Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 7
Leões de chocolate




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Sexta, 6 de outubro.

A aula de Defesa Contra a Arte das Trevas estava sendo um verdadeiro inferno para a ruiva naquele ano: primeira aula de sexta junto de sua casa favorita - só que não.

"Os professores provavelmente descontam toda a raiva que sentem na formação desses horários." Ginevra ouvia uma grifinória algumas cadeiras atrás dela reclamar, quando a casa perdeu mais dez pontos. "Não tem outra explicação para um professor misturar a Grifinória com este bando de cobras!" Ela mesma amaldiçoou os sonserinos mentalmente, por serem os preferidos de Snape.

Não era novidade que Ginevra odiava aquela raça de cobras falsas. Assim, quando as aulas daquelas duas turmas eram no mesmo horário, algumas vezes acontecia uma reação em cadeia: o ódio que sentia se transformava em irritação, que se transformava em dor de cabeça, que gerava ainda mais ódio. Resumindo, em aulas com sonserinos, as chances da grifinória ficar estressada e com uma certa dor de cabeça eram grandes.

Mas aquele dia era um dos atípicos. A bruxa estava calma: até podia abrir a boca para xingar as cobrinhas vez ou outra, mas aquilo não conseguia afetar seu estado de espírito. Estava tão irritantemente tranquila que chegou um momento em que não sabia se era ela a avoada ou se era Snape quem estava com um mau humor acima do comum.

Mais cinco pontos perdidos por não estar anotando cada sílaba proferida pelo professor de DCAT.

"Preste atenção, senhorita Weasley." ele disse, passando e dando um tapa de leve na cabeça da jovem.

Começara a fingir que anotava algo, mas sua mente estava longe - especificamente na carta guardada em um dos bolsos de sua mochila. Começou a fazer inconscientemente um vago desenho de um coração no canto do livro, enquanto sua cabeça pensava quase feliz que tinha um admirador secreto - que bruxo tinha aquelas iniciais?

Pelo menos não é Neville. Pensava, aliviada pelo rapaz ter aparentemente desistido de chama-la para sair.

Suspirou.

"A senhorita Weasley pode responder a pergunta?" Quando enfim escutou Snape lhe chamar, este já não estava mais com a melhor das expressões. Mas que droga.

"Pergunta?" 

Pelo canto do olho conseguia ver uma grande parte dos grifinórios lhe lançando olhares um tanto quanto assassinos. Colin comeηou a balançar uma das mãos desesperadamente, tentando responder no lugar da amiga, enquanto Leon, sentado na carteira de trás, tentava lhe passar pelo menos a questão. Mas ela não fazia ideia do contra feitiço para aquela azaração, e mesmo se soubesse, não teve tempo suficiente para responder.

"Cinco pontos, Weasley." escutou, ao mesmo tempo em que via seu amigo tentar gesticular a provável resposta - que Gina não fazia ideia do que poderia ser, também. "Não consegue pensar na resposta nem mesmo com o senhor Creevey lhe passando uma tão discretamente?" A face da ruiva ficou vermelha como um tomate, enquanto a grande parte dos sonserinos riam. "Mais cinco pontos, Creevey." Colin tentou reclamar, mas Snape continuou antes que ele pudesse começar a falar. "E mais cinco, Thompson, por tentar passar o que quer que seja para a senhorita Weasley." Ela escutou Leon bater a cabeça na mesa, murmurando com alguma tristeza 'quinze pontos'.

Calma Virginia. Poderia ter sido pior, poderia ter sido pior.

"Detenção Weasley, oito horas." Era pior. "Fique aqui após a classe para conversarmos melhor." Era bem pior. "E pare de desenhar corações no livro de minha matéria. É completamente desnecessário, para não dizer irritante."

Todo seu bom humor foi embora.

...

"Sabe, eu tive um certo trabalho para conseguir esse dragão estúpido." Draco já ouvia Zabini reclamando de seu esquecimento pela quarta vez.

Desde o começo daquele dia, tudo dera errado para o loiro. Levantara atrasado, dando de cara com Pansy no salão comunal, tinha perdido pontos em quase todas as aulas do período da manhã e ainda não havia pensado em como mandar a maldita pelúcia - esse último item já lhe dando uma dor de cabeça enorme.

"Pelo menos comece a pensar em um jeito de mandar essa coisa." o sonserino falou, colocando mais purê de abóbora no prato. "O plano - já que insistiu tanto para enviar o pedaço de papel - era mandar o pergaminho na frente de todos os bruxos para demarcar um pouco o território, você sabia, não sabia?"

"Não tenho culpa de ter uma coruja eficiente." respondeu, enquanto deitava a cabeça na mesa, o prato sendo empurrado para o lado.

"Aquela ali é sua ruiva?"

"Não sei." Nem se deu ao trabalho de levantar a cabeça.

"Ela está com alguém que você não vai gostar de ver." Os olhos cinzentos do rapaz não demoraram a voltarem a vagar pela mesa grifinória, até encontrarem uma cabeça vermelha no meio daquela multidão. "Achou?"

"Storms." reconheceu o corvinal, sua voz saindo um pouco irritada. Piorou ao vê-lo sentar-se ao lado dela. "Ah, qual é a desse bruxo?" Desviou o olhar, tomando mais um gole de chá.

"Você deveria fazer alguma coisa."

"Tipo o que? Ir até lá e convida-la para sair? Sentar ao lado dela? Falar para a Weasley o quão irritantemente irritante está sendo essa aposta hoje?" resmungou, voltando a olhar para a bruxa. Ela estava com os cabelos presos num rabo de cavalo naquele dia, mas ainda assim eles continuavam enormes e chamativos. Lembrou do momento dos dois na quarta feira e uma mão foi para sua cabeça, sem pensar. "Eu não sei como chegar perto dela, Zabini. Eu não faço ideia do que fazer."

"Você deveria mandar algo com seu nome."

"Nunca."

"Deveria chama-la para sair, depois disso."

"Claro que não."

"Beija-la na frente de todo Salão Principal." Malfoy o olhou como se o amigo estivesse louco. "Essa última não foi uma sugestão tão séria. Não precisa olhar como se quisesse me matar."

Seus olhos voltaram para a ruiva, com certo alívio ao ver o corvinal levantando-se da mesa. Nunca que seria assim fácil fazê-la sair com ele, e sua dor de cabeça aumentou mais ao pensar em como não deveria fazer apostas bêbado, ainda mais com Flint. Algo que deveria ser só uma distração, a única que teria naquele ano, durante aquele mês apenas, já estava sendo um arrependimento - e não havia nem mesmo um prêmio definido para o vencedor.

"Ultimamente meu temperamento só tem motivos para estar lá em cima."

"Flint outra vez?"

"E mais algumas coisas que não valem ser comentadas agora." Já sentia sua cabeça explodir. "Precisava de um medibruxo decente nesse colégio."

"O estoque de balas com poções para enxaqueca já acabou?" Malfoy negou com a cabeça.

"Minha mãe não vai conseguir enviar mais esse ano." Infelizmente. "Mandar qualquer coisa por corujas para cá não está sendo muito fácil, pelo que fiquei sabendo. Estou salvando algumas para os dias piores, o ano mal começou." disse com pesar, enfiando o rosto nas mãos.

"Vai ficar com uma enorme, não é mesmo?" Draco se limitou em murmurar uma afirmação. "É a terceira vez essa semana. Draco Lucio Malfoy, ou você relaxa um pouco, ou vai acabar surtando."

"Não é como se eu não estivesse tentando."

Ele nem reparou que seus olhos voltavam pela terceira vez naquela noite para a garota de cabelos de fogo, que parecia estar lutando com outra aluna por um último pedaço de bolo de chocolate. Deveria ser bom ter esse tipo de preocupação, e ele talvez pudesse dar-se ao luxo de se preocupar com aquelas coisas insignificantes, pelo menos em outubro. Sem perceber sorriu, um sorriso suave, sem nenhum traço de deboche ou cinismo, tão típico do bruxo. Desviou o olhar apenas quando seus olhos se encontraram, o sorriso então sumindo dos lábios.

"Largue a Pansy e fique com essa bruxa." o outro sonserino sugeriu, e mais uma vez Malfoy o olhou confuso. "Eu nunca o vi sorrindo assim para garota nenhuma."

"Eu não estava sorrindo para-"

"Ginevra pode passar longe da beleza da sua namoradinha," Zabini continuou, ignorando o amigo. "E pode não ter um nome influente, mas com certeza não viveria agarrada em você, para não falar na voz, tão menos irritante. Ela pode até mesmo saber fazer alguma coisa para curar essas suas enxaquecas. Parkinson faz algo para melhorar isso, Malfoy?"

"Parkinson faz outras coisas." Draco respondeu, um sorriso totalmente diferente do de antes.

"E essas coisas ajudam nessas horas?" Não, não ajudavam. "Eu fico quieto - por enquanto. Mas dê uma chance para as mãos suaves da sua nova bruxa."

Mais uma vez seus olhos cinzas foram para a ruiva.

"Ela não tem mãos suaves." O amigo o olhou desconfiado. "Na biblioteca, quando nós ficamos bem perto," Ele começou a explicar. "Digamos que quando eu fiquei perto demais, ela puxou meu cabelo antes de cair no chão."

"Me fala que quarta, o fato dela ter saído correndo da biblioteca da mesma maneira que um lobisomem foge da prata não foi pelo motivo que eu estou pensando." Blaise repreendeu. "Me fala que você não passou a mão na garota que está tentando conquistar."

"Eu não passei a mão nela. Você acha que eu forçaria a bruxa a fazer alguma coisa que ela não quisesse? Isso é nojento!" E por um instante o outro sonserino pareceu aliviado. "Eu só cheguei muito, muito perto do pescoço dela com meus lábios." Zabini suspirou, balançando a cabeça.

"Você é um caso perdido, garoto."

...

Sentadas no salão comunal, as três alunas grifinórias acabavam as tarefas do dia enquanto jogavam conversa fora. Aquela sexta havia sido exaustiva, e os deveres estavam se acumulando até o pescoço graças ao novo e bondoso professor de DCAT.

Ginevra bocejou enquanto virava mais uma página do livro. Snape havia passado mais vinte para leitura, logo da parte mais entediante da matéria. Ok, pelo menos nem todas as lições eram para segunda-feira.

Mordia de leve a ponta da pena, tentando se concentrar na leitura, tarefa quase impossível com as duas pessoas ao seu lado não conseguindo calar a boca. Enquanto Ginevra queria acabar logo com os deveres, suas amigas queriam mesmo era saber o que Draco Malfoy tanto observava na ruiva durante o jantar.

"Gin, ele não tirava os olhos de você!"

"Ravenis, Draco Malfoy, olhando pra mim?" Qualquer pessoa daquela família olhando para ela não era um motivo de alegria, e sim de preocupação. "Por que aquele furão estúpido egocêntrico idiota gastaria o tempo que ele diz ser tão precioso olhando para mim?"

E por que eu estou pensando nisso em vez de me concentrar na droga do texto?

Leu o mesmo parágrafo pela quarta vez, fechando o livro e desistindo da lição.

"Ele provavelmente deveria estar pensando em mais uma maneira de infernizar a vida do meu irmão, ou pior, a minha!" Sati comentara como a ruiva estava pessimista naquele dia, e acabou recebendo um olhar mortal desta. "Eu vou passar a noite separando pernas de sapo e sabe-se o que mais para o maldito Snape! Dá pra ficar feliz com isso?"

"Ok, ok, vamos mudar de assunto!" Ravenis disse, mas o assunto não mudou tanto quanto Ginevra gostaria. "Já ficaram sabendo do escândalo que a Susana armou com a tal da Parkinson? As duas estavam prestes a começar um duelo por causa do - ai Gin, desculpa - Malfoy!"

"A Susana ainda acha que vai conseguir alguma coisa com ele?" Sati falava, fechando o livro de DCAT. "Nós avisamos tanto para ela ficar longe do Malfoy, mas tem gente que parece que não escuta." A japonesa terminou, sacudindo a cabeça.

"Ah Gina, conseguiu descobrir quem te mandou aquela coruja?"

"Na verdade, nem me preocupei mais com isso." O que era mentira: realmente queria saber quem era o dono daquelas iniciais. "Deve ter sido alguma brincadeira, algum bruxo desocupado, um engano-"

"Só porque acha que não é dele?" Raven perguntou, ganhando um olhar chateado da ruiva. "Gin, você não está ainda esperando esse bruxo, não é possível." A amiga a repreendeu. "Se apaixone pelo garoto da carta, se apaixone por Longbotom se quiser, mas não fique assim deprimida por um idiota que com certeza não te merece."

"Você sabe que queremos te ver feliz, não sabe?" A japonesa deu um tapinha nas costas de Gina. "E eu não acho que tenha sido um engano ou uma brincadeira. Pode ser qualquer um! Até mesmo o Malfoy!" A morena não a deixou interromper. "Ele não tirava os olhos de você na janta."

"Ele é o último, ouçam bem, o último garoto que me mandaria qualquer coisa que não uma maldição por uma coruja. E eu seria a última garota que olharia para ele, ok?"

"E quem seria esse garoto, heim Ginevra Molly Weasley?" A voz a pegou de surpresa, e ela quase pulou do sofá de onde estava sentada.

Atrás dela estava justo quem sempre tanto queria ver, junto de Hermione e Ronald - este último ainda parecendo afetado por algo que Ginevra desconhecia. Lembrou-se da conversa tida com a amiga na manhã de quinta-feira, e desejou saber se o mau humor de seu irmão permanecia igual ao que sua amiga havia contado.

"Nós já vamos para o quarto, Gin." Suas colegas de quarto levantaram-se, despedindo-se dela e do trio. "Não se esqueça do que conversamos, ok?" Ravenis adicionou, olhando discretamente para Potter, antes de subir.

"Conversas secretas, garotos," o garoto de óculos falava com um sorriso. "Nossa pequena Gina está crescendo!" Harry sentou-se ao lado da ruiva. "Quem é esse garoto? Pode falar no meu ouvido, eu não conto pro chato do seu irmão!" ele disse com a intenção de deixar o clima mais leve.

"Não é ninguém, Harry." a bruxa respondeu enquanto se levantava, após ver a hora no relógio do salão. Quase se esquecera da detenção! "Besteira dessas duas, só falam bobagens pra me provocar." Começou a guardar todo o material, não percebendo um pedaço de papel caindo no chão. "E como foi o dia de vocês?"

A ausência de uma resposta foi o que a fez olhar novamente para aquele grupo. Quando seus olhos chegaram no irmão, a bruxa ficou surpresa ao ver a raiva estampada na cara sardenta. Só ficou mais espantada quando viu Ronald lançar um olhar ameaçador a Hermione, logo em seguida levantando-se e indo em direção ao dormitório masculino sem mais uma palavra. Os três ouviram quando o garoto entrou no quarto, o barulho da porta batendo forte ecoando pelo corredor. Hermione despediu-se da amiga e também rumou para seu dormitório, ignorando o pedido de Ginevra para que ela ficasse.

"Nosso dia não foi tão ruim quanto eles acham." Mas a resposta veio num tom um tanto quanto frustrado. "Isso é seu, Gina?" Potter perguntou, segurando a carta que ela tanto escondeu de todos até aquele momento. "Quem é DLM?"

"É a pergunta que não quer calar." A ruiva brincou, pegando um pouco envergonhada o pergaminho das mãos do bruxo, colocando-o de volta dentro de um de seus livros. Com certeza não é você, pensou.

"Não é quem estou pensando, é?" Ela estranhou o tom preocupado na voz do amigo, mas assumiu que era alguma brincadeira.

"Não Harry, a carta não é de Longbotom, ou pelo menos eu acho que não é."

"Gina, DLM." Ela o olhou confusa, esperando uma continuação. "Não te lembra nada?" A jovem fez que não com a cabeça. "Draco Lucio Malfoy."

...

Draco saía da enfermaria com a cabeça duas vezes mais pesada do que quando entrou. Resolvera seguir o conselho de Zabini e ir procurar a ajuda da Madame Pomfrey, que fora menos eficiente do que sua ideia original: beber e dormir. Havia entrado na enfermaria no meio daquela noite. Saía dela era mais de dez horas. E ainda precisava entregar aquele maldito dragão, guardado dentro de sua capa.

Rumou para o salão comunal sonserino, tirando o bicho de dentro de seu bolso e o observando melhor pela primeira vez. O dragãozinho era todo em tons de verde, apenas com os olhos vermelhos, e segurava uma placa na pata esquerda, onde estava escrita a palavra fogo.

Que original.

Ainda com o dragão na mão, o rapaz entrou no corredor que dava às masmorras. Aquela parte do castelo já se encontrava escura naquela hora, poucas velas ainda mantinham-se acessas nos corredores úmidos. Querendo chegar logo em seu quarto, apressou o passo, andando com segurança pelo caminho muito conhecido apesar da pouca luminosidade.

Mas naquela noite o sonserino não era o único a andar por ali, e a outra pessoa que vagava pela penumbra parecia estar completamente perdida. Seu um minuto de desatenção ao virar um corredor o fez colidir com um corpo de cheiro conhecido, o bruxo caindo sobre o provável estudante desatento - mas que merda!

"Ai!" A pessoa resolveu gritar bem no seu ouvido, e aquela voz também era conhecida. Olhando melhor para a jovem embaixo dele, viu que era justamente a pessoa que tanto procurava nos últimos dias. Teria comemorado, não quisesse tanto sua cama.

"Então nos encontramos outra vez, Weasley."

"Me solta, Malfoy." A voz saiu mais alta do que ele gostaria, a ruiva o olhando de um jeito que o fazia sentir-se quase desconfortável. Com medo?

Foi um barulho inesperado de uma terceira pessoa que empurrou a enxaqueca do sonserino para longe. No mesmo instante, sentiu o coração da bruxa disparar embaixo dele, ao mesmo tempo em que escutou alguns passos vindos de um dos corredores em sua direção.

Não que fosse exatamente atípico alguém rondando aqueles corredores a essas horas da noite - e não, com certeza não era o zelador, quanto menos o diretor de sua casa. No entanto, a bruxa embaixo dele respondeu com um desespero tangível ao som dos passos.

"Quem é?" Aqueles olhos castanhos estavam aterrorizados, ele conseguia ver aquilo mesmo com a pouca luz naquele corredor.

"Malfoy, por favor," Os passos não pareciam rápidos, e ele mesmo gelou quando escutou uma voz conhecida chamar pelo nome da ruiva. "Malfoy, por favor eu só quero ir embora."

"Giiiiiiinnna," Era uma voz enrolada que a chamava. "Vamos ruivinha, eu só quero brincar um pouquinho!"

Porra, Flint? Era sério aquilo? Mas a bruxa-

Foi instintivo querer tira-la daí. O sonserino levantou-se com a jovem no segundo seguinte, a puxando pelo braço enquanto fazia um gesto de silêncio ao vê-la abrir a boca. Ginevra não parecia menos aterrorizada, mas não ofereceu resistência nenhuma quando Draco começou a puxa-la para a direção da qual viera, e em minutos eles estavam fora das masmorras. 

Por favor, me deixe ir. 

Sua dor de cabeça só aumentou com a lembrança e toda aquela luz na entrada do castelo. 

"Que diabos você está fazendo aqui a essa hora?" ele perguntou, sua voz saindo mais alta do que pretendia, sua mão ainda segurando forte o braço da ruiva. "Será que você não sabe que uma ovelinha grifinória não deve perambular pelos corredores sonserinos a essa hora da noite?" Mas a bruxa continuava muda. "Seus amiguinhos não podiam vir busca-la?" Estava com vontade de matar aquela idiota. "Ou a pequena Weasley acha que já é grandinha o suficiente para se defender dos garotos maus?"

Flint não tinha se mostrado a melhor das pessoas naquelas reuniões - naquela iniciação - mas então, ele poderia ser assim apenas com trouxas. Poderia ser assim apenas por necessidade de se afirmar no maldito grupo.

Mas Draco não faria metade do que o outro bruxo fizera. Sacudiu a cabeça, voltando a focar na bruxa.

"Weasley?"

 Mas não veio resposta alguma. A ruiva apenas o olhava, os olhos ainda estalados.

"Weasley, fale alguma coisa." Ela abriu a boca e fechou pelo menos umas três vezes antes do pior passar pela cabeça do sonserino. "Ginevra, o que ele fez?" A voz já saía preocupada, o bruxo nem mesmo percebendo que usara o primeiro nome da garota.

A resposta foi inesperada, talvez até mesmo para a jovem. Em um momento ela o olhava assustada, e no outro Draco sentia novamente o cheiro de baunilha tão próximo, a grifinória o abraçando como se sua vida dependesse daquilo, soluçando baixo. Sem se importar com as lágrimas molhando sua capa, ele retribuiu o abraço por um momento, esquecendo-se totalmente de quem era aquela garota.

Merlin, ela estava apavorada.

Por favor, me deixe ir. Eu só quero ir embora. Eu não falo pra ninguém, por favor...

Tirou um lenço do bolso e desta vez o entregou para a jovem, quebrando o abraço. A olhou com cuidado: Ginevra não parecia machucada, não via nada fisicamente errado além do susto, e suspirou aliviado ao descartar as possibilidades que passavam em sua cabeça.

"Vai, limpa esse rosto." disse com uma voz autoritária, e ela obedeceu no mesmo momento, sujando o lenço com restos de sua maquiagem. Ginevra respirou fundo, colocando uma mão no peito enquanto tentava se acalmar. "Escuta, eu não vou machucar você, ok? Está tudo bem." continuou, enquanto pegava a mochila que a ruiva havia abandonado no chão e voltava a andar, puxando a garota com um pouco mais de delicadeza pelo mesmo braço de antes. "Vem, eu vou te levar até sua casa estúpida."

Os dois foram sem mais palavras até o retrato da mulher gorda, Draco devolvendo o material para a grifinória, que parecia hesitante em falar.

"O que foi? Se você acha que eu não sei a senha-"

"Eu não sei quem era." ela finalmente respondeu a pergunta de antes. "Eu estava saindo da detenção e devo ter virado no corredor errado. Já era tarde, e estava escuro, e eu errei alguma parte do caminho e me perdi, e então um sonserino apareceu. Ele tentou me parar, e-"

"Ele tocou em você?" Precisava ter certeza.

"Tentou me segurar, mas eu escapei. Eu sei que deveria ter feito algo," tentava se explicar. "Deveria ter azarado ele ou algo assim, mas eu fiquei assustada. E fiquei mais ainda quando você apareceu, logo em cima de mim. Você era a última pessoa que eu pensei que fosse fazer algo para me ajudar." Draco sabia que ela apenas pensara o óbvio, mas ainda assim aquilo havia o incomodado.

"Olha Weasley," começou, pressionando as têmporas com uma das mãos, a enxaqueca piorando a cada minuto. "Eu posso odiar seu irmão, desprezar sua família, detestar sua casa," Olhou para a bruxa. "Mas eu não sou assim baixo como você parece achar. Leões de chocolate." E o quadro se mexeu, revelando o salão comunal grifinório vazio e uma garota surpresa. "Vocês grifinórios deveriam usar senhas menos óbvias." Draco disse, esperando a jovem entrar para poder enfim achar sua cama.

E o que aconteceu a seguir o fez perceber o quão inesperado era o comportamento daquela bruxa. Durou menos de cinco segundos, em um momento ela estava ao lado do gigantesco quadro, no outro nas pontas dos pés, uma das mãos pequenas - geladas - da bruxa tocando seu rosto, os lábios rosados tocando os seus num beijo rápido.

"Obrigada." Era a vez dele de não conseguir falar uma palavra, seus olhos cinzas observando a jovem entrar e o quadro fechar a passagem.

...

Ginevra encostou na parede do salão comunal, seu coração batendo forte contra o peito.

Meu Merlin.

O que ela havia acabado de fazer?


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Notas finais do capítulo

Obrigada a quem está acompanhando ;)



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