Ode aos desafortunados escrita por Angelina Dourado


Capítulo 19
Os Monges e o Mosteiro


Notas iniciais do capítulo

FELIZ 2019 PARA TODOS!!!! Olha só quanto tempo que essa história está no ar, muito obrigada a todos vocês leitores incríveis que estão acompanhando, e para quem está chegando agora muito bem vindos, temos cama de palha e hidromel a vontade.
Esse capítulo é um extra gente, o ''oficial'' mesmo vai vir ainda essa semana. Era pra ser tudo junto, mas ia ficar um capítulo gigantesco então resolvi deixar em duas partes assim mesmo.
Boa leitura! ^-^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/754466/chapter/19

 

Há acontecimentos por todo lugar, diferentes pessoas com suas próprias dores que podem ter relação ou não ao que conhecemos. De forma paralela, o mosteiro de São Jerônimo agora parecia tão distante do antigo frade repousando no extremo norte do reino como se quase não tivesse existido, como uma velha pintura que apesar de fazer parte de sua coleção, pegava cada vez mais pó e traças com o passar do tempo. A estrutura de pedra e suas torres continuavam inabaláveis, intocadas pelos anos e insciente de tudo o que ocorria ao seu redor. Todavia quanto aos seus residentes, muito havia mudado desde que Friedrich de Farley havia estado ali.

A cabeça pesava-lhe e latejava tanto que Bernard se perguntava se a poça de sangue maculando o gramado não se tratava de seu cérebro já feito em pedaços pela moléstia.  Com as costas arqueadas, um filete de sangue ainda unia por uns instantes sua boca da matéria recém-regurgitada, com calafrios assombrosos percorrendo todo seu corpo, o suor lhe percorria a pele por conta da febre. Cerrou os olhos por alguns instantes, sentindo a morte lhe sussurrar brevemente na boca do ouvido, avisando que logo também o buscaria.

— Tens certeza que deseja continuar irmão Bernard? – Aedan indagou preocupado, segurando com firmeza seu braço direito – mas com cuidado o bastante para não pressionar os bubões negros que tanto o feria. Irmão Adrian sustentava o outro braço, os dois sendo quem fazia a maior parte do esforço para mantê-lo em pé, dado toda dor e fraqueza que o abatia.

Bernard ergueu a cabeça, o rosto pálido e de olheiras profundas, os olhos mal se mantendo abertos, o cabelo castanho normalmente liso estava molhado pelo suor e oleosidade, com a forma de auréola desfeita dado que parara de raspá-lo desde que adoecera. Assentiu com a cabeça, tossindo em seguida mais algumas gotas de vermelho. Os pulmões queimavam por dentro feito uma chaminé. Os dois frades que o ajudava se entreolharam com receio, questionando um ao outro em silêncio se o enfermo realmente conseguiria prosseguir, acabando por continuarem a auxiliá-lo na caminhada mesmo assim. Não havia mais o que ser feito de toda forma.

Aedan e Adrian não estariam trabalhando juntos se não fosse pelo amigo em comum, por mais que a Ordem incentivasse que todos os frades se enxergassem como irmãos isso só se fazia nas aparências. Entre eles se formavam os grupos e as próprias intrigas, mesmo que de forma abafada e silenciosa. Ali os dois freis compartilhavam somente os nomes semelhantes, pois de resto se repeliam pelas diferenças.

Ouvia-se dizer que Adrian era filho de grandes fidalgos, educado com os melhores professores e mestres, tendo se acostumado com o ambiente nobre e todas suas etiquetas, somado a uma fé religiosa além do comum. Quiçá essa fosse a melhor explicação para seu comportamento mesquinho, julgando os outros por qualquer motivo pífio que encontrasse. Para ele quase todos não passavam de pecadores degenerados, ignorantes quanto à verdade e desdenhosos com a ira divina. Estava certo que um dia pagariam por toda perversão daquele mundo, acreditando na condenação eterna para toda criatura que não fosse ele mesmo. Todavia, apesar da personalidade difícil, era inegável o título como um dos mais devotos e dedicados dos frades da abadia, tendo boatos que um dia poderia se tornar abade, onde vez ou outra o próprio já havia admitido almejar o cargo algum dia.

Quanto a Aedan, seguira a vida como monge por não querer tornar-se cavaleiro igual ao pai, morto numa das batalhas contra a França havia quase dez anos. Fazia o que lhe mandavam, mas desobedecia uma que outra ordem por baixo dos panos, muitos irmãos já tinham se acostumado com seu jeito pândego e por rir em demasia, vez ou outra ganhando algumas repreensões e penitências. Não se importava muito em trabalhar por mais tempo depois de beber além da conta na adega. Por vezes se arriscava um pouco mais ao visitar algumas mulheres nas vilas das redondezas, onde por mais que os demais irmãos especulassem sobre suas atividades, Aedan se escapava ao não fornecer grandes provas do que fazia. Sabia que tipos como Adrian tentavam de tudo para incriminá-lo, mas por ora somente ria internamente pela incompetência deles.

Somente Bernard era capaz de unir esses antagônicos. Apelidado de Cordeiro Manso por seu jeito tranquilo e ações que sempre remetiam ao pacifismo, não havia ninguém que não simpatizasse com sua natureza afável. Foi uma verdadeira lástima ter sido um dos vários irmãos que se acometeram com a peste, apodrecendo vivo consecutivamente a cada hora que se passava. Ele sabia que sua hora se aproximava e por isso fez aquele pedido para os irmãos. Não queria que seus últimos momentos se resumissem a definhar naquele ambiente escuro e moroso que se tornou o mosteiro desde a epidemia, sendo isolado por causar medo e repulsa, tendo companhia apenas os de mesmo estado, vendo-os falecer um a um enquanto esperava a sua própria morte.

Só queria sair e ver o céu uma última vez, sentindo o ar puro adentrar nos seus pulmões feridos. Queria também se despedir dos que se foram naquela vida e dizer que se Deus permitisse em breve estaria com eles novamente. Precisava daquilo ou acreditava que não conseguiria fazer a passagem completamente em paz.

Não esperava encontrar alguém disposto a atender seu pedido, ainda estando surpreso com o fato de estar sendo ajudado por aqueles dois irmãos. A questão é que Adrian não tinha medo da morte e parecia sempre busca-la de alguma forma, enquanto Aedan possuía arrependimentos quanto não ajudar alguém próximo e procurava desde então compensar toda a culpa que sentia. 

— Grato sou pela vossa benevolência... Serão abençoados, continuarei a rezar por suas almas quando estiver junto ao Senhor. – Bernard esforçou-se a dizer as palavras, ditas quase em murmúrios e martelando seus pulmões exauridos.

— Não diga tais agouros irmão.  – Aedan interveio desconcertado com a ideia de perder mais alguém. Já haviam sido tantos, provavelmente também o seria uma hora ou outra, mas ainda assim não conseguia aceitar por completo a ideia de uma doença tão aterradora. Pensar que mais um amigo tão querido iria para cova lhe era desesperador.

— Não há nada de errado em aceitar a própria morte. Ela é a passagem para nosso verdadeiro destino junto aos braços do Pai, é preciso almejar nosso lugar aos céus e rejeitar tudo o que vem deste mundo imerso em pecado. – Adrian disse de forma serena, os olhos escuros fitando o horizonte como se não conversasse somente entre eles. – Se sente estar na sua hora irmão, quiçá seja o momento de se redimir e receber a última benção.

O frei enfermo hesitou alguns instantes em sua resposta, pois estava com o corpo tão debilitado que sua mente demorava a raciocinar com clareza. Aedan lhe lançou um olhar preocupado, ciente de que deveria aceitar o terrível destino do amigo, mesmo que não fizesse parte das filosofias mórbidas de Adrian. Por mais que não conseguisse salvar um irmão mais uma vez, ao menos dessa  vez lembraria que estivera ao seu lado até os últimos instantes.

— Conversaremos sobre isso... Depois. Depois disso. – Respondeu antes de entrar em uma breve e sôfrega crise de tosse, fazendo com que seus companheiros parassem a caminhada por um instante e o esperassem se recompor.

Bernard gostaria que fosse noite, para assim poder observar as estrelas mais uma vez. As mesmas que séculos atrás também iluminaram a mente dos grandes mestres da qual sempre bebeu do conhecimento, as estrelas de Ptolomeu e Hiparco, apreciando cada nome e constelação a enfeitar os céus. Ele desejava poder sentir sua imensidão uma última vez, olhar as formas dos signos e mergulhar em todas as emoções que o céu lhe causava, toda conexão que a natureza divina propunha em todas as suas criações, uma só carne. Se ele voltaria ao pó, que as estrelas o acompanhassem.

Ao menos de certa forma, Deus fora misericordioso com ele ao deixar aquele dia carente de nuvens. Os raios do Sol acariciavam sua pele, iluminando o rosto úmido pela febre. Seria o último astro a testemunhar sua existência, a grandiosidade de Hélio era tão imponente quanto a Lua e suas aias. O vento amortecia seus pulmões cansados, a grama aos seus pés o revitalizava, com aquele azul celeste alegrando seus olhos condenados a escuridão. Precisava sentir o mundo mais uma vez antes de retornar para a toca onde padeceria e Bernard memorizou cada detalhe daquela lenta caminhada.

Pararam antes de adentrar uma depressão que levava para o cemitério de São Jerônimo, com as lápides e túmulos dos muitos clérigos que por ali descansaram, séculos de antigas vidas concentradas abaixo de toda aquela superfície. Bernard sabia que brevemente também estaria ali, evidenciado pelas covas recém-abertas por conta da epidemia que se alastrava no mosteiro e o restante da região. Os três frades observaram aquela imagem em silencio, tanto em respeito aos falecidos, como pela nuvem de melancolia que pairava em suas cabeças.

— É uma lástima o que aconteceu com Oliver e todos os outros que a peste levou. Que Deus os tenha e possa nos guiar nesses tempos difíceis. – Aedan quebrou o silêncio desconcertante, fazendo as outras duas figuras de hábito murmurarem amém em resposta.

— Primeiro Friedrich, depois Oliver, então tantos outros... Agora eu próprio. Jamais imaginei que seria assim que todos partiriam. – Bernard disse esforçando-se para tornar sua voz rouca e seca o mais claro o possível, dando em seguida um longo suspiro de pesar. Aedan abriu ainda mais os olhos, surpreso com a menção do antigo colega de hábito e tocado pela lembrança do amigo que o assombrava nas piores noites. – Um a um feito gotas de chuva.

— Não inclua o herege nesta tragédia.  – Adrian disse de forma ríspida, sem olhar para o rosto de nenhum deles. – Ele procurou o próprio destino, não há de se lamentar agora. Abandonando a sentença do Santo Ofício, provavelmente encontrou a morte em uma vala qualquer sem graças e mérito algum.

Aedan mordeu o lábio inferior, contendo as palavras de réplica infestadas de raiva e ódio, não soltando sua voz em respeito ao pobre Bernard e pela Ordem que não admitia intrigas entre os frades. Ainda culpava-se por acreditar não ter ajudado o bastante irmão Friedrich de Farley quando o mesmo mais precisou da piedade alheia. Em sua memória via seu olhar de pavor e a reclusão que se encontrava, de toda a dor que ele sentiu enquanto fora somente um espectador de toda sua desgraça. De quando suas páginas de palavras magistralmente copiadas pararam de aparecer em sua mesa para que iniciasse o trabalho de miniatura e iluminura, da ausência dele no refeitório ao lado deles, a falta de sua voz no coro, dos dias passados trancado em sua própria cela sem falar com ninguém mais. Questionava-se constantemente se caso houvesse arriscado mais, quiçá Friedrich ainda estivesse entre eles. Por isso revoltava-se ao ouvir palavras tão venenosas vindas de irmãos como Adrian, pois foram tais palavras semelhantes que condenaram Friedrich.

— Não há de se lamentar? Claro que hei de me lamentar! – Bernard inqueriu, tornando sua voz tão alta como não fazia em dias, sobressaltando ambos os frades em sua companhia. – Friedrich era meu amigo, colega e irmão. Não é nosso trabalho execrar aqueles que se perdem, mas desejar que se reencontrem novamente no caminho da verdade.

— Oh Bernard, sabes que minha intenção não é malquerer aqueles que renegam a vida sacra. Ademais, só disse minhas conjecturas acerca do provável destino que levou aquele que um dia foi um irmão como nós. – Adrian explicou-se de maneira calma e diplomática. Mas não importava quantas aulas de dialética tivesse tido em vida, Aedan não engolia seu jogo cínico.

 - Foi um julgamento injusto, até mesmo tu sabes disso. – Aedan não se conteve em dizer ao menos uma retórica contra ele, lhe lançando um olhar repleto de desdém que não demorou a ser retribuído por ele, mesmo que os cachos castanhos lhe tapassem parte dos olhos, Adrian sentiu a revolta de seus olhos;

— O Santo Ofício é uma instituição séria e justa, pois faz o papel das leis de Cristo aqui na terra. Não há erro por parte desse trabalho sagrado, por isso não significa que tenha falhado por condenar alguém que não era capaz de lidar com os próprios feitos. Friedrich sempre lidou com artes ocultas, deveria estar ciente das consequências.

— Bobagem! Foi feito de tal forma pois não sabiam o que fazer com ele. Todos estavam assustados demais para pensar de forma racional e tê-lo-iam matado feito animais! – Aedan não se conteve mais quanto ao tom de voz, com as veias do pescoço tornando-se proeminentes em sua pele. – Se chamas a alquimia e medicina de Friedrich de artes ocultas, então deseja também a morte de Bernard por sua astrologia, a de Oliver por estudar os filósofos gregos, de cada um a descobrir o sentido e função nesse mundo, e queimar toda a biblioteca que tu proteges feito um lobo hipócrita! Há conhecimentos proibidos pela Santa Igreja, mas se continuarmos a condenar toda ideia de forma tão severa, logo não sobrará nada além de pessoas tolas com nada a pôr em suas cabeças!

Aedan acabou o acesso de cólera com a respiração descompassada, encarando Adrian que se tornava rubro de ira por baixo dos fios claros e da batina escura. Pensava que o outro lhe retribuiria em mesmo tom, mas se enganara ao ser tratado de forma serena e repleta de cinismo que o bibliotecário sempre escolhia para lançar seus argumentos:

— Se está tão certo de sua inocência, por que não depôs a seu favor no momento do julgamento? – As palavras de Adrian soaram feito facas a estraçalharem seu peito e o prendendo-o contra a parede. Era um tópico da qual Aedan se sentia vulnerável, onde se remoía todo o arrependimento e perda que possuía. Ficou atônito, permanecendo em silêncio por alguns instantes antes de ter algo a dizer em resposta. A verdade é que aquela era a questão, não havia justificativa nobre o bastante para querer expor em voz alta aos outros.

— Eu poderia ser condenado junto. – Respondeu quase em um murmúrio, mas antes que Adrian pudesse soltar seus impropérios, o colóquio fora interrompido pelo corpo arqueado de Bernard a sofrer novamente pelas tossidas dolorosas, lançando mais coágulos inteiros de sangue e interrompendo sua respiração já falha.

Permaneceram calados frente aquilo, enquanto Bernard recuperava sofregamente o ar esvaído. Os dois frades que o acompanhava se entreolharam, decidindo tomar uma trégua naquela discussão. Nada mais disseram um ao outro quanto ao assunto, almejando estabelecer um ambiente pacífico para o amigo moribundo. Poderiam num futuro retornar àquele tópico, mas por ora o foco era outro e eles precisavam manter a postura. Lançaram tal acordo em silêncio, somente com os olhares que lançaram um para o outro. Um dom que comumente os frades estabeleciam através da rotina que almejava o mais absoluto silêncio.

— Quiçá seja melhor retornarmos agora Bernard. – Aedan aconselhou e por um momento esperaram ele se recuperar o bastante para erguer sua cabeça e conseguir dizer algo.

— Só mais alguns instantes, então irei. – Respondeu com a voz afetada, não tirando os olhos da paisagem com a sensação nostálgica que lhe preenchia, querendo aproveitar ao máximo aqueles últimos momentos. – Seja o que tenha ocorrido com Friedrich, só espero que tenha se encontrado de alguma forma. Sei que teria desejado o mesmo para todos nós, assim como cada um dos que se foram, seja em vida ou em morte.

Não foram somente alguns instantes. Ambos tiveram a misericórdia de apresentar as estrelas a Bernard uma última vez como ele desejava, nem que sofressem alguma penitência do abade por escaparem dos afazeres no mosteiro, que com a perda de tantos monges e fâmulos tornara-se mais atarefado do que nunca. Acompanharam o amigo em suas conversas sobre os céus, ouvindo com atenção o que tinha a dizer, apreciando seu sorriso tranquilo a estampar o rosto adoecido. Conforme as horas passavam, Bernard tornava-se mais calado, o corpo mais debilitado e a respiração mais sofrida. Adrian resolveu fazer a unção dos mortos ali mesmo, antes que ele estivesse fraco demais para falar em resposta. Em determinado momento, Bernard adormeceu de forma serena, deixando os dois frades restantes em um silêncio vigilante.

— Eu... Eu tenho a impressão de ter visto algumas páginas escritas por Friedrich ainda conservadas na biblioteca, acho que são trabalhos que ele não pode terminar a tempo e acabaram se perdendo no meio de outros documentos. – Adrian disse quando Bernard havia adormecido com a cabeça recostada em seu ombro e respirando de maneira estranha. Aedan lhe fitou com o canto dos olhos, desconfiado, mas ainda interessado no que dizia. Não havia tido pretensão alguma de revelar isso em algum momento, mas em meio a pensamentos desconexos e turbulentos acabou por querer manter qualquer espécie de conversa para se distrair, mesmo que fosse com alguém feito Aedan.  

Por mais que tentava parecer sempre sóbrio, era difícil manter a postura em momentos assim. Era impossível afirmar que realizar a última benção em um companheiro tão próximo não o afetava, ver aquela doença venérea ceifar a vida de tantas pessoas em um piscar de olhos, discutir as filosofias tão distintas que possuía com Aedan, desobedecer aos horários do mosteiro, ver os livros sendo roídos pelos ratos, amedrontar-se com o anticristo, ver a própria Igreja decaindo aos poucos, o trabalho que precisava exercer, lembrar-se dela. Quase inconscientemente começava a se arranhar os braços de maneira discreta por baixo das mangas grossas, um desejo sombrio de reabrir as cicatrizes o dominava, onde quanto mais nervoso ficava mais sentia aquela vontade mórbida de se flagelar. Há tempos deixara de fazer só por penitência, tendo consciência que em algum momento tonara-se um vício, um vício que precisava lutar contra, não somente por ser proibido pela Ordem, mas por querer manter a própria integridade.

E ao lembrar-se disso, inevitavelmente pensava em Friedrich a lhe limpar os cortes tantas vezes, costurando novamente a carne ferida por si mesmo. Os olhos azuis serenos a estamparem uma preocupação velada.

‘’Não irei julgar teus costumes irmão, contudo lhe aconselho como amigo para que tenha cautela. Digo isso para seu bem. ’’                                                                         

Assim lembrou-se dos escritos perdidos, onde na ânsia de mudar seus pensamentos para qualquer outro lugar resolveu conversar com Aedan sobre algo que o interessaria e pudesse amenizar a rixa entre eles.

— Posso entrega-las a ti se desejares. Afinal, eras quem desenhava as miniaturas para ele, correto? Quem sabe pode por fim terminá-las. – Prosseguiu ganhando atenção total de Aedan, que hesitou por alguns segundos antes de dizer quase que num murmúrio:

— Ficaria deveras grato.

No centro do mosteiro, o sino da abadia badalava sinalizando o início das matinas, o despertar dos monges muito antes do sol sequer nascer. Era o início de mais um dia rotineiro, contudo como uma coincidência impressionante ou sinal divino, fora também o exato momento em que a respiração de Bernard cessou por completo e ele não acordou mais.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Vocês devem estar querendo me jogar pedras por não dar foco nos protagonistas logo quando está na parte mais interessante suhauhsua Mas acalmem-se que logo nessa semana a história normal irá continuar!
Também devem estar se questionando por que Friedrich está com a alcunha ''de Farley'' nesse capítulo ao invés do ''de Hampshire''. Acontece que Hampshire é o ducado, espécie de ''estado'', logo como o mosteiro também ficava em Hampshire os monges o chamavam pelo sobrenome do lorde dono das terras em que Friedrich nasceu. Sobrenomes nessa época é uma coisa doida que será explicado melhor em outro capítulo no futuro ;)
Curiosidade que ninguém pediu mas estou trazendo mesmo assim: a ''matinas'' mencionada ali no final, hora em que os monges levantam, seria cerca de três horas da manhã. Para que eles conseguissem acordar tão cedo assim geralmente eles iam dormir lá pelas sete da noite.
Comentem o que acharam e nos vemos no próximo capítulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ode aos desafortunados" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.