Ode aos desafortunados escrita por Angelina Dourado


Capítulo 1
A Linha e a Agulha


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Depois de um tempo sem postar nada, lá vou eu apresentando um projeto que estava moldando há muito tempo! Estou muito empolgada com essa nova história e pretendo retratar a época e os acontecimentos da maneira mais fiel o possível! Mas como podem ver os capítulos são bem grandes, por isso acho melhor não estipular uma frequência específica, mas eu sempre vou procurar postar o mais rápido possível!
Espero que gostem do resultado!



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Essa história começa com um andarilho.

Loki não possuía apenas um nome peculiar, ele próprio como um todo era extremamente excêntrico. Os olhos verdes como de cobra, o olhar de um bárbaro, os trajes de um nobre em mesmo estado que o de um miserável. Quem cruzava seu caminho sempre iria pensar uma dessas três coisas: louco, ator ou pagão.

Dessas três suposições apenas uma era correta e outra apenas em partes. Pagão sim, apesar de ter sido ameaçado diversas vezes, linchado em algumas, condenado em outras, jamais negava suas crenças. Louco ele não era, mas seu jeito extrovertido e trejeitos esquisitos muitas vezes criavam uma má impressão aqueles que o conheciam. Entretanto, uma coisa quase todos concordavam quando o conheciam melhor: Loki era um excelente curandeiro.

Na hora da dor e do desespero era muito difícil alguém dar importância para o que Loki parecia ser. Apenas por um quarto de florim, sujeito a negociações, Loki oferecia seus cuidados como médico, curandeiro, druida, barbeiro, ou qualquer outra coisa que quisessem o chamar na hora. Apesar de muitos suspeitarem dos medicamentos que produzia, era inegável a eficácia para diversas enfermidades. Loki não era tolo, nunca afirmava saber curar o que nunca tinha visto, ou se arriscar por onde nenhum havia conseguido. Preferia sempre ficar em sua zona de conforto.

Vivia sempre na estrada, deixara de viver em um único lugar há muito tempo. Apesar dos perigos de viver desacompanhado, quando se fixava em um lugar por muito tempo era muito mais fácil ser denunciado ao clero, além do mais preferia buscar por pacientes ao invés de esperar que os mesmos chegassem até ele. Para sua sorte, ou astúcia, sabia se defender muito bem e apesar de algumas cicatrizes sentia que conseguiria viver por muito tempo assim ainda.

E é por conta de sua vida nômade, seu senso de justiça e a falta de habilidade com agulhas que Loki teve sua vida mudada para sempre.

Agora caro leitor é que começa realmente a história.

Naquele dia frio de janeiro em 1349, Loki andava em algum ponto do sudeste da Grã-Bretanha, recém ao amanhecer o céu cobria-se no horizonte numa fina linha rosada enquanto o sol lentamente começava a ascender. Apesar dar botas grossas e bem protegidas por peles, conseguia sentir a umidade da relva. A bolsa que levava nas costas tilintava por conta de tantos frascos que possuía dentro e apesar de ter começado a caminhada havia pouco tempo, Loki já sentia um desconforto em seus ombros por conta do peso.

Pensava que seria mais um dia tranquilo, não via uma viva alma há quase uma semana e começava a se perguntar se as informações sobre um vilarejo naquela direção eram verdadeiras. Não era como se já não tivesse se perdido outras vezes, mas precisava voltar à civilização de tempos em tempos para pegar mantimentos e por isso torcia para que não estivesse indo parar em alguma região inabitada.

Sua solidão foi interrompida de maneira abrupta, com um grito vindo da floresta e o som de golpes, Loki se sobressaltou ao sair de seus devaneios.  Por um momento apenas ficou parado na estrada, encarando em direção à floresta densa ao lado. Seu lado racional dizia que para seu próprio bem deveria apenas seguir em frente, evitando conflitos e problemas, mas Loki não era do tipo racional e sim do curioso.

Começou a avançar até os pinheiros lentamente, fazendo com que a noite retornasse na forma das sombras. Em dado momento quando os brados se intensificaram levou sua mão até a bainha da espada, mesmo apreensivo continuou caminhando em direção ás vozes. Já havia entrado em conflitos antes, a vida de andarilho era perigosa, mas não significava que havia se acostumado aos mesmos.

A cena que viu apesar de lhe ser familiar lhe causava estranhamento. Saqueadores eram figuras comuns no seu dia a dia apesar de não suportá-los, e apesar de ter visto poucos em sua vida os monges também não lhe eram figuras estranhas. Mas a junção de ambos pareceu uma imagem um tanto quanto exótica para Loki que antes de reagir apenas observou alarmado o que estava acontecendo na sua frente.

Duas figuras maltrapilhas, mas segurando lâminas até os dentes, cercavam uma única pessoa com o caminho bloqueado por uma árvore ás suas costas. A vítima Loki reconheceu como frade por conta de sua cabeça, mas pela escuridão não conseguia ver maiores detalhes além daquilo. Pelo pouco que conseguia ver, um dos criminosos segurava seu pescoço com as mãos enquanto o outro apontava uma faca em direção ao peito do religioso.

— Acha que não podemos te cortar ao meio? É mais estúpido do que imaginei. – Disse o homem com a faca na mão, quase que cuspindo na cara do monge.

Por um momento sua mente congelou, e ao invés de simplesmente ver a cena começou a apreciar a mesma por conta do seu subconsciente falando mais alto, um fel de vingança escorria por suas veias enquanto encarava a face amedrontada do cristão. Contudo quando a faca do agressor furou o peito do homem, foi como se Loki tivesse despertado e no mesmo instante se sentiu horrível pelo que tinha pensado.

Essa pessoa não é culpada pelo que aconteceu com você Loki.

Não é como se Loki não teria feito algo se não fosse por aquilo, mas sentir que devia algo para aquele homem pelo fato de simplesmente ter pensado em um destino horrível para ele, foi o que fez Loki agir mais rápido do que jamais teria feito.

— Ei! – Gritou e na hora os dois saqueadores lhe encararam, o cenho franzido, os punhos cerrados, os olhos o banindo. – Não entendo muito os cristãos, mas tenho quase certeza que vocês ganham prioridade no inferno por assaltar um de seus monges. Ferir alguém desarmado é atroz e desonroso.

— Cala-te intruso. – Respondeu um dos agressores, encarando Loki com mais desconfiança do que o normal. Seus olhos verdes brilhavam como fogo mesmo naquela escuridão, o druida era a figura mais estranha e mítica que os dois já haviam visto e ambos pensaram por um instante se não era alguma assombração da floresta, talvez um demônio vindo em busca de suas almas pecadoras.

— Saiam. Agora. – Bradou grosseiramente, desembainhando a espada que estava escondida pelas sombras, os dois saqueadores se sobressaltaram colocando as mãos para cima ao verem que não daria para vencer espada com faca. Pode parecer nobre da parte de Loki, mas seu plano só deu certo por conta da própria sorte, pois foi pelo breu da floresta que os dois homens não podiam ver o estado defasado de sua arma, além do mais o seu cabelo vermelho os faziam lembrar o diabo, deixando com que a pouca coragem que tinham se desfizesse rapidamente.

Saíram rapidamente, frustrados, mas sabiam que não valia à pena se arriscar por tão pouco. Torciam para que o frei morresse ao menos, talvez no pós morte ele aprendesse a ser menos ardiloso.

Por falar no monge, o mesmo ficou praticamente alheio ao que aconteceu, estava ocupado demais tentando estancar sua ferida com suas próprias mãos trêmulas enquanto tentava permanecer são em meio à dor. Apesar de um corte pequeno na batina, o sangue já começava a encharcá-la.

Quando uma sombra tapou o pouco de luz que sua visão captava, levou seu olhar para cima, o homem á sua frente tinha os cabelos da cor do inferno e os olhos verdes e brilhantes como os de um gato, usava vestes tão coloridas que se perguntou se ele mesmo conhecia todas as cores. Tinha a estatura baixa, mas era forte o suficiente para carregá-lo, o que fez com que o frei tivesse certeza que não estava delirando ao sentir a dor intolerável em seu peito assim que foi erguido do chão.

— Quem... Quem és tu? – Questionou com dificuldade. Loki o colocou no chão quando chegou a uma clareira, o céu começando a ficar de um azul mais claro com o início da manhã.

— Loki, o Druida. – Respondeu com um sorriso torto apesar de visivelmente nervoso ao ver a ferida do outro.

— Um nome pagão. – Saiu sem pensar direito no que dissera, não é como se estivesse em posição de realizar comentários assim, mas aqueles últimos dias haviam sido muito complicados para o monge e por um momento talvez tenha esquecido a cordialidade. Mas também pouco confiava naquele estranho, que apesar de ter aparentemente salvo sua vida não exalava muita confiança daquela cabeleira ruiva.

— Prefere dar outro nome para mim? – Loki questionou satírico enquanto pegava alguma coisa em sua pesada mochila, o couro já estava desgastado e remendado em tantos lugares que era evidente a necessidade de uma reposição. Tirou uma faca de um pequeno embrulho feito com pele de coelho e quando se virou em direção ao ferido viu que ele se colocara com a cabeça e peito para baixo enquanto tentava enfiar a própria mão na garganta. – O que estás a fazer?!

Deuses ele é louco!

Para a surpresa de Loki, o monge regurgitou bem mais do que sua última refeição. Tirando de sua boca com dificuldade, apareceu uma fina corrente brilhante, com uma pequena cruz de ouro enfeitada por espirais de prata como pingente.  

Nem tão louco assim.

O ferido tossiu sofregamente após isso, quase caindo se não fosse por Loki que o apoiou de volta no tronco do pinheiro. Apesar da dor, como se um roedor rasgasse sua carne de dentro para fora, segurava o colar com força na mão direita. Loki não era idiota e logo se deu conta o porquê da cena, apesar de uma atitude imbecil sabia muito bem que teria feito algo de teor parecido no lugar do outro, pois era ótimo em tomar decisões imbecis.

— É esperto, mas estúpido também. – Disse abaixando-se novamente, rasgando as roupas do monge com a faca sem pedir qualquer permissão, afinal era uma situação de emergência. O sangue ainda era abundante, mas por sorte a ferida não era tão profunda, provavelmente ele segurou a mão do agressor para não causar um ferimento fatal. – Vai precisar levar pontos, mas poderia ter furado algum órgão se não tivesse tido sorte.

Loki estava mais apavorado com isso do que o próprio monge que por um momento apenas lhe encarou com o canto dos olhos. Podia ser um excelente curandeiro, criar poções extraordinárias, mas Loki não era bom com suturas. Era uma das comédias da vida, do qual ele mesmo não tinha orgulho de admitir.

— É tudo o que tenho. – Frisou o monge fazendo uma careta sôfrega ao sentir Loki tocando em sua ferida. Podia ver na pele pálida do monge que além do corte havia diversos hematomas espalhados, alguns recentes de cor arroxeadas, enquanto outros já amarelados e mais antigos, o que criava um padrão estranho de machucados sem origem certa. Depois de limpar o ferimento o druida pegou um frasco manchado de um tom amarelo, com um pó esverdeado. O monge olhou aquilo com desconfiança, se recostando um pouco mais para trás como se quisesse evitar o contato. – Isso é algum tipo de feitiçaria?

— É basicamente feito de valeriana, agora se pensa isso sobre plantas não hei de julgar. – Rebateu pegando um pouco da mistura e passando sobre o corte. Loki podia sentir o olhar fulminante do monge sobre si e pode ouvi-lo praguejar em latim. – Não me olhe como se fosse o diabo. Não faço boas suturas e isso vai ajudar a não sentir tanta dor ao menos.

— Se tens linha e agulha eu mesmo o faço. – Disse o frade fazendo Loki erguer as sobrancelhas de surpresa. Não contestou, pegando os instrumentos em sua sacola e passando para o monge, já com a linha posta na agulha.

— Sabe... Depois de salvar alguém eu gosto de saber seu nome. – Comentou com um sorriso sacana enquanto o outro se posicionava da melhor maneira para realizar o procedimento. O monge lhe olhou com desconfiança, pensativo, antes de responder de maneira mais cordial do que andava sendo:

— Friedrich.

— Trata-se de um nome cristão? – Perguntou tentando acalmar os ares, ele podia perceber a mão trêmula de Friedrich enquanto apontava a ponta da agulha para o próprio corpo.

— Estaria mentindo se dissesse que sei se és.

— Me parece estrangeiro.

— Germânico, provavelmente. – Disse seco antes de perfurar a pele e começar a costurá-la, mordendo os lábios e enrugando a testa tamanha a dor. Podia sentir certa dormência no local, provavelmente por conta do elemento estranho que Loki havia posto, mas não era tão eficaz assim e detestava pensar no assunto.

Loki resolveu que seria melhor não falar mais nada com o monge até que terminasse o serviço. Resolveu se ocupar em fazer uma armadilha para pegar algum animal desavisado daquele lugar, fazia tempo que não comia carne fresca, não custava tentar a sorte naquele ambiente estranho.  Enquanto estava ocupado com gravetos e linha, ouvia vez ou outra Friedrich grunhir de dor cada vez que passava a agulha na carne.

Começava a refletir sobre como prosseguiria dali em diante. Friedrich com certeza seria um empecilho, não poderia seguir viagem aquele dia. Mas Loki não era do tipo de gente que largava um ferido á míngua, precisava continuar, mas tinha que pensar o que faria até lá. Pode parecer pouco, mas um dia de caminhada perdido podia ser a perdição de um viajante, por isso Loki precisava pensar em alguma coisa para contornar a situação.

Se um coelho pegasse a isca já seria um ótimo começo.

— O que seria um druida? Uma espécie de barbeiro? – Friedrich questionou alguns minutos depois de ter terminado o trabalho, quebrando o silêncio que havia sido criado entre eles. Loki sorriu ao ouvir a pergunta, gostava de falar de si mesmo.

— Praticamente, mas sem a parte de cortar cabelo e fazer a barba.

— Compreendo. – Disse sem disfarçar que encarava o ninho de rato que era a cabeleira ruiva de Loki, o oposto do corte simétrico em forma de auréola que tinha. – Não faz uso de qualquer misticismo?

— Não seria muito esperto de minha parte falar de meus segredos para um monge, se é que entende o que quero dizer.

 – Mais do que imagina. – Retrucou desviando o olhar para um feixe de luz do sol do meio dia, ficando absorto em seus próprios pensamentos por um tempo. Loki não compreendeu o que Friedrich quis dizer com aquilo, mas resolveu não levar a questão adiante, não parecia ser um assunto que o outro gostasse de falar sobre.

— Grande parte do que sei é graças a minha mãe. Uma mulher de ouro, extremamente sábia e mais talentosa do que um dia poderei ser. O homem que sou hoje não existiria se não fosse por tudo que me ensinou. – Disse com um singelo sorriso no rosto, sentindo-se nostálgico com as diversas lembranças que apareciam em sua mente.

— Posso concluir então que devo a ela meus agradecimentos, visto que se não fosse assim você nunca teria me encontrado no ninho das cobras.

— Aceito a gratidão em seu lugar. – Disse e Friedrich lhe deu o primeiro sorriso de todos, revelando seus dentes levemente tortos, coisa que deixou Loki ligeiramente intrigado.  – Melhor tampar os pontos com uma bandagem, a dor é maior quando ficam expostos.

Friedrich suspirou, parte por estar exausto, mas também por ter que manipular o machucado ainda sensível mais uma vez. Loki se afastou da armadilha recém acabada, voltando a vasculhar dentro de sua bolsa, procurando por um pedaço de tecido que pudesse ser usado como curativo. Encontrou uma porção de pano surrado e com manchas suspeitas, após cheirá-lo e concluindo que podia estar pior, assim foi em direção ao monge que ainda estava com parte do peito exposto naquele frio.

— O que fazia um monge sozinho na estrada? Pensei que viajavam em grupo. – Questionou encarando os olhos azuis do outro que se arregalaram ao ouvir a pergunta. Friedrich pigarreou por alguns segundos, antes de responder.

— Estou indo visitar minha família. – Respondeu desviando o olhar, não parecendo confortável com aquele assunto. Mas Loki estava curioso, e de certa forma achava que devia receber alguma explicação sendo o salvador do mesmo.

— Não sabia que monges tinham contato com suas famílias. – Tentou não ser tão direto, apenas apontando o inconsistente, mas Friedrich parecia ser do tipo de homem esperto o bastante para perceber uma artimanha dessas.

— E não temos. – Friedrich respondeu seco, quase rude. Loki percebeu que atingira o limite, vendo que ou terminava a conversa por ali ou ia para outro caminho. Não era apenas por que o monge certamente tinha uma história complicada, mas o fato de ambos serem de universos quase totalmente diferentes dificultava a boa convivência, havia um maior cuidado com as palavras, alguns deslizes em outras, e por vezes um silêncio constrangedor era tudo o que restava.

— Moram aqui por perto? – Loki questionou, pois tinha mais astúcia do que juízo.

— Deste ponto só mais meio dia de caminhada. Estou na estrada há duas noites e por um momento pensei que fosse sair ileso. – Friedrich bufou descontente, voltando a olhar para Loki.

— Deve estar exausto!

— Há um rio que corre pelas redondezas que fez com que eu não sucumbisse, mas sinto falta de algo no estômago que não seja o corpo de Cristo. – Respondeu encarando a cruz de ouro que segurava na mão direita que parecia brilhar ainda mais com a luz que passava por entre as árvores.

— Te ofereço minha pobre sustância, mas se tivermos um pouco de sorte talvez este lugar tenha mais do que esses pinheiros velhos como o vento. – Loki se pôs a procurar por mais coisas em sua mochila que parecia não haver um fim. – Mas diga-me, sua família vive em um vilarejo?

— Em um feudo de tamanho considerável. – Respondeu Friedrich que encheu os olhos ao ver os pedaços de pão escuro enquanto Loki se deliciou ao ouvir o que o monge acabara de dizer. Tudo o que precisava era de um pouco de civilização.

— Se não for pedir demais, gostaria que pudesse me guiar até lá quando se sentir disposto. – Loki não perdeu a oportunidade, oferecendo o alimento pobre que para Friedrich aquele pão duro e seco estava com o sabor de um banquete.

— Com prazer, caro Loki. É o mínimo que posso lhe oferecer depois de ter ajudado este estranho enquanto fazia seu caminho. Poderei lhe dar uma recompensa melhor quando estiver em casa, minha família não possui muito, mas quero compensar o incômodo com alguma coisa. Por hora apenas tenho minha gratidão.

— É um homem de belas palavras Friedrich. – Loki disse não conseguindo evitar relembrar do que sentira ao ver o monge pela primeira vez. Não se sentia assim tão heroico. – Mas não fiz mais do que minha obrigação como ser humano.

— Você tem honra Loki. Estou certo que Deus guiará teu caminho com vossa unânime sabedoria.

Loki apenas deu um sorriso nervoso, não dizendo mais nada resolveu testar sua armadilha caseira se pondo a mergulhar pela mata, escondendo-a no meio de arbustos. Quando retornou á clareira, Friedrich quase não notara sua presença, estava com os olhos cerrados, as mãos juntas segurando o colar com a cruz, murmurando palavras do qual Loki deduziu ser latim. Sentou-se silenciosamente em uma pedra, não querendo interrompê-lo, apenas observando com maior atenção a figura á sua frente.

Friedrich era um homem esguio e de traços finos. Os cabelos cor de palha, que na luz do sol chegavam a parecer brancos de tão claros, a pele alva possuía queimaduras pelo sol e alguns ferimentos pelo rosto. Possuía um olhar enigmático, que apesar do corpo cansado e fragilizado conseguia transparecer certa tranquilidade e força.

Loki era quase que o seu oposto. Baixo e robusto, uma barba pontuda delineava seu rosto sardento e queimado, com os cabelos ruivos embolados parecia-se mais com um bárbaro. Era como um velho machado que mesmo ferido depois de tantas batalhas ainda possuía a mesma brutalidade.

Ao notar suas claras diferenças, e não pensando apenas na aparência, Loki riu para si mesmo.

Então essa é mais uma das enrascadas que me meto?

Talvez ele fosse o louco que os outros julgavam ser.


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Notas finais do capítulo

Vocês vão notar que Loki será referido como ''barbeiro'' várias vezes durante a história. Isso por que na época os barbeiros costumavam dar uma de médico - mais pra açougueiro - além de cortar cabelo e barba. A profissão de médico em si na época não era lá muito consistente, eram poucos os ''verdadeiros'' médicos e mesmo assim a visita de um era vista como um presságio para a morte.
Aqui darei uma breve explicação sobre os pronomes de tratamentos utilizados na história, pois por ser uma história medieval e em um local que os protagonistas falariam inglês, fiz algumas adaptações do que eles diriam no original e de como está sendo mostrado no enredo. Então, voilà:
Vós (We no original, mesmo pronome usado para plural): figuras de autoridade e nobreza.
Tu (thou no original, não mais utilizado na língua inglesa): forma mais correta de se referir a alguma pessoa que não seja nobre.
Você (ye no original, do qual hoje em dia tornou-se o you utilizado na língua inglesa): forma mais coloquial e ''incorreta'' de se referir a alguém, mais utilizado por camponeses e servos no geral.
Espero que tenham gostado, comentem o que acharam e vejo vocês no próximo capítulo! ^-^