Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 6
Fogo e gelo




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Quinta, 5 de outubro.

Draco tomava seu café da manhã correndo naquele dia, uma coisa que não contribuía muito para seu quase extinto bom humor matinal. Sentado ao lado de Pansy, tentava fazer a menina desgrudar de seu braço para pelo menos poder comer alguma coisa antes de rumar para o corujal. As tentativas, como sempre, eram frustradas. Cinco minutos depois o loiro se preocupava mais em não deixar a namorada achar o pergaminho escondido dentro de sua camisa ao invés de tira-la de seu braço.

E eu pensando que teria paz até o fim desse mês. Ledo engano.

"Mas hoje está tão frio, Draquinho!" bufou ao ouvir o apelido que detestava.

"Pansy, eu quero meu braço livre para poder comer! Quantas vezes eu vou ter que repetir isso a essa hora da manhã?"

"Mas todos os namorados se abraçam no frio-"

"Bem, talvez nós não sejamos iguais aos outros namorados." Definitivamente, eles não eram.

A bruxa fez um bico e levantou-se irritada, indo sentar-se junto com um grupo de sonserinas. Aliviado por enfim conseguiu livrar seu braço das garras da garota, agarrou um muffin e levantou-se com pressa, saindo rápido antes que Pansy resolvesse voltar. Não podia dar-se ao luxo de perder nenhuma aula naquele começo de dia, e ainda precisava ir até o corujal sem a loira atrás dele.

Subiu depressa pelas escadas que davam ao salão onde repousavam as aves. Chegando lá, tirou de seu bolso um pequeno pergaminho - era o melhor que tinha conseguido fazer - e foi automaticamente na direção da sua coruja, que ainda dormia com a cabeça entre as asas. Tinha a sensação de que estava esquecendo de alguma coisa, mas o cansaço que já sentia àquela hora o fez ignorar seu pressentimento.

"Ei Sin," Ele tirou um pedaço de maçã de dentro de um dos bolsos. "Hora de trabalhar, garoto."

...

Mais um dia começava para a jovem Weasley. Pichi já acordara a todos no dormitório com seus barulhos, Sati e Ravenis já haviam expulso a coruja escandalosa janela afora, e Ginevra saía do banheiro a tempo de ser acertada em cheio por um travesseiro.

Eu ainda mato essas duas.

"Foi mal, Gina! Era pra acertar nessa bocuda do seu lado." desculpou-se Sati, a única japonesa da Grifinória. "Nossa, se arrumou rápido! E tá tão bonita! Vai encontrar alguém no café?" Ginevra só revirou os olhos, jogando o travesseiro de volta na cama da amiga, ainda desfeita. "O que foi?"

"Sa, eu, me encontrando com alguém, desde quando?"

"Ué, por que não? Ficamos sabendo que você já recebeu oito convites para Hogsmeade, e nenhum desses oito eram de Longbotom! Sobrando bruxo, heim?" quem disse foi Ravenis.

"Gente, convites que eu saiba foram só dois."

"E você ainda recusou todos!" emendou a outra grifinória. "Vamos lá Gina, será que ninguém te interessa nessa escola?" Lembrou na hora do seu encontro de ontem na biblioteca, e sentiu seu rosto ficando vermelho - graças a Merlin estava de costas para as amigas enquanto puxava seu edredom. "Ou ainda está esperando um convite que talvez nunca venha?" Ficou aliviada quando o assunto que ela detestava veio a pauta, para tirar o outro ainda pior de seus pensamentos.

"Não estou esperando o convite de Harry." Que mentira.

"Então porque não aceita os outros?" Sati continuou. "Se não está esperando um convite especial, porque não aceitou nenhum? Aeron Storms está há anos na lista dos dez mais lindos da Corvinal. Ele te convidou, não convidou?"

"Convidou."

O corvinal em questão havia sido até bem insistente. Era um bruxo moreno, alto, batedor do time de quadribol daquela casa - mas Ginevra simplesmente não estava com a menor vontade de passar seu tempo com o rapaz no sábado. Seria porque ainda estava esperando o convite dele?

Talvez eu ainda esteja esperando esse maldito convite. Admitiu para si mesma: óbvio que ainda estava esperando. Estou tão cansada de tudo isso, de ficar sempre esperando por um amor que nunca vai ser meu. Estou cansada de querer um pouco da atenção dele. Draco Malfoy, por Merlin DRACO MALDITO MALFOY me deu mais atenção nesse mês do que Harry Potter. Suspirou, sacudindo a cabeça. A que ponto chegamos.

"Fala Gina, por que não?" Sati insistiu.

"Por que não me interessei por nenhum." respondeu, notando uma coruja na janela com algo pequeno amarrado em uma das patas. "Sério meninas, não vou sair com qualquer bruxo apenas porque gostaria de um convite. Não é assim que eu funciono."

"Ainda achamos que não faria mal algum tentar. Vai que isso desperta a atenção de alguém?"

"Raven, se Michael e Dino não surtiram esse efeito," a ruiva disse, abrindo a janela e desamarrando o pedaço de pergaminho da ave, a coruja esverdeada voando para longe logo após. "Eu duvido que Aeon faça alguma coisa acontecer."

"Pelo menos ele é um colírio." Ravenis falou. "O que é isso?"

"Deve ser dos meus pais." Ginevra guardou o papel dentro de um dos bolsos, não dando muita importância. Chovia lá fora, e o cheiro da chuva no mato que entrava pela janela a fez sorrir: grama molhada era seu cheiro favorito.

...

Na enorme mesa grifinória do Salão Principal, Ginevra acabou sentando-se ao lado de Hermione, ao estranhar vê-la sem a companhia dos dois garotos de sempre.

"Sozinha hoje?" A amiga deu um sorrisinho sem graça.

"Acho que os meninos ainda não levantaram, Gina." ela respondeu, abaixando seu Profeta Diário. Realmente, Harry e Rony não estavam em lugar algum daquele salão, mas Longbottom estranhamente sentava-se frente a elas - todos os meninos daquele quarto costumavam descer ao mesmo tempo. "Fiquei sabendo que você recebeu um convite de Storms, é verdade?

"Foi só um convite, Mi." comentou, servindo-se de leite.

"Lilá disse que ele também te mandou flores." A ruiva fez que não - Lantis da lufa-lufa era quem havia lhe dado uma rosa, mas preferiu ficar calada. "E você aceitou?" Mais um não, vindo agora de uma boca já cheia de pão doce. "Estudos antes de garotos, você está certa." Se limitou a revirar os olhos, terminando o pão e pegando um biscoito de avelã para molhar no leite com chocolate.

Não demorou muito para Ginevra ver um trio diferente entrando pela enorme porta, indo se sentar distante de onde estavam as duas. Rony, Harry e Cho, os dois últimos de mãos dadas, sentaram na ponta mais próxima da mesa, não parecendo nem ao menos procurar pela bruxa com a qual ela estava sentada.

"Você tem alguma coisa para me falar?" Ginevra não hesitou a perguntar. Ela viu a amiga com olhos marejados, e olhou para a mão da mesma no instante seguinte. Ali estava o anel. "Você contou?"

"Não." Hermione negou. "Eu tentei!"

"Disse que falaria com ele na quarta, Mi-"

"Eu disse que tentaria!"

"E o que te impediu de fazer-"

"O fato dele não querer falar comigo!" Aquilo conseguiu surpreender a ruiva. "Desde terça-feira seu irmão está estranho. Quando Harry chegou com ele para estudarmos, Rony estava com cara de poucos amigos, mas eu imaginei que fosse por causa de alguma briga estúpida com alguém e nem falei nada. Perguntei para Harry se Rony tinha alguma coisa, mas ele negou, disse que não sabia de nada. Então quarta fui ver o treino dos garotos, para finalmente tentar contar, e ele me mandou embora!"

"Te mandou embora?" Ronald Weasley, mandando a garota por quem a ruiva sabia que ele estava totalmente apaixonado, embora? "Como assim embora? Ele estava no meio do treino?"

"Não, já tinham terminado."

"Você não estava usando o anel ontem, estava?" A morena fez que não com a cabeça. "Você acha que ele pode saber, de algum jeito?"

"Só você e meus pais sabem, Gina."

"Então ele não sabe." a ruiva deu um sorriso reconfortante para a amiga. "Eu não falo com Rony desde segunda, mas conhecendo meu irmão, pode ser qualquer coisa. Você achou graça de algo que ele gosta, caçoou dele na frente de alguém? Você conhece o temperamento dele quase tão bem quanto eu." Ginevra tomou mais um gole de leite. "Tente falar com ele outra vez - talvez o humor dele esteja melhor hoje. Não fique assim triste." Colocou a mão sobre a da amiga. "Você sabe que estou aqui para qualquer coisa, não sabe?"

"Obrigada." A morena finalmente sorriu.

Ginevra debruçava-se na mesa para conseguir pegar a última fatia de torrada quando o pergaminho caiu de dentro de sua veste, indo parar sobre seu prato vazio. Quase tinha esquecido daquele pedaço de papel, que agora era olhado com certa curiosidade pela garota ao seu lado.

"Também estão te mandando cartas de amor?" A bruxa mais velha provocou, terminando seu café.

"Deve ser do papai, Rony provavelmente abriu a boca sobre a menininha da família e os convites que ela está recebendo." A ruiva revirou os olhos. "Foi a mesma coisa com Dino, mesma coisa com Michel: é um saco ser a única filha da família."

"Experimente ser filha única." As duas riram. "Certeza que é de seu pai? Essa letra não parece muito com a de Arthur, muito menos com a de Molly."

Ginevra pegou nas mãos o pergaminho, notando seu nome em dourado escrito com uma letra impecável: definitivamente não era a letra apressada de seu pai, ou a quase infantil de sua mãe. Ok, então talvez fosse mesmo uma carta de amor, ou alguma brincadeira de muito mau gosto, pensava enquanto desenrolava o pedaço de papel.

"O que é?" Hermione tentou espiar, curiosidade ainda estampada no rosto. Ginevra ficou um minuto em silêncio, leu uma, duas vezes. Começou a pensar em quem no mundo mágico poderia saber que aquele era seu poema favorito, de seu escritor favorito. Colin? Gui? Com certeza não Aeon. "Gina?"

"Uns dizem que o mundo acabará em fogo, uns dizem que vai ser em gelo. Do que eu pude provar do desejo, alinho com os que são a favor do fogo. Mas se tivesse que perecer com os dois, penso que conheço suficiente o ódio, para dizer que a glacial destruição é igualmente intensa, e suficiente."

"Robert Frost?"

"Quem diria." Aquela não era a letra do seu irmão mais velho. Aquela não era a letra conhecida de seu amigo. E aquela também não era a letra dele.

"Sem assinatura?"

"D.L.M., não faço ideia de quem seja essa pessoa." Observou por mais um tempo a assinatura, logo após olhando ao seu redor. "Esse bruxo - ou bruxa, não sei - conseguiu." Disse, enrolando o papel e o guardando agora dentro de sua mochila. "Eu sairia com ele."

"Convites, cartas de amor," Hermione falava, levantando-se ao ouvir o sinal que anunciava a primeira aula. "O que falta vir agora, dragõezinhos de pelúcia?"

...

"O dragão! Eu esqueci de mandar o maldito dragão!"

Malfoy acabara de lembrar, no meio da aula de Transfigurações, o que havia deixado de fazer naquela manhã.


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