A Singularidade De Um Toque escrita por vivian darkbloom, lizzy earnshaw


Capítulo 1
A singularidade do seu toque em meio ao vendaval.


Notas iniciais do capítulo

O TOC é uma doença séria, que afeta várias pessoas de todo o mundo. Se você está passando por isso, por favor, procure tratamento.



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Sete. Sete vezes.

Esse havia sido o número exato cujo qual Narcissa Black havia lavado suas mãos naquela manhã, quando deixou o dormitório.

A lembrança da água gelada percorrendo suas mãos era reconfortante, ajudava a lhe distrair da mesa a sua frente, com todas as comidas, que haviam sido tocadas por mãos desconhecidas, por talhares que não lhe traziam a confiança de estarem limpos o suficiente e, o pior, todos os alunos ao seu redor que facilmente colocariam abaixo toda sua rotina de limpeza.

Fechou os olhos, apertando as mãos sobre o colo. Queria voltar e limpa-las mais sete vezes, mais sete, mais sete, mais sete e mais sete.

Porém, se conteve. Torcendo os dedos de ansiedade, ela respirou fundo uma, duas, três vezes. Cada número repassava em sua mente.

— Não vai comer, Cissa? — a voz conhecida de Arabella Nott, sua amiga mais próxima, lhe chegou como um som distante. Respondeu apenas com um aceno negativo da cabeça.

Naquela manhã, embora soubesse que precisava, seu estômago parecia rejeitar qualquer ideia de refeição.

— Acho que vou.... — pensou, procurando uma desculpa, não poderia simplesmente sair correndo. — Tomar um ar, não estou me sentindo muito bem.

— Quer companhia? — a jovem ofereceu, já soltando os talhares e aproximando a mão lentamente para toca-la, automaticamente Narcissa recuou.

— Não, obrigada, pode terminar seu café da manhã — rapidamente negou, já se levantando. Sentia diversos olhares sobre si, atraídos pela sua beleza, como geralmente faziam.

Porém, não focou em nenhum, nem mesmo nos olhos cinzentos que lhe observavam preocupados do outro lado da mesa. Só queria sair dali, ficar longe de todos e de seus toques.

Em passos controlados, ela começou a se afastar. Sim, controlados, porque jamais poderia correr ou demorar demais. Cada movimento que fazia era milimetricamente planejado para, aos olhos de qualquer um, não ser nada além de perfeito.

Assim que chegou ao corredor, permitiu-se respirar mais fundo, de maneira mais calma. Queria se apoiar na parede, mas isso lhe deixaria ainda mais nervosa pelo contato com a superfície. Passando os braços ao redor de si mesma, ela continuou, procurando por uma porta que levasse até os jardins.

Às vezes, Narcissa queria simplesmente deitar e chorar. Principalmente em manhãs onde, por diversos fatores, acordava mais ansiosa e nervosa, fazendo com que seu usual controle fosse colocado a prova. Era tudo tão horrível, difícil, doloroso. Mil adjetivos seriam incapazes de expressar seu desespero quando, todas as manhãs, precisava tocar a superfície do espelho 5 vezes.

— Droga — murmurou baixinho, quando finalmente o ar gelado tomou conta de seu rosto. Nevava nos jardins, uma camada branca já cobria todo o gramado. Suspirando, ela se limitou a sentar com cuidado em um banco ainda na parte coberta do castelo.

Fechando os olhos, tentou fazer o que sua irmã Andrômeda havia lhe ensinado: conte até dez, lentamente, e respire fundo. Repita até seu coração voltar a bater normalmente.

E assim o fez, embora soubesse que não deveria pensar em Andie naquele momento. E nem nunca. Se Druella soubesse....

Um arrepio passou pelo seu corpo, havia tantas coisas que sua mãe repugnava e a imperfeição era, somente, a mais acentuada. Principalmente em sua filha caçula.

{...}

— Não, Narcissa! — ela gritou, puxando a menina loira para trás. Seu aperto era tão forte que, provavelmente, deixaria marcas roxas ali. Mais uma para a coleção das inúmeras. — Você está fazendo errado, recomece.

E ignorando a dor em seu braço, ela obedecia. As teclas do piano eram tocadas de maneira calma, singular e muito bem-feita. Qualquer um se surpreenderia de tal destreza em uma criança tão jovem.

Porém, para Druella nunca era o bastante. A matriarca das Black jamais desejou algo bom, ela queria algo perfeito. E Cissa, sua pequena flor, a mais bela de suas filhas, não poderia ser nada, se não imaculada de erros.

{...}

Se lembrava, como algo doce que sempre deveria conservar, de quando Andrômeda cuidava de si após esses episódios controladores da mãe, aliviando suas dores e marcas. Várias vezes ela e Bellatrix foram seu escudo contra as pressões que sua família exercia.

A brisa gelada que passou pelo seu rosto desprotegido foi como um lembrete de que, agora, estava sozinha. Uma delas havia se perdido para o garoto nascido-trouxa de cabelos coloridos e a outra, ainda que estivesse próxima de si, era tão intocável quanto.

Elas haviam lhe deixado para dançar sozinha aos passos que seus pais programavam e assim jazia Narcissa – uma bailaria de um ensaio bem composto.

— Pare — sussurrou para si mesma, tentando impedir-se de pensar nas irmãs. Não poderia salva-las, por mais que desejasse.

Ansiosa, começou a bater a ponta dos dedos contra o joelho. Uma, duas, três vezes. Precisava continuar até chegar em, no mínimo, vinte sequências de três batidas.

Precisava ou, caso contrário, sua mente jamais lhe deixaria em paz. Não que, realmente, o sossego atingisse seus pensamentos – a tormenta era constante, porém caso deixasse levar pelos seus desejos, tornava-se mais suportável.

{...}

Narcissa encarava a pequena jóia que repousava em seu dedo, era um grande anel de ouro branco enfeitado com pequenas esmeraldas e diamantes. Perfeito, exatamente do tipo que ela desejava.

Sorriu, tocando-o de leve. A imagem da última noite, quando Lucius finalmente fez o pedido, jamais a deixaria. E em breve, assim que ambos se formassem, finalmente estariam casados e juntos, como deveria ser.

— Narcissa Malfoy — disse, testando o som. Ergueu o olhar para o espelho na sua frente. Usava apenas um robe claro, que deixava amostra sua pele pálida, com alguns hematomas.

Ainda assim, isso não lhe deixava feia. Talvez nada no mundo pudesse fazer isso. Porém, de qualquer forma, a jovem ergueu a varinha, sussurrando baixo o feitiço que sempre cobria essas manchas.

Agora sim, pensou, aprovando o efeito. Finalmente, perfeita novamente.

— Narcissa Malfoy — tornou a repetir. E de novo, de novo, de novo.

Gostava de como soava e, principalmente, amava que era tão perfeito, combinando com o reflexo a sua frente. Talvez agora sua mãe também concordasse que não havia nada a melhorar em si. Druella sempre dizia que precisava ser perfeita, caso contrário ninguém jamais iria lhe querer ou, pior, amar.

E agora ela era, certo?

{...}

— Narcissa? — a voz conhecida de Lucius lhe chegou aos ouvidos, fazendo com que a mesma precisasse controlar um suspiro. Odiava que ele lhe visse assim.

— Sim? — Respondeu, evitando erguer o rosto. Seus dedos ainda batiam no joelho, uma, duas, três vezes. E isso começava a doer, pelo frio que os deixava cada vez mais gelados. Para sua própria infelicidade, suas luvas haviam ficado no malão em seu dormitório.

Luvas essas que jamais tiraria, se pudesse.

Ele sentou-se ao seu lado e, ainda que a mesma mantivesse a cabeça baixa, podia sentir que lhe olhava de maneira intensa, tentando achar a razão de tal tormento que transparecia em seus atos nervosos.

— O que está acontecendo? — perguntou, aproximando suas mãos das delas com cautela. Parou próximo a sua perna, a poucos centímetros de distância, temendo que a mesma recuasse.

— Nada — respondeu, negando-se a despejar diante de si toda sua ansiedade, todos os pensamentos, todos os seus medos. Faça isso parar, queria pedir, mas era impossível.

Nunca parava. E seus dedos continuavam a bater.

— Lucius, não! — exclamou, quando ele, em um ato rápido, se adiantou e agarrou suas mãos, forçando a parar. Estavam geladas e as pontas dos dedos azuladas de tanto ficarem expostas ao frio. E ainda que a mesma reclamasse, não a soltou.

Pois sabia que se o fizesse, voltaria a bater no joelho.

— Cissa — chamou, fazendo-a erguer os olhos azuis assustados para si e, em seu reflexo, pode ver todos os sentimentos que lhe corroíam. — Por favor, pare.

— Eu... — se calou imediatamente. Era difícil expressar que isso fugia de seu controle cada dia mais.

— Eu sei que não controla isso — completou, como se lesse seus pensamentos e, por vezes, a mesma acreditava que realmente ele era capaz disso. — Sei que tenta e te desespera ainda mais não conseguir, mas por favor, por favor, não fuja de mim.

Pediu, indicando as mãos dela que se contorciam, tentando inutilmente se soltar das dele. Narcissa suspirou novamente, parando, embora isso lhe causasse uma sensação estranha de desconforto. Para sua surpresa, Lucius sorriu e abaixou o rosto, depositando um cálido beijo em seus dedos.

— Obrigada — disse, baixo, ignorando a cara espantada da namorada.

Ela se limitou a assentir, desejando no fundo que pudesse ser alguém mais normal. Não por si, mas para ele.

{...}

Narcissa lembrava-se exatamente da primeira vez que notou que suas manias, aos poucos, começavam a se tornar obsessões.

Já havia ocorrendo a tempos, primeiro com sua mania quase incontrolável de limpeza, que a forçava a ficar horas esfregando o corpo debaixo da água quente, até deixa-lo todo vermelho. Depois, o pânico quando alguém lhe tocava. Os números que começaram a fazer parte de sua vida constantemente.

Porém, nada foi mais aterrorizante do que nas férias de seu quarto ano.

Estava na sala, organizando algumas coisas para sua mãe e, levada por sua mente, também ajeitava os enfeites do ambiente. Cada um dos quatro vasos de flores tinham um local certo para serem colocados, com flores especificas retiradas por ela mesma do jardim, em uma posição que a deixasse mais calma.

Terminava de colocar o último sobre a escrivaninha quando um barulho na lareira atrás de si lhe despertou de seus pensamentos.

— Ah, oi Cissa — Sirius a cumprimentou, enquanto retirava o longo casaco que usava. Ela piscou os olhos em sua direção. Ainda que o achasse uma criança irritante e desajustada, não via motivos para destrata-lo como Bellatrix fazia.

— Primo — respondeu secamente, torcendo o nariz pelo pouco de cinzas que se acumulavam no chão de madeira, trazidos para dentro quando o mesmo chegou apressado.

— Sabe me dizer se Andie está aqui? — perguntou, já andando pela sala e espalhando mais pó, para a infelicidade da jovem.

Ultimamente, ambos viviam de segredos. Porém, antes que pudesse lhe indicar as escadas, Sirius esbarrou em um dos vasos perto da lareira, fazendo com que o mesmo caísse no chão.

— Não! — ela gritou, tentando se adiantar para pega-lo e falhando. O mesmo se partiu em inúmeros pedaços que voaram por toda sala, fazendo com que as flores dentro dele se despedaçassem também.

As pétalas de narcisos enfeitam o chão, quando Narcissa parou estática olhando para a cena. Algo dentro de si se agitou nervosamente, vendo a sala ao redor parecer fora de forma com o elemento faltando.

— Ei, não foi nada demais — Sirius disse, um pouco surpreso com a reação da prima. Porém ela não o ouviu, ainda em um misto de irritação e nervosismo que começava a ameaçar lhe sufocar.

Isso quebrava a ordem das coisas que havia arrumado. Isso era errado. E a forçou a respirar fundo uma, duas, três, quatro, cinco, seis vezes. Sem resultados. Sete, oito, nove, dez.

Narcissa pensou que iria enlouquecer.

E só melhorou quando seu pai entrou na sala e, vendo a jovem olhando para o vaso como se fosse uma cena de crime, fez um aceno rápido da varinha e o consertou, colocando-o sobre a lareira novamente.

E só então, Cissa se permitiu soltar um suspiro que nem tinha noção que segurava. Suas mãos fechadas em punhos soltaram-se e ela rapidamente se adiantou para arruma-lo um pouco para a direita, onde estava anteriormente.

Naquele dia, embora sua mãe teimasse que ela era apenas perfeccionista e Sirius um desastre, a jovem soube – havia algo muito mais grave se quebrando dentro de si.

{...}

— Aqui, tome — Lucius puxou de seus bolsos um par de luvas e entregou a ela, que rapidamente as vestiu, agradecendo o calor do couro em contato com suas mãos.

— Obrigada — disse, sentindo um sorriso fraco escapar pelos seus lábios.

O jovem suspirou, passando o braço ao redor dela, a puxando para perto e beijando o topo de sua cabeça. Às vezes queria ser capaz de protege-la de todo esse sofrimento, porém, infelizmente, ninguém conseguia salvar Narcissa dela mesma.

— Por quê você faz todas essas coisas? — perguntou, de maneira baixa, próximo ao seu ouvido. Notou que ela se mexeu desconfortável, antes de responder.

— Não sei — confessou, se aproximando um pouco mais dele. — É como se algo de ruim fosse acontecer caso não fizesse, seja comigo ou com alguém que eu amo. Por isso as coisas sempre precisam ser perfeitas.

— Inclusive você — completou, já acostumado com a obsessão pela aparência que ela tinha.

— Inclusive eu — concordou, lembrando-se da frase da mãe: precisava ser perfeita, caso contrario ninguém jamais iria lhe querer ou, pior, amar.

— Você já é — ele respondeu, sorrindo. E era justamente por isso que a amava tanto. — Sua beleza é única no mundo, sua inteligência é capaz de assombrar bruxos muito mais experientes, Cissa.

“Você tem o rosto mais lindo que qualquer artista teria a honra de pintar, o corpo mais majestoso que eu já tive a sorte de ver. Ninguém é igual você, porque até seus defeitos se tornam bonitos e tudo ao seu redor se torna perfeito.

Narcissa não conseguiu evitar corar, pois Lucius tinha o dom de ser o único que poderia faze-la sentir assim: uma jovem comum, que se encantava com palavras e desejava que elas fossem reais. Respirou fundo. Agora, uma só vez.

— Obrigada — sussurrou, erguendo o rosto de leve, para olha-lo. Seus olhos cinzas e o cabelo tão claro quanto o seu tornavam Lucius o sinônimo exato de perfeição, aos seus olhos. E céus, ela o amava exatamente por isso, já que nem quando tentava, era capaz de achar algum defeito.

E somente ele, era a calmaria de seus vendavais.

{...}

Narcissa queria ir para aula. Precisava ir. Já estava atrasada o suficiente e sabia que perderia alguns pontos para sua casa, já que Minerva raramente tolerava esses comportamentos.

Ainda sabendo disso tudo, não conseguia mover-se da poltrona, enterrada em lágrimas e desespero, agarrando-se a si mesma e agradecendo aos céus que a sala comunal estava vazia.

Assim, ninguém veria que a garota de ouro era capaz de desmoronar, por baixo da face arrogante e orgulhosa que ostentava. Respirava fundo, uma, duas, três vezes. Batia a ponta dos dedos contra seus joelhos com força e se controlava para não começar a puxar, em desespero, os fios de cabelo loiro.

Tudo doía.

— Black? — Ela ouviu uma voz masculina atrás de si, vinda dos dormitórios e, em um pulo, começou a limpar as lágrimas desesperada. — O que está acontecendo?

— Nada — negou, rapidamente, vendo Lucius descer as escadas ao seu encontro. Pelo visto, não era a única atrasada.

— Por quê está chorando? — Perguntou, dessa vez de frente para a garota, olhando-lhe assustado. Ninguém nunca a via visto nessa situação. — Narcissa, alguém te machucou?

— Não, Malfoy — respondeu, irritada. Não queria contar a ele, só queria ficar em paz. — Vá para a sua aula.

— Não — o mesmo teimou, sentando-se na frente dela e forçando a mesma a lhe encarar, por baixo dos olhos marejados. — Vamos, quem te deixou assim?

— Ninguém! — Protestou, ainda mais nervosa. Seus dedos continuavam a bater, uma, duas, três vezes. — Por que não me deixa em paz?

— Porque se alguém te machucou eu quero saber — disse, também se irritando com a maneira dela agir.

— E desde quando isso é da sua conta? — rebateu. Uma, duas, três vezes.

— Desde que eu sou o monitor e você é... — ele parou a frase no meio, aparentando confusão em como continuar. Narcissa ergueu uma sobrancelha, igualmente confusa.

— Sou...?

— Bem, é uma aluna da minha casa — respondeu, desconversando, porém agora seu tom soava mais calmo e ameno. — Anda, por favor, me fala?

Narcissa não se lembrava de um dia tê-lo visto pedir por algo. Se havia sido sua gentileza ou o brilho convidativo que seus olhos cinzas tinham que a fizeram falar, não sabia. Mas sempre seria grata por aquele dia.

— É algo meu... — parou a frase, sentindo-se envergonhada e estúpida, porém Lucius a incentivou a continuar. — Bem, eu deveria ter penteado meu cabelo seis vezes. Porém minha escova se partiu e eu não consegui arrumar.

— Seu cabelo parece bem penteado — disse, observando-a com cuidado. Não entendia porque aquilo era motivo de tantas lágrimas.

— Mas foram só duas e... — suspirou, batendo os dedos mais rápido agora. Uma, duas, três. — Precisavam ter sido seis, Lucius, precisavam.

Ele franziu a testa, observando com cuidado os movimentos repetitivos de suas mãos, o nervosismo e medo em seu olhar. O Malfoy não entendia nada daquilo, mas deveria ser grave. Então, foi dessa forma que acabou faltando aos três tempos de aula e ficou com ela, tentando lhe acalmar pela manhã.

À noite, no jantar, Narcissa recebeu um presente de uma coruja misteriosa. Ao abrir o embrulho viu uma bela escova de prata, com um pequeno bilhete.

Para as seis vezes,

Lucius.

{...}

— Um dia, quando nos casarmos e você sair de casa — ele começou, sabendo que não tardaria a acontecer. — Nós vamos deixar tudo isso para trás, todos os problemas com sua mãe, todas as brigas... e eu prometo que vou te ajudar a melhorar esses pensamentos que te afligem.

Narcissa concordou com a cabeça, sentindo-se acolhida e protegida como nunca acontecia em sua casa, repleta por gritos e violência. Sabia que, em breve, estaria segura de tudo isso.

A ideia de um tratamento que pudesse trazer calmaria aos seus pensamentos era um belo sonho. Que a cada dia se tornava menos distante.

— Vamos para dentro — disse, puxando ela para que se levantasse — está frio aqui fora.

A leve camada branca que cobria o gramado havia se tornado bastante espessa, e Narcissa reconheceu seu primo jogando bolas de neve em seus amigos, que riam uns com os outros.

Se havia algo em Sirius que invejava era, sem dúvidas, sua leveza com o mundo. Às vezes, sua mente era pesada demais. Principalmente quando se tratava de seus receios. Sentindo um arrepio em seu corpo, ela apertou a mão do Malfoy de leve, onde, um pouco acima, havia uma marca escura que ele levaria por toda vida.

O medo que sentia de que algo ruim fosse acontecer por causa daquilo conseguia lhe apavorar ao ponto de lhe roubar o sono várias vezes. De todas as obsessões de Narcissa, havia uma que jamais conseguiria fugir:

O pânico de perder alguém era, para si, devastador, ao ponto da mesma jamais se aproximar ou deixar que alguém que amava o fizesse, de algo que considerasse perigoso. Isso só passava quando lhe era provado – e não uma, nem duas, nem três, mas sim sete vezes – que a situação era segura.

Ninguém havia lhe provado nada sobre Lorde Voldemort.

Balançou a cabeça duas vezes, afastando os pensamentos. Não queria surtar ali. Então focou seus olhos no namorado, que parecia não ter notado seu pequeno momento de perturbação.

— Lucius? — chamou, parando de andar a pouca distância da entrada do castelo. O loiro imediatamente se virou, encarando-a.

— Sim?

— Obrigada — sussurrou, sorrindo de leve. Ainda que não estivesse bem e fosse demorar para um dia realmente estar. E mesmo que o mundo continuasse uma confusão de dor e medo, ele lhe fornecia um pouco de normalidade. E isso era algo que jamais poderia ser expresso em palavras.

Ainda assim, Lucius sabia. Ele sempre soube entender Narcissa.

— Não precisa agradecer — se aproximou um passo, ficando frente a frente com ela. Com delicadeza, tirou seu cabelo do rosto, afastando alguns flocos de neve que caiam em sua face. — Logo você será minha esposa, Cissa, e eu sempre cuido do que é meu.

Ela sorriu, quando ele se inclinou a beijou.

Narcissa tinha medo de muitas coisas, receio de outras milhares. Mas o toque de Lucius era o único que jamais afastaria, porque ele lhe trazia paz.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!



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