metalinguagem escrita por montilyet, socordia


Capítulo 4
capítulo 3: james


Notas iniciais do capítulo

oi, gente! essa semana tem sido meio bagunçada pra gente porque amanhã é a nossa formatura???? o que é levemente surreal, e daí quase não deu tempo de postar o capitulo em dia mas aqui estamos!
esse foi um dos meus preferidos de escrever até agora, espero que vocês gostem também :D

— K



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Eu não exatamente tenho certeza de porque Sirius disse aquilo — não era uma frase de efeito muito boa, e não estávamos indo imediatamente fazer a coisa. Na verdade, depois que ele fala, ficamos tempo o suficiente na cabine para que dê tempo de Peter terminar suas histórias de fantasmas com a tiavó Betsy, para que eu passe meia hora tentando convencer Sirius de me deixar ter um dragão de estimação na nossa campanha de Dungeons & Dragons, e para que eu limpe todas as notificações do celular — repetidamente insistindo no grupo do time da Grifinória que precisamos decidir um horário pra reunião —, assegurando minha mãe de que estamos vivos e bem dentro do trem, e lutando contra o impulso de bloquear todas as pessoas me mandando spoilers do capítulo novo de HP no Tumblr. Desgraçados.

Também é tempo o suficiente para todos nós entrarmos em uma breve sugar high com a quantidade absurda de doces consumidos em um período muito curto de tempo, durante a qual eu me levanto, pen drive na mão como se fosse um troféu de futebol, instigando Peter e Sirius a agir.

“Temos que fazer isso agora, ou Moony vai voltar da patrulha e nos encurralar e vamos todos morrer,” eu digo, aproximadamente vinte vezes mais rápido do que minha velocidade normal de fala.

Sirius concorda enfaticamente, embora ele esteja levemente trêmulo, e também se levanta. Peter simplesmente nos observa com uma expressão de paz — tenho certeza que, à essa altura, o corpo dele simplesmente se tornou imune a açúcar no geral.

"Eu tenho que ficar de vigia, certo?" ele checa, colocando as mãos nos bolsos ao se levantar em câmera lenta (ou ao menos é o que parece, pra mim. Talvez ele esteja em velocidade normal. Quem sabe).

"Sim. E nós vamos pra cabine, fazer a coisa. E você grita o código se acontecer alguma coisa," digo, e ergo um punho para um fist-bump. Peter leva aproximadamente 7465 anos para responder, erguendo o próprio punho a uma velocidade de 1,5 nanocentímetros por hora, mas dá tudo certo.

Coloco a cabeça para fora da cabine, checando o perímetro antes de indicar a Sirius que podia me seguir para fora. Nós percorremos o corredor abaixados, evitando ser vistos pela janela da cabine dos monitores, e eventualmente nos levantamos e corremos para a direção oposta do trem, tentando não rir alto demais e chamar atenção.

Sirius ainda está rindo como um idiota quando chegamos no painel de controle, e o entrego o pen drive, olhando o corredor enquanto ele trabalha. Eu não sei muita coisa sobre programação — só aprendi o básico em um extracurricular no primeiro ano, porque eu vacilei e fiquei precisando de créditos extras e aquela era a única aula sobrando. Sirius é quem entende de lógica e matemática e engenharia e esse tipo de coisa, e ele é nele que podemos confiar para não destruir o sistema do trem e só mexer nos auto-falantes um pouquinho. Minha única função foi de selecionar a playlist — a mais profissionalmente selecionada lista de músicas de memes, desde clássicos até hits contemporâneos, só para tornar essa viagem um pouquinho mais alegre.

É por isso que eu não presto atenção no que ele faz, e simplesmente fico por perto, dando apoio moral e tentando não pular incontrolavelmente no lugar. Peter está há alguns metros de nós, mexendo no celular e tentando parecer casual enquanto observa o corredor por qualquer sinal de atuação alarmante, mas não fosse o barulho abafado das conversas vindo de dentro das cabines, seria fácil acreditar que éramos os únicos dentro daquele trem.

"Você lembrou de colocar Hide & Seek, né?" Sirius pergunta, e o encaro, ofendido.

"Quem você acha que eu sou? Um monstro? É claro que sim," pergunto, e ele dá de ombros, concentrado demais em seu trabalho para contribuir para o meu drama.

Alguns minutos de tensão se passam, e logo ele se afasta, como uma expressão de quem está esperando alguma coisa explodir. Quando nada acontece, ele suspira aliviado, fecha o painel de controle e se afasta -- como se isso fosse convencer qualquer um que ele é inocente.

"Vai na frente, se alguém aparecer você já tem o álibi de estar na cabine," eu digo, abrindo caminho para ele, que corre (Evans teria um infarto) até ter que se abaixar na frente da cabine dos monitores, entrando na nossa e dando um joinha antes de fechar a porta. Peter se vira para mim, também dando um joinha, mas mais inseguro, ao qual eu respondo com alguma confiança.

Caminho com calma em direção à cabine, ficando para trás quando Peter finalmente entra na nossa — mas o ritmo lento prova ser um erro, quando uma das portas se abre e um grupo sai, conversando e rindo alto, indo em direção a outro vagão, possivelmente em busca do carrinho de doces. No meio do grupo, eu consigo identificar a postura arrogante de Snape, e me encolho automaticamente. Não que eu tenha medo do Seboso, longe disso, mas mesmo se eu simplesmente estivesse indo para o banheiro ele encontraria alguma forma de me colocar em alguma encrenca — e com todo o prazer do mundo, arrastaria Sirius, Remus e Peter para a lama comigo.

Tento fingir que não existo, então, e puxo o celular do bolso e finjo estar concentrado enquanto simplesmente digito a senha de desbloqueio errada mil vezes. Eles não parecem me notar, no entanto, ou simplesmente não se importam, indo na direção oposta e desaparecendo de vista ao fechar a porta que dá acesso ao outro vagão.

Mal tenho tempo para suspirar de alívio quando a porta imediatamente ao meu lado se abre, na menor das frestas, possivelmente por acidente, e ouço com clareza as vozes conversando lá dentro.

“...última pergunta.” Acho que esse é Frank Longbottom? O que ele… “Quem mais sabe que Lily é ThePensieve?”

Hmmmmm.

Oi?

Eu congelo no lugar, encarando o vazio, boca entreaberta. A voz de Evans vem logo em seguida, sem perder um segundo, mal me dando tempo para reagir à nova informação.

“As pessoas dessa cabine,” ela diz, num tom casual. “Minha família e, hm, meu advogado e o contador. Ah, a Madame Pomfrey. E Severus.”

Seboso sabe quem é ThePensieve? Ele? Que?

“Ok.”

“Mas você não pode contar para ninguém, Frankie,” a próxima voz é a de Alice Fortescue, namorada de Frank. Caralho, como que a identidade dela é um mistério se todo mundo sabe menos eu? Me viro para olhar a cabine pela pequena janela, e os próximos momentos se passam na fração de um segundo:

Eu vejo Remus, com Evans deitada em seu colo, um sorriso sereno no rosto. Ele ergue o olhar, e sua expressão congela ao me ver do outro lado da porta. O seu sorriso desaparece enquanto o ruído dos alto-falantes do trem enche o ar, e eu engulo em seco enquanto os primeiros versos de Never Gonna Give You Up de Rick Astley ressoam pelo vagão.

Eu acabei de ser rickrolled. Na vida real.

Obviamente a música coloca Evans em alerta, e eu me afasto da janela antes que ela possa me ver. Dou os passos finais para a nossa cabine com pressa, e só percebo que minha respiração está instável quando entro e fecho a porta.

Sirius imediatamente percebe o meu desconforto. O sorriso triunfante de quem, segundos antes, estava acompanhando a música com uma dancinha ridícula é substituído por pura preocupação.

"Ei," ele chama, e Peter também volta a atenção para mim. "O que houve?"

"Hmmmmm," é o único barulho que faço, tentando pensar por cima dos olhares consternados e da música alta. O que eu sequer poderia dizer? Eu nunca escondo nada de nenhum deles, especialmente de Sirius, mas eu nem tenho certeza se processei completamente a informação.

Talvez por sorte, sou interrompido antes de pensar no que dizer. Remus abre a porta atrás de mim, seus olhos se fixando em Sirius por alguns segundos com clara suspeita -- mas ele logo volta a sua atenção para mim. "Precisamos conversar."

Observo Sirius e Peter, confusos, antes de concordar. Saímos da cabine para o corredor, agora lotado com a comoção de estudantes confusos com a música. A maioria deles está rindo, e aquilo me enche de satisfação que nem mesmo a expressão reprovadora de Remus consegue apagar.

"O quanto você ouviu?" ele pergunta.

"O suficiente." Ele parece frustrado, mas continuo, em sussurros. "Você sabia? Esse tempo todo? E não me disse nada?"

"Não era o meu segredo pra contar!"

Eu pauso, encarando-o. Ele está certo. De todas as pessoas, nós deveríamos saber uma coisa ou outra sobre manter segredos. Suspiro, passando a mão pelos cabelos, tentando o meu melhor para não explodir.

"Você não pode contar pra ninguém. Nem pro Sirius," ele enfatiza, e eu concordo sem hesitação. "Sinceramente, só você pra se meter numa situação dessas..."

Enquanto ele fala, Sirius e Peter também saem da cabine, rindo e observando os alunos confusos. Àquela altura, a playlist já foi para a próxima canção, e o “hello darkness my old friend” soa particularmente irônico enquanto eu estou aqui, pronto para levar bronca de Remus, de novo. Remus revira os olhos ao ouvir a melodia melancólica, mas há uma pontada de um sorriso em seu rosto.

"Vai durar muito?" ele pergunta, e eu sorrio. É claro que ele sabe que fomos nós, e é claro que ele sabe que não tem como desligar se Sirius não o fizer pessoalmente.

"Nah. São só cinco músicas. Never Gonna Give You Up, The Sound of Silence, Hide & Seek, Sweet Dreams, e Bring Me To Life."

Remus gargalha dessa vez, e o acompanho.

"Tenho que ir fingir que realmente estou procurando o culpado," ele diz, apontando vagamente para trás, mas Evans aparece nesse exato momento, dando passos rápidos na nossa direção. Ela parece pronta para dizer alguma coisa, mas me observa com suspeita, e é nesse momento que Snape aparece, nariz empinado e expressão triunfante.

"Aí está você!" ele diz, se dirigindo à Lily. Ele é acompanhado pelos monitores da Sonserina, e aponta para mim. "Eu vi Potter e seus amigos no corredor logo antes da música começar. Eles eram os únicos aqui fora. Só podem ter sido eles." Ele então encara Sirius, cheio de escárnio. "Tudo isso tem a cara de Sirius Black, não acham?"

Remus parece levemente desesperado, mas Lily volta o olhar para Sirius como se esperasse uma explicação. Snape continua, completamente incapaz de perceber quando vencer. "Sorte que eu estava lá, Lily, do contrário tenho certeza que Lupin encontraria uma maneira de encobrir o rastro dos seus mestres."

"Severus, chega," Evans diz, provavelmente mais irritada do que ela jamais esteve comigo. Ele pelo menos tem a dignidade de não parecer ofendido.

O corredor agora está silencioso, exceto por um "hmmm whatcha say" eletrônico e irritante vindo dos alto-falantes — nenhuma risada pode ser ouvida agora, e no máximo há sorrisos presunçosos na expressão dos amigos de Snape, que observam a cena com um foco especial em Sirius. Ele, por sua vez, tem os braços cruzados na frente do peito, e parece insolente e pronto para soltar alguma piada que vai gerar apelidos novos para Snape para o resto do semestre.

E, embora eu esteja ansioso para que Snape seja ridicularizado tanto quanto ele merece, eu preciso fazer alguma coisa — não posso deixar Sirius se colocar em encrenca de novo.

"Deus, você não cansa de mentir?" digo para Snape, que desvia a atenção para mim com surpresa. "Não precisa arrastar nenhum deles para isso. Você só me viu no corredor. Eu fiz tudo sozinho."

Porque o corpo estudantil de St. Fillian's é a melhor audiência com a qual eu poderia sonhar, eu escuto um "oooh" baixinho e coletivo, exatamente como visualizei nos cinco segundos em que planejei essa fala.

"E, sinceramente, eu fiz um ótimo trabalho. Se alguém quiser me chamar pra ser DJ em alguma festa, meu número é 833-"

"Ok, chega," Evans diz, dando um tapa leve no meu braço. "Obrigada pelo testemunho, Severus. Nós vamos investigar o que aconteceu. Todos vocês, voltem para as suas cabines! Não tem nada pra ver aqui!"

Devagar e com alguma frustração, todo mundo eventualmente volta às cabines, e Evans organiza os monitores dentro da cabine deles, com a porta aberta para que eles possam me vigiar. Remus me dá um tapinha nas costas antes de entrar, e quando estamos apenas eu, Peter e Sirius no corredor, este sorri, agradecido.

"A playlist realmente tá muito boa," Peter diz, e nós três rimos. As gargalhadas continuam quando Sweet Dreams começa a tocar, e quando Remus e Lily saem do corredor, eu estou com a barriga doendo e lágrimas nos olhos de tanto rir. Remus claramente também teve dificuldades em se manter sério durante a reunião, e Evans parece levemente irritada com isso.

Isso é muito clichê, mas ela fica muito linda irritada.

E eu sou oficialmente a pior pessoa do mundo.

Remus pigarreia, segurando a risada. "James, você vai ter que conversar com a McGonagall assim que chegarmos. Provavelmente vai dar em detenção," ele explica.

"E Remus vai ficar de vigia na sua cabine o resto da viagem," Evans completa. "Eu sei como ele é suscetível aos seus maus feitos, então não tentem nada, ou vão se ver é comigo." Ela pontua a fala apontando para nós três, e Sirius leva uma mão ao peito, fingindo estar ofendido.

Ela dá um passo para se afastar, e Remus gesticula para que voltemos para a cabine.

"Ei, Potter," Evans chama, antes de entrar na própria cabine. Ela ainda parece irritada, mas a sombra de um sorriso surge em seu rosto. "Ótima playlist."

Ah, Deus. Eu estou com o rosto quente de novo.

Ia ser ótimo ser envolto pelos doces e frios braços da morte no momento.

Minha resposta é um estranho, ininteligível e desarticulado barulho, e Remus me empurra para dentro da cabine antes que eu possa de fato dizer alguma coisa.

“Se eu soubesse que tudo o que precisava pra você passar a viagem comigo era uma sabotagenzinha, eu já teria tentado explodir a cabine do maquinista,” Sirius diz para Remus, no tom mais meloso do mundo, e Remus cora. Mentalmente, eu já estou planejando o meu discurso de padrinho no casamento deles.

Nos jogamos nos bancos, e Remus parece exausto. Ele me encara, com uma expressão de ‘falamos sobre Aquilo depois’, e o respondo com um leve assentir. Sirius está sentado ao lado dele, e ele se apressa a entrelaçar um braço no de Remus, e encostar a cabeça em seu ombro. Eles têm uma breve conversa, murmurada e inaudível, e eu desvio o olhar.

Silêncio enche a cabine — um silêncio confortável, quente e aconchegante. É o conforto que só vem quando estamos os quatro juntos, finalmente, especialmente depois de tanto tempo. Por mais divertidas que nossas conversas pudessem ter sido, a ausência de Remus deixava um vazio inescapável e agressivo dentro da cabine. Agora que ele está ali, no entanto, cinco horas podem se passar em completo silêncio, e parecer cinco minutos de pura alegria.

E é meio que exatamente isso que acontece. Não em silêncio, é claro; há uma tentativa breve de começar uma sessão de D&D, mas Sirius fica com medo de perder os seus dados, e só passamos o resto da viagem conversando, Remus relatando pedaços de seu verão que não compartilhamos por mensagem, e nós atualizamos Peter do que fizemos quando Remus veio à Londres e ele estava preso com a tiavó Betsy e seus fantasmas. A tarde se transforma em noite e estamos todos famintos, mas St. Fillian’s se aproxima no horizonte, e estamos juntos e com sorrisos nos rostos.

Chegando lá, nos separamos de novo. Remus precisa me levar à McGonagall, e deixamos o trem com pressa, Remus usando de seu privilégio de monitor para simplesmente passar na frente de todos. Eu me sinto um pouco como um criminoso sendo levado pela polícia, o que é divertido, especialmente quando estranhos apontam para mim com sorrisos no rosto. Só espero que eles estejam rindo comigo, e não de mim.

A estação dá acesso direto aos portões do castelo (sim, St. Fillian’s fica num castelo. É prepotente desse jeito), e logo estamos atravessando os terrenos sozinhos, e só então Remus quebra o silêncio.

“Então você descobriu a identidade secreta de Lily.”

Automaticamente, faço uma careta. Eu quase tinha conseguido esquecer dessa bagunça!

“Tecnicamente,” eu começo, desviando da pergunta. “Lily é a identidade secreta de ThePensieve, e ThePensieve é a identidade pública de herói da Lily. Tem uma diferença.”

“Eu não poderia me importar menos com a diferença,” ele responde, voz seca. “É sério. O que você vai fazer?”

Eu suspiro, sentindo qualquer tranquilidade que eu tenha adquirido durante a viagem se desvanecendo.

“Não sei. Não pensei nisso ainda,” eu falo, e depois de uma pausa, continuo: “Não sei se tem alguma coisa que eu possa fazer. Lily me odeia. Eu deveria só contar o que eu sei, e parar de conversar com ela, e apagar todas as minhas fanfics, e deixar a vida voltar a ser miserável e sombria.”

Remus ri alto, e o encaro, ofendido. “Não precisa ser tão dramático assim,” ele diz, num tom hesitante. Ergo as sobrancelhas, enquanto ele evita me encarar de volta. “Lily não te odeia. Pelo menos, eu acho que não mais.”

“Tem certeza que estamos falando da mesma pessoa?”

“Bom, eu passo mais tempo com ela do que você. Por comparação, eu acho que sei um pouquinho mais, não?” Eu sinto um impulso de dar na cara dele, mas Remus tem muita cara de bonzinho para que eu consiga. “Você pode não ter percebido, mas você mudou muito. Por exemplo, agora mesmo. O James de 14 anos provavelmente ia tentar se aproveitar da situação para colocar Lily em algum tipo de armadilha pra ela sair com você ou coisa assim. A possibilidade nem passou pela sua cabeça, agora.”

Agora sou eu que não quero encará-lo. Ele continua. “Claro, você ainda é meio insuportável, e arrogante, e cheio de si, e estúpido com dinheiro de um jeito que dá muita raiva…”

“Uau, obrigado. Que ótimo amigo você é.”

Remus ri. “Mas mesmo assim. É o James babaca que chegou em St. Fillian’s se achando o dono do mundo que Lily odeia, não você. Ela mal conhece o James atual. Ou… bem, você em algum momento não foi sincero com ThePensieve?”

Faço que não com a cabeça, encarando o chão à nossa frente.

“Então. Talvez ela te conheça melhor do que eu, ironicamente. Talvez ela até goste desse novo James, e nem sabe disso. Talvez… talvez não valha a pena desistir por enquanto.

Não sei como responder, mas tem uma sensação esquisita no meu peito. Acho que é só toda o meu amor pelo Remus, e o quanto eu sou grato de ter ele na minha vida, se manifestando de leve numa vontade incontrolável de abraçá-lo — mas não tenho tempo de agir. Logo estamos atravessando os portões do Salão Principal, ainda vazio, e seguindo para as escadarias, no final das quais McGonagall nos espera, com suas típicas roupas escuras e cabelo prateado amarrado em um coque severo. Ela já parecia irritada quando chegamos, mas quando ela me vê, sua expressão lembra muito alguém que acabou de chupar um limão sem querer.

Abro o meu sorriso mais brilhante, e quase saltito na direção da minha professora preferida. Dá pra perceber o esforço que ela faz para não revirar os olhos.

“Senhor Lupin,” ela cumprimenta, dando a Remus até mesmo um aperto de mãos, e me ignora completamente. "Sigam-me, e rápido. Qualquer que tenha sido a travessura dessa vez, precisamos resolver a tempo de retornar à cerimônia de abertura e anunciar a divisão de casas dos novos alunos."

As casas de St. Fillian's são uma dessas tradições imemoriais que só escolas muito antigas e elitistas têm. Antigamente, quando o corpo estudantil da escola era razoavelmente pequeno, eram conduzidas entrevistas longas e elaboradas com cada novo aluno, que definiam, de acordo com certos valores e características, a qual das quatro casas o aluno pertenceria. Era um sistema que funcionava — St. Fillian's sempre foi uma escola muito cara, tornando viável conduzir entrevistas com cada mísero novo estudante. Também é o sistema que inspirou o sistema de casas em HP, que nesse caso, acontece com um chapéu mágico, e muito mais eficiente.

Mas ao longo dos séculos, mais e mais pessoas passaram a poder pagar as anuidades exorbitantes da escola, e mais e mais bolsas foram oferecidas para aqueles que não podiam. Tudo isso tornou o sistema de entrevistas inviável, e também obsoleto. Hoje em dia, ele provavelmente seria visto como discriminatório — e, assim, a divisão de casas se tornou simplesmente uma tradição técnica. Agora, os alunos são divididos unicamente de maneira a equilibrar o número de estudantes em cada casa, como dormitórios comuns de qualquer outra instituição menos pomposa.

Mas McGonagall dificilmente quer saber se eu acho as tradições de St. Fillian's pomposas ou não, e o seu olhar severo deixa isso bem claro. Simplesmente faço que sim com a cabeça, e a sigo pelas escadarias acima, com Remus logo atrás. Os escritórios dos professores ficam no primeiro andar, com o de McGonagall logo ao lado da entrada para a semitorre que abriga o escritório do diretor. Por dentro, o escritório é um reflexo perfeito da professora: limpo, organizado e minimalista, com parafernálias científicas organizadas em prateleiras, livros meticulosamente arrumados em uma estante, e os únicos pontos de cor sendo duas pequenas bandeiras, da Escócia e de arco-íris, em um porta-lápis, e dois porta-retratos: um com um gato cinzento de olhos verdes, outro com a própria McGonagall ao lado de uma mulher da sua idade, absurdamente sorridente em um vestido florido.

Ah, como é bom voltar pra casa.

"Então," ela diz, sentando-se e gesticulando para que fizéssemos o mesmo. "O que aconteceu?"

Remus se prontifica a falar, relatando com eficiência e rapidez. "James invadiu o sistema de auto-falantes do trem e colocou várias músicas pra tocar. O maquinista não conseguiu dar qualquer tipo de anúncio enquanto as músicas não acabaram."

Eu simplesmente fico calado, assentindo a cada palavra e tentando parecer angelical. McGonagall me observa por cima dos óculos, uma sobrancelha erguida.

"Houve algum propósito para o senhor fazer isso?"

"Hmmmm... diversão?" Dou de ombros e lhe entrego um sorriso amarelo. Ela suspira, e desvia o olhar para Remus.

"Tem certeza que o senhor Potter é o único culpado?"

"Sim, senhora. Ele confessou."

Ela parece ainda mais fascinada com essa informação, mas não diz nada. Ao invés, ela abre a gaveta e tira um bloquinho, anotando algumas coisas.

"Senhor Potter."

Dou o meu melhor sorriso. Ele está sendo bastante necessário hoje.

"Você sabe quantas advertências já estão em seu histórico?" Não respondo. Ela abre outra gaveta, e tira uma pasta de dentro, com o meu nome na capa. "Nem eu tenho certeza, na verdade. Você tem sido bem... ativo. Bebidas contrabandeadas pra dentro da escola, treinos de futebol de madrugada sem o consentimento da coordenação..."

"Foi antes de uma final!"

"...amarrar um cabo de vassoura no topo da torre da Grifinória?"

"Pra ficar maior do que a da Corvinal."

Ela me encara, incrédula, por alguns segundos, antes de retornar a atenção ao meu arquivo.

"Ah, colocar tinta roxa no shampoo do diretor Dumbledore..."

"Essa foi muito boa."

Dessa vez ela tenta segurar um sorriso, e murmura: "Foi mesmo..." e logo se recompõe, fechando a pasta e me encarando. "Mas não é esse o ponto. Todas essas advertências são fixas no seu histórico, e se continuar nesse ritmo, vai ser muito difícil conseguir uma vaga em uma boa universidade."

Ah. É sobre isso.

Remus se encolhe na cadeira ao lado, claramente não querendo fazer parte dessa conversa.

"Seu pai conversou comigo sobre o assunto. Ele tem grandes planos, você sabe disso."

Uma pausa constrangedora, e eu não consigo encarar McGonagall por muito tempo. Quando ela volta a falar, é com a voz muito mais suave.

"Quais os seus planos sobre isso, James?"

Olho para ela. Ela me observa com atenção e preocupação sinceras. É difícil responder à pergunta, e eu só gaguejo antes que ela me interrompa com um gesto.

"Não precisa me responder agora. Não vou te dar nenhuma advertência por isso, ninguém se machucou, mas vai ter que cumprir duas semanas de detenção, ok?"

Aceno que sim, sem muita certeza se eu deveria estar aliviado.

"Ótimo. Espero não ter que te ver nesse escritório sem ser com boas notícias pelos próximos meses, sim?" Não respondo, mas ela parece satisfeita com o meu silêncio. "Agora, para o Salão. A cerimônia de abertura está prestes a começar."


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Notas finais do capítulo

não senti muito a necessidade de glossário nesse capítulo, já que as coisas que precisariam ser explicadas são memes e, bem... explicar piadas não é muito legal, né? mas se precisar de explicações, podem perguntar nos comentários!
e aí, o que acharam? daqui a duas semanas voltamos, com capítulo da lily e mais ~~~segredos~~~ sendo revelados
até lá, e obrigada por lerem ♥



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