Say you won't let go escrita por Fe Damin


Capítulo 3
Capítulo 02


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!
Já começo pedindo desculpas pelo atraso em postar o segundo capítulo, mas sabem como é isso de tarefas de mais e tempo de menos, né? hauhauh

Só um aviso antes da história! Para quem não sabe, eu tenho um grupo no facebook com mais duas autoras onde divulgamos nossas histórias, ideias futuras e trechos das fic em adamento, deem uma passadinha por lá!
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Bom, agora sim, espero que gostem :)



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As horas passaram mais rápido do que Draco gostaria. Quando se deu conta, já estava sendo chamado para seu segundo encontro com a loira que não deixou seus pensamentos desde o momento em que se reencontraram. Não era que ele estivesse interessado nela, tudo se resumia ao fato de que ele não queria que ela ficasse cutucando nas feridas que ele sabia ainda estarem abertas. Se dependesse dele, ninguém sequer perceberia que havia qualquer tipo de machucado que o incomodava. Talvez fosse algum desejo inconsciente de que ele próprio deixasse de sentir.

Lá estava ele novamente sentado na cadeira desconfortável e fazendo seu melhor papel de desinteressado enquanto a bruxa, acomodada à sua frente, tentava de todas as formas quebrar a barreira invisível que os separava e engajá-lo numa conversa.

—Estamos mais calados do que o normal hoje, nenhuma palavra mesmo? – ela levantou a sobrancelha, deixando transparecer um riso de deboche indicando que a situação mais a divertia do que a irritava.

Ele não gostava daquilo.

Sua tentativa era de fazê-la esquecer as perguntas, de jogar todo aquele interesse no lixo, porém ela não se irritava. Não esbravejava, não perdia a paciência. Em suma, não desistia. O loiro não sabia como lidar com aquilo, nunca esteve perto de alguém que não o julgasse um caso perdido na primeira meia hora de contato, sua mãe não contava nesse caso. Decidiu apenas continuar sua tática: braços cruzados, olhar distante e a cara de mais desinteressado e distante possível. Tivera tempo suficiente de treino para ser bem convincente no papel, mesmo que seus olhos a observassem com atenção e os ouvidos não deixassem passar nada do que ela dizia.

—Você realmente não vai facilitar para o meu lado, não é? – ela perguntou, mais uma vez sem obter resposta – só não se esqueça que isso significa não facilitar para o seu lado também.

Ele sabia muito bem dos riscos que corria, só não se importava o suficiente para fazer nada a respeito. Viu que ela escreveu alguma coisa em um dos papéis que estavam dentro da pasta que vira anteriormente, mas conseguiu conter a vontade de saber o que era. Não interessava o que ela achava importante anotar.

—Quem sabe na próxima vez eu te encontro mais simpático – ela suspirou antes de levantar – nosso tempo acabou, até a próxima, loirinho – o protesto contra o apelido idiota veio até a ponta da língua, porém ele conseguiu impedir a reação. No entanto a piscadinha, com a qual ela acompanhou a despedida, o deixou com a impressão de que ela sabia que quase o fizera esbravejar.

Mais um ponto para ela. Menos tranquilidade para ele.

As próximas sessões se repetiram da mesma forma. Ela chegava sempre cheia de vontade de conversar e boas intenções e ele se mantinha impassível sem deixar sair uma palavra sequer. Talvez ele já tivesse perdido as contas de quantas semanas passaram, satisfeito apenas de resistir a todas as tentativas dela. Ele contornava o tédio de permanecer mudo observando-a. Já tinha decorado todas as sardinhas quase invisíveis que rodeavam o nariz dela. As nuances de azul à violeta que os olhos dela adquiriam já eram familiares e também cada uma das expressões que enfeitavam o rosto bonito enquanto ela falava sozinha em sua frente.

Em algum lugar no fundo de sua mente, ele sabia que não devia prestar tanta atenção à garota que ele queria longe, porém não deixava de ser um pouco fascinante estar na presença de alguém tão diferente de si. Ela não tinha problema nenhum para se comunicar, sorria tão facilmente quanto ele transformava a cara em pedra e tinha uma determinação do tamanho do mundo, ou talvez um pouco maior. Mesmo não querendo responder nada do que ela insistia em querer saber, ele se pegou não se importando tanto em passar aquelas horas semanais na presença dela.

Não era nada demais, quase um mero estudo de caso de realidades que não combinavam com a dele, mas não o suficiente para que ele abrisse a boca.

—As coisas estão ficando atrasadas aqui, pequeno Malfoy. Entende o que eu quero dizer? – ela nem esperou pela resposta – claro que entende porque você não é burro, mas não vai me dizer, então vou colocar em palavras simples: você está perdendo nosso tempo. Nada muito inteligente, não acha?

Será que aquela era a hora em que ela falaria que chegara ao ponto de desistir? Entregar os pontos e mandá-lo pra onde quer que ele tivesse que ir? Draco se surpreendeu com o aperto no estômago que sentiu com o pensamento e mais ainda ao perceber que nada tinha a ver com ir preso e sim com a presença dela, ou melhor, a falta dela.

Mas ele estava enganado.

—Bom, já que você não vai colaborar por enquanto, vou usar esse tempo de forma mais produtiva. Você vai ter que ficar aí me vendo trabalhar em papelada de outros casos, e se morrer de tédio não me culpe, isso é com você – ela deu de ombros – até a próxima, virei preparada daqui a dois dias.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Astória estava ficando sem ideias de como agir com seu paciente mais frustrante. Já tentara de todas as formas fazê-lo dar alguma informação, por menor que fosse. Tentou ser delicada, irônica, petulante, incisiva. Nada funcionava, porém ela percebia lampejos de interesse no rosto dele enquanto ela fazia suas investidas, só não sabia ainda como fazer com que essa chama se acendesse de vez e a desse acesso à tudo que estava enterrado debaixo de muito gelo.

Nenhum de seus outros pacientes estava dando tanto trabalho, muito pelo contrário, a maioria não se mostrava nem um pouco reticente em discorrer sobre tudo o que fizeram e fariam de novo se pudessem. De alguma forma, ela sabia que aquele não era o caso de Draco, o que só a deixava com mais vontade de fazê-lo falar.

A loira chegou em casa naquele dia se sentindo exausta, mesmo sem saber exatamente o porquê. Jogou as chaves na mesinha ao lado da porta e se acomodou de qualquer jeito no sofá confortável que ocupava boa parte da sala do apartamento trouxa em que morava desde que decidira sair da casa dos pais. Não era nem de longe amplo e luxuoso como a mansão de sua infância, porém era todo seu. Fruto de seu trabalho apenas, e não uma herança dada ao acaso de um sobrenome.

Ela se sentia feliz ao ver cada cantinho do imóvel que decorara apenas com seu gosto muito mais colorido e informal do que o dos pais. Quadrinhos de fotos enfeitavam as paredes da sala, vasinhos de plantas podiam ser vistos no parapeito da janela da cozinha e potes cheios de doces – trouxas e mágicos – enfeitavam a mesa de jantar. Debateu se preferia continuar deitada ou levantar para pegar um caramelo e, por fim, decidiu que um feitiço simples resolveria o impasse.

Já tinha o sabor de seu doce favorito enrolado na língua quando decidiu que não faria, de forma alguma, o que o Draco queria. Claramente ele estava tentando vencê-la pelo cansaço, mas ela via que aquilo era apenas mais um de seus sofisticados mecanismos de defesa. Faria como disse, levaria seu trabalho para adiantar em suas sessões e tentaria ver como um pouco de desinteresse agiria naquela relação que não estava indo para frente.

Na sessão seguinte ela chegou com uma pilha generosa de fichas e relatórios que precisavam de sua atenção. Se restringiu a dar um simples oi ao bruxo sério que já se encontrava sentado, e começou a trabalhar. Volta e meia, ela deixava o olhar se desviar até ele, disfarçando tudo como interesse em seus papéis. Ela ficou satisfeita ao notar que ele parecia incomodado, ao menos era uma mudança. Não sabia dizer muito bem como ela enxergava diferenças naquele semblante que se mostrava sempre indiferente, mas era uma certeza que a fazia continuar em frente.

Ela saiu sem anunciar ou murmurar nem um tchau. Não teria resposta como sempre. Se ela tivesse virado o rosto nos segundos antes de fechar a porta e deixá-lo sozinho, teria visto a expressão confusa que ele exibia, mas não foi o que aconteceu.

Uma semana de praticamente silêncio entre eles.

Aquilo já a estava deixando louca. Astória era uma pessoa comunicativa por natureza, e ficar calada nunca fora uma de suas melhores habilidades. No entanto, ela continuava a se lembrar de que estava fazendo seu trabalho, aquilo era apenas uma parte de sua estratégia que aparentemente estava chegando a algum lugar, pois já conseguia ver um certo ar exasperado ao encarar o loiro. Estava na hora de mudar e ver no que daria.

Ela levantou os olhos do terceiro relatório que revisava naquele dia e perguntou de supetão:

—Já que você não quer falar nada, então que tal ouvir? – ela quase sorriu ao ver a surpresa estampada nos olhos prateados, claramente ele não esperava uma interação por parte dela depois dos dias de silêncio, isso a encorajou a continuar - Vou contar uma história para você: era uma vez uma jovem garotinha que vivia presa em um castelo...

Ela não conseguiria precisar o que a fizera começar aquela história que tocava em pontos desconfortáveis, mas já tinha começado, não pararia. No entanto ele o fez.

—Eu pareço o tipo de pessoa que gosta de faz de contas idiotas? – a pergunta foi feita para parecer um insulto, ainda mais com a expressão de desdém e os braços cruzados que a completavam, mas Astória viu que faltava algo da determinação que ele mostrou anteriormente, gostaria de saber o que o fizera falar, mas isso ficaria para depois.

Não era do feitio dela se intimidar com caras feias. Ela guardou a satisfação de ter conseguido uma reação, apenas deu um riso debochado e continuou no mesmo tom leve que começara, sua intenção era tratar tudo de forma descontraída.

—Ah, mas essa história não tem nada de faz de conta, você já vai entender – ela viu que ele ia abrir a boca novamente, porém não esperou que ele reclamasse outra vez - A garotinha passou os primeiros anos de sua vida apreciando o mundo de uma janela. Tudo o que ela queria era ir lá fora e brincar com as outras crianças que ela via de longe, porém seu pai proibia terminantemente dizendo que era muito perigoso para que sua menininha se arriscasse. Sua mãe tentava alegrar seus dias e, ao menos, ela tinha a irmã mais velha para passar o tempo, mas nada se comparava com a vontade que ainda martelava em sua mente.

Sem perceber, sua voz ficou meio distante. A mente percorrendo caminhos que ela achava ter deixado para trás. Logo se recompôs, porém não sem perceber o leve frisar de sobrancelhas que o Malfoy exibiu. Aquilo era novidade, ele fizera um bom trabalho em bancar a estátua nas últimas semanas e, não só ela tinha conseguido palavras, como uma alteração expressiva. Estava funcionando! E ela sabia exatamente onde chegar com aquele “exercício”.

—Um dia ela se encheu de coragem e bolou um plano: iria sair escondida por uma das passagens da casa que descobrira meses antes. Juntou tudo o que achava de mais importante em sua mochila e foi. Finalmente conseguiu chegar onde queria, o mundo do lado de fora era ainda mais impressionante do que ela conseguiu imaginar de longe. Ela andou, correu, observou tudo, conversou com diversas pessoas e… se perdeu. Não sabia como voltar para casa.

Astória se interrompeu para esconder o nó que se formara em sua garganta. Aquelas não eram palavras que a garota estivesse acostumada a compartilhar e, naquele momento, se arrependeu por ter começado. O pequeno progresso que conseguira não era significativo o suficiente para se submeter àquilo.

—Acho que esse é todo o tempo que temos por hoje – ela respirou fundo e cortou a narrativa, pronta para sair como sempre.

—O que? Não vai terminar? - a reação foi tão inesperada que a loira parou no meio do caminho, permanecendo sentada.

Era uma oportunidade que não podia perder. O olhar indignado que recebia era o melhor resultado em semanas. Conteve a vontade de fazer graça do momento e colocou todas as suas habilidades para mover a situação ao seu favor.

—Você nem me parecia muito interessado… - ela deu de ombros, fingindo não se importar.

Apenas naquele instante ele demonstrou notar que tinha saído de seu personagem estoico habitual. Voltou a se encostar no espaldar da cadeira e recompôs a expressão impassível.

—Isso não importa, é apenas o senso de conclusão que a história precisa… - ele murmurou de mau grado, porém a garota sabia que até para os ouvidos dele a desculpa soara forçada.

—Por que você não tenta imaginar o que aconteceu com a garotinha e me diz na sexta feira? - ela jogou as cartas na mesa, com ele tudo se tornava uma aposta.

—Eu não quero imaginar, quero saber o que houve! - a exigência tinha muito da demanda altiva de alguém que estivera acostumado a dar ordens a vida toda, porém Astória vinha do mesmo berço que ele, sabia lidar com aquilo, principalmente incentivada por aquele avanço todo.

—Alguém perguntou aqui o que você quer? - ela olhou para os lados, fazendo graça ao procurar mais alguém na sala vazia, conseguindo arrancar praticamente uma careta emburrada dele - É a opção que você tem… - com um sorriso, que poderia ser chamado de angelical por qualquer pessoa que olhasse de longe, ela se levantou e começou a se afastar -  até sexta, loirinho.

—Quer parar de me chamar assim! Você é tão loira quanto eu - ele esbravejou, fazendo com que ela mordesse o lábio para conter a risada antes de se virar na direção dele de novo. Aparentemente não era só um progresso irritá-lo, era divertido também.

—O que não muda nada - ela deu de ombros.

—Então você ia gostar se eu te chamasse de doutora loirinha? - ele franziu os olhos, desafiando-a a responder.

—Acho que seria um avanço, você não me chama de nada. Não fala nada, só fica aí calado achando que essa teimosia vai te levar a algum lugar - ele ainda se empertigou para retrucar, claramente contrariado, porém ela foi mais rápida e partiu, sabia que tinha chegado ao máximo de benefício que conseguiria naquele dia - Tchau - declarou antes de sair pela porta e deixá-lo sozinho.

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Aquela mulher era irritante!

Não só isso, era intrometida, presunçosa, curiosa demais... Draco não conseguia parar de achar novos nomes que descrevessem cada pedaço da loira que facilmente tirava-o do sério, e com uma besteira.

Ele quis se dar um tapa ao lembrar de como mordera a isca tão bem planejada por ela. Não tinha nada que responder, ou exigir saber o final daquela história estúpida. Porém ele pensou ter visto algo de diferente nos olhos dela... uma nuvem que apagou por alguns momentos o brilho permanente daquele olhar. Completando com sua voz que foi morrendo a cada palavra, ele não conseguiu se impedir de ficar curioso.

Por que uma história qualquer a deixaria daquela maneira?

—Chega de pensar no que não deve, seu idiota! – ele vociferou para si, quebrando os círculos que ele fazia no quarto e se forçando a deitar na pequena cama que se tornara sua única opção semi-confortável.

Draco sabia que já tinha passado tempo demais deixando os pensamentos rondarem a garota de língua afiada. Nada de bom sairia disso, ainda mais quando percebeu que seu interesse no assunto não diminuiu. Era apenas uma história boba que não queria dizer nada. A garotinha provavelmente pediu ajuda e alguém a ajudou a voltar para casa. Nada aconteceria à menininha.

O garoto virou para o lado, passando a encarar a parede e tomando como nova resolução que voltaria a não interagir com ela. Não importava que a curiosidade ainda estivesse mordendo seus sentidos. Ele já tinha percebido que ela era astuta demais para que se permitisse qualquer abertura, do contrário, quando se desse conta, estaria falando de coisas que não queria lembrar.

—Loirinha intrometida! – ele murmurou, antes de fechar os olhos e se convencer a esquecer toda aquela tarde.

Bem que o garoto gostaria de ter o poder de interromper a sequência de encontros que tinha marcado com o atual problema de sua vida, mas ninguém perguntaria a ele se estava satisfeito ou não com isso. Ele não estava em um parque de diversões, então se resignou mais uma vez quando foi escoltado à sala que ele já designava como câmara de tortura.

—Pronto para me contar sua versão do final da história? – sua avaliadora o encarava claramente empolgada com a perspectiva.

No entanto, o mau humor causado pelo final do encontro anterior que tiveram, ainda não havia deixado a mente do Malfoy, sendo assim ele fez questão de nem se mexer.

—Se você não me disser, não vai saber o que realmente aconteceu – ela deu de ombros, mostrando claramente que não se importava com o que ele decidisse fazer.

Aquilo o deixou mais irritado, não pelo descaso dela, mas sim porque ele reconheceu que ainda queria saber o fim daquele conto. Não entendia a razão de lhe interessar tanto, porém fora o suficiente para iniciar um debate interno em sua mente.

Abriria uma exceção para saciar a curiosidade, ou a engoliria e continuaria negando o que a garota pedia, se mantendo mais seguro?

De alguma forma, sua língua pareceu decidir antes de seu cérebro, pois quando percebeu já estava falando, afinal umas duas frases a mais não seria o fim do mundo, certo?

—Claro que a menina pediu ajuda e alguém a levou de volta pra casa – ele resmungou de má vontade, se recusando a, ainda por cima, soar interessado.

—Interessante – foi a única coisa que ela respondeu antes de se calar e o encarar pensativa, com a pose que ele já conhecia bem, o queixo apoiado nas mãos, enquanto os olhos pareciam atravessá-lo.

—O que tem de interessante? – ele rebateu, ligeiramente desesperado para que ela parasse de fita-lo com tanta atenção. Draco se sentia vulnerável toda vez que ela fazia aquilo.

—O fato de que inconscientemente você é um otimista – explicou a garota, sem desviar os olhos.

—Eu? – isso não era nada parecido com ele. O absurdo da resposta fez com que ele abaixasse a guarda momentaneamente, permitindo que a loira visse um pouco da emoção que ele deixava sempre escondida.

—Sim – agora ela sorria convencida de estar certa - você podia ter me dito que achava que a menina sofreu do jeito que o pai sempre disse, ou que ficou perdida pois ninguém quis ajudá-la, ou ainda que conseguiu voltar, mas ficou de castigo por semanas sem ter acesso nem à janela de sempre. Mas não foi nada disso, você escolheu um final feliz.

—Você está me analisando! - ele a acusou, fechando completamente a cara e nem se lembrando mais de que não deveria estar respondendo.

—Você acha que eu decidi te contar essa história só porque sou legal? – a pose observadora da garota foi abandonada e ela encostou em sua cadeira, deixando uma risada escapar dos lábios - Já disse que tenho um trabalho a fazer, loirinho. E não gosto muito de me lembrar desse dia...

—A história é sua? - ele foi pego de surpresa com a última informação e, ainda mais, pelo nó que sentiu no fundo do estômago ao imaginá-la como uma menininha que só desejava sair para brincar.

—Talvez - ela deu de ombros, porém ele percebeu pela solenidade do tom, que era o caso.

—Seu pai não te deixava sair de casa? Existe gente assim? – se Draco fosse dado a grandes gestos sentimentais, ele estaria de boca aberta. Nem seu pai, com todas as visões distorcidas que tinha do mundo, o prendera em casa. Muito pelo contrário, fazia questão que ele conhecesse tudo e a todos que o interessavam.

—Ele achava que os inimigos dele poderiam se aproveitar de nós sermos presas fáceis – ela começou a explicar, e o garoto viu que não existia um pingo de aceitação por parte dela - eu só podia sair junto com ele, só que ele quase nunca estava em casa, fiquei muito feliz quando recebi minha carta de Hogwarts, depois disso ele ficou mais permissivo.

—Mas o que aconteceu naquele dia então? Você claramente conseguiu voltar, mas… - Draco se repreenderia mais tarde, no entanto, naquele momento, só queria saber o que se passara com a pequena Astória tantos anos antes para deixar a mulher a sua frente tão na defensiva.

—Isso não interessa, é uma história muito antiga que já cumpriu o papel aqui. Descobrimos hoje que nem tudo é tão sombrio dentro de você como gosta de pensar – ela estava dando o assunto como encerrada, mas Draco não aceitaria aquilo. Não era mais apenas curiosidade, ele sentia que era parte do que o ajudaria a entender aquela bruxa que anteriormente parecera apenas uma pessoa alegre e radiante.

—Você não pode fazer isso! Não me dizer… - ele começou a protestar, porém fora interrompido.

—Não é o que você está fazendo comigo? Eu tenho perguntas importantes que precisam ser respondidas, Draco - ele se surpreendeu ao ouvir seu nome pela primeira vez, tomando o lugar dos apelidos que sempre o incomodavam - que tal uma troca? Você me diz o porquê de ter se juntado aos comensais da morte e eu te digo o final da história – A loira se calou, olhando-o com tom de desafio.

—Acho que nosso tempo já acabou - ele desconversou, aquela era uma linha que ele não queria cruzar. Não queria falar sobre nenhuma das merdas do seu passado.

—O tempo acaba quando eu disser que acabou, portanto fique tranquilo. Não estou aqui para te julgar, estou aqui apenas para entender – sua voz tomou o contorno gentil e suave que ele se lembrava de ter escutado muitos anos antes, o que tornava um pouco mais complicado continuar negando.

—E chegar a um veredito, isso não é julgamento?

—Talvez seja, mas não é um julgamento pessoal. Você pode me dizer, nada sai dessa sala - ele se pegou perdido na insistência daqueles olhos e desejando falar.

Talvez... só talvez não fosse ser assim tão ruim.

Se desse um pouquinho do que ela queria, poderia comprar paz e sossego por um bom tempo. Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes, antes que a voz dele quebrasse a quietude, soando baixa e rouca, como se não conseguisse realmente se obrigar a proferir palavras sobre aquele tema.

—Eu nem sabia que estava indo me tornar um comensal da morte – ele teve que fazer uma pausa ao se lembrar de como aquele dia lhe pareceu igual à qualquer outro quando começou - meu pai me arrastou pra mais uma daquelas reuniões ilícitas. Quando dei por mim, já estavam gritando comigo para que eu levantasse a manga - ele se sentiu mal com aquilo. Dito em voz alta, ele parecia ainda mais patético do que realmente fora.

—Você podia ter se recusado, ter ido embora….

—De uma sala cheia de bruxos das trevas? Muito mais fácil falar do que fazer! – Draco se defendeu com a voz ríspida.

—Se fosse hoje, faria diferente? – para a surpresa dele, a pergunta não tinha nada de condescendente ou de acusação.

Ele nunca tinha pensado naquilo, pois não era dado a perder tempo com coisas fúteis e que não podia mudar. Porém, a questão o fez ponderar seus conceitos e vontades atuais.

—Eu… não sei… eu tentaria… - sem saber como continuar, ele deixou a voz morrer.

—Tentaria o que? – claro que a intrometida insistiria.

—Nada, deixa pra lá, não daria certo mesmo – ele chacoalhou a cabeça, dispensando a ideia imbecil que tivera.

—Não estou avaliando a funcionalidade das suas ideias, só o que elas representam. Já vi que você se arrepende da marca que ainda tem no braço. O que você faria diferente?

Como ela conseguia concluir tanto com tão pouco?

—Eu pelo menos tentaria fugir, uma tentativa ao menos, ok? – sua voz saiu seca e cortante, a rispidez sendo uma de suas aliadas constantes quando se sentia desconfortável com algo.

—Isso te envergonha.

—Não, eu… - ele tentou se defender, não queria passar a ideia de que sentia vergonha de qualquer coisa que fosse, isso o lembrava de seu pai dizendo que ele era fraco, covarde.

—Não foi uma pergunta, Draco.

—Para de assumir que sabe o que se passa na minha cabeça! – Quem ela achava que era para chegar ali jogando aquele monte de definições sobre ele na sua própria cara? Ela era apenas uma garota riquinha como ele, mas que não vivera no inferno que foram seus últimos anos. Como ela podia achar que entendia o que ele sentia?

—Fui treinada para isso, eu sei. Identifico os sinais – ela rebateu, mantendo a voz calma e gentil - E não existe problema nenhum com esse sentimento, é um passo na direção certa, não precisa se sentir culpado. Você não está convencido de que tudo o que fez foi certo e…

—Chega! Você não sabe de nada! - ele se levantou com uma vontade imensa de sumir dali, sair de vez de perto dela e de todas as ideias absurdas que ela tinha - a sessão acabou.

—Se é assim que você quer – ficou claro que ela não concordava com aquilo, mas, pela primeira vez, a garota acatou a um pedido dele.

Ele ainda tinha o coração descompassado pelas emoções que tentava reprimir quando ela lhe abriu um sorriso sutil e saiu sem dizer mais nada.

Draco fora deixado sozinho na sala abafada, a visão daquele rosto com o sorriso tão parecido com o que vira anos atrás não fizera nada para diminuir o redemoinho interno que provavelmente lhe tiraria o sono naquela noite.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?
Parece que o Draco não é tão impassível como ele achava! Será que alguém sentiu um certo interesse surgindo por ali? A Astória também parece mais empenhada do que o normal com esse paciente complicado... O que será que vem depois?
Não esqueçam de me dizer o que acharam nos comentários, sempre me deixa muito feliz :)
Bjus e até o proximo capítulo



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