Ode aos desafortunados escrita por Angelina Dourado


Capítulo 13
O Cavalo e o Mar


Notas iniciais do capítulo

Olá gente! Mais um capítulo vindo no meio da semana, mas é melhor do que esperar até o final dela ;p Ultimamente os capítulos vão sair nesses horários meio bagunçados por conta de minhas provas na faculdade que estão tomando bastante meu tempo, mas tirando isso acho que não haverá maiores problemas de atraso. Por mais que Ode aos Desafortunados não possua um dia certo de postagem, sempre tento não passar de quinze dias sem atualização, espero que eu consiga manter esse ritmo ;-; Mas qualquer coisa, já sabem o porquê da demora.
Espero que gostem do capítulo. Boa leitura!



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Loki andava pela estrada de pedra de maneira contente, quase saltitando feito uma criança. Segurava na mão um punhado de moedas, dois florins de cobre e um de prata, chacoalhando e fazendo com que tilintassem conforme se movimentava. Havia sido um bom dia de trabalho, sem calote, perseguição morte ou peste, angariando assim mais alguns dias de sustento. Seria uma verdadeira benção se todos seus dias fossem daquela forma, porém como não o eram apenas lhe restava aproveitar aquele breve pedaço de alívio e felicidade.

Que por vezes ele dava uma de tolo realmente era verdade, mas não significava que era totalmente estúpido. Alguém aparentando alegria com dinheiro na mão era um grande alvo de assalto, enquanto andava em meio às choupanas. Por isso ao perceber certos olhares em sua direção, tratou logo de meter as moedas na pequena bolsa amarrada em seu cinto, além de fazer a maior cara de cansado e mau humorado que podia. Era melhor deixar a alegria apenas em seu interior.

Assim percorreu o restante do caminho, afastando-se cada vez mais do aglomerado de casebres que começavam a se dispersarem pela paisagem, dando uma melhor visão dos campos de trigo e das ovelhas que pastavam tranquilamente nas colinas verdejantes. Dirigia-se para o local onde haviam montado acampamento, esperando encontrar Friedrich que havia permanecido para cuidar de certos pertences, além de haver assim um ponto fixo para que a clientela pudesse encontrar seus serviços. Com um indo atrás de clientes e outro esperando pelos mesmos, as chances de um dia produtivo aumentavam consideravelmente.

Foi inevitável ter acabado com aquela falsa face de ranzinza ao ver de longe a imagem de Friedrich, voltando a sorrir sem ele próprio notar a princípio. Ajeitou o cabelo rebelde para trás e bateu um pouco o pó das roupas, tentando se mostrar um pouco apresentável frente ao outro – mesmo que o companheiro já o tivesse visto em situações piores.

Friedrich não notou a aproximação do outro tão cedo, estava concentrado demais enfaixando cuidadosamente uma tala no braço de uma criança. A menina de longos cabelos negros tinha os olhos avermelhados por chorar e fungava o nariz repetidamente, olhando lacrimosa para um grande homem abaixado ao seu lado que conversava com ela durante o processo, tentando distraí-la no meio da dor e do choque.

— Ora o que temos aqui, precisaremos de um gancho pelo jeito? – Loki indagou com seu ar de saltimbanco, fazendo sua pessoa presente para todos.

— Não dê ouvidos ao meu amigo, está apenas sendo um bufão. – Friedrich tranquilizou os clientes antes que houvesse problemas com a petulância desavisada do companheiro. O homem que acompanhava a menina o observou com suspeita, as sobrancelhas grossas quase se unindo enquanto lhe encarava. Possuía a testa proeminente, pele machucada pelo sol e diversas rugas no rosto, o cabelo e a barba de cor escura eram desgrenhados e com alguns poucos fios grisalhos salpicados aqui e ali. Apesar da aparência divergente entre o homem e a menina, um portando uma imagem de brutalidade enquanto a outra a mais pura inocência e delicadeza, era possível notar algumas semelhanças entre seus traços.

— Este é o parceiro que tu falavas sobre? – O estranho questionou olhando de Loki para Friedrich que terminava de posicionar a última faixa ao redor da tala de madeira.

— O próprio. – Respondeu dando um rápido olhar de soslaio para Loki, como se para confirmar que estivesse realmente ali.

— Loki o Druida á seu dispor. – Cumprimentou com um aceno na cabeça, sendo imitado pelo desconhecido que também se apresentou.

Sir Ulric de Gregorshire, ou o que sobrou do lugar. – Ao ouvir o homem dizer aquilo foi inevitável para Loki não fazer uma mínima expressão de espanto. Foi então que notou suas roupas que apesar de batidas, eram de uma qualidade muito superior à dele e de qualquer um de seus outros clientes, protegidas por um gibão de couro e pele de carneiro habilmente colorida em vermelho, preso com um cinto grosso enfeitado com uma fivela ornamentada em ouro. Além de portar uma longa espada de duas mãos que brilhava em suas costas com o aço bem afiado, preenchida com entalhes de ordem de cavalaria e fé católica.

Loki não sabia mais como reagir frente aquele homem sem que sentisse certo receio. Seu velho amigo Joshua havia sido uma das poucas exceções de nobres que não abusavam de seu título, contudo quando o conhecera foi na época em que ele já havia abdicado do mesmo. Se levasse em conta toda a sua vida como experiência, sabia que com a nobreza deveria se portar com vários pés atrás, de preferência sem ser visto.

Se era um pensamento generalizado ou não, Loki o desconhecia, pois era o que havia presenciado por toda a vida. Nobres costumavam adorar exercer sua superioridade, tendo um comportamento orgulhoso e repleto de vaidade. Mesmo quando se tratavam de baixos títulos como cavaleiros e barões, faziam com que sempre fossem obedecidos não importasse onde estivessem. Pelo que Loki sabia sobre tratamentos para com a nobreza, na dúvida vire seu servo até que se soubesse de sua índole.

— Ulric e sua filha Emeline vieram de um lugar devastado pela peste, por isso estão indo á Hull onde possuem parentes. – Friedrich informou ao parceiro e poupando o homem de ter de contar sua história trágica novamente para mais alguém.

— És uma grande pena, minhas condolências por terem de presenciarem os horrores da peste. – Disse Loki com pesar, mas aliviado em seu interior ao notar a forma simples como o companheiro se referiu a Ulric, sem utilizar-se do título, quiçá o cavaleiro não desse tanta importância para seu nome ou ao menos deixara a etiqueta de lado em tal situação delicada.

— Com tanta calamidade, agora almejo apenas a segurança da pequena Emeline. Tenho deveres a cumprir nas terras que sirvo, porém antes preciso manter a consciência plena em saber que ela está segura longe de toda a adversidade. – Ulric direcionou seu olhar para a menina que encolheu os ombros sem jeito com um semblante triste no olhar, dessa vez não pela dor física, e sim pela separação iminente entre ela e o pai. – Sem mais escalar árvores, ou estou errado?

Emeline deu um sorriso travesso, mas com os olhos ainda submersos em um mar soturno.

O cavaleiro deixou como pagamento duas moedas de prata, levando consigo também um unguento que Loki recomendou para as dores da criança. Ele e a menina resolveram passar a noite em uma hospedaria, dado que tinham condições para arcar com tais despesas.

Com os frutos da primavera os agraciando, até que a dupla poderia se dar o luxo de fazer o mesmo, mas decidiram por continuar repousando ao ar livre enquanto o clima estava bom. Guardariam o dinheiro de hospedagem para dias chuvosos e frios, além de possuírem diversos outros planos com o lucro que conseguiram. Quem sabe Loki conseguiria finalmente restaurar a antiga espada de Joshua, tão maltratada e amassada pelo tempo se comparada com o brilho da de Ulric.

— Angariaste dois florins de prata! Juntando com minhas moedas, sinto que ao menos uma vez estamos num caminho de sorte. – Loki comentou animado, enquanto entalhava o tronco de uma árvore com uma faca, desenhando um rosto através dos sulcos. Era um passatempo que possuía inspirado nas árvores com faces que seu pai costumava fazer para os deuses.

— E ainda tem mais! Ulric possui dois cavalos consigo, pois pretende vender um deles em Hull para arcar os custos da viagem e da filha, por isso ofereceu um deles para acompanha-lo até a cidade. Se aceitarmos disse para o encontrarmos no início da manhã. Acredito ser uma excelente ideia, afinal já é caminho para nós. – Friedrich acariciava a cabeça do cão enquanto falava, deixando o animal sonolento que ora abria e fechava os olhos. Loki parou de entalhar abruptamente, atônito com a proposta e demorando alguns segundos para se recompor.

— Não conte comigo.

— Posso perguntar por quê? – Indagou fazendo o ruivo franzir os lábios de nervosismo, matutando o que poderia responder contra aquilo.

— Não confio em cavalos.

— Tens medo de cavalos?

— Não coloque palavras em minha boca! Só não aprecio a ideia de se equilibrar num animal grande e confiar minha vida a uma criatura sem mente. – Loki cruzou os braços e fechou o cenho, numa imagem mais cômica do que ameaçadora como gostaria. Friedrich dessa vez não conteve o riso, mostrando até os dentes sempre escondidos, sabendo muito bem que importunaria o outro.

— Bobagem Loki, pense na comodidade! Chegaremos a Hull muito mais rápido que o costume. Além do mais, pensei que fosse acostumado, já me contaste que costumava viajar com seu pai antigamente.

— A pé ou no máximo em cima de uma carroça. Pois da última vez que arrisquei montar, o mais longe que consegui ir foi até o chão. – Loki disse em meio de resmungos, não querendo admitir que aquela conversa não o privilegiava de forma alguma.

— Oh, então é por isso que teme andar a cavalo? – Friedrich sustentou o rosto com uma das mãos, olhando para o companheiro de forma risota.

— Não temo criatura alguma! – Tentou se defender, mas seu orgulho já estava manchado demais para tentar se redimir de alguma forma. Inevitavelmente seu rosto tingiu de rubro, combinando com seus fios de cobre. Apesar da expressão zangada dele, Friedrich o achava adorável e sentia um estranho ímpeto de apertá-lo.

— Não há por que negar a gentileza de Ulric por conta disso, se preferir posso muito bem conduzir o animal, sabes que ao contrário de tu os animais gostam de mim. – Como se para provar seu ponto, Friedrich bagunçou as orelhas do cão e não recebendo nenhuma reação do mesmo, que dormia profundamente ao seu lado.

— Ainda assim estarei em cima do dito cujo.

— Não o deixarei cair.

— E que espécie de prática possui em cavalaria? – Loki questionou desconfiado, fazendo o companheiro revirar os olhos por tamanha teimosia que tinha.

— Já conduzi asnos e mulas, não deve ser tão diferente assim.

— Queres então que eu confie em um cavaleiro inexperiente?

— Oras Loki, sabes que pode confiar em mim. – Friedrich pendeu a cabeça para o lado, dando um sorriso debochado sem ter a ciência de que seu olhar marcante desarmava o outro por completo.

Loki bufou descontente sabendo que não tinha argumento contra isso, sequer buscava mais por algum. Na briga entre a razão e emoção dentro de sua cabeça, a primeira estava estatelada no chão e gritando por misericórdia.

— Me arrependerei, tenho certeza. – Resmungou para si mesmo, antes de concordar. – Está resolvido então, contudo, se algo der errado sabes muito bem que tenho o direito de usar isso contra você.

Vulgarmente falando: ‘’Bem que eu avisei. ’’

— Não será necessário. – Friedrich disse convencido, colocando toda a certeza do mundo em suas palavras.

Na manhã seguinte, Loki conseguia ver a tragédia muito mais cedo do que antecipava.

Mais do que a cauda que balançava feito chicote, dos olhos enormes e profundamente negros encarando-o, ou das baforadas de frio que saíam de suas narinas como o fogo de uma besta do inferno, seu tamanho era o que mais o preocupava.

Friedrich não pareceu nem um pouco incomodado, apesar do animal cinzento ter se agitado quando se aproximou, ele logo se acostumou com sua presença depois de lhe acariciar o focinho. Montá-lo foi de longe uma dificuldade, mas era ali que estava a questão, Friedrich era um homem alto, enquanto Loki se questionava se era capaz de ao menos alcançar o estribo.

— Já desistiu? – Friedrich indagou com um sorriso sacana, parecido com o que Loki comumente tinha. Aquilo era alguma espécie de revanche da qual o ruivo não estava gostando nem um pouco.

— Não sei se o alcanço. – Respondeu, e mesmo subentendido era muito raro que Loki admitisse sua baixa estatura, tal qual que fez com que o parceiro erguesse as sobrancelhas de surpresa.

— Está exagerando, venha antes que Ulric peça para eu devolver o cavalo.

Loki se aproximou, olhando desconfiado para a cabeça do animal que o encarava de forma que parecia assistir tudo com curiosidade, esperando pelo que ia dar. Apoiou as mãos na sela e ao sentir o cavalo se movimentar quase desistiu da ideia, mas engolindo o medo acabou por tentar se impulsionar para cima, só conseguindo enfim na terceira tentativa quando Friedrich o agarrou debaixo de seu braço e o ajudou a subir.

— Eu ia conseguir sozinho. – Disse com a última gota de orgulho que lhe restava.

— É claro que sim. – Era tangível a ironia da frase.

Ulric se aproximou montado em um alazão, junto de Emeline entre ele e a rédea. A menina abanou para eles sorridente, recolhendo o braço logo em seguida para segurar o outro enfaixado. A imponência do cavaleiro era digna de uma novela de cavalaria, com o queixo erguido e a espada a brilhar pelos raios da manhã.

— Conhecem o caminho para Hull?

— Sim, mas há tempos que não percorro por essa região. – Loki respondeu, inclinando-se um pouco para o lado, dado que ficava escondido atrás do companheiro mais alto.

— Creio ser o bastante, já será de grande ajuda para ninguém desviar do caminho. Ademais, mantenham-se sempre por perto. – Aquele não era um simples conselho, era um aviso. Ulric poderia ser um nobre que fazia jus ao título, contudo isso não significava que confiaria por completo em dois estranhos. Se houvesse a mínima intenção de roubarem o equino, a longa espada de duas mãos e o título de cavaleiro já eram motivos o bastante para que mudassem de ideia.

— Que Deus nos guie para um bom caminho. – Friedrich disse como esperado após concordar com a cabeça com o que o cavaleiro disso.

Amém.

Ulric conduziu o corcel com maestria, dando meia volta e seguindo caminho, ficando a uma distância ainda visível para os dois.

— Aposto que ele derrubaria nós dois sem sequer tirar a arma da bainha. – Loki falou sussurrando para Friedrich que sentiu até o último fio loiro se arrepiar com a aproximação repentina. Deu apenas um riso nervoso como resposta, soltando a rédea para seguir o cavaleiro, ficando surpreso novamente a se ver enlaçado com Loki que assustado com a movimentação o segurou pela cintura.

— Por precaução. – Justificou Loki com o corpo rígido e encolhido, evitando a todo custo olhar para baixo, onde seu estômago já se revirava só de pensar sobre. Apertando ainda mais Friedrich conforme o dorso do animal balançava com o trote.

Friedrich não comentou nada soube, apesar de ser uma ótima oportunidade de importuná-lo, achava que já havia sacaneado Loki o suficiente por seu medo de equinos – e ao que indicava altura também.

Além do mais, estava tentando conter o próprio nervosismo no momento, imaginava que não haveria mal em dividir uma sela com o companheiro, contudo apenas o fato de estar tão próximo do outro o fazia sentir-se daquela forma estranha e abominável, ao invés de simplesmente se portar como um evento qualquer. O jeito era tentar ignorar o bater de asas no estômago, parecia uma decisão mais eficaz do que ficar com raiva de si mesmo mais uma vez.

Tanto é que foi uma jornada silenciosa, em parte por Loki que tentava esconder e lidar com sua covardia, que aos poucos se desvanecia conforme se acostumava com a viagem. Quanto por Friedrich que evitava pensar no outro agarrado a si, rezando em silêncio para assim manter os pensamentos em qualquer outro lugar que não no outro.

Eram poucas nuvens no céu azulado, com os raios de sol cobrindo o extenso campo de gramíneas, ainda alaranjado pela manhã recente que pintava as folhas de amarelo. O terreno acidentado possuía grandes montantes de rochas espalhadas aqui e ali, tendo de ficarem atentos para que os animais não tropeçassem nas mesmas. O vento soava livremente, forte por conta da altitude em que estavam causando um tremor incômodo ao corpo mesmo em um dia quente como aquele. Havia um ar fresco e puro, advindo do litoral que ficava cada vez mais próximo à medida que avançavam, podendo já ser possível ouvir o som das ondas quase no começo da tarde, uma música suave tocada em uma distância que se tornava menos longínqua.

Em um campo aberto como aquele, apenas com poucas árvores aqui e ali, os pássaros eram as únicas criaturas que podiam ser vistas e ouvidas, voando sozinhos ou em grupos pela liberdade do céu. Quando o medo começou a se despedir, Loki arriscou olhar ao redor, impressionando-se com a bela paisagem que parecia mover-se velozmente conforme os galopes ficavam mais rápidos.

Se olhasse para trás, poderia ver um pontinho cinzento tremulando quase no horizonte. Era um cão confuso, mas leal o bastante para seguir o rastro dos donos, trotando agilmente com suas longas pernas, quase que imitando as criaturas de casco.

Paravam a cada duas horas, com a estimativa de que chegassem a Hull no início da madrugada, ou no final da manhã seguinte se parassem para descansar em algum lugar. Mesmo com o braço preso e debilitado, Emeline corria alegremente pela grama alta, ficando ainda mais contente quando o cão apareceu e se tornou um grande companheiro de brincadeiras. Ulric apenas ficava inerte feito uma rocha, uma mão encostada no punho da espada na bainha, o rosto fechado e silencioso, com um olhar profundo de quem já havia passado por muito e ainda precisava pensar num futuro nada próspero.

Friedrich e Loki sentiam as pernas adormecidas e o restante do corpo dolorido, dado que não eram acostumados com cavalgadas, andavam em círculos só para poderem lembrar ao corpo que o mesmo era funcional. Loki pegou o jeito de subir novamente no cavalo, mas cada vez parecia um martírio, os músculos gritavam por misericórdia o restante da viagem. Contudo, a dor podia ser ignorada com o vento suave batendo no rosto e o peso da paisagem a encher os olhos, o mar já aparecia tímido por trás das rochas.

Uma das paradas aconteceu abruptamente, com Ulric deixando o cavalo e levando Emeline nos ombros, aproximando-se a passos largos em direção do penhasco que recebia o beijo das ondas que se quebravam nas rochas negras. A criança olhava boquiaberta para a imensidão do mar, com a imagem do crepúsculo refletida em suas águas. Apontava com o braço saudável para a imagem divina da natureza, falando com entusiasmo com o pai que finalmente esboçava um sorriso. Era sua primeira vez em contato com o mar, tendo experimentado o deleite da visão do fim e além do mundo, sem pistas do que havia além do horizonte.

Os dois amigos também desmontaram do cavalo, indo em direção ao penhasco, ainda que a vários passos longe de Ulric e Emeline, ficaram em posição paralela a eles. O vento esvoaçava seus cabelos e túnicas, o frescor do litoral batia na pele em um toque suave e gélido. Era uma visão que causava paz no espírito, fazendo todas as dores serem esquecidas por um momento e os ombros relaxarem por alguns segundos.

— Já viu o mar alguma vez? – Friedrich indagou, não tirando os olhos da água.

— Diversas vezes, minha vila não era longe do litoral. – Loki respondeu ficando em silêncio por alguns segundos, apreciando o mar intensamente. – Mas é sempre impressionante de toda forma.

Entreolharam-se por um momento, e Loki se viu mais encantado pelo azul da íris de Friedrich do que no mar a sua frente. Era grato em poder compartilhar tais momentos com ele, fazendo parte daquela alegria simples e preciosa, sentindo a alma acalentar-se apenas com sua presença. Como temia dizer com sua voz, falava em seus pensamentos o quanto o amava, repetindo cada vez que seus olhares se encontravam. Se fosse para sofrer por aquela paixão, ao menos tinha a certeza de que era por alguém no qual era grato por conhecer e admirava intensamente.

E justo no meio de tais pensamentos, qual não foi a surpresa do druida ao sentir sua mão sendo pega e segurada pela de Friedrich. O dono de seus pensamentos não olhava em sua direção, focando apenas no horizonte marinho, mas ainda assim segurava sua mão com firmeza. Loki sentiu seu coração ir ás alturas de tão rápido que batia, além de não evitar um sorriso bobo lhe desenhar a face. Não sabia o que ele queria dizer com tal gesto, nem tinha coragem o suficiente para questionar se era o que seus sentimentos gostariam – parte pela possível resposta, mas principalmente pelo que poderia ocorrer após ela -, por isso decidiu simplesmente permanecer em silêncio e aproveitar a oportunidade.

Friedrich assim como iniciou também interrompeu aquele gesto, soltando a mão de Loki abruptamente, ainda evitando olhar em sua direção. O druida não questionou, com ambos permanecendo em um longo silêncio que se seguiu até retornarem a cavalgada. Não discutiram sobre, deixando tudo aquilo apenas pairar pelo ar, jogado para muito além das ondas.


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Notas finais do capítulo

As coisas estão muito tranquilas. Por quanto tempo será que isso dura? (¬‿¬)
Isso aqui anda meio assombrado ultimamente, vários fantasmas (~˘▾˘)~... Brincadeiras aparte, comentem o que acharam e nos vemos no próximo capítulo! Obrigada pela leitura ʕ•ᴥ•ʔ



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