Filhos De Marttino Encontros de Amor(Degustação) escrita por moni


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Boa noite.



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Manoela

   — Está pronto. – Aviso desligando o fogo. O perfume está ótimo. Se meus pais me veem cozinhando assim vão estranhar. Me apliquei para impressionar o chefe. Será que é chefe que quero impressionar? Acho que no fundo é o homem. Isso é algo que tenho que avaliar. Não costumo gastar tempo e pensamentos com coisas como essas, quero alguém, eu digo e faço acontecer e depois eu só sigo minha vida, mas essa não é uma situação comum, nem ele é um cara comum e apenas a certeza disso já me confunde.

   — Quer ajuda para levar à mesa?

   — Por favor. – Enquanto ele traz a travessa eu sirvo mais vinho.

   — Melhor ir devagar com o vinho. – Ele é preocupado e fofo. Me faz sorri.

   — Não se preocupe, eu estou bastante acostumada com vinho.

   — Ah, claro, eu me esqueço. Está com uma cara ótima. – Ele aprecia o prato. Dá para ver que não tem muito desses momentos. Afonso é solitário.

   Sirvo os pratos, espero que ele prove e vejo que gosta. É estranho como isso me trás satisfação. Sorrio em gratidão. Penso em minha mãe e talvez seja esse seu sentimento ao produzir seus doces e se encantar com cada um que demonstra gostar.

   — Alimentação nunca foi meu forte. – Afonso se explica. – Costumo apenas comer qualquer coisa fora de casa para aplacar minha fome. Não costumo levar isso muito a sério.

   — Gosto de boa comida se não for eu a prepará-la. Minha família tem bons cozinheiros, acho que sou acostumada a boa mesa, mas sim, nos anos de faculdade, matar a fome nos dias comuns bastava.

   — Mais vinho? – Afirmo, ele completa minha taça e a dele. Olho para o celular ao lado do prato, nove da noite, não é mais hora de estar aqui, depois do jantar o melhor é ir embora antes que ele se sinta obrigado a me expulsar.

   — Nos encontramos no local marcado?

   — Pode ser, falamos por telefone, qualquer movimento estranho eu te dou um toque. O que acha?

   — Divertido. Vou de preto e óculos escuros. – Ele sorri de modo condescendente, as vezes penso que Afonso me vê como uma adolescente. Sou mais que isso, mas mesmo assim, não acho errado me divertir um pouco com isso.

   Termino primeiro, como rápido, papai sempre resmunga sobre isso, mas tenho pressa.

   Me recosto na cadeira esperando que ele termine, Afonso se serviu duas vezes e gostei de ver isso.

   — Agora me deve um jantar, um que você cozinha.

   — Manoela, não seria uma boa ideia, acredite, não vai gostar.

   — Não sabe. Talvez eu goste. Talvez eu queria te ensinar umas coisas sobre culinária. – Ele ergue uma sobrancelha. – Devolver a gentileza, está me treinado, de muito má vontade, mesmo assim, está.

   — Sinto que pareça isso. Não é nada pessoal, é muito por conta de quem eu sou, de como fiz tudo sozinho sempre. Não sou bom em ter ajuda.

   — Entendo. Trabalhar em dupla é um problema para você, já notei, está sempre relutante, mas ter ajuda não é de todo mau. Acho que posso ser útil em algum momento.

   — Acho que sim. – Ele afasta o prato e toma mais um gole do vinho. – O que acha de politica? Não é meu lance trabalhar com investigações desse tipo, gosto dos bastidores da política. Quando estudou jornalismo, o que tinha em mente?

   — Sou curiosa sobre tudo, quero saber sobre tudo e informar sobre tudo. Fazer as pessoas olharem em torno. Acho que seria feliz falando sobre o cotidiano. Claro que denunciar abusos, crimes, corrupção é interessante, mas fazer as pessoas repensarem seu modo de ver o mundo também.

   — Acha que pode mesmo fazer as pessoas repensarem o modo de ver a vida com uma matéria de jornal ou revista?

   — Meu irmão mais velho teve problemas com drogas. Foi quando adotamos ele. Uma longa história, mas o fato é que nós lemos muito sobre tudo isso, acho que abriu nossos olhos. Então sim, acredito que se estiver disposto a aprender e discutir, uma matéria pode mudar seus horizontes.

   — Penso como você. – Ele admite. – Mesmo assim, ainda gosto de matérias de denuncias. Não sou muito querido entre os políticos, também não sou muito respeitado, por mais estranho que seja, eles me acham jovem demais. Amália acreditou em mim como acreditou em você, mas sempre é uma barreira ter vinte oito anos.

   —Imagine ter vinte e dois?

   — Eu sei, pode ter certeza que minha relutância é muito mais por conta de ser acostumado a cuidar de tudo sozinho.

   — A conversa está boa, mas melhor ir embora. Obrigada pela companhia. Pelo jantar, mesmo que eu tenha me convidado.

   — Também gostei, mas vou te acompanhar ao hotel.

   — Por que?

   — Ahm? Como assim? Parece bem óbvio.

   — Cristalino, sou uma garota e por tanto, incapaz de chegar com vida ao hotel que fica a vinte minutos daqui.

   — Seu pai é muito possessivo? – Agora sou eu a estranhar a questão. Olho para ele com uma ruga na testa. – Está sempre querendo provar independência.

   — Me pegou, pode mesmo ser isso. Meu pai e meu irmão estão sempre me tratando como um bibelô, talvez isso me deixe na defensiva.

   — Então saiba que só quis ser gentil.

   — Obrigada, mas vou caminhar, é tão cedo ainda, deve ter algo interessante pela noite de Lisboa.

   — Como assim? – Ele se espanta. – Nove da noite e vai... o que? Falar com estranhos como fez no amarelo?

   — Tipo isso. – Admito. Ele parece ter ouvido alguma confissão de crime. Me faz rir. Fico de pé e deixo a cozinha. Fiz o jantar, não é errado deixar a louça suja para ele. Caminho para sala e peço a bolsa.

   — Não tem nada numa noite de semana na cidade, nem é hora de ir em busca de diversão, melhor eu te acompanhar. Está sob minha responsabilidade.

   — Não estou não. Estou livre, é meu chefe, não meu... meu... sei lá.

   — Vou te seguir. – Ele diz firme cruzando os braços no peito completamente inconformado.

   — Não está falando sério.

   — Garota, eu não estou com a menor paciência, amanhã tenho muito trabalho, então podemos ir de uma vez?

   — Podemos. – Se ele quer me seguir que me siga, depois não se arrependa.

   Deixamos seu apartamento. Caminho tranquila assistindo a noite. Não pedi para ser levada em casa. Então ele que se acostume com meu jeito de andar.

   — Por que está indo por aqui? Subir a rua é mais fácil.

   — Quero caminhar. – Aviso a ele.

   — Quer me irritar.

   Ignoro, sigo pelas ruas apreciando o movimento. Tornando o caminho mais longo a cada quarteirão. Sr. Vinho. A placa me chama atenção. Fico parada na porta.

   — É um restaurante, já jantamos.

   — Tem show de fado. – Olho para Afonso. – Obrigada pela companhia, mas um lugar com esse nome... não posso resistir. É sobre meu sangue. Vou entrar, tomar uma taça de vinho e assistir um show de fado.

   — Sozinha?

   — Sim. – Dou de ombros. Deve ter algo ou alguém legal lá dentro.

   Ele respira fundo, olha para o relógio de pulso, depois toca em minhas costas me indicando a porta.

   — Tomara que esteja lotado. – Ele diz quando atravessamos a porta. O tapete vermelho com o nome do bar é divertido. Dentro fica claro que é um restaurante, podemos comer uma sobremesa e ouvir fado. Por que não?

   Afonso pede mesa para dois. Posso ver a decepção quando somos levados a uma pequena mesa no canto do restaurante a meia luz. Meu sorriso escondido deixa claro que estou adorando a situação.

   — Aposto que aqui tem um bom vinho De Marttino. – Afonso faz careta.

   — Os melhores, senhorita. – O garçom responde animado. Faço o pedido. Afonso não parece se importar com o fato de não ser ele a escolher.

   — Minha prima criou esse vinho ainda adolescente. Foi seu primeiro vinho. Notas de jasmim, por que lembrava o irmão, meu primo Vincenzo. Dos nós vinhos De Martino, esse é o mais premiado. Tio Conan também tem muitos vinhos premiados, mas são tão caros, não se encontra fácil.

   — Vamos pagar tudo isso por um vinho? – Ele reclama olhando o menu. – Um vinho que você pode tomar em qualquer outro dia?

   — Vamos? Não. Eu vou. Não ligo, depois reclamo com tio Vittorio e ele que me reembolse.

   Ele acha graça. No fim se recosta na cadeira ao meu lado e se volta um pouco para olhar a fadista entrando. Ela usa um longo preto, tem o rosto maquiado e os cabelos escorrendo pelas costas, um xale vermelho nas costas e se senta num banco alto diante de um microfone.

   Cumprimenta os convidados, acena para um pianista e então começa a cantar. A voz é forte, melódica e ganha tons de dor ao longo da música.

   Não é meu tipo preferido. Sou naturalmente otimista e alegre, mas não quer dizer que não possa apreciar uma boa musica e o fado é mesmo encantador.

   O vinho chega, somos servidos e por um longo momento eu apenas aprecio a música encantada com a melodia e a letra. Meu olhar cruza o dele e algo se movimenta em mim. Desvio voltando a encarar a cantora, sinto seu pulsar de vida ao meu lado. Sinto sua respiração e o calor que vem do seu corpo ao lado do meu. Sinto coisas em mim, coisas que não acontecem comigo sem estímulos. Sinto a presença dele me dominar e me choca tamanha percepção, assusta e engulo em seco. Levo o vinho à boca e um novo fado começa.

   Paixão é o nome da música e a letra começa a dizer coisas sobre mim e sobre nós. Sobre como me sinto e fico surpresa e confusa. Apaixonada?

   “Um arrepio disfarçado
    Um olhar-te de lado
    E um medo do amor

   A palavra que se nega
   O recuo a entrega
   A balançar em mim

   Uma recta que se curva
   Um olhar que se turva
   E um medo do fim

   Como é que eu hei de apagar esta paixão
   Como é que eu hei de apagar esta paixão”

   De novo, meu olhar encontra o dele e dessa vez fica preso. Como se a música tocasse nele tanto quanto toca em mim. Como se Afonso estivesse no mesmo dilema.

   Algo estranho e grande parece nascer ali, regado a fado e vinho, como só em Lisboa pode acontecer. Algo que parece tomar força e me dominar e quero desesperadamente reagir e só consigo ficar a olhar para ele e sentir todas as coisas em mim criando nova identidade.

   Se a paixão nasce assim, pontual e cristalina em todas as pessoas eu não sei, mas nasceu assim em mim. Sem aviso ou preparação. Me tomando apesar dos meus protestos. Ganhando espaço e remexendo a alma. Inteira e complexa. Me confundindo e assustando. Me tornando frágil e só consigo assistir tudo acontecer.

   Afonso ainda me olha como se nada mais existisse e em mim só existe o desejo de sentir seus lábios e a Manoela que eu era antes de atravessar as portas do Sr. Vinho e ouvir fado e bebericar vinho com ele, simplesmente o beijaria. Essa Manoela que sou agora não sabe o que fazer e sou apenas espera.

   — Melhor irmos. – Ele diz me despertando. Não é nem de longe o que eu queria ouvir, mas ao menos me provoca uma reação e balanço a cabeça concordando. Deixamos o restaurante juntos. Eu pago a conta, ele aceita sem constrangimento e seguimos em silencio em direção ao hotel.

   A noite não tem mais a clareza de antes. As estrelas desaparecem e as pessoas e os lugares também. Só tem meus pensamentos a me assustar.

   Na porta nos olhamos. Ele sorri de modo tímido. Quero um beijo de boa noite como se fosse minha prima Giulia e seus sonhos românticos. Engulo em seco, ele sabe o que aconteceu. Não foi apenas comigo. Ele sabe como estou me debatendo agora. Sabe e se sente como eu, apenas não sabe reagir a isso e acena me dando as costas e partindo apressado enquanto fico a observa-lo confusa e quase brava.

   Covardia não combina comigo. Preferia mil vezes falar sobre isso, mas ele preferiu fugir e só posso dar meia volta e rumar para cama.

   Assim que entro no quarto vou olhar as mensagens. Meia dúzia delas do meu pai, mais meia dúzia do meu irmão. Leo e papai são mesmo unha e carne.

   Chamo meu pai, falo com ele e minha mãe, uns minutinhos com meu irmãozinho, a mente ainda avoada com os acontecimentos, depois telefono para meu irmão, Leo passa meia hora fazendo recomendações e mais meia falando da minha sobrinha fofa. Vittória é a paixão dos De Marttino.

   Finalmente fico livre e ligo para Giulia. Nessas horas ela é mais compreensiva que Beatrice. Minha prima Beatrice é prática, Giulia romântica.

   — Giu, eu estou apaixonada eu acho.

   — Como assim?

   — Estava sentada num restaurante tomando vinho e ouvindo fado e daí do nada, me apaixonei pelo Afonso.

   — Manoela, isso é a coisa mais estranha que já ouvi. Como assim? Se apaixonou do nada. Acho que só... constatou.

   — Podemos pular essa parte que duvida de mim e ir para a parte que me diz o que fazer?

   — Eu? Manu eu sou a Giulia. Sabe que me ligou e não para a Bea? Por que eu não tenho a menor ideia, eu nem consigo admitir meus próprios sentimentos.

   — No campo da fantasia, o que acha? Se fosse um desses filmes românticos que nos obriga a assistir. Como seria a próxima cena?

   — Não vai gostar de saber.

   — Não? Por que?

   — Por que primeiro tem que dar errado, depois que o amor acontece o casal fica com problemas por boa parte do filme e os últimos vinte minutos é que tudo fica bem e termina com final feliz.

   — Por isso que gosto de filme de ação. Estou decepcionada. Então não tem um bom conselho?

   — A Giulia só ficaria sentindo de longe e sei lá, sonhando enquanto vê e lê romances. Já a Manoela... bom, você não é esse tipo então eu diria para seguir seus instintos.

   — Papai detestaria esse seu conselho. – Mordo o lábio. Brinco com o tecido da colcha que fora a cama macia. Encaro meus pés e atiro os sapatos longe. – Só isso? Seguir meus instintos?

   — Ligar para alguém mais experiente, quem sabe? Um dos meninos.

   — Pode ser. Amanhã tenho trabalho cedo com ele e nem sei como olhar para ele.

   — Vai descobrir um jeito. Ele pode se sentir como você ou não. Se sentir, talvez demonstro, se não sentir... é você. Então acho que pode conquistá-lo.

   — Posso, eu acho que poderia se... por que não me desencoraja?

   — Normalmente você não funciona assim, se dizemos para não fazer aí é que você faz.

   — Teimosinha ela. – Digo rindo e ela ri comigo. Por que eles todos tem que ser feliz no amor? Assim ninguém vai me ajudar. Suspiro. Preciso dormir. – Giu, te amo, tenho que desligar. Falamos amanhã.

   — Vem para o aniversário da Donatella?

   — Vou. Talvez convide o Afonso, vamos ver como tudo caminha. Boa noite.

   — Boa noite. Me liga se precisar.

    Pela manhã minha cabeça se divide entre pensar nele e no trabalho. Por que não procuramos os policiais que estão no caso? Aposto que a policia internacional deve estar envolvida. Posso investigar sozinha se a policia judiciaria tem uma pista. Vou fazer isso.

   Afonso vai dizer não só para me contrariar. Então eu posso me colocar bem bonita e quem sabe encantar um detetive para saber algo. Por que não? Não vim aqui para ficar à sombra. Não mesmo.

   Temos um encontro com o tal bandido que duvido vá nos ajudar, depois vou tomar um caminho sozinha. Ele vai ter que aceitar ao menos um dos meus planos.

   Coloco um vestido preto elegante, saltos e óculos escuros, os cabelos presos de modo discreto e maquiagem. Encaro meu reflexo no espelho. Perfeita para o funeral de algum famoso.

   Levo uma bolsa pequena, celular, dinheiro e identidade apenas. Afonso me telefona avisando que está à caminho, faço o mesmo. Chiado é um bairro cheio de magia o homem marcou encontro na livraria Bertrand, um arrombador de cofres culto. Me sento num café por perto. Afonso passa por mim, olha duas vezes quando me vê na calçada, com uma xicara nas mãos e as pernas cruzadas de modo elegante em meu pretinho elegante e saltos finos. Vejo quando ele evita rir e pisco baixando os óculos. Ele disfarça entrando na livraria.

   Fico olhando o ir e vir das pessoas me perguntando quem tem ares de criminoso. Não encontro ninguém assim. Pago o café e entro na livraria. Caminho fingindo distração por entre as estantes de madeira antigas, folheando livros e penso em Austin.

   Meu primo levou anos para se abrir sobre sua paixão. Antes, apenas Hannah sabia, agora também sei, não tinha nada que me meter, mas me meti, com a ajuda de Hannah, procuramos uma editora e juntas, bancamos uma primeira edição. Ele não gostou nada da intromissão, mas agora que o livro está quase pronto eu vejo que está esperançoso. Ainda não arrumou coragem para contar. Não sei bem por que, mas sinto que ele vai ser sucesso.

   Afonso conversa com um senhor grisalho, não é mesmo nada parecido com o que pensei, imaginei um bonitão com ares de mistério. Essa vida real não ajuda. Num filme de ação ele seria lindo.

   Eu sigo caminhando em direção a eles, parro duas prateleiras antes e fico folheando um livro tentando ouvir a conversa. Os dois fingem discutir sobre um livro, eu folheio algo sobre Fernando Pessoa. Pelo menos boa poesia. Ando mesmo apaixonada. Como foi que vim parar justo nessa estante?

   Quase meia hora, fecho o livro, ando pela livraria e quando não tenho mais desculpa, caminho para o caixa, pago e em seguida, a mão de Afonso toca minha coluna e um arrepio percorre meu corpo. “Quanta sensibilidade, Manoela”.

   — Ele já foi, podemos ir.

   Deixamos a livraria. Ele me olha toda hora, deve achar que eu estou diferente, é bom ele saber que posso ter um ar bem feminino e distante do jeito garota de vinte anos de sempre.

   — O que conseguiu?

   — Nada. Não tenho cara de quem quer roubar o cofre da mamãe. – Me afasto para olhar para ele. Usa calça comum, nova e limpa, uma camisa polo e sapatos.

   — Claro. Vestido assim. Tinha que estar com um jeans velho e tênis. Um tipo inconsequente que gasta toda mesada e nunca está satisfeito.

   — Por que não me disse isso ontem?

   — Por que eu estava meio aérea não é toda hora que me apaix... que.... investigo um criminoso.

   — Bom, voltamos a estava zero. – Ele diz decepcionado.

   — Voltamos? Sempre estivemos nela. O que vem agora?

   — Vamos descobrir um perfil, como, quando, por que, essas coisas, vamos achar seu padrão e depois tentar pensar em qual será seu próximo passo.

   — Emocionante. – Digo desanimada.

   — Vamos lá para casa. Podemos começar com isso agora mesmo.

   — Eu só preciso de uma ou duas horas, se importa? Te encontro na sua casa.

   — Como quiser. – Ele fica um tanto decepcionado, mas não me importo muito. Eu ando em direção oposta a dele.

   A policia judiciaria tem um prédio central não muito distante. Hora de ser a elegante senhorita De Marttino e tentar descobrir algo.

   Tem homens e mulheres entrando e saindo, todo tipo de pessoas e fico um tempo fingindo distração. Dois homens param ao meu lado, apertam as mãos enquanto finjo mexer no celular distraída, um deles é bem alto, magro e usa terno, o outro parece mais jovial, vestido de modo informal e tem um ar despreocupado.

   O tom da conversa deixa claro que são investigadores, falam sobre um processo em especial e quando apertam as mãos se despedindo eu me apresso, finjo esbarrar no homem mais jovem, deixo o celular cair e ele o recolhe apressado se desculpando.

   — Obrigada. – Digo em italiano, não por acaso. Ele sorri quando toco seu braço. – Desculpe. Estou em férias e as vezes me esqueço.

   — Sem problemas, senhorita...

   — De Marttino. Manoela De Marttino.

   — Júlio Almeida. – Abro um bom sorriso em resposta. – Está de saída?

   — Sim. Ainda um tanto perdida, cidade nova, você sabe, nada como um amigo, mas vim sozinha.

   — Estou livre, que acha de um café?

   — Seria ótimo. – Não me lembro de tomar tanto café. Ele toca meu cotovelo me guiando até a rua, tem uma conversa leve sobre a cidade e seus pontos turísticos, uma leve culpa me domina por estar enganando o rapaz, dura dois minutos.

   Nos sentamos em um café pequeno, com mesinhas na calçada, o sol está forte e o dia lindo. Lisboa é uma cidade agradável e me porto como uma turista despreocupada.

   — É investigador? – Pergunto num sorriso interessado. Uma longa piscada e um cruzar de pernas que indica interesse.

   — Sim. – Ele responde pronto para me impressionar com suas histórias.

   — Deve ser um trabalho incrível. Acho que deve viver grandes aventuras.

   — Nem tanto, é só um bom trabalho, eu realmente pego uns casos interessantes às vezes.

   — Bem que queria ser mais que uma garota em férias eternas. – Suspiro de propósito. Meus dedos correm a xicara. Dou um olhar de lado. Ele gosta.

   — De Marttino do vinho? – Afirmo, o sorrido dele não esconde a surpresa interessada.

   — Mas me conte mais sobre você. Aposto que tem ótimas histórias.

   — Algumas boas. Não acho que vá gostar.

   — Já prendeu muitos bandidos? – Ele gosta do meu ar inocente.

   — Alguns. Leva tempo investigando.

   — Está fazendo isso agora? Fico tão curiosa. Imagino você como um James Bond, investigando, por aí quem sabe... deixe me pensar. Aposto que caça ladrões de grandes fortunas. Daqueles que buscam pistas e trabalham disfarçados. Oh! Está fazendo isso agora?

   — Você é ótima. – Sua mão cobre a minha e ele sorri. – Estou investigando algo grande mesmo, mas é sobre roubo a banco, crimes pouco comuns por essas bandas.

   — Me impressiona demais. Sabe o que mais fico impressionada? Com crimes desses de falsificar obras de arte, roubar museus, sabe? Como nos filmes?

   — Estava há pouco falando com um amigo sobre isso. Ele está numa investigação sobre um criminoso que rouba obras de arte e está aqui em Lisboa, ainda não sabem muito, mas já descobriram que ele tem amigos na alta sociedade, que circula entre os ricos, é um homem de quarenta anos e vive como um milionário.

   — Que interessante. Adoraria saber mais sobre isso. Dá para escrever um livro.

   — Sim, com certeza, parece inclusive que ele está negociando um objeto raro, mercado negro, mas não se tem muitas pistas. Só se sabe que é um dos oito ovos imperiais Fabergé. Parece que vale um milhão de dólares.

   — Sério? Que interessante. – Já sabemos muito mais do que antes de me sentar nesse café. – Mas não sei nada sobre isso. Ele roubou essa peça?

   — São peças desaparecidas tem muitas décadas. Talvez esteja passando de mão em mão.

   Ele encara o relógio. Sinto que quer ficar comigo, mas possivelmente tem um compromisso e acho que já deu boas pistas.

   — Tem que ir?

   — Infelizmente, mas quem sabe aceita jantar comigo?

   — Adoraria, talvez amanhã. Hoje eu vou visitar um velho amigo do papai, ele me pediu tanto. Não posso negar lhe isso.

   — Imagino que não. – Ele me sorri.

   — Se me der seu telefone, falamos amanhã. O que acha? – Ele é solicito, num minuto tem seu numero anotado em um guardanapo, passo para meu celular e ele sorri um tanto sem graça. Paga a conta e nos erguemos.

   — Foi bom conhece-lo Júlio, já não me sinto tão sozinha em Portugal.

   — Não está. – Ele beija meu rosto, para isso toca minha cintura e só consigo pensar em Afonso. Eu me tornei a Giulia. Que deprimente. Aceno sorrindo quando ele se afasta. Acho que Afonso vai adorar saber tudo que descobri, depois que tentar me matar.


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Notas finais do capítulo

Obrigadaaaaaaaaaa Beijosssssssssssssssss



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