Plataforma Continental escrita por Reyna Voronova


Capítulo 1
Plataforma Continental




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Plataforma Continental


“Don’t want to face the world

It’s suffocating, suffocating

Undesirable circumstances

I can’t feel, no, I can’t feel”

— Continental Shelf, Preoccupations.

 

Sua mente se debate e se contorce.


Depois de todas as cenas vividas, ela as revive para você num gesto torturante, e você é obrigado a abrir os olhos para presenciá-las, revê-las. A sua mente força suas pálpebras a se manterem abertas para que você as digira novamente, você querendo ou não. Mas isso não é culpa da sua mente, e sim de um parasita intangível que gosta de rondar por ela.

Esse parasita vem em momentos que você não gostaria que ele viesse. Mas a verdade é que ele vem a partir de uma brecha da sua mente. Quando ela abaixa a guarda, o parasita percorre todo o caminho para se alojar lá e infernizar seus pensamentos, te sufocar, fazer você se debater, sua mente se debater.

Em alguns momentos, esse parasita dá uma trégua. Quando sua mente se recupera e volta a ficar de guarda, ele vai embora timidamente para voltar sabe-se lá quando. Ele apenas espera sua mente fraquejar novamente para voltar a atacar. É um parasita oportunista, silencioso, mas quando ele atinge sua mente, seus sons são insuportáveis. Sons que habitam apenas a sua mente, mas que mesmo assim são estridentes e capazes de ferir — às vezes como uma faca, às vezes como um pedaço de madeira.

Quando ele deixa sua mente, você se sente novamente voltando a nadar em mar raso, aquele que banha a plataforma continental. Contudo, quando ele retorna, é como mergulhar em mar aberto, naquelas grandes fossas inexploradas e obscuras, até o ponto em que você não mais irá ter fôlego para conseguir prender a respiração por mais tempo.


E você vai se afogar.


A água vai adentrar seus pulmões, e você irá se debater. Quanto mais você se debater, mais difícil será para voltar à superfície. Então, você perderá a consciência. Você perderá uma guerra travada dentro da sua própria cabeça, e ela irá arrastar você para o abismo escuro, do qual há poucas possibilidades de escapar.

Não há como gritar dentro d’água, não há como respirar, não há como ver. Você estará completamente perdido, seus sentidos se tornarão inúteis, você terá chegado num ponto de não retorno.


Um parasita intangível poderá levar você às trevas caso você deixe sua mente enfraquecida. Pode causar uma guerra dentro da sua cabeça — e ganhar. Um parasita criado pela sua própria mente pode rebelar-se contra sua criadora e superá-la a ponto de ser a verdadeira comandante de suas ações.

E quando ela chegar nesse ponto, tenha certeza de que encontrar a saída nesse labirinto imposto pela sua cabeça se tornará uma tarefa tão árdua que você não irá conseguir sozinho.


“With a sense of urgency and unease

Second-guessing just about everything

Recollections of a nightmare

So cryptic and incomprehensible”

— Anxiety, Preoccupations.


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