Avatar: A lenda de Mira - Livro 4 - Fogo escrita por Sah


Capítulo 14
O fim de um prodígio


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal. A quanto tempo. Me perdoem, mas com o final da faculdade vem o tcc, e ele me consumiu por inteira no último mês. Espero voltar com força total, e por isso um capítulo bem longo dessa vez. Obrigada!! E aqueles que comentaram no último capítulo, eu os responderei com calma! Muito obrigada por estarem acompanhando.



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Haru

Eu não sei se posso chamar isso de vitória. Eu fiquei tão debilitado quanto eles, porém, eu não cai. Eu permaneci em pé, enquanto planejava os próximos passos.

Meus pensamentos estão em Laogai, ou melhor no grande deserto. Há alguma força espiritual muito grande lá, disso eu não tenho dúvidas, mas será que é uma das que eu preciso?  

A grande árvore é o grande motivo de terem me prendido lá, por algum motivo, não é possível dobrar nada perto das suas raízes. É como se elas anulassem qualquer poder espiritual. Creio que isso será uma grande dificuldade.

— Vamos embora. – Eu falo para Kieran e Venon. Preciso planejar minha viagem.

Falo alto o suficiente para que Meelo ouça. Ele sabe que as coisas estão para piorar.

Depois de tudo eu acabo indo para casa dormir, descansar esse corpo debilitado. Deixo com Venon e Kieran resolver a minha ida a Laogai.  Apago e durmo profundamente. Sou engolido por um turbilhão de água. Será que eu estou sonhando? Sinto-me afogar. Vou perdendo o fôlego e começo a tossir.

Acordo com o coração acelerado, e tentando tomar ar.

— Você não vai me deixar em paz? – Eu digo para mim.

Esse é um dos pesos de todo esse poder. Eu ainda sinto esses espíritos dentro de mim. Resistindo e lutando o quanto podem. Porém existe uma coisa muito mais sombria que paira a minha mente e me faz recuperar o controle.

Tudo seria muito melhor se eu tivesse encontrado a Mira, porém nenhuma notícia até agora. Se ela tivesse morrido, eu seria o primeiro a perceber. Contudo, uma coisa eu tenho certeza, ela está por ai, provavelmente se fortalecendo. E eu não sei se isso me preocupa ou me causa orgulho.

Esses sentimentos quase humanos se reforçaram dentro de mim desde que eu peguei o poder de Yue Bay. Vaatu não parece se importar com isso. A única coisa que vem ao meu pensamento e a necessidade de mais poder.

Venon aparece logo cedo.

— Não conseguimos a permissão para a viagem. – Ele me diz quase melancólico.

Essas palavras demoram a fazer sentido.

— Qual dos dois?  Aposto que foi Tzar. Eu darei um jeito nisso rapidamente.

— Não. Ele me ajudou. Tentou se comunicar com o Governo de Laogai.  Falou ao seu favor, porém. todas as fronteiras estão fechadas. Ninguém tem permissão para entrar ou sair daquele país. Tzar disse que eles estão em estado de Guerra.

Saira

Fazia apenas algumas horas que havíamos chegado a Republic City. Estávamos hospedados em um pequeno hotel no centro.

Foi difícil conseguir os documentos necessários e simular o sotaque desse país, mas valeu a pena, havíamos passados despercebidos, pelo menos até agora.

— Disseram que ele estava em um ginásio ontem. Que ele levou crianças para testar o seu poder.  – Eu disse ao olhar um pequeno folheto colocado debaixo da nossa porta.

Ren estava deitado na única cama do quarto. Ele me olhou e voltou a olhar para o teto mofado.

— Não é uma surpresa.  – Foi a única coisa que ele disse.

Eu estava com o dobro da minha paciência. Apesar de gostar muito do Ren, fazia muito tempo que eu não convivia com ele.

Tomu, nosso pequeno dobrador de areia. Estava um pouco eufórico. Ele nunca havia saído de  Laogai, e a realidade de Republic City o estava animando.

— Eu não posso acreditar que álguem pode dormir em um local como esse. Ouça! Eu ouço todos os carros passando na rua.

Apesar de viver metade da sua vida no deserto, quando Tomu foi para a capital, ele conseguiu um patrocinador de cara, e viveu os últimos anos tendo do bom e do melhor.

— E você está se incomodando com isso? – Eu perguntei.

— Não! Isso é incrível! Republic City é incrível!

Levei a mão a cabeça.

— Sua inocência pode ser bem irritante, Tomu.

Ele sorriu.

— As vezes eu esqueço que temos praticamente a mesma idade.

Só que vivemos vidas bem diferentes.

Ele vai ser forçado a amadurecer agora. Como aconteceu comigo.

Ainda olhando para o folheto eu finalmente acho a mensagem.

Está  codificada, mas eu fui treinada para isso.

— O que diz ai? – Ren pergunta.

— Ele queria ir para Laogai. Tentou pedir permissão, mas ela foi negada, obviamente.

— Por quê?

— Por que ela foi negada? Você sabe do estado de Guerra não é? – Eu pergunto.

— Não isso. Mas, por que ele quer ir para Laogai. Isso não faz sentido.

Eu pensei no que Ren falou, e não veio nada na minha cabeça.

Ren permaneceu pensativo o restante do dia. Quase na hora do almoço eu resolvi sair para buscar alguma comida.

— Não saiam sob nenhuma hipótese. – Eu avisei.

— Posso ir! Por favor? – Tomu implorava para ir comigo, mas eu tive que negar. Eu não tenho problemas quanto a ele, mas alguém precisa ficar de olho no Ren.

— Você sabe que não. Mas, mais tarde eu prometo que daremos uma volta, nós três.

— Você prometeu! – Ele falou antes da porta se fechar.

Desço pelas escadas rangentes, fazendo mais barulho que o necessário. No corredor passo por um espelho bem enferrujado e vejo meu reflexo retorcido.  Meu cabelo está preso como sempre, e estou usando óculos especiais que igualam a cor dos meus olhos. Minha heterocromia não costuma passar despercebida, e acaba sendo um marca que me identifica aonde quer que eu vá. 

Ajusto os óculos mais próximos do rosto. E tateio a pequena bolsa que levo comigo. Nela tenho dinheiro o suficiente para comida e hospedagem por uma semana. Espero que esse tempo seja suficiente.

O cheiro da cidade me atinge assim que saio na rua. Fico pensando em como Laogai avançou, em como ela era pobre e conseguiu ser maior do que a cidade fundada pelo Avatar Aang.

Antigamente quando eu pensava no Avatar eu quase me emocionava. Sou uma fã de todo o seu trajeto, pensar que existiam forças maiores que a racionalidade humana e que seu representante andava conosco era reconfortante. Depois que eu conheci Mira esse sentimento se desgastou. Acho que foi por causa da sua humanidade.

Eu também cheguei a conhecer o Avatar Haru, porém eu não tive nenhum sentimento em relação a ele.  Parecia que ele somente era mais um humano comum, mesmo sabendo da sua história, Mira tinha muito mais de Avatar do que ele.

— Olha por onde anda! – Alguem grita para mim.

Ah sim, eu me perdi em pensamentos novamente. Isso tem acontecido bastante, e se agravou depois que chegamos aqui.

Respiro profundamente.

As ruas dessa cidade são confusas. Os nomes não indicam sua localização. Parece um monte de nomes aleatórios. Laogai tem um sistema que permite saber a localização somente pelos setores que você está.  Setor 32 B indica o batalhão mais próximo e a quantas ruas você está dele.

Só sei que quando eu vejo um restaurante eu paro abruptamente. Serve esse.  Eu entro.

É um restaurante pequeno, apenas cinco mesas com quatro cadeiras cada uma. Vou até o balcão e peço para a atendente, três lanches com bebida para viagem.

Enquanto eu espero eu olho para a pequena televisão que existe ali,

Nenhuma noticia relevante, apenas coisas banais sobre o cotidiano da cidade.

Porém com olhos mais atentos eu percebo o medo no olhar daqueles jornalistas. Eles falam do tempo com um angustia gritante. E quando mais eu penso sobre isso eu percebo que não é somente Laogai que está em estado de Guerra.  Desde a morte do presidente, Republic City tem passado seus próprios apuros.

Aonde será que está o Avatar? Aonde anda Mira e os outros? Da última vez que falei com o Meelo ele me disse coisas muito preocupantes, mas não dei valor na época, eu não imaginava que eu estaria aqui, nesse tipo de missão.

— Está pronto. – O atendente me diz me entregando três sacolas de papel.

— Muito obrigada. – Eu agradeço.

Sinto o cheiro de carne vindo dos lanches. E isso faz minha boca encher de água. Existe uma coisa que Republic City ganha de Laogai, a comida. Muito mais real do que eu como normalmente, sem corantes e sabores artificias.

Andando de volta para o hotel, eu percebo uma pequena confusão em uma das ruas. Meu instinto de policial acaba me levando até lá.

O hidrante havia estourado e uma mulher tenta controlar a água que sai dali com dificuldade. Existem três pessoas apontando armas para ela.

— É melhor se render. – Um deles diz.

Só que ela não parece ouvir. Ela faz movimentos desajeitados e tenta afastar aquelas pessoas. Ela até consegue fazer com que eles vão para trás, mas eu vejo nos seus olhos, que agoras estão muito vermelhos a força que ela está fazendo para retomar o controle.

A água dessa vez está indo até os meus pés, e uma fina chuva cai sobre mim. Eu não posso evitar o que está prester a acontecer.

Apesar de tudo, da sua dobra e do seu poder, ela ainda é humana, e essas pessoas estão fortementes armadas, a menos que aconteça um milagre ela vai sair daqui presa ou morta.

Eu respiro fundo e tento continuar o meu caminho, só que uma explosão chama a minha atenção.

— Isso é por causa da lua cheia. – Eu ouço alguem dizer.

Inicialmente isso não me preocupa. Ren sabe muito bem se controlar. Porém o verdadeiro problema e se ele não quiser fazer isso. Tivemos vários problemas com isso no passado. E pelas suas últimas atitudes, garanto que ele irá querer usar isso contra Haru.  

Por isso agora eu corro em direção ao Hotel.

Sem folêgo eu abro a porta abruptamente.

— Ren? Tomu?

Tomu está com a cara emburrada, muito chateado.

— Aonde está Ren? – Eu pergunto angustiada.

— Aquele maldito foi sem mim. Eu disse que queria ir, mas ele me ignorou e disse para que eu te esperasse.

Meu coração parou por alguns segundos. Ele planejou isso. Eles esperou para que saísse, e usou isso para fugir de mim.

— Aonde ele foi? – Eu quase grito para o pequeno garoto que agora me olha assustado.

— Ele disse que ia para a fronteira. Ele disse que iria aproveitar o seu poder sem limites de hoje, para por um fim naquele demônio.  Palavras dele, não minhas.

Não, ele não pode fazer isso com a nossa missão. Ele vai estragar tudo por uma chance.

Haru

No fim, eu iria forçar a minha entrada naquele país. Teria que quebrar alguns ovos, mas valeria a pena. A fronteira de Laogai fica somente a algumas horas do centro de Republic City. Irei até o grande deserto, e ninguém conseguirá me impedir.

Kieran e Venon preparam todo o necessário. Tentaríamos passar pacificamente, mas  qualquer intromissão me faria atacar quem me impedisse.  Esse era o plano.

Um turbilhão de sentimentos me atingem cada vez mais forte. Era a lua. Eu podia sentir, esse vai e vem de sensações, coisas que eu nunca senti antes, nem antes do meu congelamento.  Esse era um dos pesos, e isso fazia minha necessidade pela Mira aumentar.

Eu respiro profunfamente, vasculho o interior da minha mente e o encontro.

— Ás vezes o poder é um fardo necessário.

Minha mente pensa como ele. Só que ele não possui sentimentos ou emoções, assim é muito fácil essas sensações permanecerem na superfície.

Era muito mais fácil quando ele era apenas uma voz me dando conselhos. Sua influência diminuiu após eu absorver o espírito da água, porém ele nunca esteve tão forte.

— Senhor, podemos continuar. O carro irá pegá-lo em breve. – Diz Kieran.

Kieran acabou sendo um apoio valioso. Ele é inteligente e esperto e sua mágoa pelo Clã do Metal, faz ele agir como eu queira, já que a outra opção, é pior do que me seguir e obedecer.

— Obrigada. – Eu digo sem perceber.

— Ah, sim. De nada. – Ele responde sem jeito.

Há muito tempo eu não agradecia ninguém assim. Pode parecer irrelevante, mas sei que isso é ums consequência desses sentimentos.

Olho para o meu braço, e vejo as linhas brancas, as pequenas cicatrizes que eu ganhei junto com esse poder.  E quem diria que isso não seria a única consequência.

O carro chega depois de 30 minutos. É uma van escura com as janelas espelhadas.

Fora o motorista, eu, Kieran, e Venon, mesmo eu dizendo para ele não ir, seguimos viagem.

As estradas estão livres, não há muitos carros. O caminho leva a metade do tempo, e quando enxergamos a fronteira, eu vejo uma fileira de soldados do país vizinho.

— Isso vai ser complicado. – Ouço Kieran dizer.

Eu queria discordar com ele, mas ele tem razão. Laogai realmente está preparada para uma guerra.

E eu estou pronto para inicia-la.

— Kieran fique a posto, e Venon prepare-se para fugir a qualquer complicação.

—- Mas, eu quero...

Eu o interrompo.

— Caso o conflito comece, eu quero alguém que fale por mim. Preciso que você volte e avise a Tzar se preparar para a guerra.

Eu saio da van, junto com Kieran.

— Há muito metal por aqui. Muito mesmo. Apesar de não se minha especialidade, abaixo dos nossos pés estão pelo menos 15 grandes maquinários.

— Mechas?--  Sim. Uma das poucas nações que desenvolveram esse tipo de máquina. E isso pode ser um grande problema.

Eu olho para aqueles soldados e vejo a juventude em seus rostos. A maioria é jovem, não deve passar de 18 anos.

Laogai é uma nação de jovens, os poucos mais velhos comandam aquele país com suas carteiras cheias de dinheiro. O que faz com que os Jovens tenham que lutar.

Eu estralo o meu pescoço, apesar de já ter testado esse poder, acho que essa vai ser uma prova real de que eu sou invencível. 

Não existem dobradores de água por aqui. Não existe ninguém a quem eu posso me conectar.

Me aproximo devagar e chegando a cancela dois soldados apontam suas armas para mim.

— Quem é você? – Um dele me pergunta.

— Eu? Eu sou o Avatar e preciso ir até o grande deserto. – Eu digo torcendo para ele não me deixarem entrar.

— O senhor deve se afastar da fronteira. Ninguém tem permissão de entrar no país.

— Eu realmente estava querendo que vocês negassem assim eu tenho motivos para atacar a base.

Quando eu digo isso eu vejo os rifles a nossa frente desmontarem.

— Kieran? – Eu me viro para ele.

— Isso é uma armadilha, eles iam atirar de qualquer forma.

Eu olho para os guardas que olham confusos. Eles realmente perceberam com o que estão lidando.

Tudo o que acontece em seguida é bem rápido.   Eu controlo as linhas negras e faço com que todos os inimigos a nossa volta se ajoelhem.  Mas, sinto uma agitação no ar, e Kieram ergue uma pequena barreira a nossa  volta.

— Eles vão usar os mechas. – Ele diz com cuidado.

— Você consegue lidar com eles?

— Eu já disse. Sou bom com coisas pequenas, coisas grandes são confusas e desajeitadas, eu tenho muito dificuldade. Mas, posso tentar.

Os que estão ajoelhados tentam se soltar. Eles não entendem  o que os prende. Eu não posso segura-los por muito tempo. Por isso eu faço.

As linhas envolvem os seus pescoços, eu apenas forço um pouco. Alguns ficam roxos outros estalam com a força.

— O que é isso? — Kieran não entende.

— Algumas medidas são necessárias. Não se preocupe, eles só vão ficar desarcordados. – Eu minto para ele, que se tranquiliza.

Eles não vão acordar mais. Naquele momento eu matei aquelas 10 pessoas, possivelmente mais novas que eu quando me congelaram. Eu espero aqueles sentimentos me atingirem, mas a única coisa que eu sinto é fome. Apesar de tudo, o espiríto do Yue Bay, mesmo dentro de mim, está faminto pelo poder dos seus dobradores de água, e mesmo que esses não sejam, ele ainda sente essa necessidade.

Eu não consigo ver essa força espiritual, mas sinto ela me inundar e sensações novas me preenchem por alguns segundos.

E eu achei que Vaatu não se importava com os humanos. No fim nenhum deles liga para vidas humanas. Assim todos eles são egoístas e loucos por poder, só que Vaatu não esconde isso.

E assim, tudo isso me da forças para continuar minha empreitada.

O chão treme e eu posso ver os primeiros mechas se aproximarem.  

— O que é isso? – eu digo olhando para aquelas coisas. Minhas linhas negras a circulam mas não passam da sua carapaça. É como se ela evitasse o poder.

— Venon – Eu grito para ele. – VocÊ sabe o que é isso?

Ele que estava distante se aproxima.

— Foi o ultimo projeto, eu não sabia que eles haviam terminado.

— Último projeto?

— Aquele que matou o meu pai, não era só a caixa de contenção. Ele queria fazer isso. Uma barreira contra qualquer tipo de poder espiritual. Foi o projeto da vida dele, e parece que meus irmãos a finalizaram.

Isso era um problema, um grande problema. Eu era inútil contra isso. Apenas um humano comum.

— Kieran?

— Há alguns componentes de metal, mas nada essencial. Mesmo que eu o ataque, meus projeteis não consequiram passar da blindagem.

Era isso? Meu fim? Ser impedido por humanos tão comuns como esses a minha frente.  Nem Vaatu nem Yue Bay, nenhum deles podia contar  com isso, com essa engenhosidade. É por isso que os espíritos estão perdendo espaços para os Humanos. Foi nesse momento que cheguei essa conclusão.

— Mãos aonde eu posso ver! – Uma voz grave e feroz falou de um dos Mechas.

Eu só a obedeci. Não havia outra forma.

— Todos eles estão mortos. – Outro Mecha observava os soldados caídos.

Kieran olhou para mim com um pouco de terror em seus olhos, depois olhou para as próprias mãos. Ele sabia que era tão culpado quanto eu.

Eles nos fizeram ajoelhar e esperar.

Eu sabia que podia morrer a qualquer momento. Mas, quando eu achei que tudo estava acabado eu senti uma conexão. Era fraca e estava se aproximando rapidamente.

Eu tinha certeza, era um dobrador de água.

Saira

Eu não consegui alcança-lo. Só sabia que ele estaria na fronteira.  Eu e Tomu pegamos um ônibus que nos deixou a apenas 40 minutos do nosso destino, eu não sei o que Ren fez, se ele pegou uma carona ou veio a pé até aqui.  Mas, eu não o vi quando nos aproximamos da base.

Eu podia ver alguns mechas ao longe,  e havia alguma coisa errada.

Tomu que normalmente era inquieto e falante estava em silêncio.

— Você percebeu alguma coisa? – Eu perguntei a ele.

— Sangue. Há sangue no chão. Eu posso sentir o seu cheiro nas partículas de poeira.

Eu só conseguia pensar no Ren.

O que eu vi me deixou confusa. Haru estava ajoelhado, cercado por diversos Mechas. Havia mais dois homens com ele na mesma posição.

— Mãos aonde eu possa ver.

Alguem em um Mecha disse para mim e Tomu.

— Eu sou Saira, Batalhão Urbano 3A. Estou em uma missão, o que está acontecendo soldado?

Ele não diz nada. Ele está pesquisando meus dados.  Quando ele confirma ele liga o comunicador novamente.

— 10 baixas, mas conseguimos prender o suspeito.

Meu instinto gritava perigo, tinha alguma coisa muito errada acontecendo, quando eu olhei para o garoto que se dizia Avatar eu percebi que eu tinha razão, seus olhos verdes queimavam de ódio e um pequeno sorriso malicioso estava se formando.

— Tem alguma coisa errada soldado. – Antes que eu terminasse ,eu vi Ren, finalmente ele havia chegado.

Seu cabelo escuro e azul brilhava em contraste com o sol que estava se ponto. A lua que já estava presente desde mais cedo estava começando a ficar maior.  Era Lua cheia afinal.

— Ren? O que você pensa que está fazendo?

— Essa é minha missão Saira. Desde que eu me lembre.

Ele olhou para Haru e fez com que uma onda de água, que eu não sei da onde veio afastasse os mechas do Avatar.

— Finalmente. Eu posso olhar para você.

Haru parecia  tentar reconhecer o garoto.

— Eu não sei quem é você, mas eu agradeço por estar aqui, hoje.

Ren riu para ele.

— Não sabe quem eu sou?  Acho que não sobraram muitas memórias de antes. Mas não se preocupe, eu sei bem quem você é.

Ren é o melhor dobrador de água de Laogai, mas antes de tudo ele é um prodígio. Apesar da dobra de sangue ser um tabu e proibida em vários países, em Laogai Ren é o único que sabe fazer isso e é apoiado e tem até fans que o admiram exatamente por esse poder.

— Faz tempo, muito tempo. Eu não imaginava que alguém teria escapado.

É haru que diz. Ele parece saber o que diz.

— Não foi nada pessoal, eu nem queria estar naquele lugar, mas era uma época sombria, não tanto quanto agora, mas mesmo assim era.  Não foi minha culpa, foi o conselho, tanto de Republic City, quanto de Laogai.

— Não, tudo isso foi sua culpa. Tudo!

Eu sabia da história do Ren, ele foi encontrado ainda quando bebê pela Baba Dy, a mulher que nos criou aos pés da grande árvore. Ele só soube da sua origem anos depois, quando ele ingressou no prodígio, junto com Paiku, meu irmão mais velho.

Sua família, eram um dos poucos remanescentes de um clã de dobradores de água do polo norte, eles foram expulsos quando descobriram que estavam desenvolvendo a dobra de sangue. Proibida nos dois polos. Vieram viver em Laogai em uma época de grandes conflitos. E acabaram mortos pelo Avatar Haru em um desses. Isso é o que eu sei.  Desde que ele soube disso, ele nutriu um sentimento de vingança, e como a sua família, lapidou ainda mais a sua dobra, sendo capaz de controlar o corpo humano de várias formas.  Tal como aconteceu comigo, diversos acidentes aconteceram até que ele pudesse controlar isso.

— Eu tinha sofrido diversos procedimentos, eles me entupiam de drogas e me controlavam. Aqueles dobradores de sangue foram apenas mais alguns de todos aqueles que ele me mandaram matar naquela época.

— Eu sinto todos esses sentimentos que exalam de você, e infelizmente eu terei que redirecionar isso.

Haru continua a falar, de repente ele se levanta e aponta uma das mãos para Ren que está parado.

Eu sinto um peso enorme nas minhas costas, sinto sede e cansaço e uma sensação familiar de controle.

— Ren? Por que está fazendo isso?  

Olho ao redor e vejo que ele está fazendo isso com quase todos a sua volta.

— É ele. – Ele diz com dificuldade.

— Viu? É assim que fizeram comigo. E assim que faziam. Me controlavam para eu fazer o trabalho sujo.  – Haru diz andando entre todos nós.

O mechas foram desligados e as pessoas que o controlavam saíram de lá.

— No fim, você foi muito útil, por isso vou deixa-lo viver. – Ele diz perto de Ren. — Agora os outros, são desnecessários.

 Eu sinto alguma coisa passar pelo o meu pescoço, algo escuro. Eu sinto falta de ar e uma pressão estranha no pescoço.

— Ren... – Falo com dificuldade. Estou perdendo a consciência. Não consigo ver Tomu, ou ninguém.

 Haru.

No fim eu consegui, eu sempre consigo, esse dobrador de água foi crucial para que tudo desse certo.

Kieram não me olha mais nos olhos e Venon ainda está assustado. Eu olho para aquele garoto de cabelo azul e o solto da nossa conexão.

Quem diria? O melhor dobrador de água estaria aqui! Melhor de sangue, ele não só controlava o sangue, mas todas as funções vitais. Kiha ficaria com inveja.

Estou pronto para continuar o meu caminho quando eu sinto uma pressão na minha perna. Eu olho para o dobrador e ele ainda está conciente.

— Não, Saira. – Ele diz coisas desconexas.

Eu tento restabelecer a conexão, mas eu não consigo , eu tento novamente e eu o sinto resistir. O que está acontecendo? Tudo faz sentido quando eu olho para o céu.

— Tui?  -- Eu digo para mim mesmo.

Dessa vez sou atacado por trás. Não por água, mas por areia.

Mais um prodígio?  Às vezes eu esqueço que apesar da escassez de dobradores de Laogai aqueles que existem, são os melhores entre os melhores .

— Eu consegui Ren, eu fiz uma proteção de areia. Em mim e na Saira. Ela só está desacordada.

O garoto desaba a nossa frente, ele está aliviado eu posso sentir, mas esse foi o seu grande erro. Com isso eu consigo refazer a nossa conexão.

O pequeno dobrador de areia até que se move com graciosidade, porém ele é apenas uma criança.

Eu posso sentir a areia passar pela a minha pele. Dói, como pequenos furos de agulha. Ele tenta me atacar por trás. Porém faço o outro garoto erguer uma parede de água entre nós.

— Ainda te falta treinamento. Pena que você não terá mais futuro para isso.

É cruel eu sei, matar um dobrador tão talentoso, com tanto potencial. Porém como eu mesmo disse. Às vezes temos que quebrar alguns ovos.

A areia está molhada e assim Ren, o dobrador consegue fazer ela ir contra ele.

— Ren! Acorde disso!

Eu sinto o garoto lutar, eu sinto que ele quer quebrar a conexão, e pouco a pouco ele está reunindo poder para isso. Por isso eu não me alongo.

Faço com que  Ele mesmo pare o coração do pequeno dobrador.

Eu vejo lágrimas escorrerem dos seus olhos ele sabe o que está fazendo, quando eu termino nossa conexão já está quebrada, porém o garoto também está.  


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