metalinguagem escrita por montilyet, socordia


Capítulo 2
capítulo 1: lily




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O trânsito para King’s Cross me deixa maluca. Papai está contornando o quarteirão procurando um lugar para estacionar pelo que parecem horas, e mesmo quando insisto para que ele deixe o carro no estacionamento rotativo que fica perto da estação, ele rejeita a sugestão com um gesto displicente de mão.

Cruzo os braços na frente do peito e sinto o celular vibrar no bolso de meu vestido. Não corro para visualizar a mensagem, e mesmo ignoro-a por alguns segundos ― sei que mamãe está atenta a todos os meus movimentos, como sempre, e não quero chamar a atenção. Suponho que seja Marls, perguntando se já cheguei e se já peguei uma cabine para nós no trem, mas alguma coisa me diz que não é ela.

Tenho que conter o sorriso em meu rosto ao lembrar das mensagens trocadas até tarde desta noite.

Meu celular vibra de novo, e de novo, de forma ininterrupta ― uma ligação. Só aí que me permito tirá-lo do bolso. A foto de Marls com um chapéu ridículo de festa e muito creme chantilly na cara ilumina a tela do display e eu atendo com facilidade.

“Oi, Marlene,” cumprimento, de forma clara, e mamãe acena em concordância, me autorizando a continuar. A voz do outro lado da linha é calma, mas Marls está num lugar muito cheio e precisa se esforçar para que eu consiga entendê-la. “O quê? Ah, não. Estamos procurando um lugar para estacionar… É, eu sei. Marls, é sempre cheio, o trem lota de primeiro-anistas e seus responsáveis, mas a gente… Olha, ache Alice, tudo bem? E eu te encontro.”

Me despeço com um beijo e promessa de que encontrarei Marls em breve. Suspiro enfaticamente e aproveito para abrir a mensagem que tinha recebido antes da ligação de Marlene. Mantenho minhas feições controladas quando reconheço o nome de usuário, mas sinto meu coração disparar um pouquinho no peito.

[ChudleyCannons 09:43] e um bom dia para vc. será que nos veremos hoje?

Mordisco os lábios e começo a digitar uma resposta.

[ThePensieve 09:59] e por que não? não me diga que vc largou a escola!!!

[ChudleyCannons 09:59] ha-ha

[ChudleyCannons10:00] vc sabe o que quis dizer

[ThePensieve 10:00] ;)

[ThePensieve 10:00] ttyl. cheguei na estação.

“Pai, não estamos chegando a lugar nenhum,” aponto, quando a seta do carro é ligada para indicar outra volta. “Só… me deixe aqui. Encontro com Marls lá dentro.”

“Mas, Lily, é seu último ano!” Mamãe parece ofendida com a perspectiva de me deixar a dez metros da entrada da estação, e não na plataforma. Consigo perceber, entretanto, que a sua emoção é um tanto fingida. “É a nossa última chance de…”

“Se vocês saírem agora, vão evitar o engarrafamento depois.”

Todo ano, no último dia de agosto, o entorno de King’s Cross fica uma zona total e completa, resultado de pais deixando seus filhos que embarcarão para o ano letivo em colégios internos. Esse é exatamente o nosso caso ― já cansei de ouvir reclamações sobre as taxas exorbitantes que meus pais pagaram em estacionamentos por simplesmente terem desistido de sair imediatamente depois do meu embarque e deixarem o carro parado enquanto passeiam pela City.

Meu argumento parece ser persuasivo o suficiente, porque vejo papai erguer as sobrancelhas e encontrar meu olhar pelo espelho retrovisor.

“Lily tem razão, querida.”

Cinco minutos depois, estou com minhas malas na calçada da estação, acenando adeus para meus pais. Minha mochila e minha bolsa carteiro pesam em meus ombros, e tenho de equilibrar as malas de rodinha com cuidado até encontrar um carrinho. Fico na ponta dos pés tentando encontrar algum carrinho desocupado e estrategicamente perto de mim para que eu não tenha de deixar minha bagagem sozinha, quando sinto meu celular vibrar de novo.

[ChudleyCannons 10:02] então é vc que tá atrasada

[ChudleyCannons 10:02] eu já embarquei

[ChudleyCannons 10:03] godspeed

[ThePensieve 10:12] obrigada pela torcida

[ThePensieve 10:13] ainda procurando um carrinho, entretanto

“Lily!,” ouço uma voz familiar atrás de mim e me viro em meus calcanhares na direção dela, um sorriso meio desconcertado em meu rosto.

“Olá, Severus,” cumprimento, de forma pouco entusiasta. Não nos falamos por todo o verão ― não tinha certeza se Severus sequer lembrava-se de minha existência. “Boas férias?,” questiono, de forma educada, apertando a alça de minha bolsa carteiro num gesto automático.

Severus dá de ombros e não responde à minha pergunta.

“Onde estão seus pais?” Ele olha ao nosso redor, parecendo preocupado. Quase ouço a pergunta que sempre se segue a essa, embora ela não venha: onde está a sua irmã?

“Hoje sou só eu.”

Ele acena com a cabeça e parece satisfeito com a resposta. Não pergunto a Severus onde estão os pais dele, porque sei que essa é uma pergunta complicada e que ele prefere não ter de pensar nas implicações de ter que ir sozinho até a estação, todos os anos.

“Precisa de ajuda?”

Quase soergo as sobrancelhas em resposta. Olho ao redor rapidamente, e, como não acho um carrinho, aceno com a cabeça.

“Hm, é, claro.” Ele se aproxima e eu empurro a mala de rodinhas em sua direção. Um sorriso de canto repuxa os lábios de Severus e eu tento não achar estranho o fato de que ele me ignorou por três meses e agora está agindo como se nada tivesse acontecido. “Obrigada.”

Caminhamos para dentro da estação, usando nossos passes da Academia para passarmos pelas roletas que dão acesso às plataformas. O silêncio entre nós não é exatamente confortável, mas eu não me esforço para quebrá-lo, e Severus tampouco. Por ora, permanecemos ocupados em desviar das pessoas que marcham pelos corredores de King’s Cross, todos apressados e sem sequer se darem conta de que estão quase atropelando outros e sendo atropelados.

Odeio os dias de embarque. São tão estressantes.

O trem que deixa Londres em direção a Stirling fica numa das plataformas mais isoladas de toda a estação. Grande parte de seus ocupantes neste dia em particular, são os alunos da Academia, e todos os trens que têm como destino cidades com internatos grandes, importantes e renomados são mantidos distantes do resto do público. Isso acontece desde antes que consegui a bolsa na Academia, e mesmo no alto dos meus onze anos pareceu uma decisão inteligente.

Da onde estamos, já consigo ouvir o barulho infernal que centenas de adolescentes conseguem fazer quando estão acumulados no mesmo lugar. Eu e Severus temos que saltar para longe de dois meninos pouco mais novos que nós que estão ― para minha total desilusão com a espécie humana ― brincando de lutinha enquanto rolam pelo chão, rindo, e seus amigos filmam tudo em seus celulares.

“Francamente…,” resmungo por debaixo da respiração, chutando o casaco de um dos garotos para fora de meu caminho. O casaco acaba caindo no rosto de um dos brigões, para a aprovação ruidosa de seus espectadores, e eu carrego minhas coisas para longe dali o mais rápido que posso, Severus nos meus calcanhares.

“Está aí algo que não vou sentir falta,” Severus afirma, um som de desgosto saindo do final de sua garganta. Ele joga os cabelos para fora dos olhos e se vira para mim, depois de algum tempo. “Ah, não tive a oportunidade de te dizer…”

Não teve a oportunidade?, questiono para mim mesma, virando meu rosto para que nossos olhares se desencontrem. Você que tem me ignorado há quase três meses…

“... mas os últimos capítulos de HP foram ótimos,” ele elogia em voz baixa, com um sorriso que parece ser sincero.

Então Severus ainda tem lido HP. Pensei que ele tinha negligenciado esse aspecto da nossa amizade como tinha negligenciado todos os outros. Eu respiro fundo, tentando conter o veneno que pode escapar em minha voz, e meço minhas palavras antes de responder.

“Obrigada. As suas dicas de planejamento, hm…” A excessiva caminhada enquanto carrego minha mochila e bolsa carteiro acabou por me deixar um pouquinho sem ar. Finalmente alcançamos o trem. “Estão ajudando.”

“Fico feliz em ter sido de serventia.” A frase é estranhamente formal, e eu não resisto e olho para ele de lado. Severus parece estar tão desconfortável com nossa conversa quanto eu.

“Severus…,” inicio, ainda incerta do que pretendo dizer. Não sei se iria confrontá-lo sobre ter ficado completamente MIA no verão, se iria questioná-lo sobre a importância da nossa amizade para ele, se iria perguntar sua opinião sobre minha ideia de matar o Diretor Dixon no final do sexto livro de HP, que só vai ao ar daqui a muito tempo. Talvez fizesse tudo isso ― mas somos interrompidos.

“Lils, graças a Deus!,” Marls estrila, seus cachinhos saltando em todas as direções conforme ela percorre o corredor do trem em nossa direção. Ela diminui o passo quando vê Severus, entretanto. “Ah, Severus, olá.” Ela finalmente nos alcança, mas não nos cumprimenta ― só tira a bolsa carteiro do meu ombro e apoia-se contra a parede de compensado de uma das cabines.

Conheço Marlene o suficiente para entender sem enganos o olhar afiado e desgostoso que ela dirige a Severus. Ela lambe os lábios deliberadamente, enquanto avalia Severus da cabeça aos pés.

“Vai viajar com a gente?,” pergunta Marls, num tom de voz que seria adorável saindo de qualquer outra pessoa. Nela, é ameaçador.

“Marls…”

“Não, Marlene,” responde Severus, de maneira contida. “Só ajudei Lily com as malas,” esclarece, em tom polido, oferecendo-me a alça de minha bagagem enorme. Aperto o plástico duro entre meus dedos automaticamente. “Já tenho uma cabine.”

Ele acena com a cabeça para nós duas, tirando o celular do bolso e desbloqueando a tela com sua digital. Dou-lhe um tchauzinho com minha mão livre, mas ele já deu as costas para nós e está caminhando na direção oposta de onde veio Marlene.

“Sempre um prazer conversar com você, Sev,” arrulha Marlene, seu sarcasmo fazendo com que ela arraste cada sílaba. “Venha, Alice está esperando.”

Cantarolo em concordância e puxo minha mala, seguindo Marls trem a dentro.

“Frank está com ela?”

“Ainda não.” Ela vira o rosto por cima do ombro para me encarar. “Achamos que você gostaria de ter a reunião depois da ronda, Senhora Monitora.”

“Acharam certo,” replico com um sorriso, enquanto três primeiro-anistas passam correndo por nós, gritando e por pouco não tropeçando em minhas coisas. “Ei!,” chamo a atenção deles com um grito imperioso. Os meninos estacam na hora e olham para mim, olhos arregalados. “Sem correr! O trem já vai sair ― vão para suas cabines. Não saiam de lá sem seus bilhetes,” advirto, estreitando os olhos e apontando para a insígnia de monitora pendurada em minha mochila.

As crianças olham do símbolo para mim, empalidecendo alguns tons de pele, e eu soergo uma sobrancelha, convidando-as a me desafiar. Elas só acenam com a cabeça e voltam a andar, de forma ordenada. Minha missão está cumprida.

Marlene assovia, impressionada, e eu lhe estiro a língua. Percorremos os metros finais até a cabine em silêncio a exceção das vozes que vazam de todos os cantos e do próprio trem. Enquanto Marls puxa a porta de vidro e madeira, tiro meu celular do bolso para checar minhas mensagens.

[ChudleyCannons 10:15] nesse ritmo vc vai perder o trem

[ChudleyCannons 10:15] pls don’t

 

[ChudleyCannons 10:27] n me diga que vc caiu nos trilhos e morreu isso seria mt trágico

 

[ChudleyCannons 10:35] se bem que se vc tivesse caído nos trilhos eu n ia ficar sabendo até as manchetes de jornal

[ChudleyCannons 10:35] ia ser uma forma horrível de descobrir quem vc é

Rolo os olhos enquanto digito a resposta.

[ThePensieve 10:43] e vc ia ficar sem saber o final de HP

É só o que todos sabem fazer: me cobrar atualizações de HP, sempre, e ChudleyCannons não é diferente. Muito embora ele faça com que eu me esqueça disso com uma frequência até perturbadora. Bufo e continuo a digitar.

[ThePensieve 10:44] deveras trágico, realmente

[ChudleyCannons 10:44] ah, ela está entre nós!

[ChudleyCannons 10:44] bem vinda de volta ao mundo dos vivos, alteza

Guardo meu celular de novo, sem responder, porque temos que encontrar um lugar para enfiar toda a minha bagagem. Precisamos pular para dentro da cabine porque Alice, como sempre, soltou a sua gata para que ela não fique confinada em sua caixinha de transporte. É o sétimo ano que ela faz isso, e a sétima vez que fico impressionada com o fato de que ela não foi pega e expulsa do trem.

“Panqueca!” Alice quase chora quando a gatinha tricolor ameaça sair para o corredor e se perder entre estudantes e demais passageiros. Ouvindo o tom de voz agudo de sua dona, Panqueca olha para trás, desconsolada por sua fuga frustrada. Alice ajoelha-se no carpete gasto do trem e pega a gata no colo. “O mundo lá fora é perigoso,” ela sussurra pra bichana, que me olha com seus enormes olhos amarelos como quem pede solidariedade. Eu lhe afago a cabeça e fecho a porta com um baque alto atrás de mim.

A gata mia, mas Alice fala por cima dela, um sorriso brilhante estampando-lhe o rosto redondo.

“Lil!,” ela me abraça sem botar Panqueca no chão, e não retribuo o abraço com o entusiasmo que sinto depois de rever Ali com medo de machucar a bichinha. “Você se atrasou.”

“Meus pais e estacionamento,” explico, simplesmente, ajudando Marls a empurrar minha mala para debaixo de um dos bancos. Panqueca cheira o plástico resistente com interesse, provavelmente sabendo que escondi os petiscos que lhe dou em segredo lá dentro. Ela resolve que vai passar a viagem entre minha mala e o forro do assento do trem, e por alguns segundo o barulho de Panqueca se ajeitando preenche a cabine enquanto nós três checamos nossos celulares. “Mas o importante é que não perdi o trem!”

“Imagine ter que ir até Stirling de carro com seus pais,” Marls conjectura, sem levantar os olhos de seu iPhone. Mesmo não querendo, estremeço diante da possibilidade.

Uma batida na porta da cabine faz com que nós três levantemos nossos rostos ao mesmo tempo. A porta desliza para o lado e Remus enfia a cabeça para dentro, seus cabelos deslizando de um lado para o outro conforme ele parece procurar alguma coisa. Quando me vê, para.

“Bom dia, meninas,” ele nos cumprimenta, em seu típico tom baixo, sorrindo de canto. “Lil, vamos começar a ronda?”

Eu sorrio para ele e aceno com a cabeça, prendendo meu cabelo num rabo-de-cavalo rápido e eficiente.

“Vamos logo, Evans!,” a voz de Sirius ecoa a partir do corredor e eu rolo os olhos. “Preciso ser cuidadosamente conduzido para a minha cabine.” Ele abraça Remus pela cintura, e apoia seu queixo no ombro do namorado, seus olhos profundamente negros brilhando de humor quando percebe minha expressão de insatisfação. “E, depois, vocês precisam se certificar que eu vou ficar lá durante toda a viagem. Vocês sabem,” ele dá uma piscadela para Marlene e Alice, que fazem caretas, “ord-”

“Ordens da McGonagall,” eu e Remus falamos em uníssono. Rem esconde o rosto nas próprias mãos. Eu abro minha mochila e tiro de lá de dentro minha jaqueta da Academia, as estrelas da monitoria brilhando acima do emblema colorido da escola, e prego a insígnia na altura do peito. “Certo, estou pronta.” Antes de enfiar meu celular num dos bolsos da jaqueta, sinto ele vibrar com a notificação de mensagem nova de ChudleyCannons. Dispenso o balãozinho sem pensar duas vezes e sigo Rem e Sirius para fora da cabine, me despedindo brevemente das meninas.

James e Peter estão igualmente no corredor, Potter com a cara enfiada no celular e Pettigrew comprando chocolates no carrinho de doces.

“Ela não tá me respondendo,” Potter reclama, passando as mãos pelos cabelos de forma inquieta, uma inflexão angustiada em sua voz.

Eu soergo uma sobrancelha. James Potter, sendo rejeitado? Essa é nova. Queria conhecer a garota só para poder parabenizá-la. Devo ter uma expressão satisfeita no rosto, porque Remus me olha de forma engraçada e eu tenho que rearrumar as minhas feições para que elas se tornem indiferentes.

Potter levanta os olhos negros e seu novo acessório me impressiona.

“Óculos novos, Potter?,” questiono, em tom curioso. Ele ajeita as armações finas no rosto e percebo que ele desvia o olhar, envergonhado.

“Minhas lentes estavam me dando alergia,” ele resmunga. Guardando o celular no bolso das calças jeans, ele logo recupera sua postura arrogante, típica, e prega um sorriso presunçoso no rosto. “E você tem reparado em mim, é, Lily?”

Não dignifico essa tentativa ridícula de flerte com uma resposta. Só cruzo os braços na frente do peito e me viro para Remus, conferindo meu relógio de pulso. Os braços do Darth Vader denunciam que o trem vai sair em dez minutos.

“Rem, precisamos nos certificar que todos os primeiro-anistas estão acomodados.”

“E que eu vou ficar na cabine!,” completa Sirius animadamente. Nós quatro olhamos para ele, igualmente céticos. “Vocês podem pelo menos tentar.”

“Desde que você não exploda o trem e traumatize crianças de onze anos para a vida toda,” começo, espanando minha jaqueta, “não vou gastar minha preciosa energia tentando impedir que você seja expulso da Academia.”

“Lily!,” Black exclama, em tom deleitado. “Você se importa, no final das contas!”

O esforço para que eu não role os olhos ― prometi para Remus que seria mais legal com os amigos dele, num torpor bêbado do qual me arrependo ― quase faz meu sistema nervoso fritar. Só olho de forma significativa para Rem, que esfrega a nuca com a mão e concorda com a cabeça, um sorriso apologético no rosto.

A cabine dos meninos não está muito abaixo do corredor, e, assim que Black, Pettigrew e Potter estão acomodados (e que o passe de Sirius está conosco, proibindo-o nominalmente de circular pelo trem durante a viagem), começamos nossa ronda. A lista de primeiro-anistas está no app da Academia, e, quando vou pegar o celular para abri-lo, vejo que tenho novas mensagens. Não só de ChudleyCannons, mas também comentários no último capítulo de HP, com muitas pessoas me tagando e exigindo respostas que só darei lá pelo sétimo livro.

Rio de forma satisfeita e um tanto quanto maléfica. Adoro todas as especulações do fandom sobre o quê eu tenho planejado para o futuro de HP. Como não participo quase nada do fórum de discussões, o fato de eu ter cada quadro e página da HQ de forma cristalina em minha mente não é de conhecimento do público. Muitas pessoas se perguntam aonde eu estou indo com a história, e acabo por ignorá-las, assim como geralmente faço com tudo que se relacione a HP. Se tiver que responder um deles, terei de responder todos… e nunca terei paz.

Silencio os tópicos novos que surgiram no fórum de discussão em resposta ao mais recente update e abro o app da Academia. Meu acesso de monitora permite que eu tenha a relação de todas as turmas, de todos os anos, de todas as casas, com apenas alguns cliques. Suas cabines designadas também estão aqui, e logo eu e Remus encontramos a parte do trem destinada aos primeiro-anistas.

“Cada vez mais alunos…,” comento por alto, depois de finalizarmos a chamada em uma das cabines. Como os primeiro-anistas são agrupados alfabeticamente por sobrenome, sei que estamos mais ou menos no meio de nossa tarefa. “Daqui a pouco, a Academia vai precisar de um trem só pra ela.”

“Com a mensalidade que eles cobram, não vai ser difícil conseguir,” Rem murmura, olhos fixos na tela do celular, chamando as crianças na próxima cabine pelos sobrenomes. Todos eles respondem em diferentes tons de animação, e o perene frio na barriga que sinto quando alguém menciona a obscena taxa mensal da Academia perto de mim se instala desconfortavelmente em meu estômago.

A sensação é que alguém vai aparecer do nada, bater em meu ombro e me dizer que houve um engano, que não é para eu estar aqui. Lily Evans, na verdade, pertence a uma escola pública anônima nos subúrbios de Londres, não na conceituada Academia Preparatória St. Fillan, em Stirling. Meus dedos ficam até formigando conforme eu respondo a mensagem de Marlene e aceito o braço que Rem me oferece para voltarmos à cabine.

Minha posição de bolsista sempre foi instável. Depende inteiramente das minhas notas e comportamento; é por isso que frequentemente sinto vontade de bater a cabeça de Potter e Black uma contra a outra. Eles não param de conversar nunca nas aulas e me distraem. Não sei se entendo completamente a amizade entre eles, Rem e Pettigrew, mas sei que Remus é responsável por conter os espíritos mais… hm, selvagens de James e Sirius.

E desde que Rem e Sirius começaram a namorar, Black não conseguiu nenhuma detenção a mais sequer. O quê é um avanço, é claro, já que desde que Sirius foi expulso do time de futebol da Grifinória, ele só se meteu em encrenca. Quase foi “convidado a se retirar” da Academia. Isso foi justo na época que ele foi chutado para fora de casa e passou a morar com os Potter…

Acredite em mim, eu não queria saber disso, mas foi tudo tão dolorosamente público. Vi como Remus ficou preocupado com Sirius, e sei por conta dele o quão grave foi essa rixa familiar. Aperto meus lábios numa linha fina, e estou prestes a perguntar para Rem como estão as coisas entre ele e Sirius quando sinto meu celular vibrar de novo.

Cinco mensagens não lidas de ChudleyCannons. Mas também há notificações do Instagram e do Facebook, até mesmo do Twitter. Confesso que sinto um aperto no coração quando vou conferir minhas mensagens e não vejo nem uma sílaba sequer enviada por Petunia. Bloqueio a tela com um pouco mais de vontade do que o estritamente necessário, e ignoro o olhar treinado de Remus em cima de mim.

Encosto minha cabeça no ombro de Rem e suspiro alto.

“Petunia?,” ele pergunta, sempre observador.

“É.” Faço uma careta. “Não quero falar sobre isso. Vamos, Frank está nos esperando.”

“Lily…” Alguma coisa na voz de Rem faz com que eu levante minha cabeça para encará-lo nos olhos verdes. “Você tem certeza que quer fazer isso? Deixar mais alguém sabendo da sua identidade, digo. Não tenho dúvidas de que Frank é competente, mas você deu uma sorte desgraçada de não ter sido descoberta até hoje.”

“Remus, só temos que sobreviver a mais esse ano. Já conseguimos sobreviver a três, por que o quarto seria diferente?”

 


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Notas finais do capítulo

feedback é sempre bem vindo! ♥