo. Não moveu-se até que sua noona lhe respondesse.

— Um restaurante de comida tipicamente coreana. — ela disse, com um sorriso. —Eu adorava vir aqui quando ainda vivia na Coréia, e passei a gostar ainda mais depois que fui para o exterior. Aigoo... é tão difícil encontrar comida coreana em Paris. Eu estava com saudades!

— Nós vamos almoçar aqui? — Taehyung insistiu, tentando entender a cabeça de sua irmã.

Assistindo àquele diálogo, Bo Ra só conseguia torcer para que a resposta de Taeyuna fosse positiva. Além já estar morrendo de fome por ainda não ter comido nada, adoraria ver o soberano Kim Taehyung portando-se em um restaurante popular.

— Vamos, oras. — respondeu, dando de ombros. — Algum problema?

A verdade era que Taeyuna era uma das pouquíssimas pessoas que tinham passe livre para tratar Taehyung como um verdadeiro adolescente. Ela lhe dava ordens, conselhos e broncas e ele, por sua vez, apenas a escutava sem dizer nada. Taehyung tinha um respeito fiel a sua irmã, pois considerava que ela era sua única e verdadeira família. Talvez fosse por isso que ele vivesse realizando as mais loucas vontades e desejos dela, mesmo que algumas vezes o fizesse de má vontade. Por isso, se ela havia decidido que almoçaria naquele restaurante minúsculo e mal arejado, ele apenas balançaria sua cabeça para concordar e a seguiria.

O ambiente era realmente pequeno, porém era nítido que os proprietários se esforçaram para torná-lo familiar e agradável. As mesas eram baixas e os assentos apenas grandes almofadas fofas, por isso, as refeições eram feitas bem próximas do chão. Taeyuna sentou-se na ponta da mesa retangular, enquanto os dois adolescentes sentaram-se um de frente para o outro. Uma jovem, que deveria ser ainda mais nova do que eles, veio sorridente lhes atender.

Unnie, quanto tempo! — a garota disse, assim que reconheceu Taeyuna. Depois que ambas se cumprimentaram, ela puxou do bolso do seu avental um bloco de anotações e uma caneta. —O que vão querer pedir?

Taehyung estava intrigado demais com aquela cena para ler o cardápio de papel fino. Deu-se conta de que, mesmo os irmãos sendo tão próximos um do outro, ainda sim havia coisas que não sabiam sobre o outro. Pelo modo como a garota reconhecera sua noona, era provável que ela costumasse vir a esse restaurante várias vezes, ao ponto de tornar-se próxima dos donos e sua filha — mesmo assim, Taehyung nunca descobrira esse hábito de sua irmã.

Será que ele não prestava atenção suficiente nela?

Era difícil. Ele considerava-se uma pessoa extremamente observadora, especialmente quando se tratava de pessoas. Talvez estivesse errado em relação a essa sua característica, mas jamais admitiria isso, então, preferiu calar-se.

— Traga o prato do dia, Yoona. — Taeyuna pediu com um sorriso, sem consultar os outros dois. — Eu não preciso nem saber o que é para ter certeza de que estará delicioso.

A garota sorriu em troca e logo sumiu para dentro da cozinha. Além dos três, havia apenas mais um casal no restaurante, que já desfrutava de sua refeição, então Taeyuna sabia que seu pedido não tardaria a chegar. Sentia-se feliz e relaxada ali, mesmo depois da breve discussão que tivera com seu pai na noite anterior — o senhor Kim não esperara nem mesmo que a filha completasse vinte e quatro horas em solo coreano para discordar dela — e do clima estranho entre Bo Ra e seu irmão. A mais velha flagrava, vez ou outra, um fitando o outro de escanteio e fazendo cara feia logo em seguida, e sempre tinha que se segurar para não rir daquela cena e denunciar que percebia o que eles estavam fazendo.

— Então, Bo Ra. — ela iniciou, quando o silêncio que pairava na mesa começou a lhe incomodar. — O que a peste da irmã do Yoongi lhe fez para tirá-la do sério?

Bo Ra encarou sua unnie com uma expressão confusa, ao passo que Taehyung se amaldiçoou por ter aberto a boca na noite passada.

— Como você sabe que foi ela, unnie? — foi a primeira pergunta que Bo Ra fez, mesmo que já imaginasse qual seria a resposta.

— O Tae me contou. — ela respondeu simplesmente, fazendo com que Bo Ra lançasse um olhar nada satisfeito na direção do mencionado. — Mas ele não quis me contar o que aconteceu, fez cara feia e me deixou falando sozinha. Então eu estou esperando que você mesma me conte.

Dito isso, Taeyuna inclinou-se mais para perto de Bo Ra, discretamente pressionando a adolescente para saciar sua curiosidade. Bo Ra remexeu sobre a almofada, odiando ter de contar aquela história justamente na frente de Taehyung. Para ela, ele provavelmente não havia contado a história completa para a sua irmã apenas para ter o prazer de assisti-la fazendo-o — e Taehyung esperava que ela pensasse assim, pois detestaria se ela descobrisse que, na verdade, sentia-se incomodado em admitir para sua irmã que era o causador de todo aquele problema.

Taeyuna provavelmente lhe daria um enorme sermão se soubesse.

— Ela ofendeu a minha avó. — contentou-se em contar apenas aquela parte da história, com um sentimento de raiva transbordando em sua voz.

Taeyuna concordou com a cabeça.

— Isso não me surpreende. Os Min são conhecidos pela sua falta de educação, e adoram fazer jus a essa fama. — ela disse, lembrando da época horripilante que era obrigada a conviver com Yoongi e sua irmã por causa da proximidade das duas famílias. Ela, ao contrário do seu irmão mais novo, tinha uma enorme dificuldade em se adaptar a certos tipos de situações. — Quem ela pensa que é para ofender a senhora Kang do nada?

Bo Ra ponderou se deveria esclarecer as coisas para Taeyuna. Mesmo que todas as forças do universo lhe dissessem que não, ela não podia controlar sua própria boca.

— Não foi do nada. — disse, quase num murmúrio. — Não que isso seja motivo, mas ela se irritou porque me viu conversando... — pausou, por algum motivo escolhendo as palavras. — com um garoto.

— Jung Hoseok? — Taeyuna indagou instantaneamente. Quando ela recebeu como resposta um olhar confuso de Bo Ra, sentiu tudo sendo esclarecido em sua mente. Virou-se para o irmão que, até então, mantinha-se estrategicamente calado. — Aigoo... ela ainda é obcecada por aquele pivete?

Bo Ra fitou descaradamente Taehyung, comprovando a sua teoria de que ele sabia o que estava fazendo quando instigou Hoseok a falar com ela. Ele sabia que as coisas dariam errado para Bo Ra, de um jeito ou de outro. Quando ele deu de ombros, ela sentiu vontade de esticar-se sobre a mesa para apertar seu pescoço.

— Pelo visto. — ele respondeu por fim, naturalmente.

Para a sorte de Taehyung (mesmo que ele não tivesse ideia disso), a filha dos donos do restaurante interrompeu a conversa, equilibrando duas bandejas repletas de comida em seus braços. Bo Ra estava com tanta fome naquele momento, que se contentou em deixar seu plano de agressão física contra Taehyung para mais tarde.

A refeição era extremamente diversificada, o que foi uma surpresa para Taehyung. O aroma era muito atraente também, o que fez as duas mulheres atacarem a comida primeiro. Taehyung ainda não havia feito um movimento sequer em direção às tigelas, mesmo que sua noona fizesse barulhos prazerosos conforme comia, quando finalmente deu-se por vencido e decidiu provar a comida. De escanteio, Bo Ra o viu pegando um pouco da sopa de mariscos, e resolveu esperar a reação dele para fazê-lo também — não que ela confiasse no paladar de Taehyung, mas seria divertido ver a expressão dele caso não gostasse.

Mas ele simplesmente adorou. Tentou não deixar transparecer, mas aquela era de longe uma das melhores sopas que já experimentara. Agora ele sabia (e entendia) porque sua noona gostava tanto daquele restaurante. A verdade era que Taehyung gostava de comer, ainda mais se fosse fartura de coisas que lhe agradavam, e adorava provar coisas novas como se fosse um verdadeiro crítico culinário — mas essa era mais uma de suas características que ele fazia questão de não demonstrar. Hobbies, assim como coisas das quais não gostava, poderiam sempre ser uma fraqueza.

E as pessoas gostam de se aproveitar das fraquezas das outras.

Resolveu, por fim, servir-se um pouco mais daquela sopa dos deuses. Aproveitou que nem Bo Ra e nem sua irmã prestavam atenção nele, e encheu sua tigela com uma porção generosa do caldo e dos mariscos. Acabou terminando primeiro do que elas e, num piscar de olhos, a comida que a garçonete trouxera já havia acabado. Quando viu os pratos e tigelas vazias sobre a mesa, Taeyuna deixou escapar uma gargalhada orgulhosa.

Aigoo... eu sabia que você iriam gostar da comida daqui! — disse, bebendo o último gole da sua água.

Bo Ra acabou sendo atingida pelo bom humor da mais velha e deixou-se rir também, o que capturou a atenção de Taehyung. Eram raras as vezes em que ela ria daquele jeito estando tão próxima dele e, como bom observador que ele sabia que era, resolveu prestar um pouco mais de atenção naquele breve momento.

De repente, sentiu seu corpo começando a formigar. Estranhou a sensação que subia pelos seus dedos, barriga e rosto, algo que não se lembrava de ter sentido antes — porém, quando sentiu sua garganta começar a se fechar, lembrou-se automaticamente daquela situação.

Bo Ra assustou-se quando Taehyung deu um tapa repentino na mesa, começando a beber água diretamente na boca da garrafa de vidro como se estivesse no deserto há meses. Estava sozinha com ele na mesa, pois Taeyuna havia acabado de se dirigir até o balcão para pagar a conta, e se viu completamente perdida.

— O que diabos está acontecendo? — indagou, revoltado por ele tê-la assustado.

Ele não disse nada, apenas fez gestos desconexos e exagerados com as mãos. Bo Ra estava prestes a realmente agredi-lo fisicamente, quando percebeu que o rosto de Taehyung começara a se avermelhar. Nervoso, ele apontou para a própria garganta e, em seguida, para a tigela vazia onde antes estava a sopa de mariscos. Assim, a realidade do que estava acontecendo atingiu Bo Ra num estalo. Nem precisou perguntar e ele para confirmar, pois apenas já sabia.

Unnie! — ela exclamou pela mais velha. Como o caixa não era longe da mesa deles, Taeyuna logo virou-se para encará-la. — O que tinha na sopa de mariscos?

— Eu não sei. — respondeu, confusa. Quando fitou seu irmão, curvando-se sobre a almofada, ela logo entendeu o repentino desespero de Bo Ra e todo o resto. — Yoona! — foi a vez dela de exclamar, e a mais nova logo veio da cozinha para lhe atender prontamente. — Tinha amendoim na sopa de mariscos?!

— Sim, unnie. Cascas de amendoim trituradas com óleo de soja. — respondeu, naturalmente. — Por que?

Bo Ra, que ouvira a resposta da mais nova, nem esperou Taeyuna se aproximar deles para ligar para a ambulância. Ela era uma das poucas pessoas que sabiam sobre a severa alergia de Taehyung a amendoim, pois, em uma festa de aniversário dele quando eram crianças, viu ele passar mal exatamente como naquele momento ao comer um docinho de amendoim. A mãe dele se desesperou e a família Kim teve de correr para o hospital com o filho mais novo, que ficou internado por dois dias.

Agora, vendo seu irmão deitado naquela cama de hospital ligado a fios demais para que ela contasse, Taeyuna não podia evitar de se culpar. Em um momento dentro da ambulância, ela realmente achou que pudesse perder Taehyung, e constatou que nunca sentira um medo assim antes. Mesmo que agora as coisas estivessem mais calmas, mesmo que Taehyung já estivesse devidamente medicado e dormindo tranquilamente e que Bo Ra lhe dissesse que vai ficar tudo bem, ela ainda sentia uma enorme vontade de chorar aos pés do irmão e se desculpar, mesmo que ele não estivesse a ouvindo.

Bo Ra assistia àquela cena com o coração apertado. Vendo o estado deplorável que sua unnie se encontrava, mesmo depois que a garota tentou consolá-la, ela sentiu pena. Aquela família já era quebrada demais para esse tipo de situação. A verdade era que, mesmo que detestasse Kim Taehyung e todas as suas atitudes soberbas, ela jamais desejou que ele passasse por tal coisa — mesmo que quisesse ser ruim com ele como ele era com ela, ela simplesmente não se sentia capaz de fazê-lo. Então, vendo os irmãos naquele estado, ela preferiu ficar em silêncio num canto mais afastado do quarto, apenas tomando conta de Taeyuna à distância.

Quando o casal Kim simplesmente invadiu o quarto, Bo Ra sentiu-se como se fosse uma variável sobrando naquela equação. O senhora Kim desmanchava-se em lágrimas, porém jamais borrando sua cara maquiagem, enquanto o senhor Kim parecia irado. E, infelizmente, resolveu direcionar toda a sua ira para Taeyuna.

— Sua irresponsável! — ele exclamou e, sem perceber, acordou o filho. — Você chegou a menos de um dia e já está tentando destruir a família novamente, como você tem coragem?!

— Você acha que eu fiz isso de propósito? Ele é meu irmão e a única pessoa com quem eu realmente me importo nessa família! — Taeyuna esbravejou de volta, porém tendo o cuidado de se controlar por estar em um hospital. — Você acha que eu teria coragem de fazer mal a alguém que eu amo? — indagou, dando alguns passos para frente. — Acha que eu sou você?

Bo Ra, por sorte, sempre tivera reflexos muito rápidos. Quando ela viu a mão do senhor Kim começar a se erguer, foi mais rápida em se aproximar dos dois para impedir um futuro desastre naquele quarto.

— Senhor Kim! — ela o chamou, repentinamente. O homem parou com a mão no meio do caminho e a fitou, assim como o restante dos presentes. Até mesmo Taehyung, que ainda não se sentia completamente acordado, sabia o que teria acontecido se Bo Ra não tivesse intervindo. — Nenhum de nós realmente sabia que havia amendoim na sopa, caso contrário, não teríamos deixado o seu filho tomá-la. Por favor, a noona não teve culpa.

Um longo silêncio se fez presente no ambiente. Talvez não tão longo assim, mas definitivamente foi como Bo Ra o sentiu, até Taeyuna segurar em seu braço e puxá-la um pouco para trás.

— Bo Ra, você não precisa... — a mais velha iniciou, porém foi interrompida pela voz grave do pai.

— Quem você pensa que é para se meter nos assuntos da minha família? — indagou. — Só por que eu lhe dou moradia, alimentos e pago o seu colégio, você acredita que tem esse direito?

Antes de dizer qualquer coisa, Bo Ra teve de lidar com a informação que acabara de lhe atingir. A senhora Kim tentou pedir discretamente ao marido que não dissesse mais nada, mas ela nunca conseguia ser discreta o suficiente.

— O que o senhor quer dizer com paga o meu colégio?

De repente, mesmo que ele não a respondesse, as coisas começavam a fazer sentido. Ela nunca entendeu porque os Kim pagavam um salário tão alto para a sua avó, o suficiente para sustentá-las e ainda pagar as mensalidades da garota. Não sabia também o porquê de, quando foi suspensa ontem, a diretora não ter lhe aplicado a punição que realmente desejava. Fora tudo por causa do senhor Kim.Todos tinham medo daquele homem e, provavelmente, não era diferente com a diretora Lee.

— Bo Ra, por favor, não seja tão radical. — a senhora Kim se pronunciou, incomodada com o clima pesado. — Nós só queremos ajudar você e a sua avó.

Bo Ra prometera para si mesma que não seria mais preconceituosa, porém, ela já conhecia os Kim bem demais para tentar acreditar naquela mentira nitidamente deslavada.

— Então por que nunca me disseram nada? — indagou quase num sussurro.

Deitado em sua cama, Taehyung sentia seu coração bater como se estivesse passando por outra crise alérgica, porém não conseguia dizer nada.

— Nós sabíamos que você não gostaria, querida, então...

— Pare de mentira para ela, mãe. — Taeyuna interrompeu exausta, atraindo a atenção de Bo Ra. — Você não está cansada depois de tantos anos mentindo?

— Taeyuna! — foi a primeira coisa que Taehyung conseguiu dizer. Apesar de ter tentado fazer o nome da irmã soar como uma exclamação de repreensão, acabou conseguindo um pedido.

A verdade era que, por mais que ele não gostasse de Bo Ra e sentisse prazer em atazaná-la, ele sabia o quanto a verdade iria simplesmente quebrá-la. E, mesmo com toda aquela rivalidade de anos e mais anos, ele não conseguia se ver feliz em vê-la miserável, como provavelmente ficaria.

Mas Taeyuna sempre tivera um forte senso de justiça, talvez fosse o único membro da família com tal. Ela encarou o irmão e, apenas com os olhos, fez seu pedido de desculpas a ele.

— Eu só não vou lhe contar tudo, porque não creio que tenho o direito de fazê-lo. Mas eu não aguento mais mentir para alguém com quem eu me importo tanto, Bo Ra. — a mais velha se aproximou, carinhosamente alisando uma mecha de cabelo da outra. Ela tinha os olhos levemente marejados pois, mesmo não transparecendo, era uma pessoa extremamente sensível. — Converse com a sua avó. Eu gosto muito da senhora Kang, mas já passou da hora dela lhe contar a verdade.

Ninguém mais se pronunciou, todos chocados demais para acreditar que o dia em que Bo Ra descobriria tudo havia finalmente chegado. Sem se importar nem um pouco em como a família ficaria dali para frente, Bo Ra simplesmente deu as costas para aquelas pessoas e saiu caminhando quarto afora, justamente decidida a seguir o conselho de Taeyuna.

Assim, quando Taehyung viu a garota bater a porta do quarto e sumir do seu campo de visão, ele soube que, na próxima vez que a visse, ela provavelmente estaria odiando ele e sua família pelo resto da vida.

Em relação a ele, mais do que já odiava.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Aaaaaah, mas essa autora é uma péssima pessoa mesmo ein, fazendo vocês esperarem pelas revelações.
Enfim, interajam comigo!

Até ♥