Avatar: A lenda de Mira - Livro 4 - Fogo escrita por Sah


Capítulo 18
Conversa franca




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Mira

É difícil não me recordar de tudo o que aconteceu.  Aquelas imagens passam pela minha cabeça como um filme.  Nossa luta, a armadilha e o navio. Tudo passa por mim rapidamente.

— O que você quer? – È a primeira coisa que eu pergunto.

Ele continua igual. Só que agora ele usa um uniforme muito mais formal. Quase igual ao do capitão que nos trouxe aqui, porém com muito mais insígnias e uma patente muito maior nas  ombreiras.  Seu cabelo está preso em um rabo de cavalo e um sorriso está estampado em seu rosto.

— O que eu quero? É tão engraçado você perguntar isso. Parece que não se lembra de toda a nossa trajetória.

Riku parece tranquilo. Apesar da fumaça e do princípio de incêndio, ele está relaxado.  O que havia acontecido aqui?

— Bem, Mira. Você percebe que é uma imigrante ilegal. É o que eu estava falando para o seu amigo, que vocês cometeram um grande crime ao entrar sem permissão no nosso país.

Era engraçado ouvir isso do cara que quase nos sequestrou e queria nos trazer para cá.  Assim eu não tive como não rir.

— Isso não é engraçado? – Riku me perguntou.

Era por isso que ele estava tão relaxado. Ele estava se divertindo com as coisas que esse cara tava dizendo.

Apesar de tudo Zunder não pareceu ofendido.

— Apesar de nossos conflitos. Temos um acordo de paz temporário com Republic City. – Ele fez questão de enfatizar o temporário.

Riku começou a se entediar com as palavras dele.

— Ele não quer me dizer o motivo de toda essa enrolação – Ele disse se dirigindo a mim.

— Bem, como eu posso explicar. Vocês estão em nossos territórios, e como dizem os rumores, todos os dobradores de fogo nos pertencem. Inclusive você Mira.

Isso estava se encaminhando para uma situação perigosa. Inconscientemente eu entrei em posição de ataque.

— Calma. – Ele levantou as mãos. - Não estou aqui para captura-los. Pelo menos não ainda.

— O que você quer então? 

Ele se levantou e andou de um lado para o outro.

— Isso eu ainda não posso dizer. Mas, eu preciso da sua ajuda.

Eu não tinha muita escolha, porém eu poderia usar isso ao meu favor.

— Seja o que for. Eu tenho condições.

Zunder se sentou de novo. Ele parecia concentrado nas minhas palavras.

— Se tiver ao meu alcance.

— Você não vai aprisionar ninguém que veio comigo ou me ajudou.

— Certo.

— Eu quero ter permissão de ir e vir, e poder treinar.

Ele pensou um pouco, mas, aceitou.

Eu tentei pensar em outras condições, mas naquele momento aquelas eram suficientes.

— E o que você quer que a gente faça?

— Inicialmente, quero que você fique ao meu lado, e me ajude a mostrar para essas pessoas que eu sou o avatar.

Suni

Ah, eu não conseguia ficar quieta. Como deixamos isso acontecer? Por que deixamos eles levarem Mira e o Riku?

— Ele quis evitar o conflito. – Meelo me dizia.

Riku evitar conflito? Essa era nova. Talvez, no passado, quando ele era uma múmia repleta de remédios.  

Meelo estava calmo demais, e isso estava me deixando cada vez mais nervosa. 

— O que falaremos para o Sina?

— Não quero pensar nisso.

Na maior parte das vezes eu conseguia entendê-lo. Meelo era como uma janela aberta para mim. Toda a sua calmaria e tempestade, eu conseguia na maioria da vezes compreender.  Desde quando éramos mais novos. Mesmo com todas as nossas diferenças e implicâncias. Ele era a pessoa que mais me entendia na face da terra.  Mas, naquele momento eu me sentia um pouco distante dele.

Eu olhei para ele. Seu cabelo estava bem diferente. Bagunçado, uma coisa que não combinava nenhum pouco com ele. 

— O que foi? – Ele me perguntou, quando ele me pegou encarando.

— Nada. É que sinto falta de antes. – Eu disse com pesar

Seu olhar ficou triste.

— Me desculpe.  – Eu disse me sentindo culpada

— Não precisa se desculpar. É que eu me lembrei da minha família.

Família. Fazia um tempo que eu não pensava neles. Eu tentei enterrá-los no fundo da minha mente. Mesmo com toda a indiferença dos meus pais, e as estranhezas de Suki, eu realmente sentia falta deles.

Eu suspirei. Pensar nos problemas do passado, fazia com que tudo ficasse pior.

Fomos para a casa vermelha nos sentindo de mão atadas. Sina já havia saído para trabalhar. A função que ele realizava era cansativa e demorada. Então ele não ficava tanto tempo assim conosco.

A minha função era ajudar em uma pequena loja no centro. Que foi destruída na tempestade. Mais um problema para pensar. Meelo iria para a escola.

— Você não pode ir trabalhar. Nossos disfarces não importam mais. – Eu disse firme.

Ele me olhou com pesar.

— Eu sei. Mas, lá eu consigo pensar, e raciocinar melhor. Ou mesmo esquecer de todos esses problemas. Dessa merda toda.

— Eu odeio quando você faz isso. Eu realmente estou te odiando muito nesse momento Meelo. Você realmente se quebrou com a traição do seu pai e parece que nunca vai conseguir se recuperar disso. Espero que você não se esqueça que não é o único que está passando por isso

Eu fiquei muito  magoada com ele. Principalmente quando ele não me respondeu, não retrucou ou mesmo me acalmou.

Nesse momento a única coisa que eu precisava era de um ombro amigo. Alguém para conversar ou mesmo lamentar.

Sem a Mira, ou o Meelo eu que já fui chamada de Destemida Suni, me sentia completamente sozinha e perdida.

Eu quase nunca me sentia assim. Eu tinha medo, claro, receios  e preocupações, porém eu nunca deixava transparecer, pelo menos não para a maioria das pessoas. A única pessoa que realmente conseguia ver sobre essa armadura era o Meelo.

— Você está bem? – Era o velho. Dono dessa casa. 

Normalmente ele não era tão gentil. Só que eu vi no seu olhar uma centelha de preocupação.

— Estou. – Eu disse forçando o meu melhor sorriso.

Ele pareceu pensativo.

— Bem, com tudo o que aconteceu, e está acontecendo, não tem problema se sentir triste.

Eu levantei a minha cabeça.

— Eu pareço triste?  Só estou ansiosa. Eu sei que a Mira irá resolver tudo. Ela sempre resolve.

 Saio de perto dele. Acho que seu eu permanecesse muito tempo, eu iria desabar em lágrimas.

Respirei fundo. E tentei pôr a cabeça no lugar.

Quanto tempo será que eu vou aguentar?

Mesmo antes, quando diziam que eu era quieta se solitária, eu conseguia esconder tudo o que eu sentia. Porém eu descobri com o tempo que minha melhor armadura é essa imagem de despreocupação.

Por isso não são todas as pessoas que me levam a sério.  Pelo menos não quando eu estou lutando.

Dizem que eu mudo quando eu estou batalhando. E bem isso é verdade. Acho que é o único momento que eu posso ser eu mesma.  Dura e autoritária, já ouvi Mira me chamar disso. E eu não posso discordar dela. É naquele momento que eu posso extravasar todos os ressentimentos que eu vou guardando dentro de mim. Porém, eu odeio ser assim. Eu prefiro sempre ser a Suni feliz e divertida.

Vou lá para fora. O sol ainda está coberto por nuvens, porém, ainda bem, não há previsão de chuva ou outra tempestade como aquela.

Os sinais de destruição são evidentes. Mas, percebo que aquelas pessoas não ligam para isso. Elas aos poucos vão reconstruindo o que foi destruído e se adaptando o que não pode ser restituído.

Eu sempre tive uma visão estranha da pobreza. Nunca vivi essa realidade, sempre achei que era divertido lutar pela própria sobrevivência. Como se a rotina que eu vivia, fosse a pior coisa do mundo. Como eu estava enganada. Eu só pensava assim por que eu podia pensar assim. Todos os privilégios que eu sempre zombei, foi o que me deu essa liberdade.

Agora vendo essa realidade, meus pensamentos e visão de mundo mudaram drasticamente.

Uma criança esbarra em mim. Ela está suja, coberta de lama. Me faz lembrar a mim a alguns anos atrás.

— Cuidado – Eu digo com delicadeza.

Ela me olha de cima abaixo e sorri.

Isso me faz lembrar de uma situação que ocorreu semanas antes. O dia que chegamos nesse país.

Essa criança não é como aquela que tentou me roubar. Mas, alguma coisa me faz comparar as duas.

— Espera. – Eu pergunto enquanto ela segue o seu caminho.

Ela não me ouve. Tento segui-la. Mas, a perco de vista assim que ela passa por uma grande pilha de escombros.

O que eu estava fazendo? Como ela poderia me ajudar?

Tento por a cabeça no lugar. Eu estou procurando uma desculpa. Uma alternativa para ir atrás da Mira.  Mesmo que inconscientemente.

Ando até meus pés começarem a doer. Ajudo algumas pessoas a tirar escombros do lugar. Forço com as mãos, mas empurro com a minha dobra. Ninguém parece perceber.

No final do dia. Eu estou exausta. E isso me faz me sentir melhor. Como se eu tivesse sido útil a alguém.

Quando eu volto para a casa vermelha. Eu ouço um princípio de discussão.

Sina e Meelo. Finalmente Sina soube o que aconteceu.

Ele está vermelho, não sei dizer se é raiva ou outra coisa, por que ele pergunta tudo com muita calma.

— Mas, você chegou a falar com um dos soldados? – Sina pergunta para o Meelo.

— Eu não conseguia impedir.

— Eu não estou perguntando isso. Eu preciso saber como foi a abordagem.

Meelo não sabia o que dizer.

— Eles só queriam o Riku. Só iam leva-lo. Só que Mira, ela não deixou ele ir sozinho.

Eles finalmente percebem a minha presença.

— Suni. -  Meelo diz baixo. Posso até sentir uma pontada de culpa nas suas palavras.

Sina se vira para mim. É difícil acostumar com o seu novo visual. Ele ,como o Meelo, tinha o cabelo comprido, e agora ele parece ser apenas mais um entregador desse país. Um excelente disfarce que combinou muito com ele.

— Eles vieram com a desculpa que ele era um herói. Trouxeram até a garotinha que ele havia salvo.

Sina pareceu pensativo.

— Isso parece apenas uma desculpa. Mas, não adianta pensar muito nisso. Só temos que ver uma maneira de voltar a capital. E fazer contato com eles. Não temos mais o que fazer.

Apesar de assustador, Sina era muito sensato. Mesmo quando brigava com o Riku ou a Mira, ele sempre tentava manter essa pose.

— Então é isso. Amanhã, vou ver uma forma de me mandarem para a capital.  – Ele terminou de falar e se retirou.

Meelo havia ficado quieto desde que eu cheguei. Eu ainda sentia raiva dele por ter preferido ir trabalhar a ficar comigo.  Por isso eu apenas suspirei fundo e me retirei.

— Espera. – Ele finalmente disse antes que eu dobrasse o corredor.

Eu parei e olhei para ele.

— O quê?

— Podemos conversar? – Ele disse acanhado.

Eu revirei os olhos.

— Se você vier com um sermão. Eu prefiro ir dormir.

— Não é isso.

— Então o que?

— Vamos para fora.

Eu não tive escolha a não ser a segui-lo.

Já era noite. As nuvens que cobriam o céu haviam se dissipado. E uma grande quantidade de estrelas agora se mostrava. O ar era gélido e constante.

— Daqui três dias terá outra tempestade. – Ele falou antes de qualquer coisa.

— Então temos que começar a nos preparar? Era isso que você queria dizer?

— Não. – Ele se aproximou mais de mim. – Eu só queria me desculpar.

Até o ano passado, eu e Meelo não tínhamos tanta diferença de altura. Só que agora, ele era pelo menos uma cabeça mais alto que eu.

— Ás vezes eu acho injusto você ter crescido tanto nos últimos meses.

Falar isso fez surgir um sorriso em seu rosto.

— Bem, são os meus genes. 

— O  seu pai é quase da minha altura! – Eu disse me fingindo de indignada. – E eu sou mais velha que você!  

— Só três meses. E olha, você já viu o tamanho da estátua do Avatar Aang? Ele é meu bisavô!

Eu sentia saudade de entrar nessas discussões inúteis com ele. Quase toda a raiva que eu sentia por ele havia passado. A única coisa que eu sentia agora era apenas mágoa.

— Bem. Eu quero me desculpar. Não só por hoje cedo. Mas, por tudo. Eu sei que desde que... – Ele não conseguiu continuar.

— Eu sei Meelo. Eu sei de tudo isso. – Saiu um pouco mais seco do que eu pretendia.  – Mas, ficar se lamentando não vai ajudar em nada.

— Mas, você não entende.

Ele iria recomeçar. Dar desculpas.

— O que eu não entendo? Talvez sua infância tenha sido mais difícil que a minha?  Que eu tenha tido uma família amorosa, que me compreende e cuida de mim?  Eu sei que não posso colocar a nossa dor no mesmo patamar, que cada um sabe o fardo que carrega.  Só que se você não conseguir superar isso. Você vai continuar no mesmo lugar. Por que você veio para cá afinal de contas?

Naquele momento eu finalmente senti as lágrimas escorrendo pelo o meu rosto. 

Ele pareceu surpreso. Mesmo para ele, eu nunca havia ficado assim.  Não era um choro simulado, como eu costumava fazer, eram lágrimas reais. Aquelas que eu havia escondido de todo mundo, em grande parte da minha vida.

Ele se aproximou mais, e colocou sua mão em meu rosto.  Limpando algumas lágrimas que molhavam a minha bochecha.

— Me desculpa. – Eu finalmente podia sentir a sinceridade em suas palavras.

Ele colocou a mão no meu queixo e o puxou para cima. Aproximou o seu rosto e me beijou suavemente. Não tive tempo de pensar muito. Apenas conseguia ouvir o meu e o seu coração batendo constantemente.


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