Avatar: A lenda de Mira - Livro 4 - Fogo escrita por Sah


Capítulo 13
Coragem


Notas iniciais do capítulo

Depois de muita demora. Capítulo novo.



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Riku

Eles realmente me deram uma função. O uniforme é odioso, fede a coisa velha, estava úmido quando eu vesti.

— Você irá me ajudar na delegacia. Apesar de ser modesta, somos a maior da cidade. E como você sabe somos uma cidade grande. – Disse Ikir, o guarda a qual eu irei auxiliar.

Subimos na viatura caindo aos pedaços. Com dificuldade ele ligou o motor.

— Não temos muitos recursos, mas fazemos o que podemos.

A todo o momento ele dava desculpas. O chão é esburacado  por causa disso, o muro da delegacia está desabando por causa daquilo. E isso me irritava muito.

A delegacia também estava arruinada. As paredes estavam escoradas e o teto era de uma telha bem vagabunda.

Haviam muitos guardas naquele espaço. Nenhum deles pareceu se importar quando eu entrei com Ikir.

— Como eu disse é uma cidade grande. Então temos muito trabalho.

O trabalho que ele estava se referindo eram coisas banais. Alguns furtos ali, outras brigas de vizinhos  aqui. Nada interessante. E eu realmente achei que poderia espantar o meu tédio.

E o dia passou tão rápido quanto começou.

Quando voltei para casa vermelha. Todos os outros já haviam chegado.

— Então. Foi tão divertido. Conversei com várias pessoas hoje. – Suni dizia para Mira que ouvia atentamente.

— Isso é ótimo. Eu só ajudei o velho para lá e para cá. Fomos a vários lugares em compensação.

Meelo era o que mais parecia empolgado.

— Foi fantástico. Apesar das limitações, eu pude ensiná-las, pelo menos um pouco.

— Você não causou nenhuma confusão?

Eu não percebi quando Sina se aproximou.

— Confusão? Isso era uma coisa que eu gostaria que acontecesse. – Eu disse frustrado.

Ele suspirou de alivio.

— Isso é uma boa notícia.

Dei uma cotuvelada na barriga dele.

— Tedioso, como tudo aqui nesse lugar.

Sina parecia exausto. Eu acho que o trabalho de mensageiro era o mais cansativo que  todos os outros.

— Você está uma porcaria. – Eu disse para ele.

Sina limpou a garganta.

— Não é muito diferente do eu fazia em Republic City. Muita burocracia, porém, toda a estrutura desse lugar atrapalha muito esse tipo de trabalho. Não há muitas formas de transporte, então tive que fazer tudo a pé.

— Nossa. Parece bem divertido. – Eu disse desinteressado.

Naquele dia não houve treinamento. Suni queria que eu ensinasse a Mira a dobrar fogo, porém eu não estava ansioso para isso.  E isso me deixava confuso.  Normalmente essa seria uma oportunidade para lutar, mas, dessa vez um tipo de responsabilidade estava recaindo sobre mim, e eu não gostei nada disso.

No outro dia, eu cumpri a mesma rotina com Ikir. E eu me senti como se tivesse preso de novo aos inibidores.

Foram mais dois dias assim, até que finalmente algo aconteceu.  Ikir que sempre ficava perto se mim com um cão de guarda precisou se ausentar da delegacia, e assim eu finalmente pude ver como as coisas são de verdade.

— Novato? – Um homem se aproximou de mim.

Eu respirei fundo e não respondi.

— Eu estou falando com você. – Ele falou de novo.

O homem estava mais para um garoto de barba. Era pouca coisa mais alto que eu, e seu cabelos negro era uma coisa comprida e desarrumada. Usava um uniforme mais surrado que o meu.

— O que é? – Eu falei baixo.

Ele me encarou e sorriu.

— Você não quer fazer as rondas com o meu grupo hoje?

Rondas? Ele finalmente tinha minha atenção.

— Sei que o Ikir te deixou esses dias fazendo relatórios. Mas, como ele não está aqui. Você pode vir com a gente.

— Eu vou. – Eu disse sem pensar duas vezes.

— Sem pestanejar. Eu gosto do seu estilo garoto. – E a propósito meu nome é Rak.

Ele estendeu a mão para mim.

E eu o cumprimentei.

— Riku. – Eu disse.

— Muito bem Riku. As rondas começam agora.

Eu não sei que tipo de expectativa eu estava criando, só sei que agora eu me sentia decepcionado. Tão chato quanto ficar na delegacia, era andar nesse carro caindo aos pedaços pelas ruas dessa cidade.  Além de Rak, dois outros rapazes faziam as rondas conosco. Molin e Baec eram os nomes deles. Diferente de Rak, os dois pareciam bem mais velhos que eu. Baec já colecionava fios brancos no alto de seu cabelo, e  Molin usava um quepe que escondia o que ele tinha sob a cabeça.

— Você não parece animado. – Rak disse em minha direção.

— Isso tudo é tedioso. – Eu falei sem interesse.

Rak me olhou pensativo. Parecia que ele queria me dizer algo, mas se calou e voltou a olhar pela janela.  Molin dirigia com cuidado. Não existia outra forma de andar por aqui. Existia um buraco a cada 10 metros.

Andamos por cerca de 40 minutos, até que o carro encostou.

— Agora entraremos em uma parte um tanto quanto perigosa. – Rak disse para todos ouvirem. – Então, Molin e Baec já sabem, mas o novato, acho que nunca entrou nesse bairro.

Ele tinha a minha atenção.

Descemos do carro. Baec foi até a traseira e abriu o porta-malas. De lá ele tirou uma espécie de cano de metal.

Apesar de bem antiga eu logo reconheci.

— Isso é uma arma? – Eu perguntei.

— Um rifle de balaço. Apesar de antigo. – Rak falou.

— Por que você precisa disso?

Rak foi até Baec e ele mesmo retirou outro rifle do carro.

— Infelizmente como em qualquer cidade grande temos crimes e violência. E aqui em Huali é intensificado. Já que diferente de qualquer outro lugar da União, o exército não está tão presente. E como sabe também temos que nos proteger. 

Ele me estendeu um dos rifles.

Eu nunca havia tocado em uma arma de fogo. Eu nunca tive essa necessidade. Apesar que já tive problemas com elas antes. Eu passo a mão pelo o meu ombro e sinto a cicatriz que ainda existe nele.

— Eu não preciso. – Digo com convicção.

Rak me olha com dúvidas, e me oferece novamente.

— Acho que você não entendeu. Você faz parte da policia agora. E temos que proteger as pessoas. Infelizmente esse é um meio de isso acontecer.

Eu respiro profundamente e me lembro das palavras de Sina. O que ele havia dito mesmo? Ah sim. Eu não posso dobrar. Eu não posso atacar ninguém. Se isso acontecer tudo o que fizemos até agora não vai valer de nada. Eu não vou apenas ferir a pessoa, mas principalmente vou ferir a Mira.  Eu penso nela e me acalmo.

Acabo pegando o rifle. Ele é um pouco mais pesado que uma guarda chuva grande. Não pretendo usá-lo. Alias nem sei como se usa.

Rak parece muito satisfeito.

— Você destrava aqui. – Ele me mostra um gancho na base. – E atira aqui. Ela está carregada. Mas, não use a não ser que seja extremamente necessário.

— Certo.

—Pode parecer desnecessário eu dizer isso, mas, nosso amigo aqui. – Ele aponta para Baec.--  Já teve problemas. Então repetindo. Não use até que seja extremamente necessário. Essa é só uma maneira de amedontrar os bandidos que vivem por aqui.

Eu acenei positivamente.

Meu coração começou a bater mais rápido enquanto andávamos. Não havia muitas diferenças entre esse bairro e os outros. Tudo estava parcialmente destruído. Acho que a maior diferença era a falta de pessoas nas ruas, e que não havia tantos comércios.

Tinha uma coisa que eu ainda não entendia. Era o motivo de estarmos fazendo isso. Mas, eu não estava aqui para questionar. Isso era a coisa mais emocionante que eu fazia a dias.

No caminho encontramos algumas pessoas. Muito maltrapilhas e distraídas. Baec e Molin o revistaram e depois o liberaram.

— Vocês estão procurando alguma coisa? – Eu perguntei.

— Digamos que não é bem uma coisa. Mas, sim alguém.

Depois de mais de duas horas revistando pobres coitados, e tudo ficando tedioso novamente. Fomos cercados por um grupo de pessoas.

— Eu já disse que ele foi levado pelos militares. – um homem alto disse.

— Eu não acredito em você Bami.

O homem era grande. Havia cicatrizes brancas e vermelhas pelo seu  rosto e uma falha muito grande na parte da frente do seu cabelo. 

— Vocês nunca acreditam. Mas, eu não posso ficar apenas olhando enquanto você revistar o meu pessoal.

Molim empulhou a arma e apontou para o homem.

— Só queremos saber o que aconteceu com o Jorf e nada mais.

— Quem é Jorf? – Eu disse baixo.

Mas, ninguém me respondeu. Havia uma tensão no ar. Um cheiro de situação não resolvida. Era como se apenas com uma fagulha tudo pudesse explodir. Era o tipo de situação que eu adorava.

Uma alegria foi crescendo dentro de mim. E a voz do fundo da minha cabeça ficando cada vez mais alta.

Essa era uma ótima oportunidade. Mas, eu preciso me controlar. Eu não posso fazer isso. Eu tento lutar contra essa vontade.

— Um – eu conto alto. – Dois.

OS homens olham para mim.

— O que você está fazendo? – Rak pergunta.

— Três. – Eu continuo.

— O que esse retardado ta fazendo? – O homem a frente diz.

Eu paro e o encaro.

— Me controlando para não acabar com vocês.

Ele acha graça.

— Você acha que essa arminha vai proteger vocês?

— Não. Eu nem havia pensado nisso. –Eu respondo.

Ele está irritado. Porém as armas o fazem agir com cautela.

Rak não entende. Ninguém aqui entenderia.

— Você é louco? – Ele me pergunta.

Olha, ninguém nunca havia me perguntado tão diretamente. Assim eu fico tentado a responder. Mas, resolvo me calar. 

Existem cinco pessoas para cada um de nós aqui, e eu vejo que mais algumas se aproximam.  Eles pretendem nos vencer por quantidade.

— Não estamos aqui para brincadeira. Se vocês se aproximarem mais, podemos ser forçados a nos defender. – Molin disse alto o suficiente para todos ouvirem.

O homem das cicatrizes riu.

— Parece que estamos em um impasse.

Quando o primeiro tiro foi dado a confusão tomou grandes proporções. Molin atirou contra o homem na sua frente. O tiro foi de raspão, mas não impediu que os outros homens viessem para cima da gente.  Eles estavam armados com porretes e pedaços de ferro.   Baec e Rak apontaram seus rifles, o que retardou um pouco o avanço dos homens.

— Você também.  – Ele disse para mim.

Com má vontade eu empunhei aquele cano de metal inútil.

Mais um estampido, e vejo um homem cair no chão. Acho que essa foi a gota d’água. Sinto alguma coisa bater na minha mão. Forte e dolorido. Solto a arma em um reflexo.  Me abaixo para pegá-la, mas alguém tenta fazer isso também. Olho para o  rapaz a minha frente. Ele tem muita coragem. Muita mesmo. Nós dois tocamos a arma. Ele puxa com força. Porém eu tenho uma grande vantagem. Discretamente meus dedos estralam, e uma pequena corrente de eletricidade o faz soltar. Ele olha para mim aturdido, sem entender o que aconteceu.

Toda essa situação é complicada e poderia ser resolvida rapidamente. Mas, eu penso. O que aconteceria se eles descobrissem que eu sou um dobrador? Até eu tinha receio da União do fogo. Do que eles faziam com pessoas como eu. Porém não é isso que me impede. Por algum motivo, eu consigo me concentrar na pouca sanidade que eu tenho.

Pego o rifle e o aperto com força contra o meu corpo. Eu não farei nada que nos prejudique. Me seguro nesse pensamento, e consigo pouco a pouco calar a voz. 

O rapaz que tentou tomar a arma de mim recobra o juízo e me ataca com um pedaço de ferro.  Sou atingido nos braços e nas pernas.  Esse tipo de dor não é nada quando comparado com o que eu já passei. Mas, ainda assim dói. Ninguém me ajuda.  Caio no chão e o rapaz ainda tenta tirar a arma de mim. 

Muitas coisas passam pela minha cabeça.  Em outros tempos nada disso aconteceria.  Quase perco a consciência quando sou chutado no rosto. Eu só preciso aguentar mais um pouco. Só um pouco.

Sinto o meu corpo esquentar. Isso é normal para mim. Porém eu me seguro ao máximo. Na próxima vez que eu for atingido, nada irá me segurar.

As pessoas se dispersam. Aparentemente temos reforço. 10 policiais vem ao nosso socorro, cercando os homens por todos os lados.

Me levanto com dificuldade. Rak olha para mim com desaprovação.

— Estou decepcionado. Eu achei que você poderia ser alguma coisa. Porém é apenas mais um covarde que fala demais.

De toda essa situação essa foi a o que mais me irritou.

— Covarde? – Eu repeti para mim mesmo. Naquele momento eu era a pessoa mais corajosa daquele lugar.

Bami e os outros foram presos. E Rak, Molin e Baec tiveram que prestar contas a Ikir. No fim eu só ganhei hematomas e antipatia dos outros policiais.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo foi dividido em dois. Espero postar a continuação o mais rápido possível.



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