Ao chegarmos na mansão, Peter está sentado ao sofá assistindo algo. Retiro meu paletó dos ombros de Sophie e o jogo por cima de meu antebraço. 

—Peter! - Exclamo.

—Eu! - Ele se vira assustado me encarando.

—A casa está em ordem?

—Está.

—Banheiros lavados?

—É...

—Louça lavada?

—Bem...

—Passou as roupas de Sophie para amanhã?

—Essa parte é só com você!

—Você fez algo hoje?

—De manhã acordei o mestre Greenfield.

—Não. Eu acordei e você me acompanhou.

—Mas fiz algo!

Me viro para Sophie.

—Pode ir para seu quarto, senhorita. Apareço em um momento com suas roupas passadas.

—Tudo bem. Mas ainda não vou dormir.

Sophie boceja e começa a subir as escadas. Volto a encarar Peter.

—Peter, onde foi sua formação como mordomo?

—Online.

E esse foi o exato momento em que cheguei mais perto de espancar Peter.

—Por que? - Questiona Peter.

—Nada. Apenas te falta experiencia não como profissional, mas como pessoa.

—Como assim?

—Nada, já disse. Preciso arrumar as roupas de Sophie. Você está liberado, pode ir dormir.

—Tudo bem.

Peter desliga a tv e se direciona para seu quarto. 

Enquanto subo as escadas em direção ao quarto de Sophie, recordo-me do meu tempo na academia de mordomos da escócia.

Em uma bandeja de prata cabem oito taças. tínhamos que carregar nove taças e não deixar nenhuma cair. Conforme íamos melhorando, colocavam um livro em nossas cabeças, e nem o livro nem uma taça poderia cair. 

Por a mesa era a parte em que eu menos me dava bem. Eles tinham uma régua. Cada item devia estar na distancia exata um do outro. Um centímetro de diferença e devíamos refazer a apresentação.

Arrumar camas, passar roupas, cozinhar, lavar o chão. Tudo isso era ensinado e exigido. Além de sempre manter a postura, a educação e o profissionalismo.

Chego no quarto de Sophie, bato na porta e entro. Sophie já está deitada em baixo das cobertas.

—Quais roupas vai usar amanha, senhorita?

—Só meu uniforme da escola. Pega qualquer coisa ai no armário pra eu usar depois.

—Entendido.

Pego as roupas no closet e, antes de sair do quarto, me viro e pergunto:

—Algo a incomoda, senhorita?

—Nada. Pode ir embora.

Sentindo um aperto no peito e um frio no estomago, digo:

—Como desejar.