Era uma verdade universalmente conhecida que eu era diferente de todo mundo.

Quando eu era criança, eu fui a única garota que não ficou muito impressionada com a visita do príncipe a Austen. Quando eu era adolescente, eu era a única que não estava muito preocupada em beijar os meninos do vilarejo. Eu estava mais interessada no livro que estava lendo. Rose, por sua vez, liderou o movimento das beijoqueiras.

Meu pai achava engraçado. Ele dizia que eu havia nascido para conquistar o mundo, um pouquinho de cada vez. Minha mãe, em oposição, entrava em pânico só de pensar em nunca me ver casada com um homem de posse de uma grande fortuna.

Alguns homens do vilarejo haviam tentado me seduzir com suas doces palavras e flores recém colhidas, mas eles eram tão profundos quanto as poças d’água nas quais eu me divertia pulando quando era menor. Era costumeiro eu os observar saindo de minha casa, decepcionados, enquanto escutava os suspiros sem esperança de minha mãe.

A nossa história, portanto, começa em um dia comum de primavera. Eu tomava café com meu pai, meu irmão e minhas irmãs. A estação havia trazido frutos suculentos para a nossa mesa e o sol entrava pelas janelas, depois de muito tempo sem dar as caras por Austen.

Remus e Rose se olhavam, rindo. Eles estavam brincando de chutes embaixo da mesa. Era engraçado pensar no quanto os dois eram próximos, sendo Remus o mais velho e Rose a mais nova, mas ambos eram seres tão parecidos que a idade mal importava.

Às vezes eu sentia um pouco de ciúmes dos dois. Especialmente depois que eu e Petúnia nos distanciamos. Nós éramos melhores amigas, quando éramos crianças, mas a chegada da adolescência nos separou bruscamente com a diferença entre as duas. A única aspiração de Petúnia era se casar. Ela passava todos os seus dias esperando que um homem aparecesse e a tirasse de uma vida tediosa e a levasse para outra.

Eu devo estar parecendo um pouco amarga, agora que paro e penso no meu relato. Eu não tenho grandes oposições ao casamento e a mulheres que gostariam de fazê-lo. Eu mesma ainda não me decidi quanto ao meu futuro. O grande problema era a forma na qual isso se dava. Eu não achava justo que tivéssemos de nos casar com homens enfadonhos apenas para não permanecermos solteiras por tempo demais. Petúnia tinha 22 anos, eu tinha 20 e Rose tinha acabado de completar 16. Não era como se estivéssemos morrendo. Nem mesmo Remus, que tinha 24 anos, parecia apressado em se casar.

Minha mãe, entretanto, discordava. Na manhã de nossa história, ela entrou na cozinha correndo e assustou a todos. Remus derrubou sua caneca de leite em suas roupas, com o susto.

— Vocês não vão acreditar! - ela exclamou

— O padeiro finalmente voltou a fazer os scones de morango? - Rose perguntou

— A vaca velha do ferreiro morreu? - chutou Remus

— Você achou a toalha de mesa perfeita? - perguntei

Minha mãe bufou, exasperada.

— Não, não. Nada disso. - ela disse, voltando a sorrir.

— Então o que foi? - perguntou meu pai

Minha mãe se jogou na cadeira ao meu lado, dramaticamente.

— Dois forasteiros chegaram a Austen essa manhã. James Potter e seu amigo, Sirius Black. - ela disse - O Sr. Potter comprou a Mansão Darcy.

Petúnia cuspiu todo o seu chá.

A Mansão Darcy era a maior mansão das redondezas. Com dezenas de quartos e salas, estava vazia há anos pois ninguém em Austen tinha dinheiro o suficiente para nem pensar em comprá-la.

— Quantos anos eles têm? - perguntou Petúnia

Minha mãe sorriu.

— Os dois têm 24. - ela respondeu

Petúnia se levantou ofegante e saiu correndo para o quarto.

Remus e eu nos entreolhamos, rindo furtivamente. Aquilo era típico de Petúnia. Ela iria se jogar nos braços dos pobres Sr. Potter e Sr. Black na primeira oportunidade.

— Ótimas notícias, não acha, Lily? - perguntou minha mãe

Sorri.

— Incríveis. - eu disse - Petúnia vai finalmente se mudar para longe de nós.

Minha mãe se levantou, irritada, e foi atrás de Petúnia. Meu pai deu uma risadinha.

— Sua mãe provavelmente vai desejar que preparemos algum tipo de comemoração para a chegada dos dois. - disse ele - Se comporte, Lily.

Levantei as mãos, exasperada, mas ele se levantou e saiu da cozinha.

— Não vai assustar os visitantes logo de primeira, Lily. - disse Remus - Não custa nada conhecer os dois.

— Eu nunca assusto ninguém! - protestei

— O que aconteceu com os últimos quatro pretendentes que vieram aqui, então? - riu Rose

— Eu os perguntei suas intenções para o futuro e seus sentimentos em relação a uma mulher de fortes opiniões e desejos. - dei de ombros.

— Eu me pergunto o que teria os assustado. - disse Remus, sarcasticamente.

Joguei um pedaço de pão nele.

— Eu me pergunto se eles são bonitos. - murmurou Rose

— Provavelmente não. - eu disse - Eles são incrivelmente ricos e solteiros.

Rose riu.

— Os dê uma chance, Lily. - ela disse - Promete?

Suspirei.

— Eu vou tentar.