Avatar: A lenda de Mira - Livro 4 - Fogo escrita por Sah


Capítulo 7
Do outro lado da fronteira


Notas iniciais do capítulo

Capítulo em um ponto de vista diferente.



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Saira

Eu olho para aquelas imagens no monitor do alojamento com um péssimo pressentimento. É a única coisa que passa em todos os canais. O palácio presidencial de Republic City desabou, entre muitos feridos, 64 mortos.  Eu tentei ligar para o Meelo, porém faz mais de uma semana que eu não consigo qualquer contato e isso me deixa apreensiva.

— Saira? – Alguém me tira a atenção da televisão.

Eu olho para Riee, minha parceira nas rondas, atualmente.

— Teremos uma reunião.

— Está bem. – Eu digo sem tirar os olhos dela.

Riee é praticamente a veterana de todo mundo no alojamento, com 32 anos, ela talvez seja uma das pessoas mais velhas no nosso batalhão. Porém, ela parece ter mais energia e disposição que qualquer um de nós.

Eu uso um comunicador no pulso, item extremamente necessário para a locomoção dos mechas, assim que eu olho para ele um aviso em vermelho  pisca freneticamente.

— O que é isso? – Eu pergunto. Porém olho para os lados e vejo que todos estão de olho nos próprios comunicadores.

— Código Vermelho. – Riee diz perdendo a calma.

Código vermelho? Eu tento puxar da minha memória.

Não estou a tanto tempo na corporação. Fiz 14 anos no ano passado e conforme as regras de Laogai, eu estou apta a realizar qualquer oficio, e por causa do meu irmão ser um dobrador, foi óbvia a minha escolha. Ser policial é o único destino que eu havia cogitado para mim.  Meu treinamento foi rápido. Só dois meses para aprender a dominar o Mecha, por isso não me lembro de todos os códigos.

— O que quer dizer isso?  -- Eu pergunto para Riee

Riee suspirou. Por ser a mais velha nisso, ela já era policial quando as novas leis começaram a valer. E teve mais treinamento que qualquer um de nós.

— Isso é quase uma declaração de guerra.

— Guerra? Isso não faz sentido nenhum.

— Escute Saira. E todos vocês. – Ela disse levantando a voz – Esse código quer dizer, estado de atenção, e por isso todos devemos ir para a sede, mesmos aqueles que estão de folga.

— Isso quer dizer que a reunião foi cancelada?

— Sim.

Isso me alegra por alguns segundos. Eu detesto reuniões. Gosto mais de estar nas ruas, trabalhando e mantendo a ordem da cidade.

A sede fica distante da onde estamos, e como não há veículos para todos, eu e algumas pessoas, preferimos ir  de mechas.

Estacionado da garagem está o meu. Eu sempre sinto a euforia da primeira vez que eu dirigi um desses.  Ele é verde escuro, da cor do brasão de armas do país e possui braços móveis e rodas nas pernas. Não é o modelo mais novo, mas foi o que eu mais me adaptei. Ligo ele com o comunicador no meu braço, e me sento confortavelmente. Ele se fecha, e as telas ligam.  Todas as câmeras estão ativadas. Mas para que ele se mova é necessária uma identificação de DNA.  Tiro uma pequena fita preta que existe em um dos meus pulsos.  Dói um pouco, mas é melhor do que se furar a cada vez, uma pequena gota de sangue surge e com isso eu consigo ativá-lo.

Ele se move rapidamente pelas grandes e adaptadas avenidas de Multar, a capital e maior cidade de Laogai. O sol brilha com intensidade, e como sempre, há várias pessoas na rua, eu consigo sentir a despreocupação delas por tudo o que acontece no mundo, e isso me irrita.

Chego na sede em 15 minutos. E vejo a grande quantidade de mechas e veículos estacionados no seu estacionamento. Pelo jeito o nosso batalhão não foi o único solicitado. Desço do meu grande amigo e me movo em direção a entrada.

Aparentemente ninguém sabe o que está acontecendo. Vejo outros guardas conversando entre si.

— Por que nos chamaram? Isso não faz sentido. Disseram que até os prodígios estão aqui. – Eu ouço.

Prodígios... Isso significa que Paiku está aqui.

Depois de toda aquela confusão com o Meelo e o outros. Paiku praticamente me deserdou. Como se isso fosse possível. Ele é meu irmão mais velho, e também um prodígio. Lembro-me dele me chamar de traidora e de muitas outras coisas, quase fui expulsa da guarda por isso, porém Ren interveio por mim.  Ren, que é outro prodígio, e também um amigo de infância acha que tem um divida eterna comigo, e por isso sempre me ajuda quando está ao seu alcance.

Eu gostaria de ver o Ren, porém não tem como isso acontecer sem o Paiku. Por isso que desde aquele dia, eu não vi nenhum dos dois.

A sede é um prédio enorme. Quase do tamanho dos grandes shoppings que temos no país. Possui um pé direito alto, imagino que quando necessário, os mechas também entram no prédio. Fiquei esperando no térreo. Até que  uma voz metálica, vindo de um dos alto-falantes pede para que nos dirigimos para a sala de conferência.

A sala está lotada, há muitas fileiras de cadeiras, me sento no meio procurando alguma pessoa conhecida.  Vejo Riee há duas fileiras  a frente, até cogito mudar mas rapidamente todos os lugares são ocupados.

Não tenho ideia de quantas pessoas estão naquele salão, porém o burburinho de conversas está alto e desenfreado. Eu respiro algumas vezes para me concentrar, e é ai que eu vejo o Grande chefe da guarda tomar o seu lugar no palco.

Zien Fe é o chefe da guarda do país desde que ele tinha 18 anos, e isso já tem mais de 40 anos. Ele viu nosso país conseguir independência do restante do Antigo Reino da Terra, na realidade ele foi uma das cabeças da revolução.

Uma revolução violenta que dizimou uma grande parte da nossa população, porém nos deu Liberdade.  Pelo menos é o que eles dizem.

— Senhores. – Ele começa a falar. 

Ele usa a roupa mais formal da guarda.  Com o Brasão das armas no quepe e várias insígnias de ombro que mostram toda a sua trajetória e comprometimento com Laogai.

— Todos viram o que aconteceu com o nosso país vizinho, Republic City. – Ele limpa a garganta – Não apenas a tragédia, que tirou toda a atenção do golpe de estado que Republic City sofreu.  Todas as nossas relações foram cortadas assim que o sangue daquele homem tocou ao chão.

O que ele diz é de certa forma chocante. Todos sabíamos que o Presidente de Repuplic City tinha morrido. Recebemos mensagens do  Avatar Haru, porém ver o nosso líder tomar uma posição, era realmente impressionante.

Laogai é um país de alianças. Um país que nasceu de uma sociedade falida e que conseguiu se reerguer com o apoio de vários empresários.  Dizem que é um país vendido, que o dinheiro é a única coisa que importa. Um país quase privatizado. Até a famosa guarda de Laogai de certa forma age conforme os interesses de um pequeno grupo de pessoas. Declarar esse rompimento pode complicar toda essa estrutura.

— Assim. Todas as fronteiras estarão fechadas. E todos vocês estarão em estado de atenção. Até que toda essa turbulência finalize.  Alguns de vocês mudarão de batalhão, precisamos de muitos na fronteira.

Ele simplesmente para do nada e se retira, quando ele faz isso, o burburinho recomeça. Uma mulher toma a frente, ela não usa nada que remeta a guarda. Ela tem a pele bronzeada e os olhos azuis, seu cabelo está preso em um coque firme. Ela usa um terninho branco e segura uma prancheta.

— A pessoas que eu chamar agora serão transferidas de batalhão imediatamente, o restante de vocês serão realocados conforme a necessidade. 

Ela parou e olhou para todos.

— Carie do batalhão marinho 2C, Zaliv do batalhão terrestre 1B  e Benzo do batalhão aéreo 1B serão realocados na fronteira Sudoeste.

Eu não reconheci nenhum dos nomes, porém um deles se levantou e bateu continência a minha frente.  Aparentemente, todos eles eram mais velhos que a média, e possuíam consequentemente mais experiência que a grande maioria.

— Funza e Riee do batalhão urbano 3A irão para a fronteira Nordeste. – Ela continuou

Isso me deixou surpresa, eles não costumam transferir pessoas do batalhão urbano, ainda mais para as fronteiras. Isso significa que as coisas estão mais feias do que eles querem admitir. Riee e Funza são especialistas em combate com mechas.

Olho para Riee a minha frente e ela parece preocupada.

— Por último Saira, também do batalhão urbano 3A.

Oi? Ela disse o meu nome? Olho ao redor, e todos estão olhando para mim.

— Será colocada a disposição dos prodígios. – Ela diz e finaliza.

Eu queria dizer todos os palavrões que eu conhecia. Aperto as minhas unhas contra a minha mão.

— Isso só pode ser brincadeira. – Digo alto para quem quiser ouvir.

Dois garotos ao meu lado parecem decepcionados.

— Por que a escolheram? – Ele diz para que eu ouça.

— Você não sabe? Ela é namorada de um deles.

Eu baixo a minha cabeça. Isso já é demais até para mim. Estralo os meus dedos, e já preparo o meu melhor soco.

Só que antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, os dois garotos baixam a cabeça em sinal de reverência. Por que eles fizeram isso?

— Senhor!

Senhor? Olho para trás e vejo Paiku.

Ele está mais alto do que antes. Seu cabelo está esverdeado dessa vez, e suas roupas continuam ridículas.

— Você estão falando da minha irmã?  -- Ele diz levantando a voz.

As pessoas esquecem que somos irmãos. E isso não é segredo para ninguém. Antes já fui há vários programas de televisão dos patrocinadores do meu irmão, para jogos e gincanas familiares. Uma coisa vergonhosa que eu fazia antes de conseguir minha maioridade.

Eu evito olhar para ele. E respiro fundo e continuo o meu caminho.

— Aonde pensa que vai? – Ele me chama.

Eu ignoro seu chamado.

— Você esqueceu que agora está aos meus serviços? Vai desobedecer a essa ordem?

Respiro profundamente.

— Foi você que me evitou nos últimos meses Paiku! Não sei por que você quer falar comigo agora.

Ele ri.

— Minha querida Saira. Você não quer falar disso agora. Você vai me obedecer e vai vir comigo.

O que eu podia fazer? As pessoas olhavam para nós como se fossemos uma atração. Paiku chamava muita atenção e gritava como um animal.

Eu me aproximei dele e o puxei pelo braço.

— Então vamos logo!

Ele não tentou se soltar, mas abafou algumas risadas.

Saímos da vista de todos. E assim eu o soltei.

— Por que você me quer a disposição dos prodígios? – Eu perguntei sem rodeios.

 Desde que eu me lembre Paiku sempre tem o mesmo olhar debochado. Mesmo quando briga comigo, seus olhos são os mesmos. Só que dessa vez eu vi um lampejo de seriedade nos seus olhos castanhos.

— Vamos para a base. Lá tudo será explicado.

Mesmo a contra gosto eu fui com ele no seu carro ridículo, pintado com labaredas como a sua roupa.

A base dos prodígios ficava na parte mais alta de Multar. O prédio mais bem equipado de toda a Laogai.

Sei que muitas pessoas de fora não entendem como funciona o sistema de patrocínio que temos aqui em Laogai. Mas, só de olhar para esse prédio consigo ver que esse sistema funciona muito bem.

Somos o país que menos temos dobradores atualmente. Ficamos até atrás de Republic City. OS mais velhos dizem que é por causa da tecnologia. Mas, se fosse por isso a União do fogo seria a terra com mais dobradores de todo o mundo, e não é bem assim que as coisas são. Assim os poucos que temos são tratados como celebridades. Aparecem em programas de televisão, fazem propagandas e tudo que os patrocinadores exigirem, em troca recebem um salário mensal, roupas e tudo o que quiserem.

Meu irmão era um dos escravos das agências até que se alistou na guarda especial. Só que por ser muito popular ainda faz alguns serviços para elas.

O prédio era todo espelhado e por dentro era quase com um shopping. Um tanto quanto bagunçado para o meu gosto.

O térreo era uma área comum a todos. Assim logo avistei Dena assistindo televisão. Seus olhos estavam vidrados em uma novela inútil.

Ela apenas acenou para mim.

— Onde está Ren? – Eu perguntei.

— Aff. Aquele imbecil. Ele está em uma das arenas, treinando. Para quando estiver de frente para o Avatar Haru.

Avatar. Isso trás um sabor agridoce a minha boca. Eu estava lá quando ele acordou. Foi ao mesmo tempo incrível e decepcionante. Principalmente por que antes, eu havia conhecido a Mira, a pessoa que eu considero a verdadeira Avatar.  

— Tomu!  -- Eu gritei quando avistei o pequeno dobrador de cabelos loiros e encaracolados.

Ele ainda não havia completado 14 anos há quatro meses, assim não participou da confusão.

—  Saira. – Ele corre para me abraçar.

— Eu  não sabia.Que você tinha se alistado.

— Eu sou crescido agora Saira.

Mesmo pensando e agindo como uma criança, perante a nossa sociedade ele era adulto.

— Você tem que ver. Eu consigo dobrar melhor agora.

Tomu é uma criança do deserto, assim como eu, Paiku e Ren. Só que diferente de nós, ele é literalmente. Ele descende quase que diretamente de uma das tribos de dobradores de areia do deserto de Si Wong.  E assim é o único dobrador de areia vivo.

— Paiku. Você pode me dizer o que está acontecendo?

— Guerra, querida irmã. Vamos falar sobre isso.

Paiku me levou até uma das salas de conferência. Lá estavam pessoas que eu não conhecia muito bem. Mais três dobradores que eu já tinha visto por ali e quatro capitães de alta patente. Além disso, tinha um homem com roupas estranhas. E para eu estar falando isso, elas eram mais esquisitas que a de Paiku.

— Esse é Alfinik Varrick. O atual presidente das indústrias Varrick, ele teve que fugir de Republic City. Ele está nos contando o que aconteceu nesses últimos dias.

— Varrick?

Pelo o que eu sei, os Varricks são a família mais rica de todo o mundo. Donos de muitas patentes de invenções, inclusive do mecha que eu utilizo para trabalhar.

Eu me acomodei do lado do meu irmão. 

— Eu e quase todos os membros de minha família fugimos logo depois do desabamento. Nós já sabíamos o que estava prestes a acontecer. Temos informantes dentro do palácio e também nas bases do exército.  Era questão de tempo até que minha cabeça rolasse como aconteceu com Zurigi.

Zurigi era o nome do antigo presidente de Republic City.

— Venon, aquele traidor. Ficou do lado dele. Talvez ele seja o único Varick naquele país. Tenho certeza que ele ajudou a tramar tudo isso. – Alfinik continuou.

Paiku começou a girar na cadeira, ele parecia desinteressado.

 Eles continuaram a falar  do que aconteceu. Porém eu não vejo como eu me encaixo nisso.

— E você Saira. – Um dos capitães olha para mim — Já teve contato com o Avatar Haru.

Contato? Eu mal o vi naquele dia. Foi muito confuso.

— O que vocês querem dizer com contato? Eu o vi durante alguns segundos.

— Você é amiga de Meelo e Suni certo? Filhos de membros do conselho.

— Do Meelo, até pode ser. Sei que Suni é amiga dele, porém nunca a encontrei pessoalmente.

— E também tem aquela garota. A que também se diz Avatar.

— A Mira? Ela não se diz Avatar, ela não precisa. Ela realmente é eu vi com os meus próprios olhos. – Eu digo tentando conter a animação que se formava dentro de mim.

Não tenho como evitar. Eu sou fã de todo o legado Avatar.

Um deles coça a garganta.

— Muitos se dizem. Se contarmos, temos 3 avatares no momento. Essa garota, Haru e o que a União do fogo apresentou.

— Vocês realmente não entendem nada. Não leram os livros de história? Só pode haver um Avatar.  E ele é a Mira.

— E como você explica o Avatar Haru?

— Um zumbi, que voltou dos mortos para destruir o mundo. – Eu digo com certo tom de brincadeira.

Eu tinha várias teorias quanto a isso, porém não pretendia compartilha-las com essas pessoas.

Eles suspiram.

— Apesar de dirigir um mecha e ter responsabilidades de adulto, vocês são todos crianças...

Quem suspira agora sou eu.

— O que vocês querem comigo, afinal de contas?

— Você é uma peça em uma missão de espionagem.

— Espionagem? – Quase digo com brilho nos olhos.

— Não podemos declarar guerra abertamente, ainda temos um acordo vigente com Republic City, mas depois dos últimos acontecimentos, não podemos esperar sentados. Ainda mais agora que o Clã do Metal está envolvido.   

Apesar de pertencer territoriamente a Laogai, Zaofu é uma cidade independente com força igual ou maior a Laogai. O clã do Metal pode ser um excelente aliado e um terrível inimigo. Nunca tivemos problemas com eles. Mas quem sou eu para dizer alguma coisa. Sou apenas uma policial que atua nas ruas de Multar, não estou por dentro dessas intrigas políticas e nem nada parecido. Também nunca ouvi Paiku ou Ren falarem disso.

— Só podemos fazer isso debaixo dos panos. Vamos enviar você, Ren e Tomu para uma missão de reconhecimento.

— Por que eu? 

— Ouvi dizer que você consegue controlar o garoto.

— Você está falando do Ren?

Enviar o Ren em uma missão dessas é loucura.

— Isso é loucura. Por que não Paiku? Apesar de ser ridículo, ele é um ótimo dobrador.

Paiku parou de girar. Ele me fuzilava com os olhos. Eu quase podia ver uma veia saltada na sua testa.

— Ele é famoso. Na realidade os únicos prodígios sem patrocínio é ele, e Tomu, pelo menos por enquanto.

Isso era tudo muito estranho. Eles não me convenceram. Porém eu não podia fazer nada contra isso. Eu já estava manchada perante a eles, não podia dar mais motivos.

— Claro. Quando começamos?

— Imediatamente. –  O capitão me disse.

Sai daquela sala sem entender nada.

— Não me desrespeite mais na frente dos nossos superiores. – Paiku disse alto.

— Você sabe realmente qual o motivo dessa missão?

Paiku ficou sério.

— Não. Mas, desconfio. Nada é como eles dizem, nunca foi. Mas, não vamos falar sobre isso. Lembre-se é uma missão de espionagem.

Essa ideia me deixava confusa. Eu estava ansiosa e desconfiada. Porém, eu só poderia obedecer.

Chegando ao térreo. Tomu parecia eufórico.

— È minha primeira missão! – Ele dizia várias vezes, ao arrumar sua mala de roupas. – Estou tão feliz de fazer isso com você!

— Eu também. – Eu respondi.

E quanto mais o tempo passava, mais eu percebia como seria perigoso.  Eu não tinha os detalhes  do objetivo desse reconhecimento, mas por  estarem  reforçando as fronteira, algum motivo sério existia.

Cansei de esperar o Ren por isso fui procurá-lo. Fazia tempo que eu não o via.

A arena em que ele estava era feita especialmente para ele. Ficava no subsolo do prédio e possuía um pé direito alto, o que a fazia ser mais profunda. Cercada de água por todos os lados, o chão era de cimento cru e a iluminação não era das melhores. 

— Você sabia que as outras arenas são bem melhores que essa? – Eu disse quando eu vi o garoto de cabelos azuis, sentado no centro da arena. Ele estava de costas para a entrada. Mas quando eu entrei, ele se virou.

Ele não sorria. Isso quase não acontecia. Ren era um garoto sério, pelo menos em grande parte do tempo. Não possuía senso de humor e falava pouco. Porém era cruel em suas batalhas, grande parte por não conseguir controlar o grande poder que tinha.

Crescemos juntos. Ele, Paiku e eu. Viemos do mesmo lugar amaldiçoado. Ele como nós, fomos abandonados para morrer naquele lugar, porém Baba Dy nos acolheu.  

Vivemos lá por muito tempo, até que em um fatídico dia, Ren me matou.  Temporariamente. Ele tinha acabado de descobrir que era um dobrador de água. Não um simples dobrador, um prodígio, que podia dobrar sangue. Baba dy e a as raízes da grande árvore me salvaram, porém Ren nunca se perdoou por isso.

— Saira. Você já sabe de tudo? Teremos que ir hoje, para aquele lugar.  

— Sim. Contaram-me. Eu ainda não sei de verdade o que faremos, mas vou conforme as ordens.

Ele se virou novamente.

— Você sabia? O mar morreu hoje.  – Ele parecia pensativo.

— O mar morreu? Você está enlouquecendo mesmo? – Eu disse em um tom de brincadeira.

— Mas, não tem problema. Eu não preciso dele, como os outros. Eu consigo fazer isso somente com o meu poder.

— Fazer o que Ren?

— Matar Haru. 

 Apesar de crescermos no mesmo lugar. Ren já foi de uma família importante, que foi segundo ele, massacrada pelo Avatar. Sua mãe foi a única sobrevivente e viveu seus últimos dias na terra amaldiçoada. Porém por diversas vezes encontrei inconsistências nessa história. Há muito mais nisso do que ele ousou me dizer.  

— Você sempre diz isso Ren.

— Mas, diferente se sempre, agora eu tenho permissão de matá-lo.

E naquele momento eu soube o verdadeiro  motivo da nossa missão.


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Notas finais do capítulo

Desculpem a demora. Capítulo novo postado, e também quero agradecer a @trindade_arte que fez essa ilustração lindona para essa fic. Mira e Haru ilustrados.



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