Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 8
Um problema por vez




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Sábado, 7 de outubro.

O sábado amanhecera ensolarado. O vento frio tinha ido embora, e restava apenas uma brisa agradável. Não havia nuvem alguma no céu, que apresentava um impecável azul. Aquele clima era maravilhoso: não estava frio a ponto de agasalhar-se, e não estava o calor que deixava qualquer passeio insuportável. Seria um perfeito dia para uma visita a Hogsmeade.

Os alunos, em sua grande parte, estavam de pé desde as sete horas. Tomavam um café da manhã reforçado, e muitos já estavam no Hall de Entrada esperando a chamada ser feita, para finalmente irem para o povoado bruxo. Os terceiroanistas estavam eufóricos - como sempre seria na primeira visita deles -, enquanto os outros anos permaneciam mais calmos, mas não menos empolgados.

"Por Merlin, é apenas uma visita idiota." Draco comentou irritado, quando mal conseguiu entrar no Salão Principal para tomar seu café da manhã.

"Você também estava assim no seu terceiro ano."

"Nós não interditamos o Hall de Entrada no terceiro ano, Zabini." disse, finalmente sentando-se e pegando uma xícara de café. Viu que o amigo ia falar alguma coisa e se adiantou. "Eu preciso de pouco para conseguir suportar um dia, café é uma dessas coisas, fique quieto."

"Eu não quero ninguém atrás de mim em Hogsmeade reclamando de enxaqueca."

"Eu não vou hoje." Blaise o olhou surpreso, mas Malfoy não explicou nada antes de continuar. "Flint vai, não vai?"

"Não o vi por aqui ainda, mas imagino que sim." O sonserino estranhou a curiosidade do amigo. "Por que algo me diz que alguma coisa aconteceu ontem a noite?"

"Zabini, não comece com sua intuição novamente, ok?" Draco falou, já terminando o café, e enchendo novamente a xícara, que para seu gosto poderia ser maior. "E não fique se vangloriando se eu disser que ela está certa." Respirou fundo e olhou ao seu redor, aliviado pelos poucos sonserinos que restavam naquela mesa estarem numa distância considerável deles - mais ainda por Pansy não ser um deles. "Eu vou resumir, e já adiantar que não quero falar sobre isso. A ruiva caiu em cima de mim ontem a noite porque Flint estava atrás dela. Eu não sei se ele me viu a tirando das masmorras. Eu não sei porque ele estava atrás dela - além dele ser um psicopata doente."

Draco agradeceu pelo silêncio que seguiu por alguns minutos.

"Não faz sentido."

"Eu sei."

"Vocês tem uma aposta nessa garota, mas não faz sentido ele ir atrás dela." Draco concordou outra vez.

"Ele estava bêbado. É capaz que nem ao menos se lembre disso hoje, é capaz que ele nem acorde hoje." Esperava que aquilo fosse verdade. "Ela me beijou." Os olhos do loiro escuro novamente mostraram surpresa. "Eu sei, não faz-"

"Faz sentido." Blaise respondeu, pensativo. "É por isso que você vai ficar?" Draco deu os ombros. "Vocês ainda tem uma aposta, não tem?"

"Não lembro de ter desistido." Mais um gole de café, acompanhado de uma torrada. "Mas eu nunca faria isso com a Weasley. Seria só um beijo, alguns dias me encontrando com ela. Não é como se ela fosse sentir realmente algo por mim, como se eu fosse fazer algo como ele." disse, incomodado. "Seria inofensivo. Não?"

"É engraçado, você já a trata melhor do que trata Parkinson." observou Blaise com um sorriso no canto dos lábios.

"Eu não trato Pansy mal." O olhar que o outro bruxo deu não precisou ser traduzido em palavras. "Ela está comigo porque quer, Zabini! Ela pode ir embora a hora que quiser, eu não a obrigo a nada."

"E também não a manda embora-"

"Eu a mando embora todo dia!"

"Malfoy, você me entendeu. Para você, ela é seu passatempo. Para ela, não é bem assim."

"Então eu deveria terminar tudo?" Ele sabia que sim.

"Agora é o melhor momento, ainda mais se você quer manter essa aposta idiota." Zabini levantou-se com uma torrada na mão. "Bem, faltam cinco minutos para a chamada começar, e eu combinei de encontrar uma pessoa no povoado."

"Alguém? Aquele corvinal?" Blaise negou. "Já está com outro?"

"Quem é você para falar?"

...

Ginevra não tinha descido para o café naquela manhã. Observava da sua janela os alunos entrarem nas carruagens para a visita daquele dia, ao seu lado um pote de biscoitos que sua mãe havia lhe mandado no começo do ano letivo. Viu Colin conversando com quem ela se atrevia a dizer ser seu novo paquera - um aluno loiro, bem mais alto que o moreno - segundos antes de ambos sumirem dentro de uma carruagem.

Olhou para o dragão de pelúcia, que repousava junto com o lenço do sonserino sobre sua cama, sua mão tocando seus lábios. Procurou novamente o bruxo da noite passada entre os alunos, mas ele parecia não estar presente entre os estudantes que iriam para Hogsmeade. Na sua cabeça, três perguntas permaneciam sem resposta: o que estava acontecendo com Ronald, como um dragão de pelúcia acabou dentro de sua capa, e o que havia lhe possuído para dar um beijo no pior inimigo do seu irmão.

Respirou fundo, um pouco aliviada por também não achar Rony entre os presentes na entrada do castelo. Ela não iria para o povoado, então encontra-lo no salão comunal e tentar descobrir a causa de toda a sua hostilidade em relação a Hermione era um dos objetivos do dia.

Quando viu a última carruagem partir, resolveu não perder mais tempo, guardou o dragão e o lenço dentro de seu baú e empurrou os acontecimentos da noite passada para longe de sua cabeça.

Um problema por vez.

Desceu com a ideia de começar a procura-lo no salão principal, mas não precisou ir mais longe do que o salão comunal para achar o ruivo. Ronald estava largado em um sofá, parecendo ler um livro que tratava de quadribol, e nem mesmo percebeu a irmã entrar na sala.

"Ron?" O rapaz não deu-se ao trabalho de olhar para a fonte da voz. "Rony," Ginevra se aproximou, colocando uma mão no livro para chamar a atenção do grifinório, que acabou olhando-a com uma cara de poucos amigos.

"O que você quer?" o bruxo perguntou com uma voz irritada.

"Quero saber o que está acontecendo entre você e a Mione." A menção da amiga só o fez fechar mais a cara.

"Você quer saber o que está acontecendo entre a gente?" Ronald deu um sorriso seco. "Porque você não faz ideia, certo?" ele continuou, fechando o livro sobre o sofá. "Ginevra, sério, o que você quer aqui? Por que não está se divertindo com os seus amiguinhos?"

"Rony, eu fiquei preocupada-"

"Preocupada o caralho! Se você estivesse preocupada, você agiria totalmente diferente de como agiu!" A jovem, por um momento, ficara totalmente sem palavras ante a atitude agressiva do irmão.

"Ron, o que eu fiz-"

"Não recebeu convites suficientes para me dar paz pelo menos esse sábado? Ou está aqui porque não recebeu o convite dele?" A ruiva sentiu a pontada que sempre sentia quando alguém trazia à tona aquele assunto.

"Você não precisa ser um completo babaca, sabia?"

Saiu do salão comunal com passos rápidos, desejando poder bater atrás de si o quadro da mulher gorda. Estava querendo matar o irmão, ao mesmo tempo em que se arrependia de ter perdido a visita num dia como aquele, quando percebeu sua pequena vitória: a pontada de antes não fora acompanhada de nenhuma lágrima.

Ela não havia recebido o convite do menino que sobreviveu, e, engraçado: aquilo não doía mais como antes.

...

Ficar no castelo tinha sido sua melhor decisão naquele dia ensolarado, sem dúvida. Sem Pansy, sem Flint, sem precisar pensar em quaisquer de suas obrigações e sem ninguém para lembra-lo disso. Eram poucos os dias como aquele, e futuramente seriam ainda menos frequentes, então nada melhor do que aproveitar os dias de paz que lhe restam.

Ele iria conseguir cumprir sua tarefa, não tinha dúvida que conseguiria. Ele precisava conseguir. Lembrou-se de Katie Bell e de como tudo havia dado errado naquela primeira vez, e de como queria ver-se livre daquela responsabilidade enorme, imposta para ele graças ao nome e falhas de seu pai. E maldição, lá estava pensando novamente naquilo.

Só preciso de um tempo sem me preocupar.

Andava pelo jardim do castelo em direção ao lago quando avistou a bruxa da noite passada. Sua aposta estava sentada num tronco caído de um pinheiro, uma expressão um tanto quanto irritada no rosto. Atirava pedras nas águas escuras, não parecendo percebe-lo se aproximar. Veio um pensamento em sua mente: sempre a achava quando menos procurava.

"Quer dizer que a pequena grifinória não foi para Hogsmeade?" A viu dar um pulo quando ouviu a voz, mas em nenhum momento o olhou. "É um belo dia para se perder jogando pedras no lago." Ginevra permaneceu virada para o lago, pegando uma pedra maior do que as anteriores e a jogando para o fundo, ignorando o rapaz.

Quem ela acha que é?

"Sabe o que melhoraria esse dia? Um beijo." Draco provocou, esperando que aquilo enfim fosse conseguir alguma reação.

E a reação veio, mas não foi exatamente a que ele esperava. Viu a jovem levantar-se e começar a caminhar para longe dele, e mais uma vez lhe veio a cabeça como aquela Weasley era imprevisível.

"Ei, ei! Espera!" O sonserino entrou na frente da bruxa, bloqueando seu caminho e a fazendo bufar. "Weasley-"

"O que você quer agora, Malfoy?" escutou Ginevra falar como se quisesse arremessar todas as pedras jogadas no lago nele. "Você por um acaso veio jogar na minha cara a noite passada? Porque se sim, por favor, me deixe ajudar! Sim, você me salvou ontem! Sim, eu te beijei ontem! Você quer seu estúpido lenço de volta?" A ruiva parou para respirar. "Ou por acaso veio atrás de mais agradecimento?"

"É claro." O jovem falou sem pensar, a grifinória o olhando como se ele fosse louco. "Que não!" tentou arrumar, ele mesmo não sabendo o que o possuíra para dar tal resposta.

"É claro que não! Porque eu sou uma Weasley, e você é um maldito Malfoy, e vamos estabelecer uma coisa aqui," Ginevra gritava, enquanto apontava um dedo para o rosto do loiro - Draco só agradecia mentalmente pelos jardins estarem vazios. "A partir de agora, eu nunca, NUNCA, beijei você, em nenhum momento da minha vida!" O rosto da bruxa estava já da cor do seu cabelo quando seus olhos se encontraram novamente.

Foi então que aconteceu: em um minuto ele recebia olhares de morte, e no próximo, aqueles olhos castanhos estavam fechados, sua dona segurando a barriga, praticamente lacrimejando de tanto rir.

Imprevisível.

"Você está se sentindo bem, Weasley?" Mas ele mesmo não conseguiu evitar um sorriso que se formava no canto de seus lábios ao ouvir aquela risada despreocupada. Era estranho olhar para a jovem e sorrir daquela forma, mas era impossível impedir-se de ao menos sorrir - já era difícil não acompanha-la no riso contagiante.

"Desculpa," Ginevra tentava recuperar o fôlego após alguns minutos, enxugando com os dedos os cantos dos olhos. "Merlin, eu precisava disso."

"Precisava gritar com alguém, pequena Weasley?"

"Muito." Seus olhos se encontraram outra vez. "É a segunda vez que tenho que te agradecer - e meu Merlin, estou agradecendo um Malfoy."

"Fique à vontade." Draco falou, dando um sorriso astuto, mas a bruxa pareceu ignorar sua resposta, no momento seguinte sentando-se outra vez no tronco, catando outra pedrinha do chão e jogando-a no meio do lago.

Ele provavelmente deveria ter ido embora. Se tivesse se virado, com certeza evitaria diversas futuras incomodações e complicações em sua vida. Se ao menos ele tivesse saído dali, e não sentado-se ao lado da grifinória, vangloriando-se internamente pela ideia que tivera para passar mais tempo ao lado dela, talvez a aposta tivesse sido desfeita ainda naquela semana. Mas esquecer do problema principal daquele ano era tão fácil naquele momento - e esquecer aquilo ao lado dela estava se mostrando ser mais prazeroso do que imaginava.

"Pequena Weasley-"

"Meu nome é Ginevra." a jovem informou quando Draco sentou-se ao lado dela. "E não pequena."

"Prefere Weasley?"

"Prefiro Ginevra." a viu ponderar por um instante. "Mas é estranho você me chamando de Ginevra."

"Então quer que eu te chame de Weasley?" Mais um olhar irritado. "Fico com o Ginevra, então."

Os dois permaneceram em silêncio por minutos, a bruxa incansavelmente jogando pedras nas águas do lago. Draco por um momento apenas observou a garota, quieto, tentando descobrir se o aborrecimento no rosto dela era culpa da presença dele ou de um outro fator qualquer. E então, pegou uma pedra também, a dele quase dobrando a distância da dela.

"O que você quer, Malfoy?"

"Eu estou com problemas." finalmente falou. Claro, problemas. Problemas que você nem imagina. "Mudei algumas aulas esse ano, e tive que começar a aprender Latim. Só que eu sou uma negação para línguas," mentiu descaradamente: o sonserino que era fluente, não apenas em latim, como também em italiano. "Estou muito atrasado, e vou repetir se não conseguir melhorar logo."

"Quem te disse que eu era boa em Latim?" Blaise Zabini, e como ele tinha acesso àquela informação, Draco não fazia ideia. "Foi a professora Grossinger que deu a referência?"

"Ela disse que você era uma das melhor alunas." Outra mentira. "E já que você quer tanto me agradecer, eu prefiro que me agradeça dessa forma." Inconscientemente, mais outra.

"Bem," ela olhou-o, como se tentasse entender o que estava acontecendo. Por um momento, achou que a ruiva fosse mesmo entender que aquilo tudo era uma grande mentira, tamanha profundidade que aqueles castanhos olhavam os seus cinzas. "Eu não sei." Finalmente respondeu. "Eu vou pensar, ok?"

Draco fez que sim.

"Um talvez é o suficiente para mim agora."

E ambos voltaram a observar o lago.

...

O relógio do salão comunal marcava dez para as seis - em alguns minutos, aquela sala estaria novamente cheia de alunos com histórias e compras do vilarejo bruxo. Ginevra aproveitava seus últimos momentos de silêncio, tentando finalizar as lições de DCAT antes de todo o barulho voltar, quando uma voz chamou sua atenção.

"Gina, posso sentar?"

"O que você quer jogar na minha cara agora, Ronald?" perguntou aborrecida, nem mesmo levantando sua cabeça. Houve um minuto de quietude antes da grifinória enfim olhar para o irmão, seus olhos achando os castanhos inchados dele, aquilo a fazendo esquecer-se completamente de sua irritação. "Rony-"

"Eu vou ser rápido, ok?"

"Senta, Ron." Tirou alguns livros do seu lado, dando espaço para o ruivo que não tardou a desabar no sofá vermelho.

"Eu queria pedir desculpas," ele falou, um pouco sem jeito. "Por hoje de manhã. Não deveria ter falado aquilo Gina, eu sei como foi difícil ano passado, quando você começou a sair com o Corner."

"Não foi tão difícil." confessou, um pouco surpresa por o irmão tocar no nome de Michael, que ele havia odiado por uma boa parte do último ano letivo. Graças a Merlin Dino não havia provocado a mesma reação. "Vocês ainda estão brigados, não é mesmo?" O irmão entendeu a quem ela se referia.

"Eu estou tentando melhorar. Temos que ser uma equipe, afinal." ele hesitou por um momento, mas logo continuou. "Mesmo que ela esteja com Krum, temos que ficar unidos agora." Ronald admitiu, e Gina perdeu toda a braveza de minutos atrás. Então ele sabia.

"Isso vai passar." Ginevra disse, entendendo muito bem sobre o que aconselhava. "Eu sei que passa, mesmo que demore um pouco. A gente não controla o coração, é uma droga. Você conhece uma pessoa, às vezes por meses, outras vezes por anos, e de repente, do nada, surge aquele sentimento, sem nem mesmo avisar. Eu sei que é muito ruim quando esse sentimento não é correspondido Rony, mas te garanto que passa."

"Eu ouvi vocês conversando na biblioteca, terça de tarde." Estava finalmente tudo explicado. "Você podia ter me contado, sabe?"

"Desculpa."

"Mas você tinha prometido que não contaria. E a minha irmãzinha é uma pessoa confiável, não é mesmo? Eu nunca poderia ficar bravo com você por isso Gina. E eu nunca deveria ter dito aquilo, foi cruel."

"Está tudo bem, sério. O fato de você, o maior cabeça dura que conheço, me pedir desculpas, já é o suficiente." ela deu um sorriso, o bruxo retribuindo-o com um melancólico. "Além disso, eu nem fiquei magoada. Não é como se ainda fosse cega de amores pelo seu amiguinho, Rony." falou o que repetia já fazia um ano, e nem notou que, pela primeira vez, seu coração estava falando a verdade.


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Notas finais do capítulo

Tks pra todos acompanhando, o que estão achando da fic?
Beijão,
Ania.



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