Ode aos desafortunados escrita por Angelina Dourado


Capítulo 3
O Canto e o Machado


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Estou aqui muito alegre e contente com a recomendação que Ode aos desafortunados já recebeu! Eu nem sabia se essa história ia ganhar uma recomendação, quem diria nos dois primeiros capítulos! Muito obrigada a Eu-Pamy e também a todos os favoritos, acompanhamentos e comentários!
Bem, sem mais delongas, boa leitura!



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 A cruz de ouro e prata foi trocada por uma muda de roupa nova, uma mochila de pele de coelho, pão de aveia, carne seca, uma navalha, tinta e uma fina pilha de papel em couro. Este era o mais novo tesouro de Friedrich e também tudo o que lhe restava.

Não sabia que rumo tomar, pois não é como se tivesse tido oportunidade de pensar nisso antes de escapar. Contudo, decidiu por ora seguir Loki pela Grã Bretanha até que descobrisse o que fazer. Por um momento cogitou se instalar em algum feudo e começar novamente, mas logo descartou essa opção por medo que aquilo que acontecera no mosteiro se repetiria novamente. Também não acreditava ser capaz de viver sozinho em alguma terra de ninguém, afinal não sabia lutar para se proteger e não tinha ideias para se sustentar.

Friedrich não estava acostumado com aquela vida tão instável. Mesmo antes de viver no mosteiro se acostumara com a fartura da colheita e a miséria do inverno, uma rotina simples e intocada. Haveria de se acostumar com a vida nômade, ou descobrir outra forma de tocar a própria vida sem que sofresse quaisquer riscos.

Ao menos o homem pagão não parecia se importar com sua companhia, na verdade até disse que sentia falta de ter alguém que o acompanhasse na vida de peregrino. Loki lhe contara que durante estes anos ele tivera as mais diversas companhias, que o acompanharam durante dias ou meses.

— Sabe esta minha espada enferrujada e sem corte? – Indagara mostrando a lâmina machucada pelos anos. – Ela pertencera á um grande amigo, nós viajamos juntos por quase dezoito meses. Joshua era um velho cavaleiro que resolveu abandonar a brutalidade quase no final de sua vida, deixando tudo para trás e decidindo se encontrar caminhando pela estrada. Um pouco antes de nos separarmos ele me deu sua arma, dizendo que eu era como um filho que ele nunca teve. Por isso mesmo que eu pudesse trocá-la por uma machadinha menos ofensiva, porém mais eficiente, não sou capaz de me desfazer dela. É como se sua força ainda estivesse comigo.

Esta era apenas uma das muitas histórias de Loki. O druida era mais interessante que muitos livros que Friedrich havia lido, com tantas tramas e personagens que por vezes duvidava que todas fossem realmente histórias reais. Por isso evitava falar de sua antiga vida, a não ser que o outro lhe perguntasse algo, pois por muito tempo apenas seguiu uma mesma rotina que perdurara diversos anos.

Não obstante, era um assunto do qual Friedrich não gostava de remoer.

Friedrich por vezes se sentia receoso e condenado por escolher um pagão como companhia. Mesmo não conhecendo Loki por completo já tinha a consciência de que ele não era do tipo de pessoa que se convertia fácil, o que tornava aquela situação ainda mais difícil na cabeça do monge. Sentia-se andando ao lado do próprio diabo e temia por sua alma e pela dele, afinal podia ver que Loki não era má pessoa - ou sua bondade seria o pecado tentando lhe iludir? – e frequentemente apenas ficava imaginando a danação no purgatório, sendo devorado pelas chamas.

Contudo, mesmo tendo a ciência de que Loki não poderia ser salvo, ainda sentia que sua convivência com ele não seria capaz de afetar a forma imaculável de sua alma, pois mesmo tendo saído do mosteiro continuava sendo um bom cristão. Tentava se lembrar dos trechos bíblicos que tanto lia e copiava em seu antigo ofício, rezava ao menos seis horas por dia, respeitava a autoridade de Deus e a Igreja e procurava ir todos os domingos a missa caso parasse em alguma vila. Não havia o que temer.

Então o que Friedrich estava fazendo, ajudando um pagão a colher os ingredientes para suas poções amaldiçoadas?

Salve Regina Mater misericordiae — Ele entoava os cantos que por tanto tempo aprendera a repeti-los todas as manhãs, enquanto colhia os alecrins selvagens que conseguiram sobreviver mesmo ao inverno, estando quase tão secos quanto um velho pedaço de palha.

Friedrich achava muitas atitudes de Loki hereges e regadas à blasfêmia, entretanto compreendera que seus remédios não possuíam nenhum tipo de feitiçaria ou malefício, pelo contrário, eles auxiliavam muitos enfermos. Isso fazia parte de um lado de Loki que o monge até admirava, com um conhecimento mais extenso que muitas escrituras, de forma que chegava até se questionar se aquelas práticas precisavam realmente ser tão condenadas pelo Santo Ofício – mas procurava afastar essas ideias, a rebeldia era um mal vicioso e Friedrich acreditava não poder cometer tal ofensa mais uma vez.

 

Vita dulcedo et spes mostra salve

Ad te clamamos exsules filli Hevae

Ad te suspiramus gementes et flentes

In hac lacrimarum valle

 

Estava tão absorto na colheita e na própria voz que não notou o observador logo atrás. Loki estava recostado em uma árvore, de braços cruzados, apenas apreciando a voz melodiosa de Friedrich.

Não estava usando o seu manto dessa vez, o que o fazia se sentir desnudo de certa forma, entretanto Friedrich havia lhe convencido que a roupa precisava ser limpa, pois mal dava para perceber o colorido dos bordados em meio á tanta poeira. Quando o estava estendendo no galho de uma árvore ouviu a voz de Friedrich e fora enfeitiçado pelo som até permanecer ali, apenas observando.

 

 

Eya ergo advocata nostra illos tuos

Misericordes oculos ad nos convente

Et ihesum benedictum fructus ventris tui

Nobis post hoc exilium ostende

O clemens o pia o dulcis Maria

 

Loki sentia seus pelos eriçarem conforme a música era declamada. O canto gregoriano de Friedrich era diferente de tudo que Loki já havia ouvido. Escutara diversos cantores, alguns até tinham belas vozes, mas jamais conhecera alguém com tamanha disciplina e controle no timbre. A voz de Friedrich era melodiosa e conseguia ser controlada de maneira que não desafinasse uma única nota. Não era o entretenimento das tavernas ou o júbilo dos festivais, era o fruto da disciplina e longos anos de prática.

Mas não era só a voz de Friedrich que Loki contemplava. Notava os fios loiros crescendo novamente em sua cabeça, tão claros que pareciam brilhar em contato do sol quase escondido pelas nuvens cinzentas. Os olhos azuis serenos percorriam a forma dos alecrins, juntando-os nas mãos calejadas pelos anos de trabalho braçal. O corpo magro e alto fazia com que tivesse a impressão de que fosse desengonçado, contudo Friedrich possuía trejeitos suaves e eficientes, de forma que qualquer atividade que realizava não fosse feita da forma mais rápida, mas o resultado acabava sendo sempre impecável tal qual um artesão.

Será que há pecado em apreciá-lo? Pensou dando um meio sorriso ao se lembrar de Friedrich mencionar tantas vezes ‘’pecado’’, ‘’danação eterna’’ e ‘’heresia’’. Nunca imaginou que teria seu vocabulário de referências ao Inferno tão estendido.  Na realidade é tudo o que você pode fazer meu caro Loki, apreciar de longe.

Alpha et omega misit de super... — Loki não esperava que Friedrich fosse se virar em sua direção, e quando o fez ambos levaram um susto. Mas o monge foi o mais afetado, derrubando no chão todo o trabalho que havia tido de colher. – Loki? Desculpe, não notei sua presença logo atrás.

— Não diga bobagens, eu que devo desculpas por me esconder feito um rato. – Disse sem jeito, abaixando-se junto a Friedrich para recolher o alecrim derrubado. – Você canta muito bem, ademais.

— Obrigado... – Friedrich pareceu surpreso com o elogio, fazendo o rosto pálido enrubescer. Loki achou graça daquilo, não conseguindo conter um leve sorriso. A questão era que Friedrich não se recordava se alguma vez havia sido enaltecido por sua voz, só conseguia se lembrar de correções de seu timbre e repreensões ao mais leve desafinar. Não sabendo como agir em frente disso ficou encabulado, mal conseguindo olhar para Loki sem sentir o próprio rosto queimar.

— Antes encontrei um velho conduzindo uma carroça, acredito que possa haver algum vilarejo aqui por perto. Acho que não nos falta suprimentos, mas posso ter a sorte de encontrar algum trabalho. – Loki comentou enquanto os dois voltavam para o pequeno acampamento que haviam montado no meio da floresta.  – E amanhã é domingo, imagino que você queira fazer a sua... Coisa.

— Igreja é o nome. – Friedrich revirou os olhos, mas com um singelo sorriso no rosto. Querendo ou não, ao conviverem juntos ambos acabavam aprendendo aos poucos os costumes um do outro. – Podemos seguir caminho então, talvez eu finalmente encontre alguém que tenha uma barra de sabão para vender. Pois o inverno não pode durar para sempre.

— Aliás, obrigado pela ajuda. – Loki disse indicando os alecrins que ambos carregavam.

— Não é necessário agradecer, é o mínimo que posso fazer para compensar pelo que fez por mim. – Friedrich disse lembrando-se da cicatriz que havia permanecido em seu peito. Por mais que ele mesmo tivesse costurado novamente, jamais teria sobrevivido sem a ajuda de Loki. Sendo ele pagão ou não, sua presença só poderia ter sido mais uma chance que Deus lhe dera.

Recolheram as poucas coisas que tinham e dividiram o peso entre as mochilas. Loki tinha certeza que quando Friedrich seguisse o próprio caminho uma das coisas que ele mais sentiria falta seria o peso a menos que carregava nas costas. Desde a chegada do frade suas costas agradeceram.

Começaram a percorrer o que sobrou da estrada em meio á tanta neve, seus passos quebravam o gelo e afundavam em meio a montantes de branco. Saía vapor à medida que respiravam e por vezes esfregavam as mãos geladas uma na outra para conseguir se aquecer. Estava para vir os dias mais frios do ano e os dois sabiam que precisariam de abrigo em algum momento ou morreriam congelados, mas tudo dependia da sorte de achar uma cabana de caçador ou serem agraciados com a caridade de alguém.

Não foi um feudo que encontraram, pois não havia muros ou fossos que pudessem proteger seus habitantes. Era apenas uma dúzia de casas de madeira e pedra espalhadas aqui e ali, escondidas no meio de tanta neve. Naquele tempo era um tanto raro encontrar vilas como aquela, com pessoas vivendo de sua própria maneira e sem medo de terem suas terras invadidas. Era provável que fosse um lugar ainda não descoberto por saqueadores, que se deleitava de uma liberdade diferente dos muros feudais.

Por um momento Loki se sentiu esperançoso de talvez encontrar uma vila pagã, sequer se lembrava da última vez que vira alguém que não fosse cristão. Mas quando prestou melhor atenção naquela paisagem pode ver um pequeno edifício de pedra com uma grande cruz de madeira em seu teto. Não foi dessa vez caro Loki.

— Fascinante. – Friedrich comentou quando permaneceram parados analisando o lugar. O único obstáculo que tiveram foi pular uma pequena cerca de madeira, feita para não permitir os animais de escaparem, logo conseguindo prosseguir o caminho descendo a colina.

Havia poucas pessoas fora das casas, o inverno era como um guerreiro experiente que poucos possuíam a coragem de enfrentar. Alguns homens permaneciam firmes enquanto cortavam a lenha para aquecer a família e uma mulher fervia um caldeirão enfrente a uma pequena casa de pedra, mexendo com um graveto o seu interior.

Quando a dupla teve seus passos ouvidos pelos camponeses todos os olhares voltaram em sua direção. Tão gelados quanto à neve, os dois sentiram que estavam tendo suas almas julgadas. Especialmente Loki que possuía a espada na bainha. Enquanto Friedrich se encolhia cada vez mais embaixo de seu capuz, olhando para os camponeses com temor, Loki mostrou um grande sorriso e revelou seus cabelos vermelhos como o fogo debaixo do gorro.

— Há lugares á mesa para dois moribundos? – Loki indagou com os dentes a mostra, parecendo um vampiro apreciando suas vítimas. Friedrich esqueceu-se do medo ao ouvir aquilo, lançando sobre o ruivo um olhar de censura. Em seguida um homem robusto e com uma longa barba negra começou a se aproximar, sem largar o machado que segurava em mãos.

— Me desculpo pelos maus modos de meu amigo, somos apenas viajantes á procura de trabalho e abrigo. – Friedrich rapidamente resolveu corrigir a apresentação. O homem barbado parou alguns passos na frente dos dois os estudando com os olhos. Vários rostos diferentes começaram a espiar das portas e janelas, curiosos com os forasteiros.

— É uma vila pequena, não há trabalho sobrando. – O desconhecido respondeu revelando os dentes podres e amarelos. A desconfiança no olhar de todos era palpável, provavelmente não viam rostos diferentes há muito tempo.

Já posso sentir a forca em meu pescoço. Loki pensou achando graça de tudo aquilo, mesmo que lá no fundo estivesse um tanto receoso. Lugares muito pequenos significava gente que não queria ser incomodada.

— Deixamos a enxada e a foice há muito tempo, sou só um curandeiro á procura de almas enfermas. – Explicou e o homem sem nome analisou Loki por mais alguns segundos antes de voltar seu olhar completamente para Friedrich. – Ah sim, esse dali vocês vão gostar. Era um frei antes de se juntar a mim.

— Um frade? – Uma velha indagou colocando a cabeça grisalha para fora da janela.

Loki olhou para Friedrich com o canto dos olhos, dando um sorriso sacana. O loiro apenas revirou os olhos em resposta. Contudo, apesar de mal ter saído do mosteiro em todos aqueles anos sabia das vantagens de ser um membro do clero, mesmo pertencendo a sua classe mais pobre.

Mas ele não era mais um monge.

— Com curandeiro, quis dizer como um barbeiro? – O homem do machado questionou, quase abaixando sua guarda.

— Afirmativo. – Loki concordou com um grande sorriso no rosto, seria uma grande conquista ter ganhado a simpatia de pessoas tão isoladas.

— Poderão ficar se conseguirem resolver um caso difícil. – A voz do estranho desafiava Loki que ficou relutante por um tempo, pois não costumava aceitar casos complexos. Mas ali estava a única chance de permanecer vivo no inverno.

— Leve-nos até o enfermo. – Disse Loki com a voz mais confiante que encontrou no momento.

O camponês os guiou através da vila que possuía as casas bem afastadas uma das outras. Mesmo assim os viajantes conseguiam notar os olhares nas janelas e das frestas das portas, como se adentrassem em uma caverna infestada por morcegos, com os olhos os seguindo por toda parte.

Foram levados até uma casa com teto de palha, construída em pedra de maneira rústica de forma que até faltassem janelas, deixando o seu interior em completo breu. Antes de entrarem o homem barbado acendeu um lampião que já estava a postos em frente à porta, contudo as pequenas chamas não eram o suficiente para iluminarem todo o ambiente.

Havia cheiro de podre no lugar, queimando suas narinas de forma que olhassem para os lados instintivamente a procura de uma janela que não existia.  No canto mais escuro era possível escutar a respiração sôfrega de um ser humano – ou o que restava de um, pois havia apenas um corpo quase inerte repousando em uma cama de palha.

Em algum momento o lampião foi oferecido para Loki que sem pestanejar iluminou o doente. As chamas alaranjadas iluminaram o rosto do homem, era difícil dizer sua idade ao certo por conta de sua condição, os cabelos oleosos, o rosto suado por conta da febre. Só por passar a luz pelo corpo se descobriu qual era o problema: todo o braço direito estava enfaixado com ataduras ensopadas de sangue negro pela necrose.

Loki estendeu o lampião para Friedrich segurar, pois assim poderia ver o ferimento com mais precisão. O homem tentou retesar o braço quando Loki começou a examiná-lo, mas estava tão fraco que mal pode lutar, apenas gemia e resmungava conforme as ataduras eram retiradas. O corte cobria quase todo o antebraço, expondo a carne já com início de gangrena, com um cheiro insuportável de morte.

— Como isso aconteceu? – Perguntou por descargo de consciência, pois Loki não precisou analisar muito para saber exatamente o que aquele homem precisava. Entretanto tinha experiência o suficiente para saber que nem todos saíam vivos depois disso.

— Acabou se cortando com o machado por engano. No começo ele parecia bem, estancamos o ferimento e tentamos costurar, mas ninguém aqui é muito bom nisso... Mas apesar de tudo Hector começou a ficar mais indisposto e o braço só piorou cada vez mais. – O barbudo respondeu com uma preocupação palpável na voz. Loki sabia que o ‘’tratamento’’ não iria agradá-los nem um pouco, mas nenhum de seus remédios era capaz de fazer um milagre.

— É preciso amputar.

— Amputar? Mas ele é um fazendeiro, precisa dos dois braços!

— Sem o braço talvez ele nunca mais possa trabalhar, mas com ele jamais poderá viver. – Retrucou e o homem permaneceu calado. – Vou dar um momento para pensar sobre.

A verdade é que o próprio Loki precisava pensar sobre a situação, sua face estava tão petrificada que Friedrich não deixou de notar que havia algo de errado. Quando ambos saíram do casebre, se deparando com dezenas de olhares sobre eles, o frade não conseguiu permanecer calado:

— Já fez alguma amputação? – Questionou e Loki o olhou como se estivesse ofendido.

— Claro que sim! – Respondeu quase gritando, fazendo com que olhasse para os lados para ver se alguém havia notado seu descontrole. Todos notaram. – Mas as mortes após o procedimento não são baixas, é impossível não sentir algum receio antes de realizar alguma amputação, ainda mais com nossa sobrevivência no inverno estando em jogo.

Os dois ficaram em silêncio, tentando ignorar o frio e as pessoas que os observavam com curiosidade. Até que Friedrich ergueu o rosto, como se uma ideia surgisse em sua mente.

— Por vezes no mosteiro nós costumávamos permitir a entrada de enfermos. Era mais uma forma de conforto para aquelas pessoas do que uma cura em si, pois dependendo a enfermidade muitas vezes não tínhamos o que fazer além de rezar. Mas lidávamos bem com casos de feridas e cortes, minha habilidade com suturas não veio inteiramente dos livros. Ás vezes realizávamos amputações, e tirando alguns casos que houvera febre, geralmente havia sucesso no feito.

— Está querendo dizer que consegue salvar a vida daquele homem? – Loki questionou, não sabendo se deveria ou não acreditar nas palavras de Friedrich. Pois apesar do caso da cicatriz agora presente no peito dele, não tinha certeza se Friedrich tinha experiência o suficiente para algo daquele porte.

— Eu quero dizer que eu sei sobre alguns ensinamentos, enquanto você sabe de outros. Talvez devêssemos usar isso ao nosso favor. – Friedrich respondeu fazendo Loki estampar surpresa em seu rosto ao compreender a ideia.

— Neste caso, voltarei para ver se já fizeram a decisão. – Loki voltou para a casa parecendo agora mais ansioso do que nervoso.

Friedrich exigiu um machado de lâmina limpa e afiada, uma barra de ferro, uma fogueira e que Hector fosse deixado no ar livre. Improvisaram uma mesa feita com tábuas de madeira para colocar o doente, e uma pequena multidão se formou ao redor, alguns preocupados pelo amigo enfermo, outros apenas curiosos pela carnificina.

Loki dificilmente usava beladona em seus enfermos por ser uma planta venenosa, mas a possuía em seu estoque por ser capaz de deixar o doente desacordado. Nesses casos resolvia abrir uma exceção, por isso preparou uma dose mínima para Hector, que teve a sorte de não sentir o que ocorreu em seguida.

Depois de fazer com que o pobre homem adormecesse, o seu trabalho se resumiu em segurar a ponta de uma barra de ferro imersa no fogo. Suas mãos transpiravam pelo nervosismo e por mais que evitasse olhar, seus olhos por vezes se viravam em direção as chamas para logo em seguida voltarem apavorados. Ficar tão próximo ao fogo não lhe agradava, Friedrich até pensou em pedir que algum camponês fizesse isso, mas Loki acreditava que fazia parte de seu trabalho e resolveu enfrentar aquilo.

O que ofereceram para Friedrich não era um machado exatamente limpo e muito menos afiado, nem o sol estava o favorecendo encobrido pelas nuvens. Olhou para os céus por alguns segundos, pedindo a benção de Maria para que pudesse salvar aquela vida.

Amem.

Moscas rodeavam o braço necrosado que foi deixado estendido na mesa. Os olhos de toda a plateia saltaram, horrorizados com a cena e com aquele que havia se apresentado como frei. De machado na mão e a face mais gélida que o próprio inverno, Friedrich precisou de apenas três machadadas para acabar com aquilo, de lâmina sem fio que seja dito! Não foi um segundo para Loki estender-lhe o ferro em brasas, o cheiro de carne queimada fez a face de cada presente se retorcer por inteiro.

Se este homem morrer, está comprovado o quanto o Fogo me odeia. Foi o que Loki pensou, olhando para as brasas.

— Você dorme, eu vigio por enquanto. – A única cama do recinto estava sendo ocupada por Hector que ainda permanecia inconsciente. Os dois andarilhos estavam sentados no chão de barro, recostados na parede de pedra gelada e úmida.

Friedrich assentiu.

— Lembre-se de me acordar, não pode ficar acordado a noite inteira. – Disse cruzando os braços e já fechando os olhos logo em seguida, o que era raro visto que rezava por muito tempo antes do sono, o que denotava o seu cansaço por conta da caminhada de dias.

Loki ficou o observando por alguns segundos, até virar seu olhar para o enfermo, mais especificamente para o braço não mais existente. Friedrich havia cortado bem mais acima do que Loki teria feito, mas o druida não sabia o que pensar sobre aquilo, o resultado dependeria daquela noite.

O homem barbado havia se apresentado mais tarde como Sven, permitindo que ambos descansassem perto de Hector – agora devidamente explicado que se tratava do seu irmão. A primeira impressão era que parecia uma bela atitude, mas os dois sabiam nas entrelinhas o que aquilo significava: na manhã seguinte Hector deveria continuar vivo, ou um belo adeus ao abrigo no inverno. Significava que o trabalho não havia terminado.

Hector só acordou na madrugada, quando Loki de tanto vigiar em silêncio chegou a sonhar acordado. Fez-lhe um chá de ervas que acalmariam suas dores e tentou estabelecer alguma espécie de conversa com o enfermo. Parecia são, mas estava fraco demais para responder a tudo que Loki perguntava, por isso se contentou apenas em poder explicar toda a situação ao pobre coitado.

— Que Deus os abençoe. – Foi o que Hector disse antes de pegar no sono, dessa vez não pelo delírio da febre ou por veneno. Loki apenas assentiu em silêncio, pensando que só estava procurando um lugar para não morrer de frio.

O inverno não era tão traiçoeiro dentro de uma casa, mas ainda era capaz de arranhar a pele com seus dedos gélidos. Loki podia notar que mesmo adormecido Friedrich por vezes estremecia, ele próprio não conseguia manter suas mãos estáticas. Mas mesmo assim era capaz de se sentir agradecido simplesmente por ter um teto em sua cabeça. Sempre que a neve aparecia, Loki se questionava o porquê de continuar como andarilho.

Mas o fogo sempre lhe dava a resposta.

Pensando sobre o futuro na estrada era inevitável que não refletisse sobre Friedrich. Gostava de companhia, sempre apreciou todos os amigos que caminharam junto a ele, porém todos seguiram o próprio caminho em algum momento, quando o monge faria o próprio? E deveria por acaso? Juntos haviam salvado um homem com o pé na cova, isso poderia ser visto como um sinal de que formavam boa parceria.

Com isso uma ideia se formava na mente de Loki, mas não era o tipo de evento que se decidia em uma ode. Havia muita coisa a ser considerada.

Sua cabeça havia ficado tão cheia após o despertar de Hector que Loki perdera todo o sono que tinha, era quase amanhecer e não havia trocado a vigília com Friedrich. Olhou para o companheiro e refletiu se deveria ou não acordá-lo, pois já podia imaginar o sermão.

— Ei, acorde caro amigo. – Disse sacudindo os ombros de Friedrich que não demorou a despertar, esfregando os olhos sonolentos e encarando Loki em seguida. Era esperto, por isso não demorou a notar os raios solares que espreitavam a fresta da porta de madeira.

— Disse para que me acordasse durante a vigília!

— A vigília ainda continua, ou pensas que Hector já está curado?  Posso muito bem descansar pelo dia e talvez você até consiga ir á igreja dessa forma. É domingo, certo? – Loki disse isso com um sorriso sacana no rosto, pois sabia que Friedrich não argumentaria contra aquilo. Os orbes azuis se estreitaram e ele franziu os lábios.

— Muito não posso fazer agora além de aceitar, afinal já amanheceu. – Suspirou, fazendo vapor sair de sua boca por conta da manhã gélida.

— Hector já está consciente, mas creio que seja melhor deixá-lo dormir até que acorde por si só.

— Isso é um bom sinal, mas não deixarei de vigiá-lo. Pode deixar tudo ao meu encargo. – Essas palavras fizeram Loki lembrar-se da ideia que o assombrara por quase toda madrugada. No pouco que já conhecia Friedrich sabia o quão responsável ele era, ao ponto do mesmo estabelecer uma rotina própria de afazeres mesmo sendo agora um andarilho.

Com certeza ele vai recitar as preces matutinas depois disso.

— Estou faminto. – Reclamou, pois já fazia várias horas que ouvia o próprio estômago urrar. – Não deveria ter permitido que confiscassem nossas coisas. Aposto que roubarão a comida.

— É a terra deles, faz sentido essa atitude com forasteiros. Mas acredito que não farão nada, afinal ainda acredito na bondade humana. – Friedrich sorriu mostrando os dentes, coisa que não fazia com frequência. Loki deduzia que era por ter vergonha dos dentes tortos, se fosse por isso achava que era tolo, pois aquilo não era capaz de tirar o encanto do loiro. Pois o druida não era nenhum cego ora essas, por mais que visse Friedrich como amigo.

Ou ao menos é o que todo protagonista pensa no começo. Mas isto caro leitor não se trata apenas de romance e devaneios do narrador, a história deve continuar. Voltar-nos-emos.

— Só me resta dormir, ajuda a esquecer da fome. – Loki já se recostava mais na parede, sentindo os olhos começando a pesar da forma que deveriam ter feito horas atrás.

— Se conseguir eu lhe trago algo de comer. – Foi a última frase de Friedrich antes que o ruivo pegasse no sono.

Era quase o entardecer quando despertou. Hector não estava mais deitado na cama de palha e nem Friedrich estava presente. Seu estômago roncava mais alto do que pela manhã e o jeito foi sair da casa á procura de qualquer coisa que saciasse a sua fome.

O clima estava completamente diferente, não estou falando da neve e sim das pessoas. Hector estava sentado em um toco de madeira, rodeado por quase todo o povo do vilarejo. De repente Loki se viu sendo quase ovacionado, e pessoas estranhas lhe agradeciam e o abraçavam. Não estranhou, no entanto, não era a primeira vez que isso acontecia, e por mais arrogante que isso soasse ele até gostava da sensação.

O melhor de tudo com certeza foi toda a comida que ofereceram. Não era um banquete, nem sequer uma mesa farta, mas era comida de verdade ao invés das rações que levava consigo. Fazia muito tempo desde que provara carne fresca e se fosse possível teria devorado até os ossos daquele pombo.

Tão absorto com a atenção e principalmente pela comida, demorou a perceber que não via Friedrich há horas.

— Não o vejo desde a missa no meio dia. – Sven disse depois de ter perguntado sobre o monge. Por conta disso Loki até resolveu entrar na minúscula igreja que a vila tinha, esperando encontrar o amigo.

A luz da lua entrava pelas janelas laterais iluminando os bancos de madeira carcomidos pelos cupins. O altar era feito de madeira mais nobre, porém estava tão empoeirado como todo o ambiente e uma cruz feita com pedaços amarrados de tábuas era o que havia para representar Cristo. Loki sentia-se como um intruso ali, mesmo em uma igreja tão simplória ele sentia que suas paredes de pedra eram capazes de julgá-lo. Ao ver que Friedrich não estava ali, Loki se sentiu impotente.

Pensou na ideia de que o monge teria partido, contudo Loki acreditava que Friedrich ao menos se despediria, era cortês demais para sair sem dar explicações. Ademais gostaria de ter tido tempo para propor a ideia que o infernizara durante a noite, afinal o que ele teria respondido?

Voltou á casa de Sven para perguntar sobre seus suprimentos, se Friedrich havia partido com certeza teria levado suas coisas. Para a surpresa de seu lado mais desconfiado, Sven entregou todas as mochilas incluindo a de Friedrich. A partir dali a preocupação de Loki aumentou de maneira drástica, pois isso confirmava que Friedrich não havia simplesmente ido embora.

— Eu o encontrei senhor, estava saindo da floresta! – Um dos filhos de Hector o avisou quando já estava ao ponto de planejar um funeral. Loki não transparecia a sua preocupação, mas em seu peito o coração retumbava mais rápido que o normal. Havia um trauma em sua vida sobre perder as pessoas e mesmo não conhecendo Friedrich por tanto tempo, jamais se sentiria pronto para perder mais alguém.

Na realidade, estava cansado de ser tão sozinho no mundo. A solidão era como uma praga silenciosa que o devorava lentamente, fazendo estragos em sua alma para serem apercebidos quando fosse tarde demais, ao ponto de jamais arrumar companhia.

Loki olhou para a janela de casa, mesmo no escuro conseguia ver a figura de alguém caminhando pelos campos em direção à vila. Saiu da casa, levando um lampião consigo, com os passos apressados enquanto chutava a neve no meio do caminho. Ao se aproximar da figura, teve a certeza de que era Friedrich que estranhamente cambaleava quando andava.

— Friedrich? Friedrich! Pela Mãe e todos os deuses, onde esteve todo este tempo?! – Indagou alarmado, o pegando pelos ombros, fazendo as chamas do lampião quase se apagarem por conta do movimento brusco. Os olhos azuis de Friedrich pareciam opacos em comparação ao verde recheado de vida que eram os de Loki naquele momento.

— Eu... Eu me perdi na floresta. – Friedrich estava aéreo, parecia confuso com tudo que estava acontecendo, como se não tivesse consciência de sua própria situação. Loki tinha a impressão que até estonteado ele estava pela forma como seus olhos moviam-se atordoados e suas pernas perdiam o equilíbrio.

— Como isso aconteceu? Minha nossa Friedrich, você está sangrando! – Um filete de sangue escorria pelo seu rosto, devido a um corte em sua testa próximo a raiz dos cabelos. Friedrich levou sua mão até o corte, observando surpreso o sangue em seus dedos.

— Estou bem... Eu apenas bati em um galho. – Friedrich tentou se explicar, mas a insegurança em sua voz dedurava que nem ele mesmo tinha certeza do que havia acontecido. Loki notou sua confusão, ficando alguns segundos em silêncio, sem soltar os ombros do outro.

— O que estava fazendo? Por que foi para tão longe?

— Não me distanciei tanto... Apenas... Queria um pouco de silêncio para rezar, depois eu... Eu... – Respondeu, sem olhar para os olhos de Loki. Não era cristão, mas convivia o bastante com eles para saber que não havia lugar melhor para seus cultos do que na igreja, Friedrich não teria ido pela floresta para isso, Loki tinha certeza.

Talvez as árvores sussurraram em seu ouvido, ou talvez estivesse começando a ser mais consciente quanto ás pessoas. Contudo, sua mente foi invadida com a visão dos ratos e dos corpos, capazes de chocarem até o homem mais frio. Lembrou-se do rosto de Friedrich naquele dia e imaginou o quanto ele deveria desejar um pouco de silêncio do mundo.

— Tudo bem, apenas vamos cuidar dessa ferida.

Ao voltarem para a vila, uma pequena multidão estava à espera deles. Loki agradecia pela cordialidade, mas se incomodou com aquilo e imaginou que Friedrich sentia o mesmo. Tentou dizer que estava tudo bem, que só precisavam descansar um pouco e para seu alívio os camponeses entenderam a situação, sobrando apenas Sven e sua família para guiá-los.

— Não temos camas extras ou quartos de visitas, sinto muito por não poder oferecer á vocês melhores acomodações. – Os olhos negros de Sven denotavam embaraço e culpa, de uma amabilidade que era difícil ter imaginado no primeiro encontro com o homem.

— Peço que não se desculpe por nada. Somos andarilhos, um celeiro é luxo para quem usou pedras como travesseiros nos últimos tempos. – Loki disse com um sorriso afável no rosto, pois realmente já se sentia grato o bastante. Sven pareceu se sentir um pouco melhor com isso, mas ainda assim queria poder ter condições de oferecer algo melhor.

— Que Deus guarde você e a sua família Sven. – Friedrich disse sorrindo, sem mostrar os dentes.

— E que Ele os tenha. Amém.

— Amém.

Aquilo parecia mais do que o suficiente para uma despedida, pois Sven começou a andar de volta para casa parecendo ainda mais tranquilo. Loki até pensou se deveria dizer algo semelhante, mas não sentia que seria certo, afinal sequer sabia o que significava amém. Não obstante, soltar um ‘’Que a Mãe os abençoe’’ não soava como uma boa ideia.

Forraram o chão batido de terra com o feno disponível.  Não havia animais no lugar, apenas foices, enxadas e barris repletos de comida para o inverno.  Após isso, Loki verificou melhor a ferida de Friedrich que por sorte não parecia ser necessário fazer pontos. Apenas limpou com água e protegeu com um pedaço de pano, amarrando por trás da cabeça como uma faixa.

— Me pergunto se por acaso está destinado a ser meu médico.  – Para sua surpresa, foi Friedrich que iniciou a conversa. Ficou boquiaberto por um instante, antes de dar um sorriso sacana como se não fosse nada.

— Espero que não, mais um susto desses Friedrich e vai me encontrar morto de susto.

Deus Sanctus!  – Friedrich rapidamente fez o sinal da cruz, realmente assustado com o que Loki dissera, murmurando mais algumas palavras em latim que o druida não compreendia. Achava uma língua engraçada, era pronunciada de forma sempre tão pomposa que cada letra parecia um poema diferente.

— Não precisa se apavorar, não obstante fora você quem causou toda essa confusão. – Mesmo com as palavras rudes, Loki possuía um tom humorístico típico que tornava difícil para Friedrich se ofender de alguma forma. –Fez com que eu pensasse que tinha me deixado! Se pretender fazer isso ao menos me dê uma despedida decente.

— Oh, sinto muito se lhe causei tamanha preocupação! Ademais não tenho quaisquer planos de seguir meu próprio rumo, para seu azar estou como um estorvo. Porém, no dia que eu encontrar alguma oportunidade, com certeza me despedirei de maneira adequada. – Friedrich falou mais baixo que o costume, parecendo constrangido de certa forma. O sorriso de Loki se desfez, lembrando-se da proposta que decidiu fazer á Friedrich, a garganta parecia se contorcer para falar, mas seus pensamentos o reprimiam imaginando que o frade jamais aceitaria a oferta.

— Não é preciso despedidas, ao menos não tão cedo. – Tomou coragem de falar, o que não foi difícil por conta de seu gênio astuto. Friedrich olhou em sua direção surpreso com os olhos azuis cintilando nas sombras. – Somos uma ótima dupla, salvamos a vida daquele homem. Seu conhecimento em anatomia é a lacuna que me atormentava durante esses anos como druida, seria uma lástima perder um parceiro que possui as habilidades que me faltam.

— Está sugerindo que trabalhemos juntos?

— Caso aceitar.

Friedrich abriu a boca por alguns segundos, mas desistiu de dizer algo. Apenas desviou o olhar, ficando pensativo. Tateou o peito a procura de algo, a cruz que havia vendido, e ao se dar conta de que não havia mais nada ali apenas cerrou o punho. Loki suspirou, já conseguindo prever a recusa.

Sou o diabo em pessoa para ele.

— Somos uma dupla estranha, deveras excêntrica, mas uma boa dupla. – Friedrich disse voltando seu olhar para as esmeraldas de Loki, sorrindo singelamente. Loki arregalou os olhos, enquanto um enorme sorriso se formava em seu rosto mostrando todos os dentes. Talvez não estivesse fadado á solidão como imaginava.

A verdade é que Loki não imaginava que por mais estranho que fosse, o quão pagão era e como era intenso o inferno de seus cabelos; ele ainda assim conseguia ser uma das poucas pessoas da qual Friedrich não sentia medo. E mal podia imaginar o quão aliviado estava seu amigo por poder permanecer ao seu lado.

 


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Notas finais do capítulo

O canto gregoriano cantado por Friedrich nesse capítulo é ''Salve Regina''.
Sobre a beladona usada por Loki, ela era comumente usada nessa época como anestésico. Mas como a medicina nesse século não era lá essas coisas era muito comum o enfermo morrer por causa da planta ao invés da doença em si, pois ela é extremamente venenosa.
Comentem o que acharam e nos vemos no próximo capítulo! ^-^



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