—Então Isabelle, qual é a sua resposta?

—Vamos conversar em um lugar mais reservado sobre esse assunto- respondi com um sorriso malicioso enquanto abria a entrada da câmara secreta utilizando língua de cobra- Está esperando o que? Venha?

Adentramos o hall da câmara secreta e eu descartei o meu manto do uniforme no chão, e o encarei com uma mão na cintura, eu aparentava estar calmíssima e impassível por fora, mas por dentro eu estava uma completa bagunça emocional, eu só conseguia me lembrar da sensação viciante de poder que correu pelas minhas veias quando usei a maldição cruciatus.

Como se estivesse andado em círculos por horas sem fim, eu sempre soube que havia algo de muito errado comigo em comparação aos outros Weasley, afinal eu sentia satisfação nas coisas mais bizarras como prender a circulação sanguínea do braço de Percy, manipular os meus irmãos e persuadi-los a fazer exatamente o que quero.... Não, algumas vezes não suportava tal lado obscuro meu e virava todos os espelhos ao contrário.

Mas aos poucos estou aprendendo apreciar esse lado quando o vejo no espelho, quando o sinto crescendo dentro de mim e tomando o controle em situações como no dia do primeiro teste do torneio, senti-a meu embriagando por completo.... Eu sou maior do que o meu corpo, mais fria do que essa câmara, mais ambiciosa do que os Malfoy, mais forte do que eu pensava ser e sem precisar daquele medalhão.

Eu não consigo parar essa terrível energia, a sinto lá no fundo, abaixo da minha pele e estou pouco a pouco me familiarizando com os pensamentos malignos que vivem dentro da minha cabeça, eles me imploram para ouvi-los mais vezes, me garantem que com certeza, deveriam ter medo de mim.... Quem está no controle? Não me deixarão sozinha, afinal meu coração é de ouro e minhas mãos estão frias.

—Minha resposta é sim.

***

—Isabelle? - Eu me senti sendo cutucada e chamada por uma voz preocupada e suave que eu conhecia muito bem.

—Ah Diggory- me levantei em um sobressalto sabendo que eu havia adormecido sobre a mesa da sala precisa durante uma reunião do programa enquanto estávamos discutindo sobre a busca pelas relíquias dos fundadores, como eu já encontrara a que pertencia por direto a mim, achei que pudesse me alojar em um canto e tirar uma soneca já que passara a noite inteira na câmara secreta estudando o básico sobre artes das trevas antes de começar mesmo a praticar.

—Você está muito fofa assim- ele disse com um sorriso tímido enquanto tirava os cabelos da minha testa- Sonolenta, eu estava procurando você sabe.

—Por que? - Perguntei retribuindo o sorriso e sentindo o meu coração batendo mais rápido, já tinha uma ideia do que ele iria pedir.

—Gostaria que fosse meu par no baile de inverno- pediu me olhando nos olhos, coçando a nuca com nervosismo pela minha resposta.... Eu já sabia o que responder mas resolvi provoca-la um pouquinho.

—Por que justo eu Diggory? Aposto que tem um monte de menininhas chatas correndo atrás de você para ser seu pai e que seriam mais agradáveis do que eu puxando o seu saco.

—Mas eu não quero uma parceira assim- ele disse sinceramente- Eu não quero uma acompanhante agradável que puxe o meu saco o tempo todo, eu quero você.

—Eu? – Perguntei arqueando uma sobrancelha desconfiada.

—Sim você Isabelle, com o seu jeito desdenhoso, as patadas, a sinceridade fria, o temperamento e a impulsividade- disse dando de ombros- O Pacote completo, todas as coisas que eu adoro em você.

Minha máscara habitual de frieza cai na hora, eu não esperava aquele tipo de declaração, não espera ele falando dos meus maiores defeitos como se fossem qualidade e dizendo que são coisas que ele adora em mim, o meu coração foi para a garganta...E o Cedrico Diggory com seu jeitinho meigo foi o primeiro a me deixar sem uma resposta irônica na ponta da língua, o primeiro a me deixar de verdade sem palavras e a me fazer sentir nervosa como se o meu coração tivesse subido para garganta.

—Então você tem sua acompanhante Diggory- murmurei com um sorriso genuíno depois de sair do choque inicial.

***

—Vocês são meninas- Rony disse para mim e Mione quando estávamos na mesa do salão comunal- Mione pode ir comigo e a Izzy pode ir com o Harry.

—Sim- Harry pareceu se animar- Tão fácil.

Eu peguei o meu livro de poções e taquei com força na cabeça dos dois e a Hermione estava tão indignada quanto eu.

—Acreditem ou não idiotas- digo irritada- Já nos convidaram.

Eu fui a primeira a levantar e entregar o meu dever para o Professor Snape que apenas passou os olhos pelas questões corrigindo todas como certas, como sempre, afinal era uma das vantagens de morar com ele, eu sempre estava adiantada na matéria que ele daria no ano seguinte.

Hermione depois de vinte minutos se levantou e entregou também, e pegamos nossos materiais ainda bastante irritadas com aqueles dois que não nos achavam capazes de encontrar o próprio par.

—E aceitamos- Mione cuspiu as palavras para os dois.

—Ela vai com o Vitor Krum e eu vou com o Cedrico Diggory- Disse com um sorriso de deboche- Vamos com campeões tribruxo, enquanto vocês podem ir um com o outro.

***

N Gina

Izzy alisou o seu vestido com a ponta dos dedos, nervosa, pois optou por ser ousada escolhendo um vestido verde no qual as pernas ficariam expostas com vários babados discretos.... Ela estava investindo em ser sexy, mas sem ser vulgar, atiçar um pouco o acompanhante enquanto fazia ciúmes no outro que fizera tão pouco dela naquele dia, porque se tinha algo que Isabelle nunca faria, seria esquecer uma ofensa e muitos menos deixa-la por si mesma, sempre revidava da maneira mais calculista e fria possível.

Eu sentira falta da minha irmãzinha quando morava na França para cuidar da minha tia avô, apesar de meus pais não gostarem muito do jeito e temperamento frio de Izzy, eu sempre a vi como um exemplo a ser seguido afinal ela tem uma personalidade que não se vê todo dia, nunca levou um desaforo para casa e está sempre mantendo uma calma e graciosidade invejável.

—Como eu estou? - Me questionou se olhando no espelho com um sorriso malicioso- Eu quero apenas ver quais serão as reações do Diggory, Harry e Rony.

—Rony e o resto dos nossos irmãos vão querer pegar um casaco e te cobrir para os garotos não olharem- respondi rindo- Mas você está deslumbrante Izzy! Só que Sonserina demais na minha opinião.

—Ultimamente venho me sentindo mais confortável nessa cor- disse enrolando um dos cachos loiros escuro no dedo.

—Isso é estranho! - Comentei estranhando-  algum motivo específico?

Eu ouvi um brilho estranho passar pelos olhos da Izzy através do espelho, era algo simplesmente assustador que gelou a minha espinha e quando ela se virou para me responder pude ver um resquício daquele brilho antes de desaparecer completamente...Então Izzy apenas deu de ombros e respondeu um “não” com um sorriso travesso brincando nos lábios dela.

Eu havia notado pequenos detalhes que me faziam ver o quanto ela estava mudando aos poucos e eu não faço a mínima ideia do porquê, ela estava se tornando cada vez mais fria, menos empática, mais ousada e menos aberta a família e aos amigos, sabia que ela estava guardando algum segredo que era o causador daquilo e tenho um péssimo pressentimento sobre isso.

—Por que você está aí com essa cara de paisagem Gina? - Ela perguntou com a voz pingando de desdém e deboche- Não vai deixar o seu acompanhante desastrado sem supervisão, vai?

Eu apenas a segui por que sabia que se não me apressasse, ela fecharia a porta na minha cara, e também não queria deixar Neville Longbottom esperando afinal ele fora muito gentil em aceitar ir para o baile com uma garota que acabara de ser transferida, a qual nem conhecia.

Não gostava muito de ser o centro das atenções eu sempre preferi observar tudo ao meu redor e deduzir diversas conclusões daquilo, minha tia avô Muriel sempre se orgulhara dessa habilidade e ela costumava dizer que eu seria uma grande auror no futuro por saber investigar.

Cobiça, Inveja, Desejo

Esses foram os olhares que eu vi dirigidos a Izzy quando a mesma desceu as escadas afinal ela fora a única que teve a audácia de vestir um vestido exibindo as pernas e a única que usava uma jaqueta prata de couro para completar o look além do coque elegante que ela fizera no cabelo.

A maioria das meninas vestiam o mesmo tipo de vestido procurando ficarem bonitas para se exibirem e para seus parceiros enquanto na Izzy era bastante claro que aquele look era cem por cento Isabelle, não querendo agradar ninguém, simplesmente revelando sua própria essência na medida certa.... Por isso parecia que nenhuma estrela brilha ou brilhará mais do que minha irmã e para o meu horror eu percebi que tanto esse brilho quanto a essência dela é puramente Sonserina.

***

N Isabelle

—Wowww! – Diggory estava boquiaberto ao contemplar meu visual e ele não era o único- Você está deslumbrante.... Não! Perfeita!

—Eu precisava caprichar- dei de ombros de repente envergonhada- Afinal escolhas nos revelam. Porém não estou perfeita, sinto que falta alguma coisa.

—Izzy- me chamou tirando alguma coisa do bolso do paletó- Que tal isto?

Eu vi o meu medalhão na mão à vista na mão dele e eu não consegui segurar um sorriso bobo de se espalhar como uma praga pelo meu rosto, eu estava bastante ciente da minha mudança de personalidade desde que começou minhas aulas de arte das trevas com Bartô Crouch Jr. Para muitos deveria ser uma mudança brusca mas não fazem ideia de que eu sempre tive isso de dentro de mim...Mas não sei o que acontece que esse lado não aflora quando estou perto de Cedrico Diggory, pelo contrário, ao invés da dormência de emoções cada vez mais frequente.

Eu sinto que estou agindo como uma idiota, minhas pernas não parecem estáveis o suficiente, minhas bochechas coram em um vermelho profundo quando fico envergonhada, sinto nervosismo, ás vezes parece que não tem oxigênio suficiente chegando no meu cérebro...São reações tão estranhas e incômodas, mas eu não consigo me afastar porque também me sinto bem com a companhia dele, é tudo tão estranho e incômodo.

—Eu posso colocar se você...-antes mesmo que ele terminasse de falar eu me virei de costas para ele e graças ao meu cabelo preso pude sentir seu hálito quente na pele sensível do meu pescoço e foi tão embriagante- Agora sim, posso ver o seu brilho tão especial.

—Cala a boca- ralhei quando senti minhas bochechas queimando.

—Melhor ainda, era o vermelho que eu estava procurando, já que você é tecnicamente da Grifinória e veio de verde dos pés à cabeça.

Senti o meu coração bater mais rápido, quando ele segurou a minha mão e fomos o primeiro casal da fileira de campeões e seus pares (erámos o único caso dos dois serem campeões), e eu senti vários olhares me fitando enquanto adentrávamos a pista de dança.

Sentia a mão dele pousar em minha cintura com uma delicadeza surpreendente, e apoiei minha mão em seu ombro sentindo meu corpo balançar devagar de acordo a música, meus pés estavam de acordo com o ritmo e não me decepcionavam.

—Como está dançando dessa maneira? Você só tomou uma aula- ele apontou curioso observando vários olhares presos em nós dois.

—Eu tenho memória fotográfica Diggory! Não preciso que me ensinem uma coisa duas vezes.

—Eu sei- ele respondeu com um sorriso- Mas mesmo assim você ainda consegue me surpreender Izzy, está dançando como se estivesse em uma nuvem.

—Eu tomei aulas com o meu padrinho ao invés de Mcgonagall como os outros da minha casa- respondi embora sentia minha respiração falhar um pouco por causa daquele bendito sorriso.

E ele não fora o único surpreso, eu não esperava que Cedrico Diggory fosse um parceiro tão bom, me conduzia com segurança e uma certeza nos passos diferente de Harry que pela minha visão periférica eu conseguia ver completamente atrapalhado olhando fixamente para mim e Cedrico com um olhar nada agradável.

Mas eu não deixaria Harry estragar aquele momento, não mesmo.... Então me concentrei apenas no meu parceiro que me fitava com um olhar intenso, antes de me puxar para mais perto de si, fixando os olhos na minha boca, o que fez um fio de eletricidade percorrer meu corpo, me arrepiando das cabeças aos pés.

—Achei que tivesse lhe deixado zangada- ele comentou repentinamente o que me confundiu um pouco.

—Por que eu me zangaria com você Cedrico?

—Não sei, você tem andando tão séria e indiferente desde que entramos no programa de herdeiros e....

—Shhh- o interrompi colocando meu dedo indicador nos lábios dele- Não tem a nada ver com você, eu só estou passando por algo que tem me abalado de umas maneiras inesperadas.

—Tem algo que eu possa fazer para te ajudar? - ele perguntou demonstrando preocupação.

Meu coração se aqueceu com toda aquela preocupação para comigo e eu não consegui impedir um sorriso de surgir no meu rosto, que eu percebi ter tido um efeito em Cedrico que teve uns pensamentos muito fofos e sugou o ar de forma sôfrega.... Mau percebemos quando a música acabou e apenas seguimos o ritmo e os passos da próxima música, muito hipnotizados um no outro para perceber qualquer outra coisa que acontecia naquele salão.

—Talvez você possa sim me ajudar- respondi embora incerta, não queria que ele soubesse a verdade do que eu estava fazendo ou me tornando – Estando aqui para mim, simples assim.

Aquelas últimas palavras saíram da minha boca antes de eu conseguir sequer registra-las na minha mente, abri a boca literalmente, espantada demais afinal aquilo nunca havia acontecido antes, eu sempre possuo maestria total de todas as palavras que saíam da minha boca afinal ela são meus métodos mais eficientes de persuasão...Olhei para Cedrico que também parecia chocado com o que acabara de ouvir, mas ele foi o primeiro a se recuperar.

—Se continuar com essa boquinha aberta assim, eu teria que me obrigar a fecha-la- ele disse no meu ouvido fazendo arrepios deliciosos subirem pela minha espinha- E não me importo nenhum pouco de fazê-lo, seria um prazer na verdade.

—Você não ousaria- respondi com um sorriso provocante tentando atiçar ainda mais aquele clima.

Era um dos objetivos daquela noite mesmo e eu não pararia até nos levar ao limite.

N Harry

O Baile todo estava perfeito, a única coisa que me incomodou foi o número de olhares masculinos que minha amiga Isabelle estava atraindo, assim que ela entrara no salão, todos os olhares se grudaram nela, até o meu, tanto que não consegui dançar nem ao menos de uma forma decente, tive dó da pobre Patil por ter pisado inúmeras vezes no pé dela.

Enquanto eu era um desastre completo naquela dança, Isabelle e Cedrico eram com certeza o casal mais empenhado principalmente Izzy, cujos passos eram graciosos e sem erros exatamente como ela...Verdade seja dita Isabelle estava deslumbrante, estonteante e terrivelmente sedutora em todos os aspectos, não tinham quem não estivesse enfeitiçado por ela, todos os olhos a seguiam enquanto se movia com graça e leveza pelo salão

Mais surpreendente para mim foi não ter me interessado nenhum pouco em Cho Chang, a garota por quem eu tinha uma leve queda, ela usava um vestido extremamente rosa brilhante com uma tiara ridiculamente grande e parecia tão irritada com Cedrico e Isabelle juntos quanto eu. Porém ninguém notou ou deu mínima atenção a Cho imitando uma princesa, não quando tínhamos uma rainha desfilando à frente.

 -Desde quando ela sabe dançar assim? – Perguntei a mim mesmo sozinho quando a dança dos campeões havia terminado e eu resolvi sentar e não pagar mais mico.

—Izzy aprende as coisas muito rápido, esqueceu? - Uma voz feminina me respondeu e quando me virei para ver, a reconheci como Gina Weasley

—Eu não estava falando da Izzy- tentei disfarçar sem sucesso

—A mim você não engana Harry- ela disse com uma risadinha- Está se mordendo de ciúmes da minha irmã, deveria chama-la para dançar então.

—Você por acaso me viu dança Gina? - Perguntei incrédulo- Eu apenas me envergonharia comparado com ela.

—De qualquer forma, é tarde demais- ela disse observando o diretor da escola de Durmstrong a tirando para dançar, o que foi muito estranho, com certeza têm alguma coisa muito errada.

N Isabelle

Eu me deslocava pelo salão desconfortável, ainda não sabia porque havia aceitado o convite de Karakaroff para dançar, tinha um péssimo pressentimento.

—Seu desempenho é bastante impressionante Senhorita Isabelle- ele disse enquanto me girava pelo salão- É uma pena que não tivemos a oportunidade de nos conhecermos previamente, você certamente me lembra alguém.

—Quem? - Perguntei arqueando uma sobrancelha.

—Um antigo mestre, o qual não vejo há quase 15 anos- ele respondeu me olhando nos olhos fixamente- Os olhos, mas você certamente é mais bonita do que ele.

Uma onda forte de nojo percorreu o meu copo quando o senti acariciar sem pudor as minhas costas nuas do vestido, ele me olhava de um jeito que me fez estremecer, de um jeito que deixava suas segundas intenções claras.

—Cru- sussurrei mas parei a mim mesma quando vi que estávamos no meio de muita gente na pista de dança e eu também não seria imprudente o suficiente para lançar uma maldição imperdoável na frente do nariz do diretor, não é? Mas esse pedófilo que me aguarde.

  -Eu agradeceria se você tirasse essas suas mãos imundas da minha afilhada- Snape disse baixo para só nós dois ouvirmos quando apareceu para me resgatar e eu dei a mão para ele deixando Karakaroff para trás nenhum pouco feliz.

—Cuidado com Karakaroff...Ele além de ter sido um comensal da morte, não hesitaria em abusar assim de você- meu padrinho disse preocupado enquanto dançávamos para disfarçar o ocorrido- E você não hesite em usar qualquer meio para se defender.

—Obrigada! - Digo e soltou uma risada quando eu vejo os olhares incrédulos ao ver Snape dançando- Eles parecem que foram estuporados

A Pista de dança se esvaziou imediatamente porque todos pareciam querer presenciar aquele momento histórico...O dia em que o Morcegão da Sonserina se portou como um ser humano normal e dançou com sua afilhada, mas essa era uma verdade que poucos sabiam, ele não era mais tão frio e ranzinza comigo desde que comecei a morar com ele.

Na verdade, ele era muito legal comigo, se preocupava com o meu bem-estar e a minha educação como qualquer pai de verdade faria.... Eu poderia de fato ser a única a derreter aquele coração de gelo do meu padrinho?

—Não pense que eu não percebi a proximidade entre você e Diggory.

—Vai me dizer que vai dar uma de padrinho super protetor e apavorar o menino? - Digo com uma risadinha- Tecnicamente não temos nada ainda.

—Mas você gosta dele desse jeito Isabelle?

—Sim- senti as minhas bochechas esquentando novamente só de admitir- Eu acho que sim, ele me deixa com sentimentos muito estranhos e confusos.

—Hmmm- ele fingiu estar analisando a situação antes de falar- Então o que está esperando?

—Padrinho! - Exclamei constrangida e não demorou para Snape me conduzir de volta para o Cedrico Diggory que estava me esperando com dois copos de refrescos na mão.

—Eu estou de olho em você Diggory entendeu? Se fizer ao menos um movimento brusco que eu não gostar com a Isabelle, não só a sua casa vai perder todos os pontos como vai ficar em detenção comigo pelo resto da sua vida.

Cedrico assentiu com a cabeça ainda apavorado e esperou Snape sair de cena para pegar a minha mão novamente, porém quando íamos começar a dançar de novo, a música foi trocada para uma batida alta, pulsante e ritmada de música eletrônica.... Eu apenas ri da clara frustação dele e comecei a dançar de acordo com a música puxando para fazer o mesmo, enquanto eu vi pela visão periférica Rony e Harry sentados com seus respectivos pares e entediados.

E pela primeira vez em uma semana eu voltei a sentir compaixão para com os meu irmão e meu amigo, o que foi repentino considerando que eu estava ficando cada vez mais apática enquanto avançava nos estudos da arte das trevas.

—Vocês precisam de alguma companhia?

—Por que? Depois de tanto tempo se afastando de nós, você agora que voltar e ser amiguinha- Harry perguntou irritado- Diggory não está dando conta do recado ou sua tentativa de se amostrar para todos o irritou

—Eu não estou me amostrando seu idiota- retruquei irritada- Eu vim do jeito que eu quis e ninguém tem a ver com isso, nem você para se sentir acomodado.

—E o fato de ser o centro das atenções nessa droga de baile não lhe agradou nenhum pouco né? Conta outra Isabelle.

—E por que você está tão incomodado Potter? Será que é porque pela primeira vez em anos você não é o centro das atenções? Ninguém está focado no menino que sobreviveu?

—DROGA ISABELLE! NÃO é SOBRE MIM! É SOBRE VOCÊ- Harry explodiu- NÃO VÊ QUE O IDIOTA ESTÁ SÓ TE USANDO PARA CAUSAR CIÚMES NA CHO? TAMBÉM ELE É MUITO VELHO PARA VOCÊ, E ESTÁ LONGE DE TE MERECER.

—Ah é? - Disse com um sorriso de deboche- E quem me merece? Você? Que me tratou como o seu estepe para ir ao baile? Isso é ciúmes possessivo e que eu saiba não sou sua, nem de ninguém.

Depois daquilo eu sai em disparada correndo com os saltos para fora do palácio, eu me sentia tão idiota em tentar acertar as coisas com o Harry, eu tento ser empática e legal com ele? E é isso que eu ganho.

Talvez Bartô Crouch Jr tivesse razão e seja melhor eu cortar tais relações que só servem para me atrasar e me enfraquecer.

Eu me sentia tão decepcionada com Harry e comigo mesma que nem conseguia prestar atenção para aonde estava indo, apenas senti uma dor excruciante e cai encontrando o chão, foi quando cai na grama do jardim que não conseguia mais segurar as lágrimas.

Eu chorei tudo o que minha dormência de emoções não havia me deixado chorar durante tanto tempo, chorei por causa do que acontecera a segundos atrás, chorei por ter deixado Cedrico sozinho no baile sem nem avisar antes, chorei por ter sido tocada de maneira tão nojenta por Karakaroff, chorei pelo o que estava me tornando, e chorei por me sentir tão impotente quando deveria estar era me tornando cada vez mais poderosa.

Até que eu senti uma mão no meu ombro me confortando, eu levantei os olhos e encontrei lá Cedrico Diggory me olhando com um olhar de preocupação e carinho inestimáveis, ele se ajoelhou ao meu lado e examinou minha perna exposta.

—Você torceu o pé Izzy, por que saiu correndo de salto? O que Harry te disse de tão ruim?

Me senti envergonhada por ele já saber o que havia acontecido, mas eu resolvi ser franca e me abri com ele o contando exatamente o que aconteceu em nossa discussão.

—Não é verdade você sabe, não estou te usando para fazer ciúmes na Cho, de jeito nenhum eu faria algo assim com você...Nada do que o Harry disse tinha algum contexto na verdade.

Eu senti um soluço subir a minha garganta então apenas o puxei para mim o abraçando apertado molhando o paletó dele de lágrimas, mas Cedrico não reclamou apenas me abraçou mais forte acariciando meu cabelo suavemente como uma forma de me acalmar.

E deu certo, ao sentir o perfume amadeirado dele também era um calmante muito bom, as lágrimas foram diminuindo até cessarem.

—Se sente melhor? - Perguntou me pegando no colo já que eu havia torcido o tornozelo- Vou te levar para a enfermaria.

—Espere- disse colocando a mão no rosto dele acariciando a bochecha dele suavemente- Eu tenho que fazer algo antes.

Encosto meus lábios nos lábios dele, com necessidade e desejo pegando o garoto desprevenido totalmente de surpresa, mas ele logo retribui transformando meu selinho em um beijo de verdade, me beija com paixão e delicadeza, saboreando minha boca aos poucos. Mas eu não queria tanta gentileza, então fiz minha língua invadir a boca dele aprofundando o beijo e o tornando mais intenso, minhas mãos se enroscaram nos cabelos dele, causando um gemido de prazer que retumbou por sua garganta.

Nos separamos quando o ar se fez necessário, e eu soltou uma risada quando percebi que ele estava tímido, feliz e satisfeito, pois eu peguei exatamente tal pensamento da mente dele:

“ Finalmente consegui tirar o batom dessa boca que me enlouqueceu a noite toda”  

—Eu gostava do meu batom para sua informação e eu quero ele de volta- digo com um tom divertido beijando o de novo dessa vez apenas um selinho para provoca-lo, percebi que ele estava meio assustado por eu ter respondido o seu pensamento- Não estávamos indo para a enfermaria?

***

—Está pronta? – Cedrico me perguntou preocupado quando estávamos prestes a pular no lago negro para a segunda prova do torneio, o vi guardando o meu medalhão no bolso depois que havia o entregado.

—Mais do que pronta- respondi com um sorriso engolindo de uma vez a poção que eu havia feito com DNA de sereiano que me permitirá respirar debaixo d’ água.

 A Partida foi dada e eu me lancei nadando e pensando na pista daquele ovo, o que diabos eu precisava buscar lá embaixo? O que tinham tirado de mim e dos outros campeões?

Após nadar mais um pouco eu consegui ver o que de fato haviam acontecido, o que não era objetos e sim pessoas.

Gina! A única Weasley que nunca havia mentido para mim ou me decepcionado.

Na hora em que eu avistei minha irmãzinha naquele estado, meus olhos se tornaram tão vermelhos quanto o sangue, frios e perigosos, o que fez os malditos sereianos se afastarem amedrontados.

E eu vi que ao lado dela estavam Cho Chang ainda vestida com o seu vestido estupidamente rosa e a tiara de uma princesa, o que fez algo no meu sangue ferver de raiva ao constatar de que ela “o que” o Cedrico precisava resgatar...Lá também estavam Hermione, o “o que” de Vitor Krum e o Rony, “o que” de Harry.

Então eu tirei minha varinha fazendo um feitiço para destruir as cordas que prendiam a Gina e a segurei pelos ombros, meu tornozelo ainda estava machucado o que dificultava bastante minha natação, mas eu não tive coragem de contar para ninguém e não participar da prova. Cedrico até tentou me convencer, mas não foi capaz de vencer minha teimosia.... Então eu fiz uma poção para anestesiar qualquer dor que eu pudesse vir a sentir e estava nadando mesmo não tendo total capacidade de fazer isso.

Encarei os sereianos e um sorriso malicioso surgiu nos meus lábios, eu ainda estava longe de esquecer o jeito que Harry Potter havia me tratado no baile de inverno, então essa seria minha vingança perfeita.

—Imperio- murmurei o feitiço com vontade contra os sereianos- Quando um garoto magricela de olhos e com uma cicatriz na testa aparecer aqui, vocês o atrapalharão o máximo possível e não o deixarão ir até que todos os outros já tenham subido para superfície.... Esqueçam os outros, e se concentram apenas nele.

 Subi com dificuldade por causa do tornozelo e do peso morto de Gina, mas eu fiz um feitiço para acelerar meus movimentos o que conseguiu me garantir o primeiro lugar…Eu sabia que o que havia sido feito era mesquinho e uma trapaça sem tamanho, mas não podia me importar menos quando sentia o gostinho tão bom da vingança nas minhas veias.

Assim que respirei o oxigênio novamente, pontos pretos começaram a dançar sob a minha visão e eu estava me sentindo cada vez mais fraca, meu corpo entrou em uma sobrecarga por causa do tanto de esforço que eu o obriguei com um feitiço a realizar...A última coisa que eu vi foi o olhar preocupado de Cedrico na minha direção quando o mesmo retornou com a Chang, depois tudo ficou escuro.

***

Assim que eu consegui fugir da ala hospital depois de receber mil e uma broncas da médica e do diretor dizendo que eu não deveria colocar a minha saúde em risco daquela maneira, que eu deveria ter dito a verdade sobre ter torcido o tornozelo daquele jeito tão idiota, não deveria ter usado o feitiço para anestesiar a dor pois a dor é a maneira do corpo de avisar que algo estava errado, e que muito menos ainda não deveria ter usado um feitiço para sobrecarregar ainda mais o meu corpo exausto de esforço...Depois disseram que com uma ação irresponsável dessas eles deveriam me expulsar do torneio, mas que não poderiam fazer isso por ser um contrato mágico inquebrável.

Nenhuma novidade

Entrei no banheiro feminino já esperando Bartô Crouch Jr lá, mas para minha surpresa ele carregava um idosos acorrentado e inconsciente.

—O que significa isso?

—Ele se infiltrou no seu quarto e estava tentando colocar uma armadilha na sua cama- respondeu como se fosse algo usual- A sua cobra mordeu esse intruso e me chamou para dar um jeito nele.

—Estranho isso- disse ajustando meu medalhão de volta no meu pescoço, então disse as palavras em ofidioglossia abrindo a câmara.

***

—Estava te esperando acordar, estávamos praticando aqui uns métodos de tortura que adoraríamos testar em você.

—Então você não sabe mesmo que eu sou- ele desdenhou em ofidioglossia enquanto observava a câmara com interesse- Minha Sobrinha Neta.

— O que esse louco tanto fala em língua de cobra? - Crouch perguntou alheio a tudo o que estava acontecendo.

—Ele diz que é meu tio avô- respondi embora com a voz pingando desprezo- Não digo que acredito em mas se por obséquio for verdade, por que tentaria me matar?

—Toda família tem seus problemas- ele respondeu com ironia ainda apenas em ofidioglossia.

—Se você só quer falar em língua de cobra, tudo bem-disse entrando na onda e o respondendo em ofidioglossia- Como conseguiu se infiltrar em Hogwarts?

—Com a ajuda de um admirador seu em Hogwarts, infelizmente não posso dizer quem.

—Não precisa me dizer, eu descubro sozinha- falei me concentrando no meu poder legilimência invadindo a mente dele- Então foi Karakaroff? Não sei por que não estou surpresa.

Eu vi aquele estranho gritar de dor ao ter sua mente invadida sem piedade, ele estava amarrado em uma cadeira no meio da câmara e impotente, mas de alguma forma eu não conseguia sentir um pingo de pena ou compaixão dele…A dormência de emoções havia voltado e mais forte do nunca, minha indiferença para com o sofrimento dos outros atingindo um nível assustador.

—Aguente Morfino Gaunt! Não sou uma cirurgiã de mentes- digo com um sorrisinho de desdém brincando nos meus lábios- Eu estou mais para uma açougueira de mentes e vou extrair cada pensamento e cada lembrança que você já teve nessa sua vidinha miserável até que eu esteja satisfeita.